05|ꜱᴏʀᴠᴇᴛᴇ.

MAYA TEVE UM DIA DIFÍCIL na escola, algumas garotas mexeram com ela, e não que nos dias de hoje a cacheada se importasse com o que elas diziam. Porém, havia uma voz pequena bem lá no fundo de sua mente que se perguntava se não era mesmo verdade.

Maya se considera uma garota com uma mentalidade forte, era atacante principal do time de futebol e estava acostumado a receber xingamentos. Mas aquilo era só no esporte. Quando ela voltava para o mundo real onde as pessoas apenas eram maldosas por querer, Maya caia nas provocações e aceitava para si o que eles diziam.

Naquele instante se encontrava na sala assistindo Gravity Falls, e nem Dipper e Mabel com suas piadas e problemas animavam a noite da garota.

Maya suspirou pesadamente sugando o achocolatado pelo canudinho quando sentiu uma movimentação debaixo da sua coberta. Ela sorriu minimamente pegando o gato preto com olhos esverdeados. Dizem que seus bichinhos de estimação se parecem com seus donos, e Maya não poderia discordar.

Fez um carinho nele que miou gostando do toque.

— Desculpa por não te dar tanta atenção ultimamente, Pantera. — mexeu em suas orelhas vendo ele fechar os olhos. — Hoje foi tenso...

O gato a encarou como se estivesse preocupado, e isso arrancou uma risadinha da morena que o abraçou fortemente contra o seu rosto. Deixou o felino solto depois de alguns segundos apenas acariciando sua pelagem.

— Por que as pessoas são maldosas, Pantera? E por que eu sempre acredito no que elas falam? — questionou focada no desenho com o estômago embrulhando. — Isso é um karma por gostar de alguém comprometido? Se sim, eu acho que mereço isso.

Murmurou escutando miados vindo dele como se respondesse seus questionamentos. Maya suspirou concordando.

Ficou focada na tela da tv sem conseguir prestar muito atenção nas falas dos personagens. Até depois de um tempo, escutou a campanhia sendo tocada. Ela suspirou levantando-se do sofá sem muito ânimo para saber quem era atrás da porta.

Tetsu? — franziu o cenho com o repentino aparecimento. Kuroo estava péssimo, os cabelos mais bagunçandos que o comum e os olhos inchados.

Ele fitou por longos segundos os olhos da garota que não se desgrudaram dos seus. Kuroo se sentia envergonhado de aparecer alí naquele estado, mas passar o tempo com Maya sempre aliviava a sua tristeza.

— Posso entrar? — questionou baixo, porém ainda manteve a expressão cínica. Maya revirou os olhos brincalhona sorrindo sarcasticamente.

— Vou precisar de sorvete?

— O maior pote que tiver. — fez um carinho nos cabelos cacheados entrando depois na residência dos Yukimura.

Kuroo já conseguia se sentir mais relaxado, havia perdido as contas de quantas vezes esteve alí, para ele, aquele lugar era sua segunda casa. Foi em direção à sala deitando-se no sofá sem cobertas, observou o desenho que rolava rindo sabendo que era o favorito da cacheada.

Até que a aproximação de um felino arrancou sua atenção. Kuroo riu ladinho pegando-o no colo.

— Oi Pantera. Como você está neném? Tá cuidando bem da sua mamãe? — Tetsurou brincava com o bichano enquanto afinava a voz.

Maya que entrava na sala com o pote de sorvete em mãos franziu o cenho observando a cena. Pantera miava parecendo animado com os carinhos que o garoto fazia.

Ownn. Quem é o fofinho do papai? Quem é? — acariciou as orelhas dele recebendo um ronronar. Tetsurou riu subindo os olhos encontrando Maya o encarando estranhamente. — Que foi?

— Nada... Só estou surpresa com você fazendo esse tipo de voz com o meu gato.

— E qual o problema, monstrinha? Não vai me dizer que está com ciúmes... — sorriu cinicamente. Maya fez uma careta inconformada com a acusação.

— Sim. Tenho ciúmes do meu gato, apenas eu posso fazer carinho nele. — disse sarcasticamente arrancando uma risadinha do moreno enquanto ela se sentava cobrindo seus pés. — E por que você é o pai dele?

— E quem mais seria?

