𝚝𝚑𝚒𝚛𝚝𝚎𝚎𝚗
A cozinha estava imersa em um silêncio ensurdecedor, mais intenso do que Baji estava acostumado. Não era sempre que ele e Kazutora ficavam conversando sem parar, mas, hoje, por algum motivo que o moreno desconhecia, o amigo não estava falando absolutamente nada durante o almoço.
O Hanemiya olhava fixamente para o prato, com o olhar meio morto e calado desde o momento em que Keisuke chegou no apartamento dele. Parando para pensar bem, se não fosse o moreno falando que ia passar lá para almoçar com o amigo, talvez Kazutora nunca tivesse o chamado.
Na mente de Baji, ele começou a repensar em tudo o que tinha acontecido e tentava relembrar de algo que tivesse feito para irritar o melhor amigo. Mas, mesmo depois de tanto esforço, ele não conseguiu pensar em nada.
— Então... — Keisuke começou a falar, tentando não parecer desconfortável, pensando em algo para puxar conversa com o amigo — Esse final de semana a gente podia ir para a casa de praia do Mikey.
— Pode ser — Kazutora respondeu, ainda olhando para o prato, sem esboçar nem um pingo de entusiasmo.
— A gente podia levar a [Nome] também.
— Sua namorada? — O tom dele finalmente saiu do indiferente, mas o deboche presente na voz dele começou a fazer algumas engrenagens na mente de Baji rodarem.
Isso nunca tinha se passado na cabeça do moreno antes, mas a ideia do Hanemiya ficar irritado, ou até com ciúmes, do relacionamento dele com você começou a assolar a mente dele. Durante muito tempo, Keisuke ouviu o quanto Kazutora queria que você e Kisaki terminassem. Até ouviu brincadeiras sobre ele ficar com você apenas para que aquele relacionamento abusivo terminasse. Mas, agora que isso realmente aconteceu, Baji não conseguia acreditar que o melhor amigo realmente ficaria com raiva de ele estar ficando com você.
— Cara, você 'tá estranho desde ontem — Keisuke deixou os talheres em cima da mesa, olhando diretamente para o Hanemiya, que finalmente levantou o olhar para ele ao perceber o tom sério — Você realmente 'tá puto porque eu disse que [Nome] era minha namorada?
— Eu não ficaria puto se vocês realmente fossem — Kazutora devolveu o tom sério, também largando os próprios talheres, se concentrando totalmente no rumo que aquela conversa estava tomando — Mas você disse para todo mundo que vocês eram namorados sem nem falar com ela antes. Mano, vocês 'tão ficando faz pouco tempo e eu já te falei mil vezes como [Nome] é insegura.
Keisuke abriu a boca para falar, mas, de imediato, nada saiu. Ele estava tão empenhado em mostrar para você que se importava e que queria realmente ter algo sério, que nem parou para pensar em como você se sentiria com toda a situação de ontem.
A verdade é que Baji estava relativamente desesperado. O moreno realmente gostava de você, mas nunca chegou nem perto de ter um relacionamento sério antes, já estava acostumado apenas com as transas casuais de uma noite que sempre tinha com mulheres diferentes, evitando ao máximo encontrar com elas depois disso.
Mas, com você, era diferente. Ele não queria que você fosse embora. Não queria que fosse só uma noite de sexo insignificante. Keisuke queria que você fosse exclusiva dele, assim como ele queria ser exclusivo seu. Mas ele não sabia muito bem como demonstrar isso.
— Ela comentou alguma coisa? — Foi a única coisa que Baji perguntou, mas o tom preocupado dele fez uma das sobrancelhas do Hanemiya se arquear.
Desistindo de manter a postura irritada, Kazutora suspirou fundo e amenizou a expressão séria, antes de responder ao amigo.
— Ela não falou muita coisa — Admitiu, voltando a pegar os talheres e a comer — Provavelmente porque ela sabe que eu sou muito super protetor com ela e não queria que ficasse um clima estranho entre a gente.
— Ela disse o que? — Baji não olhava na direção do amigo enquanto perguntava, mas isso acabou arrancando uma risada baixa do Hanemiya.
— Disse que não tinha ideia de que você ia apresentar ela como namorada — Ele respondeu, dando de ombros — Acho que isso assustou um pouco ela.
— O que mais?
— Ela também comentou que você estava estranho mais cedo ontem — Nessa hora, a expressão séria de Kazutora voltou um pouco e Keisuke não precisou de muito para entender que aquele assunto era sério — Você não forçou ela a fazer nada, não é?
— Isso é sério? — Agora, foi o moreno quem ficou irritado — Você 'tá perguntando isso para mim mesmo? — Kazutora abriu a boca para responder, mas Baji não deu abertura para ele falar — Cara, você me conhece a anos. Sabe que eu nunca faria nada assim com ninguém, muito menos com alguém que eu gosto.
