𝚝𝚑𝚒𝚛𝚝𝚢 𝚜𝚒𝚡

Não fazia menos de uma hora que você estava parada, apenas repassando todo o discurso na sua mente, milhares de vezes. Mesmo já tendo decorado todas as palavras que iria falar, você sabia que, na hora, provavelmente diria algo totalmente diferente.

O nervosismo já estava tomando conta de você faz tempo e a ideia de simplesmente ir embora dali já começou a soar como boa. O carro ainda estava ligado, porque você não teve nem a coragem de desliga-lo.

Mas, mesmo com todos os músculos do seu corpo querendo ir embora, você respirou fundo e desligou o veículo, se apressando em pegar sua bolsa e sair dele, antes que sua própria mente acabasse lhe levando para casa de novo.

Como você já tinha morado ali, o caminho da garagem até o hall principal era extremamente reconhecível e, assim que você entrou em um dos elevadores, apertou logo o andar da cobertura. Por mais que o percurso até o andar do seu pai não demorasse mais do que poucos minutos, na sua cabeça pareciam horas. Mais uma vez, você repensava sobre tudo o que iria falar e o nervosismo já voltava a fechar sua garganta de novo. Por sorte, sentiu seu celular vibrando na bolsa de baixo do seu braço. Assim que pegou o aparelho, um sentimento de alívio percorreu todo o seu corpo quando viu que era uma ligação de Jean.

— Alô? — Você falou, assim que colocou o aparelho perto do ouvido.

E ai? Como foi? — Ele obviamente estava tentando esconder o nervosismo de você, mas isso só serviu para lhe tranquilizar mais ainda e arrancar um sorriso de lado seu.

— Eu ainda não falei nada — Respondeu, com um suspiro mais longo do que o normal — Na verdade, o elevador acabou de chegar no andar dele.

Faz uma hora e meia que você saiu daqui e só agora você subiu 'pro apartamento dele?

O tom de indignação misturado com surpresa acabou arrancando uma risada alta sua, que saiu do elevador assim que as portas de metal se abriram.

— Eu tenho que ir agora, depois eu te ligo — E, antes que pudesse ouvir mais sermões do seu melhor amigo, sobre como você passou muito tempo no carro só pensando em desistir, você desligou a ligação e foi até a porta do apartamento do seu pai.

Teve que respirar fundo algumas vezes, antes de colocar a digital na tranca eletrônica. Seu corpo ainda hesitava em dar cada passo, mas você se forçava a andar para frente, sem voltar atrás um centímetro sequer.

Erwin não estava na sala de estar, e você percebeu isso assim que entrou no enorme apartamento. Talvez não tivesse sido uma boa ideia entrar sem tocar a campainha. Por mais que essa já tivesse sido a sua casa um dia, faziam muitos anos desde que você resolveu sair daqui e encarar a vida morando sozinha. Agora, bater na porta antes de entrar parecia uma ideia bem mais razoável, mas não tinha como você simplesmente sair agora e tocar a campainha.

Sua boca já estava entreaberta, preparada para gritar, chamando o seu pai para ver se ele estava em casa. Corria o risco de ele estar trabalhando na empresa, mesmo que fosse tarde, já que o discurso de Floch trouxe várias dificuldades para vocês. Mas, antes que qualquer som saísse de sua boca, você ouviu uma voz, facilmente reconhecível, mas que não era do seu pai.

— E o que você pretende fazer? — Você não precisou se esforçar nenhum pouco para perceber que aquela voz pertencia a Levi — Vai me mandar ficar longe dela?

Devagar, mesmo sabendo que era errado, você se aproximou da fonte do som, percebendo logo de cara que vinha do escritório do seu pai. Tomando o maior cuidado do mundo para não fazer nenhum ruído sequer, você entrou em um banheiro que ficava no corredor, bem perto do cômodo onde o Ackerman estava.

— E se eu mandar? — Seus olhos se arregalaram quando você ouviu a voz do seu pai — Ela é minha filha, Levi.

— E ela não é mais uma criança, Erwin!

Você sabia que não deveria estar ouvindo essa conversa, deveria, no mínimo, avisar que estava lá ou ir embora e voltar quando eles tivessem acabado. Mas era inevitável. Você estava louca de curiosidade para saber no que aquela conversa resultaria, principalmente porque sabia que eles estavam falando sobre você.

