𝚘𝚗𝚎

O barulho que seus saltos faziam quando batiam no chão sessava todas as conversas por onde você passava. Todos ao seu redor paravam somente para lhe analisar, por completo. Você já estava acostumada e nem dava mais bola para os olhares fixos em você. Ser filha de um dos maiores CEO's do Japão tinha suas desvantagens, e toda a atenção que isso envolvia era uma delas.

Já sabia o caminho até a sala do seu pai como a palma da sua mão. Recentemente, você havia assumido como a COO, já que não existia ninguém melhor do que você para assumir a empresa da sua família. Seria a primeira vez que uma mulher assumiria esse papel, mas você não poderia ligar menos. Tinha certeza que conseguiria mostrar a todos o seu potencial.

Assim que parou de andar, já na frente da sala, bateu na porta e esperou uma resposta. Somente quando seu pai falou para que você entrasse, obedeceu.

— Será que tem como adiar essa reunião de amanhã pra próxima semana? — Você já começou perguntando, nem esperando o mais velho falar nada.

— Bom dia para você também, [Nome] — Ele disse, com um tom irônico e um sorriso debochado no rosto — E não, não podemos adiar a reunião de amanhã.

— Por que não? — Você fechou a porta atrás de si e entrou no cômodo extenso, andando até a mesa do mais velho e sentando na cadeira à frente dele.

— Até poderíamos, se você tivesse um motivo plausível — Você abriu a boca para retrucar, mas ele falou por cima — E a festa da família Yeager não é motivo suficiente.

— Você também foi convidado.

— E eu vou, mas, como qualquer trabalhador sensato, vou voltar para casa cedo — O mais velho não olhava mais para você, e sim analisava alguns papéis em cima da mesa — Mas já que você não sabe quando parar, imagino que vai vir virada para a reunião.

— Então isso é um não?

— Sim, é um não.

Você abriu a boca para retrucar de novo, mas, no exato momento em que fez isso, o barulho de alguém batendo na porta lhe interrompeu. Seu pai logo levantou os olhos da papelada e mandou a pessoa entrar.

— Senhor Smith, sua próxima reunião vai começar em quinze minutos — A secretária falou, assim que abriu a porta, sem entrar completamente na sala — Senhorita Smith, bom dia — Ela completou, no momento em que percebeu você no cômodo.

— Bom dia.

— Tudo bem — Erwin falou, voltando a analisar os papéis na mesa dele — Obrigado por avisar.

A mulher alta assentiu com a cabeça e saiu da sala, fechando a porta logo depois. Você deu um suspiro pesado e se encostou mais confortavelmente na cadeira.

Hoje a noite seria a festa de aniversário de Eren, um de seus melhores amigos. A família dele, os Yeager, eram um dos parceiros mais confiáveis e atuantes do seu pai. A namorada dele, Mikasa, era sua amiga desde que você se lembra. Ela fazia parte da família Ackerman, mas, mesmo depois de anos de convivência, você não conhecia ninguém. Já ouviu ela falar sobre um primo de segundo grau, mas ele morava fora e raramente vinha para Tokyo.

— E sobre o que é a reunião mesmo? — Você perguntou, ainda inconformada que teria que ir virada para uma reunião importante. Mesmo que levasse seu trabalho muito a sério, isso nunca lhe impediria de viver.

O novo sócio vai chegar amanhã de manhã — O loiro respondeu, ainda olhando para os papéis — Nós dois temos que receber ele bem, já que ele vai ficar como segundo CEO da empresa.

— Quando vê é um velho tarado.

— Ele deve ser cinco anos mais velho que você.

— Só isso? — Você fez uma expressão de pensativa. Não seria nada mal o novo CEO ter só vinte e sete anos...

— Nem pense nisso — Erwin falou, lhe tirando de seus pensamentos.

— Nisso o que?

— [Nome] — Ele começou a falar, finalmente largando a caneta que tinha em mãos e encarando você — Eu te conheço a vinte e dois anos. Não vá pra cama com o novo CEO.

— Eu não disse que ia — Você disse, brincalhona, erguendo as mãos, como se estivesse se rendendo.

— Não estou brincando — Mesmo com sua brincadeira, seu pai falava firme e sério — Esse nosso sócio vai ser muito importante para nossa empresa. Tente não se envolver tanto assim com ele. Se possível, só fale com ele profissionalmente e sobre assuntos da empresa.

— Falando assim parece até que o cara é completamente antisocial.

— Já me avisaram que ele é meio na dele e não gosta de interagir com muitas pessoas — O mais velho deu de ombros, voltando a encarar a papelada — Então não o assuste com seu jeito excêntrico de viver.

— Não é excêntrico — Você parou de falar quando recebeu um olhar irônico do seu pai — Eu só gosto de aproveitar a vida... até demais.

Um dia você vai deixar esse mundo para trás — Erwin disse, se levantando da cadeira em que estava sentado — Então viva uma vida que você vai se lembrar.

— O vovô falava isso quando eu era mais nova.

— Acho que ele foi a pessoa que menos levou arrependimentos pro túmulo — Antes de continuar, ele suspirou fundo e deu de ombros — Já disse que não vou reclamar desse seu estilo de vida enquanto não interferir nos assuntos da empresa.

— Ou seja, tenho que chegar cedo na reunião de amanhã.

— Exatamente — O loiro soltou uma gargalhada alta quando viu sua revirada de olhos, enquanto dava a volta na larga mesa de escritório — Tenho que ir para outra reunião agora. A gente se encontra na festa do Yeager.

— Certo — Você também se levantou, andando ao lado do pai até a porta da sala — Vou acabar de verificar os papéis de hoje e volto mais cedo pra casa.