— E eu também te conheço o suficiente para saber que você não consegue ficar uma semana sem transar com uma mulher diferente.
— Eu não sou ninfomaníaco — Keisuke respondeu, revirando os olhos.
— Não falta muito para chegar lá — Kazutora falou em tom de piada, o que arrancou uma risada baixa do moreno, mas, logo depois, o clima sério voltou a impregnar a cozinha — Nós dois sabemos que você tem uma vida sexual extremamente ativa e [Nome] não é assim.
— Eu sei disso, mas...
— Quanto tempo faz que você não transa com alguém tirando ela? — O Hanemiya interrompeu, arrancando um suspiro pesado do amigo.
— Sei lá — Ele respondeu, dando de ombros — Desde o dia em que eu fiquei com ela pela primeira vez — Ele completou, em um tom mais baixo, um tanto envergonhado.
Um pequeno silêncio pairou entre eles, só o suficiente para deixar Keisuke levemente desconcertado. Ele nunca teve problemas em admitir que realmente gostava de você, mas conversar sobre isso com o melhor amigo em comum de vocês dois era relativamente estranho.
Baji sabia o quanto Kazutora se importava com você e o quanto ele estaria arriscando perder a amizade dele se fizesse alguma coisa de errado com você.
Além disso, o moreno sabia exatamente do que você estava falando quando disse que ele estava estranho ontem. O Hanemiya tinha razão. Keisuke sempre teve suas necessidades sexuais descontadas em todas as diversas transas que tinha cotidianamente. Agora, tentando acompanhar o seu ritmo mais desacelerado, ele sentia muita falta do sexo constante, mas isso não era o suficiente para fazer ele desistir de você.
— Ontem, ela disse que você estava mais "intenso" com ela — Ficou nítido o desconforto de Kazutora ao falar isso, mas ele continuou — Eu não acho isso totalmente ruim, porque acho que pode acabar ajudando ela a se soltar mais — Nenhum dos dois se olhava nos olhos, ambos encarando os pratos nas suas frentes — Mas, se algum dia você extrapolar os limites dela, eu nunca vou te perdoar.
— Não precisa se preocupar — Baji respondeu, se levantando e pegando o prato vazio para colocar na pia — Se isso acontecesse, eu nunca me perdoaria.
O moreno organizou a mesa e, depois que o Hanemiya também achou de comer, pegou o prato dele e também colocou na pia. Os dois não falaram mais nada um para o outro, mas aquela conversa foi o suficiente para fazer o coração de Kazutora relaxar muito. Ele confiava fielmente no amigo e, se Keisuke dizia que iria respeitar os seus limites, ele acreditava que o amigo controlaria a intensa necessidade dele em prol do seu conforto.
— Quer que eu lave os pratos? — A voz do moreno tirou o Hanemiya dos próprios pensamentos, fazendo o segundo olhar, finalmente, na direção do amigo de novo.
— Não precisa, eu lavo.
— Beleza — Baji pegou a chave do carro que estava em cima da bancada da cozinha e começou a andar em direção à porta — Eu vou lá buscar [Nome] no trabalho e aproveitar para pedir desculpas pelo que aconteceu ontem.
— A gente pode ver um filme mais tarde, se vocês quiserem — Kazutora respondeu, se levantando da mesa e indo com o amigo até a porta da frente — E eu vou falar com o Mikey sobre ir para a casa de praia no final de semana.
— Combinado, então — Os dois apertaram as mãos, em uma batida que sempre faziam, e o moreno finalmente saiu do apartamento — A gente se vê.
— A gente se vê — O Hanemiya respondeu, com um sorriso extremamente aliviado nos lábios.
Keisuke abriu o carro e entrou nele rapidamente, tendo consciência de que o almoço com Kazutora acabou atrasando ele um pouco. Hoje em especial o petshop fecharia mais cedo, por isso, ele teria que ir correndo para conseguir lhe alcançar antes de você sair de lá.
Ele não tinha lhe avisado que iria lhe buscar, já que pretendia fazer uma surpresa, mas, depois de toda a conversa com o Hanemiya, o moreno estava mais nervoso do que nunca. Ele sabia que lhe devia uma explicação e um pedido de desculpas, tanto por ter lhe apresentado como namorada sem lhe perguntar antes, quanto por ter intensificado as coisas e ignorado sua insegurança. Além disso, ele sabia muito bem que você poderia ter ficado chateada por ele não ter falado nada depois da transa que vocês tiveram, a também por ter lhe deixado sozinha depois disso.
Naquela noite, depois de vocês transarem, Baji estava com a mente a mil. Era uma mistura de querer mais daquilo, com culpa por ter ido mais intensamente do que de costume. Ele estava sedento por sexo e acabou descontando isso em cima de você. Depois disso, se sentiu tão culpado que deixou você sozinha.
