𝚜𝚎𝚟𝚎𝚗

A fraca claridade da manhã, que entrava pelas pequenas brechas da cortina, já foi o suficiente para fazer seus olhos se abrirem levemente. Finalmente, você conseguiu ter uma noite de sono descente, depois de uma semana que se mudou para o apartamento de Kazutora.

Durante esse período, você tentou ao máximo ajudar ele em tudo o que fosse possível, não querendo ser um peso. Mesmo ele insistindo que estava muito feliz em ter você lá com ele, o pensamento de que você estava causando problemas não saia da sua cabeça.

Além disso, foram muitas noites mal dormidas, com pesadelos envolvendo Kisaki e com medo de ele te encontrar. O loiro ainda atormentava os seus mais profundos pensamentos e, mesmo que você dissesse para Kazutora que estava tudo bem, não estava.

Depois de se espreguiçar por completo, você bocejou mais uma vez e se levantou de vez da cama. Ainda meio desnorteada, foi até o armário e pegou um conjunto de roupas que usaria, indo para o banheiro logo em seguida.

Para sua sorte, o apartamento de Kazu tinham duas suítes, então você não teria que dividir um banheiro com ele, que demorava horrores no banho. Com esse pensamento em mente, você soltou uma risada fraca e entrou de baixo do chuveiro, deixando a água fria encharcar a sua pele.

Assim que acabou de levar o cabelo e ensaboar todo o corpo, você desligou o chuveiro e saiu do box, se enrolando em uma toalha. Fez o resto das suas higienes matinais, penteou o cabelo, vestiu as roupas e passou o mínimo de maquiagem possível, apenas para tirar a expressão de morta do seu rosto.

Satisfeita com o resultado, você saiu do banheiro e foi procurar sua bolsa, sabendo que ainda daria tempo de tomar café da manhã com Kazutora antes de saírem.

Quando já estava saindo do cômodo e entrando no corredor, ouviu o seu celular tocar, anunciando uma nova notificação. Só então, percebeu que já ia esquecendo ele no quarto.

Depois de um suspiro preguiçoso, entrou de novo no quarto e foi até a cabeceira, pegando o aparelho. Um sorriso involuntário tomou conta dos seus lábios quando você leu a notificação na tela.

Keisuke: Bom dia.
Dormiu bem?

Durante esses dias em que você ficou na casa de Kazutora, você e Beji se falaram, literalmente, todos os dias. Seja para falar sobre algo importante, seja para passar horas e horas jogando conversa fora. Você amava conversar com ele e a notificação de uma mensagem dele era um dos pontos altos do seu dia.

Você: Bom dia. Consegui
dormir melhor hoje.

Inclusive, ele era a única pessoa que você realmente tinha contado sobre as noites mal dormidas por causa de Kisaki. Foi difícil convencer Baji a não falar nada para Kazutora, mas você insistiu muito. Não queria que o Hanemiya se preocupasse com você, mais do que ele já estava preocupado.

Por isso, depois de se abrir um pouco com Keisuke e explicar a insônia que estava tendo, implorou para que ele não contasse nada ao amigo.

Keisuke: Se eu tiver tempo,
passo lá no petshop depois
do trabalho.

Você: Tem certeza de que
não vai ficar ruim?

Keisuke: Tenho. Eu também
tenho que comprar algumas
coisas lá.

Você não conseguiu conter o sorriso quando leu as mensagens dele. Era óbvio que você gostava de Baji e adorava quando ele ia no petshop, mesmo que, toda vez que isso acontecia, era como se vocês dois ficassem tímidos e não conseguissem conversar direito, como faziam por mensagem.

Particularmente, você sempre teve dificuldade em interagir com pessoas que não conhecia direito, tanto é que Kazutora era a única pessoa que você se sentia confortável conversando. Mas, você achava que Baji era diferente, principalmente por ele ser bem popular e ter vários amigos. O que você não sabia era que, ele era sim desenrolado, mas, com você, ele ficava com medo de falar ou fazer algo errado e acabar te perdendo. Porque, naquela altura, ele também já gostava de você.

Você: Tudo bem, então.
A gente se vê!

Keisuke: Até mais tarde.

Antes que passasse ainda mais tempo encarando a tela do celular com um sorriso bobo no rosto, você bloqueou a tela e jogou o aparelho na bolsa, saindo de vez do quarto.

O apartamento de Kazutora não era dos maiores, mas era mais do que suficiente para vocês dois, mesmo que você não esperasse passar muito mais tempo lá. Não sabia como iria conseguir voltar para a sua antiga casa, muito menos como conseguiria dormir lá sozinha, mas também não queria atrapalhar o Hanemiya em nada.