— Combinado — O mais velho se aproximou de você e depositou um beijo no topo de sua cabeça — Te ligo quando tiver indo para lá.

Você assentiu com a cabeça e começou a andar na direção oposta do seu pai. Durante o caminho até a sua sala, a segunda maior do enorme prédio, teve que cumprimentar várias pessoas, com o mesmo sorriso simpático de sempre. Você já tinha adiantado a maior parte dos seus compromissos do dia, justamente para conseguir sair mais cedo para a festa.

Já estava contando na cabeça quanta papelada tinha que revisar antes de ir embora, enquanto abria a porta da sua sala.

— Caralho, você demorou — Assim que levantou o olhar, você encontrou com Sasha, sua melhor amiga.

— O que você tá fazendo aqui essa hora? — Você revirou os olhos e entrou na sala, fechando a porta atrás de si e indo até sua cadeira, atrás da grande mesa.

— Vim te tirar do trabalho.

— Ainda preciso ver algumas coisas — Suas mãos já vagavam pela pequena pilha de papéis em cima da mesa, ao mesmo tempo em que você passava os olhos por todos eles — Assim que eu acabar, podemos ir.

— Mas Jean e Connie já tão indo pra sua casa.

— Manda eles subirem e esperarem lá no apartamento — Deu de ombros, pegando a primeira leva de papelada e lendo o conteúdo — Eles sempre roubam meus cigarros eletrônicos quando ficam sozinhos lá.

— E eu vou ficar aqui te vendo trabalhar?

— Pode começar a bolar os becks de mais tarde.

A morena suspirou alto e revirou os olhos. Você soltou uma risada nasalada e voltou a se concentrar no seu trabalho. Sasha se sentou na frente do centro que ficava do lado esquerdo da sua sala, enquanto você estava sentada atrás da mesa principal, que ficava no final da sala, perto da parede de vidro, bem no centro.

— Sobre o que você 'tava falando com o seu pai?

— Vai vir um novo sócio pra empresa amanhã.

— Ui ui — Ela brincou, arrancando uma risada alta sua — E você já sabe se ele é gato?

— Nunca nem vi o rosto dele — Suspirou, já imaginando que, pela descrição do seu pai, deveria ser o cara mais insuportável do mundo — Mas, ele pode ser o deus grego que for, não vou nem chegar perto dele.

— [Nome] Smith dizendo que não vai pegar um cara gato? — A ironia era evidente na fala dela, que começou a rir de forma estridente — Essa aí eu pago pra ver.

— É sério — Enfatizou, sem conseguir conter o sorriso divertido que tinha nos lábios — Quando é assunto da empresa, eu me comporto. E que tipo de fé é essa que você tem em mim? — A última parte, falou como se estivesse indignada.

— Nem vem me culpar — A morena levantou os braços, como se estivesse se rendendo — Você não consegue ver um cara gato e não pegar.

— Eu nunca fiquei com o Jean, nem com o Connie.

— Por que eles são seus melhores amigos, mas você já passou o rodo em metade da cidade.

— Enfim, cala a boca que eu preciso trabalhar — Você só conseguiu ouvir outra risada alta de Sasha como resposta, divertida com o modo como você fugiu da conversa.

Durante alguns minutos, sua amiga se concentrou em bolar, ao mesmo tempo em que ouvia alguma música nos fones de ouvido. Já você, não aguentava mais olhar para tantas palavras difíceis. Por mais que amasse o seu trabalho, a parte burocrática era muito chata.

— Acabei — Sasha falou, tirando um dos lados do fone e mostrando um dos cigarros de maconha que estavam em cima da mesa.

— Beleza — Você respondeu, desviando o olhar da papelada por apenas um segundo e voltando a atenção para ela logo em seguida — Me dá cinco minutos que eu acabo aqui.

A morena assentiu com a cabeça e colocou o fone de volta no ouvido. Se levantando do chão, ela se jogou no sofá atrás de onde ela estava, começando a mexer em algo no celular logo em seguida.

Como prometido, não demorou mais de cinco minutos para você acabar a papelada de se levantar da mesa. Apenas teve que chamar a secretaria para entregar os papéis e as orientações para o resto do dia. Depois disso, você e Sasha pegaram o elevador até a cobertura, onde entraram no helicóptero da sua família. Ir até sua casa de carro era uma opção, mas Tokyo era muito movimentada essa hora e as ruas ficavam congestionadas.

Para ser sincera, você não gostava muito do helicóptero, sempre achou que não fosse muito seguro, mas acabou se acostumando ao longo dos anos. Ao contrário, Sasha adorava quando você a chamava para ir no veículo.

— Já sabe a roupa que você vai? — A morena perguntou, quando vocês já estavam no elevador do seu prédio. Após descer no heliponto, vocês entraram no elevador apenas para descer um andar, já que o seu apartamento era o da cobertura.

— Tem um vestido que eu ganhei de presente do Armin e ainda não tive oportunidade de usar.

— Aquele que você ganhou no seu aniversário do ano passado?

— Esse mesmo.

— Caralho, é claro que você já teve festa suficiente pra usar ele.

— Mas eu queria uma ocasião especial.

— E a festa do seu ex é especial o suficiente?

— Porra de ex — Você retrucou, depois de revirar os olhos — Eu e Eren só ficamos uma vez, e faz anos. Você nunca vai superar isso?

Sasha balançou a cabeça negativamente várias vezes, arrancando uma risada alta sua. Enquanto isso, você abria a porta da casa, usando sua digital para liberar a trava eletrônica. Mal tinha acabado de abrir a porta e já consegui ouvir a voz de Jean:

— Finalmente as donzelas chegaram.

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