Assim que percebeu a merda que tinha feito, Keisuke lhe procurou por todos os lugares daquela festa, mas não conseguiu lhe encontrar em canto nenhum. O coração dele só relaxou de novo quando leu uma mensagem de Kazutora, avisando que estava voltando para casa com você.
Enquanto dirigia até o seu trabalho, ele se perguntava se tinha ido longe demais ontem a noite, quando vocês transaram no quarto. Talvez você só tivesse se soltado porque se sentiu pressionado por ele e só esse pensamento da deixava Baji enjoado consigo mesmo.
Mais do que tudo, ele odiaria fazer você se sentir pressionada a fazer algo que não queira. Ele queria lhe deixar confortável, principalmente porque sabia sobre suas inseguranças e sobre o seu relacionamento péssimo de antes.
No final, ele tinha medo de te perder, do mesmo jeito que Kisaki perdeu.
Os pensamentos dele estavam tão conturbados, que nem percebeu quando chegou ao seu trabalho. Só se desligou da própria mente quando viu você saindo do petshop, com aquele mesmo sorriso encantador que fez Keisuke se apaixonar a primeira vista.
Você tinha se despedido de Emma, que pediu para trocar de turno com você e ficar até a loja fechar. Você não questionou os motivos dela, apenas aceitou e, de certa forma, ficou feliz por poder largar mais cedo hoje. Saiu do petshop e já estava preparada para ir até a parada de ônibus, quando uma buzina alta fez seus olhos se voltarem para a direção do barulho.
Um sorriso involuntário tomou conta de seus lábios no momento em que você percebeu que era o carro de Baji. Logo depois, seu corpo começou a hesitar por um momento. Tudo o que aconteceu no dia anterior invadiu a sua mente de uma só vez. Você sabia que tinha várias coisas que precisavam ser conversadas entre vocês dois, só não sabia que estava preparada para o resultado dessa conversa.
— O que você 'tá fazendo aqui? — Foi o que você conseguiu falar, pouco antes de abrir a porta e entrar no veículo.
— Não 'tá feliz que eu vim? — Ele perguntou, em um tom de brincadeira, poucos segundos antes de lhe dar um selinho delicado.
Aquele parecia o Keisuke de antes, não o Baji de ontem. Isso fez você ficar um pouco menos nervosa.
— Você sabe que não é isso — Respondeu, depois de rir e colocar o cinto de segurança — Mas, sério, o que veio fazer aqui?
— Vim te buscar e te levar 'pra casa — Enquanto falava, ele olhava para frente, já dirigindo pelas ruas de Tokyo. Mas, o sorriso dele se desfez na hora, fazendo você perceber que aquela conversa chegaria antes do que você esperava — E, também, tenho certeza de que eu te devo um pedido de desculpas, além de uma explicação sobre o que aconteceu ontem.
Você parou de olhar para ele e começou a encarar as próprias mãos, que estavam encolhidas em cima das suas coxas. Não conseguia encarar o olhar sério dele agora, mas também não queria fugir disso.
— Antes de qualquer coisa — Keisuke continuou a falar, antes que você tivesse uma chance de dizer algo — Me desculpa, de verdade, por ter agido estranho ontem, por ter te chamado de "namorada" sem falar com você antes, por ter te pressionado a fazer coisas que você talvez não quisesse...
— Você não me pressionou a nada — Você interrompeu, mas ele não reclamou — Tudo o que fizemos ontem, eu queria fazer. Foi diferente e eu não esperava aquilo, mas eu... — Mesmo com suas bochechas queimando de vergonha, você continuou a falar — ...gostei muito — Concluiu, bem mais baixo do que esperava.
Baji ficou em silêncio por um curto período de tempo, mas, na sua cabeça, vocês já estavam a horas naquele silêncio ensurdecedor. Suas bochechas estavam queimando muito e seu coração batia forte. Estava ansiosa, e sabia muito bem disso. Mas não era uma ansiedade que lhe fazia se sentir mal e inferior, era mais como se você estivesse esperando o resto dessa conversa, para falar o que queria.
— Sobre eu ter te chamado de "namorada", eu... — Mas ele não acabou de falar.
— Por que você fez isso? — As palavras escaparam da sua boca, quase que involuntariamente.
— Eu... sinceramente, não sei bem — Os olhos dele ainda estavam fixados na rua. Em parte, porque ele não queria bater o carro, e, por outro lado, porque ele não conseguia lhe encarar agora — Eu acho que queria mostrar que eu realmente gosto de você e quero que a gente tenha algo oficial. Não se passou pela minha cabeça que isso fosse te colocar em uma situação complicada ou algo do tipo.