— O Kenma...? — respondeu o óbvio, mas isso arrancou uma gargalhada estranha dele. Maya se segurou para não rir juntamente por causa da risada.

— Então ele teria um pai ausente. — Ela revirou os olhos não discordando. Bufou pegando uma colher de sorvete dando o outro para Kuroo que sorriu agradecido. — E foi eu quem te deu ele.

— Você o encontrou na rua.

— E te dei. — ela bufou novamente. — Então eu sou o pai dessa coisinha peluda. — Kuroo brincou com Pantera enquanto ela revirava os olhos fortemente.

— Tá. Tanto faz. — ignorou a palpitação de seu coração afim de focar no desenho. Porém, uma duvida apareceu em sua mente. — E a sua namorada está tranquila com você já ser pai? — sorriu cinicamente já prevendo receber um sorriso semelhante ao seu.

Porém o que Maya viu foi um Tetsurou com o cenho franzido e o olhar mais baixo. Nada de sorrisos presunçosos, e nem sarcásticos. Apenas ele quieto e sério.

— Não sei May. — deu de ombros respirando fundo. — Eu e a Naomi brigamos.

Maya parou a colher na boca surpresa. Engoliu o sorvete encarando-o esperando que dissesse mais alguma coisa, entretanto ele não falou mais nada. Seus olhos castanhos focados na tv mostrou que o moreno não queria conversar sobre aquilo, porém Maya não se importava com os limites.

— O que causou a confusão?

— Por que não acha que não foi culpa apenas de alguém.

— Conheço você Tetsu, e mesmo não tendo conversado muito com a Naomi, ela me parece alguém sensata. — diz calmamente pegando mais sorvete. — As vezes só foi uma situação que teve mal estendidos.

Kuroo ficou em silêncio apenas concordando. Não diria para Maya que o que causou a discussão foi ela. E não queria entender porquê teve essa discussão com a sua namorada sobre outra garota. Kuroo pode estar sendo babaca, mas ele realmente não se importava. Conversaria no dia seguinte com Naomi e as coisas se resolveriam.

— Esse pote de sorvete não é para mim? — mudou de assunto. Maya obviamente percebeu, mas já que ele não queria comentar, ela respeitaria a decisão.

— Por que? — perguntou com a boca cheia. Kuroo franziu o cenho.

— Você me perguntou se iria precisar de sorvete.

— E você respondeu o maior pote que tiver.

— Sim... Mas...

— Quando eu disse que era pra você, Tetsu? — sorriu sarcasticamente. Kuroo riu desacreditado jogando uma almofada na cara dela. — Filho da puta!

Kuroo sorriu daquele jeito que estressava os nervos da garota, mesmo ele estando um grande gostoso daquela maneira.

— Agora que eu não te dou sorvete.

— Para com isso May... Eu tô triste... — fez cara de coitado dizendo com a voz mais mansinha que a garota já escutou em sua vida. — Brigar com a namorada não é fácil...

Foda-se.

— May! — a garota riu altamente jogando sua cabeça para trás. Kuroo ficou focado nas reações do corpo dela não conseguindo desviar os olhos.

Talvez agora ele havia começado a entender a reação de sua namorada, e isso deixou Kuroo assustado. Desviou os olhos de Maya nervosamente sentindo a garganta seca.

Depois da garota acalmar a risada ela ficou em silêncio notando ele ficar estranho, mas não perguntou nada, as vezes só estava pensando na discussão com a namorada.

Maya suspirou dando o pote de sorvete para ele que aceitou com um sorriso mínimo. Kuroo pegou uma colher generosa na massa observando melhor a morena.

Maya também possuía um semblante mais abatido, mesmo tendo rido à segundos atrás, o rosto tenso e as olheiras um pouco mais escuras mostravam que a garota também não estava tendo um dos melhores dias.

— E você? — questionou Tetsurou recebendo um franzir de sobrancelhas confusas.

— O quê?

— O que aconteceu para estar triste?

— Eu não estou triste. — disse como se fosse óbvio, mas claro que aquela mentira não chegou aos olhos de Kuroo que apenas riu sarcasticamente.

— Quer enganar quem monstrinha? Esqueceu que eu te conheço?

Maya bufou revirando os olhos. Pegou das mãos dele o pote de sorvete exagerando na colherada. Kuroo ficou em silêncio observando-a se acabar no doce ficando mais sério.

