3.8

   Faziam horas que Shoyo não saía do quarto, estava trancafiado desde que voltaram para casa, você sentia que a qualquer momento seu coração sairia pela boca, estava simplesmente ansiosa demais, nervosa demais, inquieta demais e... culpada demais. Os olhos castanhos de Orie corriam de um lado para o outro lhe observando andara até os cantos dos quartos sem parar, seus pés cobertos pelas meias felpudas simplesmente não paravam sobre o chão amadeirado, mordia a unha de seu dedão de maneira nervosa, respirou fundo, seus olhos caíram sobre a garota de cachos ruivos, ela andou em passos curtos em sua direção.

   — Mamãe tá bem? 

   A garota perguntou com a voz levemente preocupada, você respirou fundo antes de concordar com a cabeça, se agachou contra o chão até ficar da mesma altura que Aurora, suspirou pesadamente antes de forçar um sorriso em lábios.

   — A mamãe está bem, meu amor, não precisa ficar preocupada, vai lá brincar, está bem? — murmurou com a voz baixa, a garota sorriu antes de concordar com a cabeça prestes a sair, você respirou fundo antes de agarrar o braço da ruivinha com cuidado lhe segurando ali, ela levou os olhos castanhos em sua direção — Na verdade, eu posso conversar com você? Eu preciso conversar com alguém.

   Disse com a voz embargada, nem ao menos soube como ou quando aconteceu mas simplesmente começou a chorar, sentiu lágrimas quentes correndo por suas bochechas, estava cansada demais, confusa demais e esgotada demais, não sabia como lidar com aquilo, pensava que estaria protegendo Aurora se privasse ela do pai mas no fim apenas estava querendo proteger a si mesma, e no fim... havia apenas machucado Shoyo.

   — Não chora, mamãe, pode falar comigo — ela murmurou com a voz baixa antes de levar a mão pequena em direção ao seu rosto limpando suas lágrimas de modo atrapalhado, se sentou sobre suas pernas passando os braços pequenos ao redor de seu pescoço lhe abraçando com força —, a mamãe tá triste?

   — Eu... fiz uma coisa ruim, Orie, eu deixei alguém triste.

   Você disse por fim com a voz quebradiça abraçando de maneira firme o corpo pequeno da menina por entre seus braços, ela suspirou levando uma das mãos em direção ao seu cabelo fazendo um carinho suave.

   — Então é só pedir desculpas.

   A menina balbuciou como se fosse simples, você riu baixinho antes de concordar com a cabeça afastando o corpo de Orie do seu, levou a mão em direção aos próprios olhos os secando, respirou fundo antes de voltear a atenção para a garota de cabelos ruivos, conversou com ela da maneira mais clara o possível sobre Shoyo e sobre o fato dela ter um pai, talvez por ser pequena demais mas ela apenas aceitou de modo tão fácil que lhe deixou surpresa, você riu baixinho deixando um beijo suave contra a testa da garota pedindo para que ela esperasse ali, se levantou deixando o quarto andando até a porta do ruivo, bateu na porta diversas vezes.

   — Shoyo, você pode abrir a porta? Está aí dentro à horas, você precisa comer alguma coisa... por favor? 

   Pediu elevando a voz para que pudesse se fazer presente contra a porta amadeirada, engoliu em seco esperando uma resposta qualquer.

   — Eu não estou com fome, me deixe sozinho, por favor.

   Ele disse, a voz abafada pela porta, você respirou fundo sem saber muito bem o que dizer, encolheu os ombros, seus lábios tremeram de leve, recostou a testa contra a porta.

   — Sho, vamos conversar, por favor, você sabe que nós precisamos conversar, a Orie quer conversar também — murmurou de maneira trêmula, ele continuou em silêncio, você bufou antes de bater na porta mais forte —, Hinata Shoyo, abra esta porta imediatamente e vá conversar com a sua filha, não precisa nem olhar na minha cara se quiser, mas não ignore ela!

   Você disse elevando a voz de maneira irritada, não demorou muito para que a porta se abrisse por fim, ele saiu do quarto devagar deixando o quarto antes de a fechar logo em seguida, os olhos castanhos caíram sobre você, ele respirou fundo, parecia cansado, você engoliu em seco.