— Bom dia — O próprio disse, lhe tirando de seus próprios pensamentos.

— Bom dia, Kazu.

Você foi até onde ele estava sentado e depositou um beijo no topo da cabeça dele, indo até o balcão e ligando a torradeira logo em seguida. Enquanto Kazutora falava sobre um sonho muito estranho que teve ontem, arrancando várias risadas divertidas suas, você foi até o armário e pegou o saco de pães, tirando dois de lá e colocando dentro da torradeira.

— Como foi a noite? — Ele perguntou, fazendo você parar de colocar café na xícara, por um segundo, mas, depois, rapidamente voltou a si.

— Foi tranquila, como as outras.

— Você não continua pensando naquele imbecil, né?

— Quase nunca — Mentiu, mesmo sabendo que o Hanemiya podia, basicamente, ler os seus pensamentos.

Sempre que você mentia, sempre, toda vez, sem exceção, ele sabia. Talvez fosse a convivência cotidiana de vocês, mas você nunca conseguiu esconder nada do seu melhor amigo.

— Tudo bem — Foi o que Kazutora respondeu, depois de um suspiro fundo. Ele se levantou da cadeira e, depois de colocar os pratos na pia, foi até você e depositou um beijo na sua bochecha — Quando você quiser me contar como 'tá se sentindo, eu vou ouvir com todo o prazer, certo? — Você apenas assentiu com a cabeça, sem virar na direção dele, envergonhada por ter mentido — E não precisa lavar os pratos. Eu faço isso quando voltar do trabalho.

Depois de uma piscadela, ele pegou uma mochila que estava em cima do sofá e saiu pela porta da frente, lhe deixando sozinha com seus pensamentos.

Um suspiro involuntário escapou de seus lábios e, de repente, comer não parecia uma ideia tão boa assim. Mas, assim que lembrou que o horário do almoço no seu trabalho demoraria muito, se forçou a comer aquelas torradas que estava fazendo antes e tomar a xícara de café.

Você não queria contar a Kazutora sobre seus pesadelos e desconfortos em relação a Kisaki porque não queria que ele se preocupasse. Mas, aparentemente, mentir para ele era pior ainda. Você sabia que o Hanemiya ficava muito chateado quando você não era honesta.

Por isso, decidida a conversar com ele mais tarde e contar sobre todas as inseguranças que assolavam a sua mente, você lavou todos os pratos, mesmo sabendo que levaria uma reclamação dele mais tarde, e saiu do apartamento, carregando sua bolsa com você.

A cada de Kazutora ficava um pouco mais longe do seu trabalho em comparação com a distância da sua antiga casa até lá. Isso fazia com que você tivesse que pegar um metrô para chegar lá, mas a estação não era muito distante.

Nesse horário, muitas pessoas iam trabalhar, então você raramente conseguia lugar para se sentar, e, sinceramente, você nem queria muito, preferia deixar os mais velho sentarem mesmo, até porque você só ficava em pé por três estações.

Assim que o metrô parou na sua chegada, você desceu e começou a caminhar pelas ruas de Tokyo. Nunca demorava mais de dez minutos até que você chegasse no pet shop, mas, dessa vez, você chegou bem mais rápido do que imaginava.

— Bom dia, [Nome] — A voz de Emma preencheu a pequena loja, assim que você passou pela porta da frente, fazendo o sininho tocar — Já chegou?

— Acabei chegando mais rápido do que o normal — Você respondeu, entrando mais na loja e indo até os fundos, onde deixou sua bolsa em uma cadeira, prendeu o cabelo, lavou as mãos e colocou o avental — Posso começar a te ajudar logo.

— Eu agradeceria. Chegaram alguns filhotes novos.

Você olhou na direção em que ela apontou com a cabeça, deixando um sorriso involuntário tomar conta de seus lábios quando viu os pequenos. Todos os gatos novos eram colocados em uma área separada dos antigos, para poderem tomar as vacinas antes de se juntarem.

Rapidamente, você foi até lá, deixando que alguns deles esfregassem as cabeças pequenas no seu braço, enquanto fazia carinho em alguns deles.

— Quem foi que trouxe eles? — Você perguntou, mas, o sorriso pretensioso no rosto de Emma já entregava tudo.

— Foi o Baji — Ela respondeu, com um olhar malicioso — Ele disse que ia passar aqui mais tarde, também.

— Foi, ele me disse — Você respondeu, desviando o olhar e voltando a encarar os gatinhos, tentando esconder as bochechas avermelhadas.