— Vai com calma. Desse jeito vai ficar com dor de barriga.

— Vale a pena ficar. — murmurou.

Maya não queria falar naquele momento que mexeram com ela na escola e a causa foi ele. Também não queria dar satisfação do porquê aquelas garotas a colocaram naquela situação. Pensar que Kuroo poderia descobrir que ela tinha uma quedinha por ele embrulhava o seu estômago mais do que comer muito sorvete.

— Ei. — Ela o chamou ainda focada na tela. Kuroo a encarou esperando o que a cacheada tinha à dizer notando os olhos verdes voltarem para ele. — Vamos dar uma volta?

𖦹𖦹𖦹

Estavam no parquinho da vizinhança. Tetsurou e Maya se movimentavam no balanço observando a rua sem movimento e o céu cheias de nuvens escondendo o brilho da lua.

Ficaram um tempo observando a paisagem antes de Kuroo começar a se incomodar com o semblante de Maya.

— Não vai mesmo me dizer o que houve? — a escutou bufar.

— Só se me dizer a causa da discussão entre vocês. — diz Maya que sorriu quando ele ficou tenso. Sabia que só desse jeito para ele não tocar mais no assunto. — Foi o que eu pensei.

Kuroo respirou fundo. Ficou em silêncio pois ele não queria comentar sobre a discussão. Porém, se era só desse jeito para Maya abrir a boca, ele falaria:

— Há coisas que a Naomi não entende sobre mim. Como as pessoas que convivem ao meu redor. — suspirou pesadamente começando a se estressar ao se lembrar. — Ela não entende minhas amizades e disse para eu dar um tempo e focar mais nela. E quando me disse isso, eu fiquei puto porquê deveria ceder mais momentos com os meus amigos para ficar com ela.

Bufou olhando para o céu tampado gostando das sombras que a lua fazia quando estava atrás delas. O vento frio se fez presente fazendo-o esconder suas mãos no bolso do moletom.

— Não entendo porquê devo doar mais tempo com pessoas que eu considero minha família para ficar com ela. Eu já tô focando demais nesse relacionamento deixando de fazer várias coisas com vocês, e parece que a Naomi não percebe isso ou não faz o mesmo esforço. — bagunçou os cabelos frustado. — Sei que em um relacionamento pode nos afastar das nossas amizades, mas eu não quero ser aquele cara que quando começa a namorar esquece os amigos, ainda mais se for vocês que fizeram parte da minha vida desde que ele começou a fazer sentido para mim. — Kuroo enrrugou o nariz sentindo as mãos suarem. — Além do mais tem os ciúmes. Ela é muito ciumenta e insegura, e quando eu converso com qualquer garota ela já pensa que eu vou trocá-la. Porra, isso é estressante pra caralho. Se eu tivesse interesse em outra pessoa porquê estaria namorando ela? Eu gosto dela pra caralho, e a Naomi não entende isso.

Maya ficou sem reação por alguns segundos. Não esperava que Kuroo fosse dizer a causa da discussão e desabafasse naquele momento com ela. E mesmo a morena sendo a causadora desse desabafo, Maya sentiu arrependimento de questionar pois ela realmente não queria saber dos detalhes do relacionamento de Kuroo com Naomi.

Foda-se se estava sendo egoísta, Maya já assumiu para si mesma que ela era assim.

Escutar de Tetsurou que ele gostava da ruiva de verdade, só a fez ficar ainda mais mal.

Porém, além de Maya ser egoísta, ela era trouxa. Trouxa por ficar tocada pelo desabafo de Tetsurou e pensar em formas de ajudá-lo a se reconciliar.

Ela respirou fundo prendendo os cachos em um coque. Kuroo sentiu vergonha por dizer tudo aquilo, ainda mais para Maya que não era obrigada a escutar seus problemas no namoro.

Desculpa.

— Pelo quê? — ficou confusa observando a expressão constrangida dele.

Por isso. Você não merece me escutar reclamando da Naomi. - Maya o encarou enquanto fazia careta.

— Você é burro?

— O quê...?

Kuroo estava sem reação. Burro? Claro que ele não era! Fitou Maya com o cenho franzido recebendo o mesmo olhar.

— Que porra? Claro que não sou!

— Então porque está se desculpando?

— Eu acabei de dizer que você não merece me escutar falando da Naomi, idiota.

