𝚝𝚠𝚎𝚕𝚟𝚎

Você batia nervosamente o pé no chão, aproveitando que a sala estava vazia para demonstrar toda a sua ansiedade. Mesmo que uma montanha de papelada estivesse em cima da sua mesa, bem na sua frente, você não conseguia olhar nem um dos papéis sequer, já que sua mente estava em qualquer lugar, menos no seu trabalho.

A flor azul ainda consumia os seus pensamentos, lhe impedindo de conseguir se concentrar em qualquer outra coisa. Não era somente o fato da cor que tomava a sua atenção, mas sim a assinatura com que ela foi mandada.

"L.A."

Você se recusava a acreditar que tinha sido Levi quem lhe mandou aquela caixa. Até o dia anterior, você tinha se convencido de que o baixinho não se importava com você, e queria continuar acreditando nisso. Cada vez mais, o Ackerman tomava mais ainda conta dos seus pensamentos, tornando sua vida complicadíssima.

Um suspiro cansado escapou de seus lábios e você deitou a cabeça na mesa, frustrada. Somente quando sentiu o seu celular vibrar, a levantou de novo, pegando o aparelho em cima da mesa logo em seguida. Assim que leu o nome de Jean na tela, atendeu a chamada.

— O que foi?

Caralho, bom dia pra você também.

Desculpa — Você disse, melancólica, se condenando por tratar seu melhor dessa forma — 'Tô estressada.

Ainda 'tá pensando naquela flor de ontem?

Uhum — Resmungou, voltando a deitar a cabeça na mesa.

Já perguntou pro seu pai se foi ele?

Já, não foi — Depois de um suspiro cansado, você se levantou da cadeira, começando a andar pela enorme sala — Também liguei pro Eren e pra Ymir, não foi nenhum deles.

Quando vê, foi Floch que te mandou.

Nem brinca com isso — O seu tom de "raiva" arrancou uma risada divertida do moreno, o que acabou fazendo um sorriso involuntário tomar conta de seus lábios — Aquele imbecil não faria isso nem se ele tentasse.

Não vou descordar — Dessa vez, foi você quem soltou uma risada — Você conseguiu encontrar uma marca com as iniciais "L.A."?

Não — Assim que seus passos lhe levaram até a parede de vidro no final da sala, você começou a analisar a cidade, que parecia tão pequena daí de cima — Nenhuma marca sequer, nem dos chocolates, nem da flor.

L.A. é a abreviação de Levi Ackerman, não é? — Assim que a pergunta de Jean chegou nos seus tímpanos, você congelou — Já parou pra pensar que ele pode ter mandado?

Já pensei nisso, mas acho praticamente impossível — Mentiu, aproveitando que estava em ligação e, assim, seria mais difícil para o Kirstein saber que você não estava falando a verdade — Eu e o Senhor Ackerman não temos uma relação tão boa assim e mal nos falamos.

Na festa dele eu disse que você 'tava de tpm — Cada vez que ele insistia no assunto, fazia o seu estômago embrulhar mais ainda — Talvez ele tenha lembrado disso e mandado os chocolates.

Por que ele mandaria uma flor também?

Vai que ele 'tá dando em cima de você — Por mais que ele tivesse falado em um tom brincalhão, você não riu — É brincadeira, [Nome] — Jean completou, assim que percebeu que você não tinha achado graça — Enfim, eu vou dar mais uma pesquisada sobre marcas com essa inicial. Se a gente não achar nada, paciência, deve ser só um admirador secreto ou alguma coisa assim.

Certo — Você respondeu, voltando a andar para dentro da sala, em direção à sua mesa — Obrigada de novo.

Não precisa agradecer — O tom caloroso dele foi suficiente para colocar um sorriso sincero nos seus lábios — A gente se vê mais tarde. Te amo.

Também te amo.

Assim que ouviu a ligação sendo desligada, você tirou o celular de perto do ouvido e deixou que um suspiro aliviado escapasse de seus lábios. Uma hora ou outra, Jean descobriria sobre o seu incidente com Levi, mas você não queria que isso acontecesse agora. Além disso, a ideia de realmente ter sido o Ackerman quem lhe mandou aquela caixa lhe deixava ainda mais confusa.

Tudo o que aconteceu entre você e o novo sócio tinha sido, pelo menos na sua cabeça, apenas uma pura necessidade por parte dele. Mas, o fato de ele ter feito um gesto mínimo fazia você se perguntar se ele realmente se importava.