— Você entra na minha empresa, fica com minha filha e ainda tem coragem de vir aqui dizer que ela não é mais uma criança? — Agora, o loiro estava falando mais exaltado do que normal. Era muito difícil você ouvir Erwin gritando, principalmente porque ele sempre conseguiu manter a calma em situações complicadas. Mas, agora, ele estava a um passo de gritar, só por causa da raiva.

— Sim, eu entrei na sua empresa, porque você me chamou — Ao mesmo tempo, o Ackerman também respondia no mesmo tom que ele, destoando do típico tom neutro e calmo de sempre — Sim, eu fiquei com sua filha, mas eu já disse que, no início, eu não sabia quem era ela. E sim, eu vou vir aqui lhe lembrar que ela não é mais uma criança quantas vezes precisar. [Nome] é louca por você, Erwin, e vive tentando te agradar de todas as formas, mas você continua tratando ela como uma criança irresponsável.

— Você só fala isso porque quer continuar ficando com ela.

— Não me leve a mal, mas eu vou continuar ficando com ela de todo jeito — Por alguns breves segundos, todo o cômodo ficou em silêncio. Você teve que controlar a respiração, achando que ela estava muito alta, por causa da diferença de barulho de poucos segundos atrás para agora — Eu não vim aqui lhe pedir permissão para ficar com sua filha. Eu vim aqui para lhe pedir que não se afaste dela por causa disso.

Mais uma vez, um pequeno silêncio reinou entre os dois. Você estava ficando mais nervosa a cada segundo. Sua respiração já estava começando a ficar descompensada e você suava frio já faziam alguns minutos.

Não era comum ver alguém desafiando Erwin Smith, mas Levi estava fazendo exatamente isso. O Ackerman acabou de dizer, com palavras incrivelmente claras, que não lhe deixaria por causa do loiro. Você só não sabia se isso lhe deixava mais feliz ou mais nervosa.

Para sua surpresa, o silêncio intenso foi quebrado por uma risada alta do mais venho. Erwin ria como se Levi tivesse contando uma piada muito engraçada, o que só acabou deixando o Ackerman mais estressado ainda.

— Então você vai ficar com minha filha independentemente do que eu falar? — Ele perguntou, ainda rindo.

— Sim — Levi respondeu, sem nem pensar, como se não fosse nada demais.

— E o que você ganha com isso?

— Como assim? — As sobrancelhas do mais baixo franziram um pouco, já sentindo o rumo que a conversa estava tomando.

— Vários homens já tentaram se aproximar de [Nome] procurando dinheiro, stratus, uma posição mais alta de hierarquia na sociedade... — Com calma, o loiro se levantou da poltrona em que estava e foi até um pequeno bar que se situava do lado esquerdo do cômodo, se servindo um copo de whiskey enquanto falava — O que você quer?

— Sua filha — Ele respondeu simples, mas, quando Erwin começou a rir de novo, Levi continuou a falar, antes que o mais velho tivesse chance de responder — Quer você acredite ou não, eu nunca liguei para nenhum status ou poder que [Nome] podia me oferecer. Além disso, eu já tenho uma posição hierárquica maior do que ela na empresa.

— Mas, futuramente, ela será a CEO no meu lugar e vocês teriam que dividir o cargo de posição mais alta.

— Você consegue ouvir o que está falando? — Dessa vez, o Ackerman tinha ficado verdadeiramente irritado, e você conseguia sentir isso só pelo tom de voz dele — É tão difícil assim acreditar que eu só quero estar com ela?

— Por que você iria...

— Porque eu amo ela.

As palavras de Levi pairaram no ar por um tempo. Erwin não respondeu logo de cara. Os olhos dele estavam arregalados demais e a surpresa em ouvir aquilo do mais baixo o impedia de falar qualquer coisa. Ao mesmo tempo, você já tinha colocado as duas mãos sobre a boca, impedindo que qualquer som saísse por ela.

Era a primeira vez que você ouvia o Ackerman dizendo que lhe amava. Além disso, nunca se passou pela sua cabeça que ele admitiria isso primeiramente para o seu pai. Uma única lágrima pesada escorreu pela sua bochecha direita, apenas para lhe lembrar o quão feliz você ficou em ouvir aquelas palavras.

— Eu sei que você pode não acreditar — Levi continuou a falar, tirando você se seus pensamentos, assim que percebeu que Erwin estava chocado demais para dizer alguma coisa — Mas eu realmente amo sua filha e não vou sair do lado dela só porque você não aprova isso. Eu tentei me afastar dela, por inúmeros motivos, mas eu não consegui e, agora, eu tenho toda a certeza do mundo de que eu não conseguiria, mesmo se eu tentasse em mil vidas.

