02. As coisas que perdemos no fogo.



13 de Setembro, 2005

Ashlyn encarou o espelho empoeirado do pequeno estúdio de balé em Edimburgo. Seu reflexo, pálido e etéreo, parecia perdido e frágil. Era uma imagem que contrastava drasticamente com a mulher radiante e cheia de vida que ela costumava ser.

Desde a separação, e principalmente a distância de sua família, a melancolia a havia consumido. Ela se sentia como um ser desgarrado, uma alma à deriva, em busca de um propósito. Tudo o que ela havia conhecido por décadas havia desmoronado, deixando-a para afundar em um mar de solidão e incerteza.

No entanto, neste momento, Ash tinha um plano para recuperar um pedaço de si mesma. Ela havia colocado seu par favorito de sapatilhas de ponta e um collant preto, lembranças dos dias em que dançava com propósito e alegria. Hoje, ela voltaria ao balé, algo que havia negligenciado por tempo demais.

Ao som suave da música clássica que ecoava no estúdio, Ashlyn ergueu os braços e começou a se mover com uma graça que esteve escondida por muito tempo. Seus movimentos, lentos e hesitantes no início, gradualmente começavam a encontrar um ritmo.

Cada passo e salto era uma expressão de suas emoções, uma maneira de liberar a tristeza e a dor que a haviam oprimido. Ela rodopiou pelo estúdio, os fios de cabelo que escapavam do coque balançando com a dança. Era como se, por um momento, ela pudesse deixar para trás a carga de seu coração partido.

Ashlyn se lembra dos conselhos de sua mãe sobre o balé. "A dança é uma maneira de expressar sua alma", Esme costumava dizer. E agora, mais do que nunca, ela entendia o significado dessas palavras.

Enquanto seus pés tocavam o chão de madeira com graça e precisão, Ashlyn sentiu uma sensação de liberdade que há muito tempo estava ausente em sua vida. O balé a conecta a uma parte dela mesma que havia se perdido, uma parte que ela costumava adorar.

Os cantos de seus lábios se contorceram, suavemente no início, até que um sorriso rasgou seu rosto de uma forma que se refletiu em seus olhos brilhantes. Era um sorriso de nostalgia, mas também de alívio.

À medida que a música chegava ao seu ápice, Ashlyn executou um grand jeté com uma energia renovada. Ela sentiu como se estivesse voando, como se estivesse finalmente deixando para trás o peso de seu casamento fracassado.

Quando a música finalmente diminuiu, Ashlyn se sentia viva de uma maneira que já não fazia há anos. Ela percebeu que, embora seu casamento tivesse terminado, sua existência não tinha chegado ao fim.

Ashlyn tinha a capacidade de se reerguer, de encontrar a felicidade por conta própria. Enquanto se curvava, agradecendo ao espaço que a havia acolhido, ela soube que havia dado mais um passo em direção à cura.

Ashlyn não estava sozinha em sua jornada. Ela tinha a si mesma, e era mais do que o suficiente.





18 de Setembro, 2005

Ashlyn estava sentada na varanda da pequena casa de campo que alugara nas montanhas escocesas, com o celular pressionado contra o ouvido enquanto falava com Emmett. A ligação internacional era uma das poucas formas de manter contato com sua família desde que ela havia decidido se afastar, e as notícias que Emmett trouxe não eram as que ela esperava.

Eu só queria que você soubesse, Ash... — Disse Emmett, sua voz grave e preocupada ressoando através do telefone. — Edward terminou com Bella.

O choque reverberou através de Ashlyn. Uma mistura de emoções a inundou naquele momento. Essa era a única coisa que ela não esperava ouvir. Não conseguia acreditar que Edward teria tomado uma decisão tão...

— O que aconteceu? — Ela conseguiu perguntar, a voz soando hesitante e trêmula.

Houve uma pausa do outro lado da linha antes que Emmett continuasse.

Foi no aniversário de dezoito anos dela. Alice planejou uma festa em casa, e tudo estava indo bem até que um acidente aconteceu. Bella se cortou e... — Ashlyn podia ouvir a hesitação na voz de Emmett. Ela sabia o que aquilo significava. Bella havia se ferido em uma casa cheia de vampiros, e era fácil imaginar o que aconteceu depois. — Há dois dias Edward terminou com ela porque acreditava que estava colocando a vida dela em perigo, Ash. — Explicou Emmett. — Ele acreditava que era a melhor decisão para ela, mesmo que isso significasse que ele a estava deixando.

Ashlyn apertou os lábios com força. Ela se sentiu, de uma forma estranha, traída. Tinha aberto mão de seu casamento para que Edward pudesse ser feliz com a humana, e ele estava tomando todas as decisões mais impulsivas e fazendo-a questionar cada passo que deu até agora.

