— Finalmente as donzelas chegaram — Jean quase gritou, confortavelmente deitado no sofá, pouco antes de puxar a essência do black sheep que tinha em mãos — Demoraram pra cacete hoje.

— Esse black sheep é meu? — Você perguntou, jogando a bolsa na mesa da sala de estar e tirando os saltos, os deixando em qualquer lugar.

— Muita burrice achar que o Jean ia ficar sozinho aqui e não ia roubar seu vape — Foi a vez de Connie falar, aparecendo na sala, saindo da cozinha com uma maçã na mão.

Você revirou os olhos e entrou no extenso corredor, passando pelas várias portas dos diferentes cômodos, até chegar no seu quarto. Como sempre, a porta tinha sido aberta por Jean, que revirou todas as suas gavetas atrás do estoque de nicotina. Depois de um suspiro, você resolveu ignorar isso e já tirou suas roupas, ainda que no meio do quarto, caminhando até o banheiro.

A água morna em contato direto com sua pele fez todos os seus músculos relaxarem do dia exaustivo de trabalho. Mesmo assim, resolveu não ficar no banho por muito tempo, já que tinha que começar a se arrumar para a festa do Yeager.

Acabou desligando o chuveiro e se enrolando em uma das diversas toalhas que tinham no seu banheiro. Ainda só com ela, entrou novamente no quarto, indo direto para o extenso closet.

— Ei, dá o nó dessa porra aqui, por favor — A voz irritada de Jean invadiu os seus tímpanos, lhe fazendo virar para trás e encarar o amigo, já de smoking, tentando colocar a gravata.

— Um dia você vai ter que aprender a fazer isso — Você respondeu, rindo e indo até o amigo.

— Pra que, se eu tenho uma amiga tão incrível quanto você pra fazer isso por mim? — O tom de sarcasmo dele fez você revirar os olhos, mesmo assim, se apressou em dar logo o nó e ajeitar o resto da roupa.

— Pronto — Você disse, se afastando um pouco e analisando o seu melhor amigo elegantemente pronto para a festa — Nem parece que você vai acabar amarrando essa gravata na cabeça em menos de uma hora de festa.

— Peraí, eu consigo aguentar duas horas comportado — A fala dele arrancou uma risada alta sua, enquanto você procurava nas prateleiras pela sua própria roupa — Vai vestir o que?

— Lembra do vestido que Armin me deu no meu aniversário do ano passado?

— Nem fodendo.

— Então senta aí e espera — Mais uma vez, você revirou os olhos, mas não parou de procurar a caixa branca — Achei.

Ficando na ponta do pé, você conseguiu tirar o que achava de uma das prateleiras mais altas, quase fazendo sua toalha cair. Você segurou firme o único pedaço de pano que cobria o seu corpo nu e levou a caixa até uma espécie de bancada no meio do closet.

— Esse esforço todo pra não deixar a toalha cair — Jean falou, se levantando da poltrona em que estava sentado e indo em sua direção — Até parece que eu nunca te vi pelada.

— É verdade — Respondeu, abrindo a caixa na sua frente e relevando seu vestido de mais tarde — Acho que nem Sasha já me deu tantos banhos pós pt.

— Foda. Você devia arrumar outra pessoa pra fazer esse trabalho.

— Pra que, se eu tenho um amigo tão incrível quanto você pra fazer isso por mim? — Você ironizou, repetindo a frase que ele havia dito poucos minutos atrás.

O moreno acabou rindo alto da sua piada, o que também arrancou uma risada sua. Ninguém no mundo lhe fazia rir mais do que Jean Kirstein, seu melhor amigo desde que você tinha uns cinco anos. Muitas pessoas acham que vocês dois são um casal, ou vivem uma espécie de amizade colorida. Mal eles sabem que você e Jean nunca tiveram nada. Pode-se até dizer que vocês sempre se consideraram irmãos, talvez pelo fato de os dois serem filhos únicos.

Você tirou o vestido pedrado de dentro da caixa, sentindo o peso dele em suas mãos. A peça era de uma cor neutra clara, completamente coberto de pedras. O tecido fino e quase transparente caia perfeitamente sobre o seu corpo. A alça dele era fina, também pedrada, e o decote já até metade da sua barriga, deixando a curvatura dos seus seios exposta. Para completar, uma fenda do lado direito, na altura da metade de sua coxa, deixava sua perna quase que toda exposta.

— Caralho — Jean falou, assim que você saiu novamente do banheiro, já vestida — E não é que você fica bem gostosa nesse vestido? Nem parece você de verdade.

— Por um segundo, eu realmente achei que você ia me elogiar.

— É brincadeira, maninha. Você tá perfeita.