Não era segredo para você mesma que Levi tinha despertado mais o seu interesse do que qualquer outro homem com quem você já tinha saído. Mas, o fato de ele ser proibido só fazia você perceber que estava mais na merda ainda. Se Erwin descobrisse, seria o fim da sua boa relação com o seu pai.

Você já estava voltando a se sentar na cadeira, extremamente confortável, para voltar a tentar trabalhar, quando uma batida na porta tirou toda a sua atenção. Depois de mais um suspiro no dia, você caminhou até lá, deixando que o som de seus saltos entrando em contato com o chão preenchessem o ambiente.

Usualmente, você sempre trabalhava com a porta trancada quando tinha muitas atividades no dia, além de pedir para que ninguém lhe atrapalhasse. Hoje, em especial, tirando o fato de que você tinha muito trabalho, queria tentar organizar seus pensamentos em relação ao Ackerman, e não queria ser incomodada durante isso.

Mas, para o seu azar, assim que você destrancou e abriu a porta, já preparada para reclamar com sua secretária, seus olhos se arregalaram levemente assim que você viu Levi parado na frente da sua sala, com a mesma expressão inabalável de sempre.

— Bom dia — Ele disse, franzindo levemente as sobrancelhas assim que percebeu a sua expressão de surpresa — Interrompi alguma coisa?

— Não não — Se apressou em responder, desviando o olhar, levemente envergonhada — E bom dia.

— Erwin me pediu para ver os relatórios sobre o caso dos Forster e ele me disse que os seus eram os mais completos sobre as empresas deles.

— Certo — Você abriu mais a porta e deu as costas, entrando novamente na sala, fazendo um sinal com a cabeça para que ele também entrasse — Eu tenho alguns salvos no computador, mas também tem alguns que eu escrevi a mão.

— Você faz relatórios escritos? — Levi perguntou, entrando na sala e fechando a porta atrás de si, em um tom sutilmente impressionado.

— Eu gosto de escrever — Respondeu, dando de ombros, indo até a sua mesa e começando a mexer no computador. Rapidamente, você pesquisou os arquivos sobre a empresa, que agora era de Floch, e os enviou para o e-mail do Ackerman — Te mandei os arquivos digitais — Se levantou da cadeira e foi até um dos armários da sala, o abrindo e começando a procurar os papéis certos nas inúmeras pastas que tinham lá — Me dá cinco minutos e eu acho os físicos.

— Não precisa ter pressa — O baixinho disse, se sentando em uma das poltronas que tinham na sua sala.

Involuntariamente, ele lhe acompanhava com os olhos, vendo você vagar de uma prateleira até outra, lendo os títulos das pastas e procurando a que ele queria. Levi sabia que você era muito esforçada e uma das melhores trabalhadoras dessa empresa, além de muito inteligente.

Isso, além da sua beleza, que, aos olhos dele, era indescritível, eram o que faziam a atenção dele se prender tanto a você. Você tinha sido a primeira mulher que fez ele deixar de agir racionalmente para tentar viver um pouco, sem pensar nas consequências.

— Achei — Somente a sua voz fez com que ele saísse dos pensamentos e voltasse à realidade — Esses arquivos são desde quando a gente começou a parceria com eles até o ano passado. O relatório desse ano só vai ser feito em dezembro, mas posso adiantar ele, se o Senhor preferir.

— Não precisa, esses vão ser mais do que suficiente — O Ackerman respondeu, se levantando da poltrona e pegando as pastas pesadas de suas mãos — E também não precisa me chamar de "senhor".

— Tudo bem — Você disse, desviando levemente o olhar, mais uma vez envergonhada. Era engraçado como Levi conseguia lhe deixar com as bochechas vermelhas, já que isso sempre foi um desafio muito grande para os homens com quem você já tinha saído antes. Só em pensar em como o baixinho conseguia fazer você sair de si tão fácil, fazia um embrulho gostoso percorrer o seu corpo, e, por causa disso, você acabou falando por impulso — Você 'tá sabendo da Magic?

Não é uma festa nesse final de semana? — As sobrancelhas dele se franziram levemente, enquanto ele tentava se lembrar da conversa que teve com Farlan, um amigo de infância do Ackerman.

— Essa mesmo — Dessa vez, você se forçou a não desviar o olhar, decidida a manter o contato visual — Você vai?

— Não — A reposta fria e seca dele quase fizeram você arregalar os olhos, mas, ao invés disso, você acabou soltando uma risada divertida.

— Por que não?

— Tenho que revisar uns relatórios.

— No final de semana?