— Eu não posso acreditar que ele fez isso. — Murmurou Ashlyn, sua voz soando mais baixa do que antes. — Emmett, eu... — Ela engoliu em seco, lutando contra a angústia. — Eu fiz isso por ele. Eu o deixei para que ele pudesse ser feliz com ela.

Eu sei, Ash. — A voz de Emmett soou reconfortante do outro lado da linha.— Você fez o que achou certo. — Emmett suspirou novamente. — Eu sei que é difícil, mas Edward está confuso. Ele não quer colocá-la em perigo, e acha que se afastar dela é a única maneira.

— Emmett, eu... eu não sei o que pensar. — Ash admite.

Seu irmão ficou em silêncio por um momento antes de falar muito honestamente:

As decisões de Edward não são sua responsabilidade, Ash. Deixe-o lidar com as consequências do que escolheu pra si mesmo.

As palavras de Emmett ecoaram na mente de Ashlyn. Ela havia passado décadas cuidando de Edward, priorizando seu bem-estar acima de tudo. Droga, ela até mesmo se perdeu em seu próprio desejo de fazê-lo feliz.

Estava mais que na hora de parar com isso.

— Você tem razão.

É claro que tenho. — Mesmo que não pudesse vê-lo, Ash tinha certeza de que ele estava sorrindo. — Você merece ser feliz também, irmãzinha. E lembre-se de que estamos aqui para você, sempre.

— Nunca tive dúvidas disso. — Ashlyn sorriu honestamente para as palavras de seu irmão. — Eu te amo.

Eu te amo mais.

E assim, a ligação terminou, deixando de Ashlyn com uma estranha calmaria em meio ao turbilhão de emoções que poderiam tê-la assolado. Ela estava determinada a cuidar de si mesma, seguir em frente rumo à merecida felicidade, independente das escolhas de Edward.

A certeza de que fez tudo o que estava em seu alcance foi o suficiente para acalmar seu espírito.

Nada disso era mais problema seu.





20 de Fevereiro, 2006.

          Ashlyn estava sentada à mesa da sala de estar de sua casa, encarando os papéis do divórcio que repousavam diante dela. As folhas brancas estavam alinhadas em perfeita ordem, aguardando sua assinatura final, que representaria o fim oficial de seu casamento com Edward.

Meses se passaram desde que Emmett lhe contara sobre a separação de Edward e Bella. Ashlyn havia dado muitas voltas em sua mente desde então, refletindo sobre sua própria decisão de se afastar e abrir mão de seu casamento para que Edward pudesse encontrar a felicidade com outra pessoa.

Agora, encarando os documentos, ela se sentia dividida. Uma parte dela ainda amava Edward. Mas outra parte, uma ainda mais barulhenta, ansiava pela liberdade de seguir em frente e se reconstruir.

Com um desnecessário suspiro profundo, Ashlyn pegou a caneta que estava ao lado dos papéis e ajeitou o cabelo para trás, revelando o pescoço pálido e as feições tensas.

Lentamente, ela começou a traçar as letras de seu nome nos documentos. Ashlyn Grace Cullen. As letras pareciam pesadas e definitivas, como um selo sobre o passado que compartilhara com Edward por tantos anos.

Cada traço da caneta era uma mistura de emoções, como um pequeno ato de despedida. Era o adeus a uma parte de sua vida que havia sido significativa, mas que agora precisava ser deixada para trás. Era a aceitação de que ela e Edward estavam em caminhos separados, que sua história juntos havia chegado ao fim.

Cada vez que sua assinatura tocava o papel, era como se uma parte dela se desprendesse e se perdesse no abismo da memória. Ela sabia que Edward tinha feito uma escolha difícil ao terminar com Bella, e agora era hora dela fazer a escolha que a libertaria do passado.

Quando finalmente chegou à última página, Ashlyn assinou com um traço firme e decisivo. Os papéis do divórcio estavam completos. Ela se sentiu vazia, como se uma parte de sua alma tivesse sido arrancada, mas também sentiu um estranho alívio. Ela não era mais a mulher de Edward Cullen.

Com cuidado, ela dobrou os papéis e os colocou em um envelope endereçado a Edward. Não havia necessidade de palavras extras ou explicações. Os papéis falavam por si mesmos. Ela selou o envelope e o deixou sobre a mesa.

Ashlyn se dirigiu até a janela e olhou para o horizonte, onde o céu escocês se estendia em tons de azul e cinza. Naquela manhã primaveril, Ashlyn descobriu que, mesmo no fim de um capítulo doloroso de sua vida, havia a promessa de um novo começo, e isso lhe trouxe um raio de esperança em meio à tristeza.

Ela estava pronta para seguir em frente e aceitar o que o destino lhe havia reservado. Esse que, sem Ashlyn saber, estava agindo nesse exato momento, há exatos 7,234 quilômetros de distância, na reserva de La Push.

Jacob Black acabara de se transformar pela primeira vez.






Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top