Um pequeno silêncio pairou entre vocês e, por mais constrangedor que ele fosse, você esperava que continuasse assim até o fim do expediente de Emma, mas, infelizmente, a loira continuou a falar.

— O que 'tá rolando entre vocês?

— Como assim? — Tentou se fazer de desentendida, mesmo sabendo que não conseguiria.

— Draken me disse que você dormiu lá naquele dia — Agora, com certeza, suas bochechas estavam pegando fogo — Mas você não namorava com aquele Kisaki?

— É uma história complicada — Você disse, deixando os gatinhos de volta na área deles e se levantando, indo colocar comida para os outros gatos — Kisaki e eu terminamos naquele dia, mas foi um termino meio feio, aí eu achei melhor ir para a casa de alguém do que ficar sozinha no meu apartamento.

— E por que a casa do Baji?

— Kazutora 'tava lá — Mentiu, porque, mesmo que o Hanemiya realmente estivesse lá naquele dia, você não tinha ideia disso. Naquela noite, a sua intensão era única e exclusivamente de encontrar com Keisuke de novo — Então eu acabei voltando.

— É verdade, você e Kazutora são amigos — Ela desviou a atenção dos seus olhos por um segundo, como se estivesse pensando.

Você realmente gostava de Emma. Ela sempre foi muito simpática e prestativa com você, mas, pelo fato de você nunca ter tido muitas amigas, não sabia bem como se comportar perto dela, principalmente pela loira ser bem extrovertida e conhecer praticamente metade da cidade.

Se aproximar dela até parecia uma boa ideia para você, mas vocês eram muito diferentes e, na sua cabeça, talvez ela não fosse gostar tanto assim de você.

— Mas, vocês 'tão ficando? — O interrogatório continuou e, por mais que ela fizesse as perguntas de uma maneira bem calma e leve, você só ficava mais nervosa a cada fala dela.

— Acho que não — Você respondeu a primeira coisa que vejo na sua mente, mas depois se lembrou de todas as conversas que já tiveram — Quer dizer, eu não sei bem.

— Como assim?

— A gente ficou, sim — Tentava não embolar as palavras e pensar antes de responder. Você queria conversar com Emma sobre isso, até porque ela parecia ser bem mais experiente do que você, mas não sabia como — E a gente 'tá se falando bastante ultimamente, mas eu não sei bem se isso significa alguma coisa.

— Se serve de consolo, Draken disse que ele não para de falar sobre você — O saco de ração que estava na sua mão quase caiu, mas você conseguiu segura-lo. Seus olhos se arregalaram, o que fez a loira soltar uma risada leve.

— O que? — Você conseguiu perguntar sem gaguejar.

— Baji fica falando sobre você o tempo todo — Ela explicou, lhe deixando mais atordoada a cada segundo — Na verdade, parece que ele já queria te chamar pra sair faz um tempo, antes de saber que você é a melhor amiga de Kazutora.

— Mas, nessa época eu só conhecia ele daqui do petshop.

— Pois é — Emma respondeu, com o mesmo sorriso pretensioso no rosto, depois de dar de ombros — Só não conta 'pra ele que eu te disse isso.

— E não conta o que eu falei 'pro Draken, por favor.

— Fechado — Ela disse, tirando o avental e pendurando ele em um dos cabides na parede da esquerda — Quando quiser conversar, eu 'tô aqui, certo?

Você ainda estava tentando racionar tudo o que ela disse nesse pequeno espaço de tempo, mas conseguiu assentir com a cabeça. Uma felicidade indescritível assolou o seu peito quando você percebeu que, talvez, ela realmente quisesse conversar com você. Quem sabe, vocês acabariam se tornando mais amiga do que você imaginava.

— Inclusive — Ela disse, quando já estava saindo pela porta da frente, com a bolsa no braço — Você tem meu número?

— Acho que não — Você respondeu, franzindo as sobrancelhas e indo até sua bolsa, pegando o celular lá de dentro e procurando nos contatos.

— Coloca seu número aqui — A voz de Emma fez você levantar o olhar e ver que ela estava erguendo o próprio celular na sua direção.

Tentando não hesitar, você pegou o aparelho das mãos dela e digitou o seu número, mas não colocou o nome de nenhum contato, sem saber como ela iria querer salvar o seu nome.

— Pronto. Agora a gente não precisa mais esperar se encontrar no trabalho 'pra conversar.

Você esboçou o que provavelmente seria o sorriso mais sinceros da semana e concordou com a cabeça, tentando não parecer tão animada quanto estava.