Um sorriso escapou de seus lábios ao ouvir ele lhe chamar assim. Não eram raras as vezes que o Kirstein lhe chamava como se fosse irmã dele, mas isso sempre causava um calor gostoso em você, como se ele realmente fosse da sua família.

— Só vou fazer uma maquiagem rápida e dar um jeito no cabelo — Você falou, quando percebeu que tinha passado muito tempo desconcertada — Vai me esperar aí? 

O moreno fez um som de "uhum" com a boca e pegou o celular no bolso, começando a mexer no aparelho, sem tirar os olhos da tela. Ao mesmo tempo, você rapidamente se sentou na penteadeira, ligando as luzes de led que clarearam o seu rosto. Sem muita demora, uma vez que já estava muito atrasada, você começou a preparar sua pele, enquanto pensava no que ia fazer no cabelo.

Não demorou mais de quarenta minutos para que você ficasse completamente pronta, optando por uma maquiagem mais suave e deixando o cabelo o mais natural possível. Acabou dando um sorriso de lado ao ver seu reflexo no espelho, aprovando o que estava vendo.

Acabou se levantando rápido e indo procurar apenas um par de saltos, tão cintilantes quanto o vestido, e uma bolsa que combinasse. Assim que terminou, puxou Jean pela gravata, para que o moreno se apressasse, e foram logo se encontrar com Connie e Sasha, que esperavam por vocês na sala.

A mulher estava trajando uma vestido azul petróleo, com um fino tecido brilhoso por cima. Ela tinha o cabelo preso em um coque arrumado e não carregava nenhuma bolsa. Já Connie, estava com um smoking azul escuro, quase da mesma cor do que o vestido de Sasha.

— Vamos? — Você perguntou, assim que pisou na sala de estar.

Os outros dois concordaram com a cabeça e se levantaram do sofá, seguindo você e Jean, que já estavam de braços cruzados.

Em todos os eventos era a mesma coisa, você e Jean sempre entravam juntos, do mesmo jeito que Sasha e Connie, ainda que nenhum dos dois casais fosse, de fato, casais. Talvez fosse por causa disso que muitas pessoas sempre imaginaram que você e o moreno fossem namorados.

Assim que saíram do elevador, vocês entraram na limousine que já estava por vocês na garagem. Ir de helicóptero seria a opção mais rápida, mas também acabaria com o seu cabelo e com o de Sasha. Além disso, você nunca reclamava de beber champanhe durante as viagens.

— Vocês ouviram a Mikasa falar sobre um primo dela que 'tava chegando em Tokyo? — Sasha perguntou, quando vocês já estavam dentro da limousine, enquanto servia espumante em algumas taças.

— O cara que mora na Itália? — Foi a vez de Connie perguntar, aceitando a bebida que a amiga oferecia.

— Eu ouvir dizer que ele é um empresário fodão lá da Europa, mas nunca nem vi o rosto dele — Jean comentou, olhando para você logo em seguida — Sabe de alguma coisa?

— Parece que ele não aparece muito na mídia — Respondeu, dando de ombros — Dizem que é um dos homens mais bem sucedidos e cobiçados do mundo, mas ninguém nem sabe como ele se parece.

— Quando vê, [Nome] é a primeira a dar o bote — O careca comentou, fazendo todos vocês rirem dentro do veículo.

— Não me importaria em acordar na cama de um bilionário gato amanhã — Você disse, levantando a taça em sinal de brinde e bebendo do líquido logo em seguida, sentindo o gás da bebida descendo rasgando sua garganta.

— Vamos torcer por isso — A morena brincou, propondo um brinde, que foi aceito por todos.

O resto do caminho foi mais rápido do que você esperava, tanto que nem deu tempo de acabar a garrafa. A mansão dos Yeager era um pouco afastada da cidade, então vocês nunca pegavam as ruas principais, sempre conseguindo fugir dos trânsitos infernais de Tokyo.

Assim que o veículo parou de andar, você conseguiu ouvir a porta do motorista sendo aberta e, alguns segundos depois, a porta de vocês. Connie foi o primeiro a sair, que ajudou Sasha logo em seguida. Como de costume, você seria a última, aceitando a mão de Jean.

No momento em que pisou para fora, já conseguiu sentir os flashes quentes das câmeras dos fotógrafos em cima de vocês quatro. De braço entrelaçado com o Kirstein, você começou a subir a escadaria que levava até a entrada da mansão, sem ligar para os paparazzi gritando, pedindo por um pouco de atenção.

— Está atrasada — A facilmente reconhecível voz do seu querido pai atingiu seus tímpanos assim que você passou pela porta principal, fazendo você se virar para o mais velho.

— Estou elegantemente atrasada, como sempre — Corrigiu, com um sorriso sínico no rosto, enquanto depositava um beijo em cada bochecha dele — Onde fica o bar?

— Já vai beber, [Nome]?

