𝚝𝚠𝚎𝚗𝚝𝚢

— Parece que Nicolo vai pedir Sasha em namoro no próximo final de semana — Você disse, pouco antes de colocar uma peça de sushi na boca.

— E como é que você sabe disso? — Jean perguntou, fazendo você dar de ombros.

— Ela me ligou ontem de noite e contou que ele anda meio estranho esses dias.

— E aí ela acha que ele vai fazer um pedido de namoro por causa disso?

— Não é só isso, idiota — Você revirou os olhos e deu um gole na taça de vinho, continuando a explicar em seguida — Ele fica perguntando sobre coisas que ela gosta; diz que vai sair com os pais e, na verdade, vai em uma floricultura...

— Como é que Sasha sabe que ele foi em uma floricultura? — Ele lhe interrompeu, mas depois balançou negativamente a cabeça — Esquece, eu nem quero saber.

Você riu alto do comentário dele e acabou chamando a atenção de algumas pessoas por causa disso, mas nunca foi muito de ligar para essas coisas. Almoçar com Jean era, de fato, algo que você precisava muito e estava extremamente grata ao amigo pelo convite.

— Connie vai ficar bem feliz em saber disso — A voz irônica dele lhe tirou de seus pensamentos, fazendo você arquear levemente as sobrancelhas.

— Eu até entendo ele. Sasha é tipo uma irmã pra ele — Mais uma vez, você deu um gole no vinho, sentindo o líquido esquentar a sua garganta — Eles são inseparáveis desde sempre e ela tem se afastado um pouco desde que começou a sair com Nicolo.

— Pois é — Jean deu de ombros — Mas não tem o que fazer.

— É verdade — Você pegou novamente o hashi e voltou a pegar as peças de sushi que estavam na barca no meio da mesa — Seria tipo se você ficasse com raiva por causa do meu relacionamento com Levi.

Ele não respondeu. Você levantou o olhar para encara-lo, mas ele não olhou de volta.

— Jean?

— Não é que eu tenha raiva — Ele se explicou, antes mesmo de você perguntar alguma coisa, voltando a encarar os seus olhos — Eu só não quero que você fique mal depois se isso der alguma merda com seu pai no futuro.

Você apenas suspirou e largou o hashi de novo. Era difícil falar sobre isso, até mesmo com Jean.

— Eu sei o quanto você se esforça pra conseguir a aprovação de Erwin — Você não estava mais olhando para ele — Não é a toa que você só trabalha nessa empresa pra agradar ele. Mas, se você gosta tanto assim de Levi, devia começar a pensar em contar 'pro seu pai.

— Ele vai ficar muito puto — Você respondeu, rindo levemente para tentar esconder o nervosismo.

— A vida é sua, não dele. E você devia parar de fazer escolhas baseadas no que o seu pai vai achar de você.

Por mais que você já soubesse disso, era sempre como levar um tapa na cara quando Jean falava em voz alta. Depois de todos os conflitos que você e Erwin tiveram no passado, que até lhe fizeram sair de casa antes mesmo de ser maior de idade, você se concentrou muito em agradar o seu pai.

Inclusive, trabalhar naquela empresa sempre foi algo que você se forçou a fazer para agradá-lo. Não é que você não gostava, mas também não era aquilo que você queria para o resto da sua vida. Mesmo assim, nunca teve coragem de falar isso para ele.

— Pelo menos vocês 'tão tomando cuidado pra que Erwin não descubra nada antes de vocês terem uma conversa descente.

Você arqueou as sobrancelhas e pegou a taça de vinho rapidamente, dando um longo gole na bebida.

— [Nome]? — Jean perguntou, com as sobrancelhas levemente franzidas — Vocês 'tão ficando longe um do outro, não é?

— Eu não diria longe — Você tentou circular o rumo que a conversa estava levando — Mas também não tão perto.

— O que você fez?

— Transamos na sala dele hoje de manhã.

— Puta que pariu — Ele quase gritou, suspirando fundo e se encostando na cadeira — Hoje foi só o primeiro dia e não são nem duas da tarde!

— Foi sem querer — Você disse, manhosa.

— Sem querer? Puta merda, você é completamente maluca — Antes que ele conseguisse acabar o sermão, para a sua sorte, o celular dele começou a tocar. Jean leu o nome na tela e não atendeu a chamada, mas chamou o garçom e fez um sinal para ele trazer a conta — Eu preciso ir, mas a gente vai conversar sobre isso mais tarde. Te deixo na empresa no caminho.

— Já disse que eu te amo?

— Disse, mas ainda vai ter que me dizer muito mais.

Você riu, mas não teve tempo de retrucar. Assim que o garçom chegou na mesa, Jean pagou a conta e vocês se levantaram. Agradeceram ao homem e saíram pela porta da frente, não esperando mais do que dois minutos até o manobrista trazer o carro do Kirstein.

O caminho te a empresa foi tão rápido quanto a ida e, depois de se despedir e dar um beijo na sua bochecha, Jean saiu com o carro assim que você fechou a porta do passageiro. Teve que respirar fundo antes de entrar no enorme prédio na sua frente, se lembrando que agora teria uma reunião com Erwin, sobre as propriedades de Floch.

Já tinha perdido as contas de quantos "boa tarde" você deu e suas bochechas doíam de tanto sorrir. Por sorte, você chegou logo na sala do seu pai, batendo suavemente na porta depois que cumprimentou a secretária dele.

Só foi preciso ouvir a voz de Erwin, permitindo sua entrada, para que você abrisse a porta. Seus olhos logo pousaram em Levi, que estava sentado em uma das poltronas, virado levemente para trás apenas para lhe encarar. Mesmo com o olhar intenso em cima de você, sua expressão se manteve neutra e seu olhar logo se voltou para o mais venho.