— Quem está sendo idiota aqui é você.

— Vai se foder, Maya! — ele profere causando um revirar de olhos da garota.

— Não precisa se desculpar por desabafar com uma amiga. Isso é o que eu espero de uma amizade, estou aqui para te escutar e te aconselhar da melhor forma possível, e mesmo que eu não encontre respostas, vou estar do seu lado de apoiando. Idiota.

Ela suspirou. Kuroo arregalou os olhos sentindo um calor em seu peito pela inesperada resposta. Maya sempre conseguia surpreendê-lo, mesmo com anos de amizade.

— Sobre a Naomi... Eu entendo um pouco esse lado inseguro dela, mesmo eu não entendendo o do porquê ela sentir isso. A Naomi é a garota mais linda que eu conheço. — bufou revirando os olhos. — De qualquer forma, tenta usar mais palavras de afirmação com ela, tocá-la e mostrar mais afeto publicamente. Desse jeito ela vai perceber que você não tem vergonha dela e que não liga para as pessoas virem vocês juntos.

Kuroo prestou o máximo de atenção não desviando o foco nela. Anotava tudo em sua mente não querendo esquecer de nada.

— Agora sobre a amizade... Isso é algo mais complicado. Você era nosso amigo muito antes de começar a namorar, então deveria dizer mais isso à ela, ou... — Maya engoliu em seco antes de dizer o que realmente iria dizer. Já conseguia sentir o arrependimento, mas se Kuroo fosse ficar feliz, ela não ligava de ficar desconfortável. — Ou incluí-la nas saídas do time e nas nossas. Assim ela entra no nosso ciclo de amizade e você não precisa se afastar...

Kuroo ficou em silêncio processando os conselhos, fitou intensamente os olhos esverdeados antes de sorrir minimamente para Maya que estava focada na rua sem movimento.

— Você tem certeza sobre esse último, May?

— Como assim?

— Na última vez nós discutimos por causa que eu queria incluir a Naomi nas nossas saídas.

— E eu me desculpei por ser uma egoísta. — revirou os olhos.

— Não May. — Kuroo negou rapidamente fazendo uma careta. — Você não foi egoísta. Já te falei isso. O lance das quartas é só nosso. Posso até incluir a Naomi no grupo, mas isso vai continuar só entre nós três. Tudo bem?

Maya sentiu suas respiração descompassar, molhou levemente seus lábios depois de engolir em seco. Saber que pelo menos aquilo Naomi não tomaria de si, era algo aliviador.

— Agora é a sua vez de desabafar. — Kuroo disse firmemente enquanto cruzava os braços. Maya fez uma careta já se esquecendo do seu problema.

Ela realmente não queria falar sobre aquilo com Kuroo. Achava algo bobo e vergonhoso. Nada que ele deveria se preocupar. Por isso ela arrumou a mecha solta colocando-a atrás da orelha antes de mentir:

— Só estou ansiosa. O campeonato está chegando e a treinadora Emi está com grandes expectativas.

— Como eu pude esquecer!? — Kuroo exclamou franzindo o cenho. — Vai ter olheiros?

— Com certeza. — murmurou pesadamente. — Mesmo eu não tendo certeza de jogar futebol profissionalmente, seria uma grande oportunidade.

— Claro que seria. Mas fica tranquila monstrinha. Você é a melhor atacante do campo.

Claro que sou.

— Deveria ser mais arrogante. Vou ter que ligar para o Bokuto para te ensinar a ser mais presunçosa? — Kuroo brincou arrancando uma risada de Maya.

— Por favor. Já estou com saudade daquele cabeça branca, e do Akashi também.

Kuroo riu altamente pelo modo que Maya chamou Koutaro. O garoto sempre ficava para baixo quando escutava aquele apelido vindo dela e era algo engraçado de se assistir.

— Mas tá tudo bem se eu não passar esse ano Tetsu. Ainda estou no segundo ano, tenho bastante tempo para focar. — disse calmamente.

— As vezes eu esqueço que você é mais nova que eu.

— Alguém tinha que ser para cuidar o Kenma.

— Parecemos os pais deles.

— Não é? Aquele moquele vive no celular.

— Precisa tomar um sol.

Ambos se encararam antes de rirem altamente. Kuroo realmente não queria se afastar de Maya por causa de relacionamento.

𖦹𖦹𖦹

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