— Ela já 'tá bebendo desde que entrou na limousine— Jean comentou, apertando a mão do loiro, com a mesma firmeza de sempre.

— Não fale como se você não tivesse bebendo também — Você retrucou, analisando o espaço em volta.

Por mais que viesse na casa dos Yeager, pelo menos, uma vez por semana, nunca conseguia se acostumar com o quão fantástico era aquele lugar. A arquitetura antiga só dava um ar mais classudo ao lugar, além de ele ser enorme e ter vários móveis revestidos a ouro. Uma escadaria de madeira escura, com um tapete vermelho grosso, se posicionava no meio do grande salão de entrada.

Diversas pessoas estavam espalhadas pelo salão, com roupas de gala e taças de espumante na mão. Mesmo assim, você sabia que a verdadeira festa só iria começar quando esses adultos classudos fossem embora, incluindo o seu pai.

— Tente não fazer besteira, certo? — A fala de Erwin lhe tirou de seus pensamentos e fez você se virar novamente para ele — Talvez o nosso novo sócio venha hoje.

— O cara que eu tenho que ficar o mais longe possível?

— Esse mesmo — Você riu com a confirmação do mais velho, mas concordou com a cabeça, pouco antes de ele pedir licença e ir se encontrar com Hange Zoe, a conselheira dele.

— Vamos ignorar o seu pai e começar a beber? — Jean perguntou, ao seu lado, baixo, bem rente ao seu ouvido, arrancando uma gargalhada divertida sua.

Em questão de minutos, você já estava com os braços apoiados no bar, pedindo uma caipirosca de morando, bem forte. Ao seu lado, Jean já estava com o whiskey dele em mãos, tentando falar com Connie pelo celular, que, em menos de cinco minutos de festa, já havia se perdido, juntamente com Sasha.

— Aqueles dois são foda — O moreno reclamou, irritado — Toda vez é a mesma merda.

— Não são eles ali perto do piano? — Você perguntou, com as sobrancelhas meio franzidas, olhando na direção oposta de onde vocês estavam.

— Não sai daí — Ele disse, fazendo um gesto com a mão para que você ficasse.

Nem deu tempo de você concordar com a cabeça, já que o moreno disparou atrás dos amigos "perdidos". Você revirou os olhos e balançou negativamente a cabeça, se virando para o bar novamente quando sua atenção foi chamada pelo bartender, que lhe entregava sua bebida.

Depois de agradecer, você deu apenas um gole, sentindo o ardor da vodka queimar sua garganta abaixo. Mas a sensação era tão boa que você mal ligava.

Seus olhos percorreram por onde Sasha e Connie estavam antes, mas não encontrou eles novamente, muito menos Jean. Com um suspiro frustado, você pensou em ir procurar o Eren para dar os parabéns, mas seus olhos pararam em uma pessoa sentada no bar, um pouco distante de você.

O homem era relativamente baixo, mas a beleza dele compensava qualquer falta de altura. O cabelo dele era perto, curto, liso e estreito, raspado na parte de baixo. Os olhos eram de uma coloração azul maçante, estreitos e completamente intimidantes. Ele trajava um smoking preto, que caia perfeitamente no corpo aparentemente musculoso dele, com uma gravata também preta.

— Achei minha diversão da noite — Você sussurrou para si mesma, pouco antes de dar mais um grande gole na bebida em suas mãos.

Depois de ajeitar o cabelo e o vestido, garantindo que tudo estivesse em perfeita ordem, você começou a andar na direção do homem, o mais confiante possível, atraindo todo tipo de olhar enquanto passava pela multidão, que nem pensava duas vezes antes de abrir espaço para você.

— Um mojito, por favor — Você pediu ao bartender, se sentado bem ao lado do homem baixinho.

Mesmo olhando para frente, você conseguiu sentir o olhar dele desviando minimamente, só o suficiente para conseguir analisar o seu perfil. Mas, para sua frustração, ele não falou nada, apenas desviou o olhar novamente e se concentrou no rum que tinha em mãos.

— Você conhece os Yeager? — Sua pergunta fez ele se virar novamente para você, estreitando um pouco os olhos — Desculpa a pergunta, é que eu nunca vi você aqui antes.

— Conheço a namorada do filho mais novo — O tom dele era completamente seco e direto, fazendo você arquear uma das sobrancelhas com a aparente falta de interesse dele.

— A Mikasa?

— Isso.

— E como é o seu nome? — Você perguntou, mas não recebeu uma resposta de imediato.

As íris azuis mortas analisavam cada detalhe do seu rosto, como se estivessem lhe estudando. Um calafrio forte percorreu todo o seu corpo, enquanto uma sensação de perigo ecoava na sua mente. Mas então, o homem tomou mais um gole da bebida que tinha em mãos, antes de responder a sua pergunta:

— Levi.