— Boa tarde, pai — Você disse, com a mesma voz animada e infantil que sempre usava quando se dirigia à ele.

— Boa tarde, [Nome] — O sorriso que seu pai esboçava sempre que você chegava na sala dele era, com toda a certeza, um dos pontos altos do seu dia — Só estávamos esperando por você.

— Senhor Ackerman — Você disse, assentindo respeitosamente com a cabeça, enquanto se sentava na poltrona ao lado dele, na frente de Erwin.

— Senhorita Smith — Ele respondeu, também assentindo com a cabeça.

— Agora, podemos começar a reunião.

Você já estava acostumada a fazer reuniões com Levi, principalmente porque já faziam alguns meses desdenhei ele entrou na empresa. E, por mais que antes vocês não estivessem em qualquer tipo de relacionamento, como estão agora, não foi difícil agir como você sempre agiu antes.

Mesmo antes de tudo isso acontecer, você sempre tentou ser o mais simpática com todos da empresa, e com o Ackerman não era diferente. Você nunca tinha se aproximado muito dele mas reuniões por causa da distância que Erwin havia pedido para você manter dele, mas isso nunca lhe impediu de ser simpática.

Quando era sua vez de falar, não hesitava em olhar nos olhos dele se precisasse, por mais que eles lhe deixassem bastante intimidada e envergonhada. A intensidade com que Levi olhava para você era tão grande que parecia que ele conseguia ver toda a sua alma. Por um tempo, você se perguntou se ele conseguia até ler os seus pensamentos.

As horas foram se passando e você nem percebeu. Por mais que você odiasse trabalhar com qualquer coisa que envolvesse Floch, as propriedades da família dele sempre eram um assunto que lhe deixava entretida.

— Acho que devíamos marcar uma reunião com os Forster no próximo mês — Levi sugeriu, e foi impossível para você não revirar os olhos quando pensou em estar na mesma sala que aquele ruivo detestável — Se você não se importar, claro — A última parte ele falou especificamente para você.

— Tudo bem — Se apressou em falar, ficando levemente desconcertada com sua falta de controle — Eu não me importo.

— Certo, então eu... — Mas o Ackerman parou de falar quando o celular dele começou a vibrar em cima da mesa.

Você não conseguiu ler o contato na tela, porque Levi pegou o aparelho rapidamente e se levantou.

— Se me derem licença, eu preciso atender.

— Fique a vontade — Seu pai respondeu, com aquele sorriso carismático de sempre — Já resolvemos tudo o que tínhamos para resolver.

Com um aceno de cabeça, o Ackerman se virou e saiu da sala, fechando a porta atrás de si. Depois de um leve suspiro, você olhou para algumas anotações que tinha feito e que estavam espalhadas em cima da mesa.

— Eu posso pedir pra Aika marcar a reunião com Flock — Sugeriu, abandonando a formalidade que estava usando poucos segundos antes.

— Isso facilitaria minha vida, obrigado.

Você não olhava na direção dele, mantinha as íris focadas nos papéis em cima da mesa, mas você sabia que Erwin estava lhe analisando, como se estivesse tentando desvendar um segredo seu.

— Posso te fazer uma pergunta? — A voz dele quase fez você tremer de nervosismo.

— Claro — Tentou parecer o mais despreocupada possível, levantando o olhar e voltando a encarar aquelas íris azuis, que você conhecia tão bem.

— Aconteceu alguma coisa?

— Como assim?

— Você anda mais leve ultimamente — Suas sobrancelhas se franzindo fizeram o loiro soltar uma risada divertida, até que ele começou a explicar — Pode ser coisa da minha cabeça, mas você parece mais feliz.

"Estou mais feliz porque percebi que estou apaixonada pelo seu novo sócio".

As palavras quase saíram da sua boca, mas você não teve coragem de falar em voz alta. Apenas sorriu de lado e respondeu:

— Acho que é impressão sua — Sem parecer apressada, você se levantou da poltrona — Mas as coisas têm ido muito bem na empresa, então talvez seja isso.

— Fico feliz que o sucesso da empresa mude tanto o seu humor.

O que mais doía era continuar mentindo para ele.

— Eu tenho que ir agora, pai — Você pegou suas coisas em cima da mesa, juntando todos os papéis soltos — Conversamos mais tarde, certo?

— Claro — O sorriso orgulhoso dele fazia você ter ódio de si mesma — Até mais tarde.

— Até — Foi a última coisa que você disse antes de sair daquela sala.

A vontade que você tinha era de chorar. Não queria continuar mentindo assim para o seu pai, mas sabia que iria o decepcionar mais ainda se ele soubesse da verdade. Com certeza esse era o maior dilema da sua vida, um que você estava decidida a passar horas pensando sobre. Mas, ao ver um rosto não tão familiar, mas facilmente reconhecível, parado no meio do corredor, agora vazio, que levava até a sala de Levi, você parou de andar.

Era Petra. A mesma mulher que estava com Levi na festa a fantasia algumas semanas atrás.

Você pensou em ir embora. Até tentou se virar e sair de fininho, mas ela já tinha olhado na sua direção. O fato de ela ter franzido as sobrancelhas quando lhe viu fez você perceber que ela se lembrava do dia em que vocês se encontraram na festa. Você tinha chamado Levi de "amor", mas esperava que a máscara que estava usando naquele dia fizesse a ruiva não se lembrar de você.

Mas, para o seu azar, ela veio na sua direção, só parando a poucos passos de onde você estava. Ainda com as sobrancelhas franzidas, ela perguntou:

— Você não é a namorada do Levi?

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