Talvez por causa do choque seus olhos pararam de lacrimejar. Ao invés disso, eles estavam arregalados ao máximo. Levi nunca foi uma pessoa boa em expressar os sentimentos, na verdade, ele sempre foi péssimo nisso. De vez em quando, você se pegava pensando o que ele realmente sentia por você, mas, agora, você provavelmente nunca mais duvidaria.

— Por isso, eu realmente espero que você não me odeie por causa disso, mas eu não vou sair do lado de [Nome] e espero que você também não tente fazer nada que influencie ela a se afastar de mim, porque eu nunca suportaria a dor de perder ela.

Erwin não respondeu. De onde você estava, não conseguia saber a reação do seu pai, mas você nunca imaginaria que ele estaria esboçando um meio sorriso de lado.

Talvez fosse pelo fato de que todos os seus envolvimentos com homens no passado resultaram em frustrações. Na verdade, o loiro nunca aprovou nenhum de seus namoros, principalmente pelo fato de que nenhum dos homens com quem você se relacionou gostavam de verdade de você.

Por mais que ainda estivesse apreensivo, Erwin sabia que Levi era um homem muito descente e estava mais do que convencido de que o Ackerman realmente gostava de você. Além disso, Levi já tinha status e era incrivelmente bem sucedido. Seu pai sabia que ele não estava com você por interesse e até acreditava que ele poderia sim lhe fazer feliz. Ainda era difícil confiar a princesa dele a alguém, mas, se você tivesse certeza de que iria querer levar esse relacionamento adiante, ele não teria coragem de ser contra. Até porque, a única coisa que o Smith sempre quis é que você seja feliz.

— Se é assim, não vejo como eu posso intervir — As palavras dele trouxeram uma calmaria inexplicável para o seu corpo. Era como se uma tonelada tivesse saído dos seus ombros — Eu ainda preciso falar com ela, é claro. Mas, se [Nome] realmente quiser continuar com você, eu não vou impedir — Nessa hora, você não conseguiu ver a expressão de surpresa de Levi, que tinha os olhos levemente arregalados, mas ainda não tinha nenhum sorriso no rosto — Vai ser difícil, até porque o discurso do Senhor Forster fez com que a mídia ficasse muito no pé da empresa nesses últimos dias, mas nada que não conseguimos lidar.

— Obrigado.

Foi a última coisa que você ouviu o Ackerman falar, antes de escutar os passos dele saindo do cômodo e passando por você, que ainda estava escondida atrás da parede do banheiro.

Você esperou até ouvir o som da porta de entrada sendo fechada para sair de lá e finalmente tomar coragem para entrar no escritório do seu pai. Erwin estava sentado na cadeira dele, mas, assim que lhe viu entrando, se levantou, assustado.

— Me desculpa — Você conseguiu falar, antes de cair em um choro incontrolável. Teve que fechar os olhos por causa das lágrimas incansáveis que escorriam dos seus olhos, mas sentiu seu corpo inteiro ser rodeado pelos braços fortes do mais venho, que ainda não tinha falado nada — Me desculpa por não ter contado nada antes — Continuou a falar, pausadamente, enquanto soluçava.

— Então você ouviu toda a conversa? — Ele perguntou, depois de soltar uma risada fraca e lhe abraçar com mais força.

Você envolveu a cintura dele com seus braços e o apertou, enfiando o rosto no peitoral dele e deixando que suas lágrimas encharcassem a camisa social do mais venho. Fazia um tempo desde que você se deixou ficar tão vulnerável na frente do seu pai, chorando como a criança que você sempre quis mostrar para ele que não era mais. Mesmo assim, era tão confortável poder ser fraca na frente dele e se deixar ser consolada. Erwin sempre foi um porto seguro na sua vida, que você tentou ignorar porque precisava mostrar para ele que já era independente e que não precisava dele. Mas, na verdade, você precisava sim.

— Só uma parte — Você respondeu somente quando conseguiu controlar mais as lágrimas — Eu vim falar com você, mas aí vocês estavam conversando e eu...

— Não precisa se justificar — O loiro falou, se afastando levemente de você, só o suficiente para conseguir ver o seu rosto inchado e usar uma das mãos para enxugar as lágrimas que ainda escorriam pelas suas bochechas — Podemos conversar agora, se você quiser.