Ele apenas concordou com a cabeça. Levi Ackerman era, com certeza, um cara super focado no trabalho, certinho e que não gostava de curtir a vida. Muito diferente de você. Mas, talvez, fosse exatamente essa diferença de personalidades que fizesse você querer tanto mostrar pra ele que a vida não era apenas trabalho e reuniões o tempo todo.

— Você devia ir — Essas palavras escaparam dos seus lábios, mas você não voltou atrás — Mesmo que você não queira que as pessoas saibam que o grande Levi Ackerman vai estar na festa — Ironizou a parte em que falar do nome dele, mas não conseguiu nem um sorrisinho por parte dele — A festa vai ser a fantasia, então só precisa colocar alguma coisa que cubra o seu rosto.

— Não gosto de festas.

— Você não gosta ou deixa de ir pra elas por causa do trabalho? — Ele abriu a boca para responder sua pergunta, mas não falou nada, o que arrancou mais uma risada divertida sua — Pelo menos pensa sobre isso — Mais uma vez, ele apenas concordou com a cabeça, mas era como se a expressão dele estivesse mais leve — Eu te levo até a porta — Completou, assim que percebeu que ambas as mãos dele estavam ocupadas com as pastas.

Sem esperar uma resposta você virou de costas e começou a andar na direção da porta, a abrindo novamente logo em seguida. Você ainda queria manter Levi mais um tempinho na sua sala, queria conversar mais com ele, ou tentar, pelo menos. Mas, você tinha ciência de que, se ele ficasse aqui por mais tempo, não sabia o quanto conseguiria aguentar antes de avançar nos lábios dele de novo.

Seria melhor, para ambos, que vocês evitassem ficar sozinhos em salas com trancas. Por isso, você colocou o melhor sorriso no rosto e olhou para ele, já preparada para se despedir, até que as palavras dele fizeram você arregalar os olhos.

— Você recebeu a flor que eu mandei?

Sua boca estava entre aberta, mas nenhuma palavra saia dela. Você nem conseguiu esconder a surpresa quando recebeu a confirmação de que tinha sido Levi quem mandou aquela caixa ontem.

— O Kirstein tinha me dito que você estava de tpm — Ele explicou, quando percebeu que você não responderia, mas sua expressão era suficiente para confirmar que você tinha sim recebido — Por isso mandei os chocolates também.

— Por que? — Sua pergunta saiu mais baixa do que você esperava.

— "Por que" o que?

— Por que você me mandou aquilo? — Dessa vez, sua voz estava mais firme — Eu achava que o que a gente tinha era só sexo, aí vem você e...

Mas você não acabou de falar, pois, no segundo seguinte, seus lábios foram tomados pelo Ackerman, que tinha colocado as pastas no chão sem que você nem percebesse. A língua dele invadiu sua boca assim que você deu passagem, fazendo um frio gostoso percorrer a sua espinha e todo o seu corpo implorar por mais contato.

As mãos de Levi foram parar na sua cintura, juntando ao máximo os seus corpos. Você já entrelaçou os braços por trás do pescoço dele, se entregando completamente ao homem de olhos azuis.

O Ackerman sabia, mais do que ninguém, que ele não deveria fazer isso. Além de ser bem caótico o fato de ele estar ficando com a filha do sócio dele, você era caótica e ia contra tudo o que o baixinho mais prezava na vida dele: calma e estabilidade. Mas, toda vez que ele te via, uma vontade incontrolável de beijar os seus lábios tomava conta dele. E, talvez, tivesse sido por esse impulso que ele se preocupou em mandar os chocolates, junto com a rosa azul.

O beijo, que antes era calmo, acabou se tornando feroz e necessitado. Você sabia onde isso levaria, mas, o som de passos entrando no corredor da sua sala fez o Ackerman quebrar o contato e se afastar devagar de você, separando completamente os seus corpos.

Sua respiração ainda estava meio ofegante, mas você tentava parecer o mais natural possível quando um funcionário passou pelo corredor, na frente da sua sala. Levi pegou as pastas no chão, como se nada tivesse acontecido.

— Foi por isso que eu mandei aquilo — A voz dele atingindo os seus tímpanos fez todos os pelos do seu corpo se arrepiarem — Vou pensar sobre a festa, mas não prometo nada.

Sem esperar uma resposta sua, o Ackerman passou pela porta e saiu da sua sala, entrando no corredor e sumindo do seu campo de visão logo em seguida. Seus olhos ainda estavam arregalados e sua boca entre aberta. Inevitavelmente, sua mente estava mais confusa agora do que nunca. Mas, um único pensamento correu pela sua cabeça, enquanto você o sussurrava para si mesma:

Fudeu.

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