— Ontem, eu pensei por um momento — Não tinham mais motivos para você esconder mais nada a essa altura, por isso, resolveu ser 100% honesta — Que você estava só brincando comigo esse tempo todo.
— Eu nunca faria isso — Dessa vez, ele desviou o olhar para você por um momento, mas seus olhos ainda estavam fixos nas suas mãos.
— Eu sei, mas... — Finalmente, parou de encarar as mãos e levantou o olhar — Não me leve a mal, Keisuke, mas a gente se conhece a pouco tempo, tem um mar de garotas atrás de você o tempo todo e eu... Eu não tenho nada de especial. Além disso, todo mundo sabe que você não é do tipo que namora e, do nada, começa a me chamar de "namorada na frente de todo mundo? O que você esperava que eu pensasse?
— Você é especial — Ele parou o carro tão rápido que você foi um pouco para frente, mas o cinto conseguiu lhe segurar bem. Quando percebeu, já estavam na frente da casa de Kazutora — Você pode não ver isso, [Nome], mas você é a garota mais sensacional que eu já conheci. Sim, eu saio com bastante mulheres diferentes. Sim, elas não tem absolutamente nada haver com você — Agora, ele encarava diretamente os seus olhos, e você não teve vontade de quebrar o contato — Mas, você já parou para pensar um segundo que talvez seja exatamente por isso que eu gosto tanto de você? — Keisuke desviou o olhar por um segundo, juntamente com o rosto, tentando esconder as bochechas, que estavam ficando levemente avermelhadas — Porra... — Ele sussurrou — Eu realmente gosto de você. Me desculpa por não ter te perguntado antes se eu podia te considerar como minha namorada. Na minha cabeça, parecia uma boa ideia, mas Kazutora já me fez entender que foi uma ideia merda 'pra caralho.
— Eu fiquei assustada e, como sempre, imaginei o pior cenário possível — Agora, você não desviava mais os olhos dele enquanto falava, nem gaguejava, nem falava baixo. Era quase como se você se sentisse confortável o suficiente para falar o que quisesse na frente dele — Eu também gosto de você, Keisuke. Por isso, quando a ideia de que você estava apenas brincando invadiu a minha mente, eu fiquei arrasada. Não quero me machucar de novo — Essa última parte, você sussurrou.
— Eu nunca vou fazer o que aquele filho da puta fez com você — As mãos dele, em um instante, foram parar nas suas, de uma forma delicada o suficiente para lhe deixar confortável, e firme o suficiente para lhe deixar segura — Isso, eu posso te prometer.
Você desviou o olhar de novo, pensativa, mas não tirou suas mãos das dele. Estava confortável demais para quebrar o contato. Ainda com aquilo, diversas perguntas ainda rondavam a sua mente, e agora era a hora de tirar todas as dúvidas.
— Por que você estava tão diferente ontem?
— Aquela era... — Ele parou por um segundo, como se estivesse escolhendo as melhores palavras para poder explicar — Uma versão diferente de mim. Ela é mais intensa e sedenta. Eu achei que ia conseguir deixar ela longe de você, mas...
— E por que você iria querer deixar ela longe de mim? — Você o interrompeu e, quando percebeu o olhar de confusão no rosto dele, resolveu continuar — Keisuke, eu quero te conhecer por inteiro. Isso significa todas as versões de você.
— Você não ficou assustada ontem?
— Fiquei, bastante — Respondeu, rindo — Mas só porque eu não esperava aquilo. Saber que você tem essas duas versões completamente diferentes é assustador, mas também excitante. Não precisa tentar esconder ela de mim.
O sorriso que se formou nos lábios dele foi o mais sincero, radiante e incrivelmente perfeito que você já viu em toda sua vida. Isso só fez com que você sorrisse de volta.
— Eu não vou mais esconder nada, prometo — Ele disse, pouco antes de pegar uma de suas mãos e levar até os lábios, depositando um beijo casto no topo dela.
— Obrigada.
Vocês tiraram os cintos e saíram do carro, que já estava parado na frente do pequeno prédio. Baji lhe falou sobre o plano de assistir algum filme com Kazutora, então ele provavelmente dormiria lá também essa noite.
Quando vocês já estavam perto das escadas, sentiu sua cintura ser puxada não tão bruscamente. Mas, antes que pudesse ficar assustada, o corpo quente de Keisuke, lhe envolvendo por completo, fez todos os músculos do seu corpo relaxarem. Ele lhe abraçou por trás, rodeando sua cintura com os braços longos dele.
— Isso significa que eu posso te chamar de "namorada" oficialmente a partir de hoje? — Baji sussurrou no seu ouvido, em uma mistura do tom de voz das duas versões diferentes dele.
— Vou pensar no seu caso.
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