Depois de se despedir de novo, Emma finalmente foi embora, deixando você sozinha, com os gatos. Mesmo que a loja não tivesse tantos clientes, você adorava ficar lá, sem ninguém, apenas você e os felinos.

Poucos clientes vieram hoje, mas foi o dia mais movimentado da semana. Você acabou conseguindo lar para três filhotes e dois adultos, o que tinha sido uma meta e tanto.

Enquanto não tinha ninguém além de você na loja, você aproveitava para limpar as prateleiras e as caixas de areia lá atrás. Também organizou o caixa e fez as contas das finanças. Por mais que vocês não tivessem tantos clientes assim, não era muito caro manter a loja, então vocês quase nunca saiam no prejuízo.

Já estava ficando tarde e seu expediente acabando. Uma pontada atingiu o seu peito quando percebeu que Baji não viria mais. Você nem o culpava não verdade. Ele tinha dito que viria se tivesse tempo. Talvez algum imprevisto tivesse acontecido e impedido ele de vir.

Mesmo triste com isso, você suspirou e foi organizar os fundos da loja para poder ir embora, se certificando de que os gatinhos estavam com tudo o que precisavam para passar a noite.

Quando já estava com tudo pronto e arrumado, tirou o avental e pendurou ao lado do de Emma, pegou sua bolsa e foi procurar as chaves para fechar a loja. Assim que as pegou atrás do balcão, ouviu o sino da porta, avisando que um novo cliente tinha chegado.

— Desculpe, mas estamos fechados... — Você parou de falar assim que se virou e encontrou com as íris douradas de Keisuke.

— Não podem abrir uma exceção 'pra um cliente fiel?

Você nem conseguiu conter o sorriso involuntário, apenas assentindo com a cabeça, enquanto acompanhava o moreno entrar na loja.

Assim como você, Baji também não sabia como lhe cumprimentar, ou como se dirigir direito a você. Isso nunca tinha acontecido com ele antes. Geralmente, ele não ficava nervoso em falar com uma garota que ele estava conversando. Mas, assim que lhe viu pessoalmente pela primeira vez depois daquele final de semana, o cérebro dele não conseguia raciocinar direito.

— Eu vou querer dois pacotes de ração, por favor — Foi o que ele conseguiu dizer, depois de perceber que estava lhe encarando por tempo demais.

— Claro — Você disse, se abaixando no balcão e pegando o que ele tinha pedido, tão desnorteada quanto ele — Mais alguma coisa?

— Não, obrigado.

Você não sabia bem o que esperar desse encontro, mas não imaginou que vocês fossem só se tratar como se tratavam antes do final de semana passado. Algo na reação de vocês tinha mudado, você sabia disso, mas parecia que estava tudo igual. Mesmo assim, você não tinha coragem de mudar as coisas.

— Acho que é isso — Ele disse, assim que acabou de pagar — A gente se vê, então?

— A gente se vê — Você respondeu, tentando colocar o sorriso mais convincente no rosto.

Keisuke pegou a sacola com os pacotes de ração em cima da mesa e se virou de costas, começando a andar em direção à porta. Ele queria lhe chamar para sair, era o plano dele desde o início. Mas, e se ele estivesse apressando demais as coisas ? Você parecia ser uma pessoa bem delicada, então ele não queria acabar lhe sufocando.

Mesmo assim, se ele continuasse não fazendo nada, talvez acabaria perdendo você para outro idiota que nem Kisaki. Por isso, antes de pegar na maçaneta da porta, ele se virou na sua direção de novo, fazendo suas sobrancelhas arquearem.

— Você 'tá livre amanhã de tarde? — A pergunta dele fez você arregalar levemente os olhos, mas não hesitou em responder.

— Sim.

— Quer sair comigo?

Você achava que não tinha como ficar mais surpresa do que estava, mas, assim que ouviu a segunda pergunta, outro sorriso sincero tomou conta de seus lábios.

— Quero.

Agora, ele quem parecia surpreso.

— Beleza. Eu te pego na casa do Kazutora de umas três da tarde, pode ser?

— Claro.

Obviamente, ele não esperava que você fosse concordar com a saída, mas, agora que ouviu o seu "sim", ele não poderia estar mais feliz.

— Até amanhã, [Nome].

— Até amanhã, Keisuke.

Ele sorriu ao perceber que você o chamou pelo primeiro nome, mas saiu sem dizer mais nada. Assim que a porta se fechou novamente, você deixou um gritinho feliz escapar de seus lábios. Finalmente, parecia que as coisas estavam dando certo, e amanhã você teria um encontro.

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