Você assentiu repetidamente com a cabeça, antes de ser guiada por ele e se sentar em um dos sofás no grande cômodo. Erwin ainda foi até o bar e encheu um copo de água, lhe entregando logo em seguida, mesmo assim, você não bebeu, apenas segurou o copo de vidro com ambas as mãos, que ainda tremiam levemente.

— Então... — Ele falou, mas, diferente de antes, ouvir a voz dele só lhe deixou ainda mais nervosa — Sobre o que você quer falar primeiro?

— Quando eu e Levi ficamos pela primeira vez... — Você nem precisou pensar muito para responder essa pergunta — Eu não sabia que ele era o novo sócio e nem ele sabia que eu era a sua filha.

— Eu sei, ele me contou isso também.

Seus olhos piscaram rápido algumas vezes, tentando processar o rumo que a conversa estava levando. Erwin tinha um sorriso de lado no rosto, mostrando que estava se divertindo com seu desconcerto. Isso fazia você se perguntar se ele já estava mais tranquilo em relação ao seu namoro com o sócio dele, ou se ele ainda estava raciocinando tudo o que tinha acontecido.

— [Nome], eu vou ser bem direto — Por mais que as palavras fossem firmes, a expressão dele ainda era extremamente pacífica — Não fiquei com raiva por você estar saindo com Levi — Agora, definitivamente, você piscou milhares de vezes, com as sobrancelhas franzidas, completamente confusa — Ele é um homem muito descente e tenho certeza de que seria capaz de lhe fazer feliz. O que me deixou com raiva foi ter descoberto sobre o relacionamento de vocês no meio de um discurso claramente montado para lhe atingir.

Você desviou levemente o olhar e voltou a encarar o copo de vidro nas suas mãos. Não conseguia nem imaginar o quão abalado Erwin ficou por ter descoberto isso junto com todas as outras pessoas. Seus relacionamento com Levi tinha evoluído tanto e seu pai nem sequer sabia que ele existia.

— Por que você não contou? — A pergunta dele parecia tão simples que até arrancou uma risada fraca, mas divertida, sua.

— Eu não sei — Respondeu, dando de ombros — Você tinha me falado para não ficar com ele, mas eu acabei ficando sem nem saber quem ele era. Depois disso eu tentei me afastar dele, mas não consegui.

— E por que você tentou se afastar dele?

— Porque você me pediu para não me envolver com ele — Assim que acabou de falar, você percebeu o que tinha feito — Acho que eu fiquei morrendo de medo de te decepcionar de novo e me afastar dele parecia a melhor opção.

— Evidentemente vocês não conseguiram se afastar — O leve tom de brincadeira na fala dele foi o suficiente para arrancar outra risada sua, mais alta dessa vez. Foi só ai que você percebeu que não estava chorando mais — [Nome], eu realmente não quero que você tome as decisões da sua vida baseado no que eu vou achar disso. Sim, eu pedi para você não se envolver com ele por causa do histórico do seu envolvimento com o Senhor Forster, mas eu nunca seria contra seu namoro com Levi se você tivesse me contado antes.

— Isso não seria ruim para a empresa?

O loiro não respondeu de imediato. Você sabia que a resposta era "sim". Se o namoro entre você e o Ackerman terminasse, acabaria sendo péssimo para a empresa. Exatamente por isso que Erwin tinha pedido para você se manter longe dele.

— Você ama ele? — A pergunta do seu pai fez você arquear levemente as sobrancelhas, mas, pouquíssimos segundos depois, a expressão de surpresa saiu do seu rosto e deu lugar a um sorriso involuntário.

— Amo.

— Nesse caso... — Ele falou, se levantando da poltrona e abrindo os braços, em um claro sinal para que você o abraçasse — Meus parabéns pelo namoro, minha princesa.

Com os olhos marejados novamente, você deixou o copo em cima da cabeceira ao seu lado e se levantou, envolvendo os braços pela cintura do mais velho, que não demorou mais do que poucos segundos para lhe abraçar de volta. A sensação de alívio que percorria o seu corpo era indescritível. Essa foi, com certeza, uma das conversas mais abertas e sinceras que você já teve com o seu pai.

Mesmo se sentindo uma criança nos braços do papai, você se deixou ser vulnerável uma última vez, enquanto chorava de alívio nos braços do mais velho. Afinal, você ainda era, e sempre seria, a princesinha de Erwin.

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