   — Eu estava esperando você me contar, mas você nunca abria a boca... eu tentei de todos os jeitos mostrar que eu estaria aqui e que eu poderia ser um bom pai, mas você simplesmente não abria a boca, no começo eu tentei ignorar o fato quando descobri que você deu a luz, tentei pensar que você poderia ter conhecido outro cara ruivo, mas céus... eu não sou a pessoa mais inteligente do mundo mas eu não sou burro!

   Ele exclamou com a voz levemente embargada quase como se fosse chorar a qualquer segundo, você engoliu em seco sentindo seu peito pesar, seus ombros tremeram de leve.

   — Shoyo, me desculpe, eu estava apenas assustada demais, eu não sabia como contar no começo e depois pareceu uma ideia melhor não contar mais, digo, eu sei que você querer cortar contato também foi minha culpa, mas mesmo assim eu não consegui deixar de me sentir péssima, eu sei que isso não justifica nada do que eu fiz, mas...

   — Eu perdi os primeiros passos dela, a primeira fala — ele murmurou lhe cortando, correu os olhos castanhos por seu rosto —, perdi o dia em que ela ficou obcecada por ursos e o dia em que o primeiro dente nasceu... ou quando ela descobriu os próprios pés, eu perdi cada um desses momentos! Eu não conheço a Aurora, eu não faço a mínima ideia de quem ela é, eu tentei me manter calmo até agora mas você tem a mínima noção de como é difícil?

   Ele extraviou por fim, você engoliu em seco sentindo seu estômago se revirar por completo, seus olhos estavam completamente marejados, desviou o olhar rapidamente piscando diversas vezes tentando conter as próprias lágrimas.

   — Me desculpa, por favor, por favor, me desculpa, eu prometo que nunca mais vou esconder nada de você, eu... — soluçou de modo sofrido sentindo as próprias lágrimas correndo por suas bochechas, suspirou trêmula — eu gosto muito de você, Shoyo, eu gosto tanto que dói, meu coração não vai aguentar ver você ir embora mais uma vez.

   Disse por entre os prantos, ele suspirou pesadamente antes de lhe puxar para mais perto, lhe abraçou com força, deixou um beijo forte contra o topo de sua cabeça.

   — Então não me deixe ir embora — ele sussurrou, você fungou baixinho levantando o rosto em direção ao do homem, ele tinha um sorriso agora mais calmo em lábios, levou o polegar até o canto de seu olho direito limpando as lágrimas que se formavam ali —, eu não vou para lugar, eu prometo, me deixe fazer parte da vida de vocês.

   Ele murmurou com a voz baixa, você abriu um sorriso trêmulo em lábios antes de concordar com a cabeça, escutaram passos pequenos por trás de vocês, voltearam a atenção para o lado quase que de imediato se detendo com a garota de cabelos ruivos, ela tinha um desenho em mão, o estendeu em sua direção. 

   — Papai, a mamãe fez para você, presente de desculpas. 

   Ela sussurrou, os olhos de Shoyo brilharam, ele lhe soltou rapidamente se agachando até estar da altura da garota, entreabriu os lábios de maneira surpresa segurando o desenho em suas mãos.

   — Uau, tem certeza que foi ela quem fez? Não acho que sua mãe desenhe tão bem assim — ele murmurou olhando para os rabiscos como se tentasse adivinhar o que estava ali, você riu de maneira divertida os encarando ali, cruzou os braços —, o que é isso?

   Orie entreabriu os lábios de maneira indignada, quase como se fosse óbvio.

   — Papai, mamãe, Orie e o urso!

   — Nós estamos comendo o urso?

   Ele indagou com a voz baixa, ela negou com a cabeça devagar, apontou para os rabiscos sem forma com o dedo gordinho.

   — O urso está dançando, vou fazer outro... pedir para a mamãe fazer outro, ela que fez. 

   Aurora disse antes de voltar correndo para o quarto, Shoyo riu baixinho antes de se levantar novamente, correu os olhos castanhos em sua direção, sorriu se aproximando de você, tocou sua cintura com as pontas dos dedos lhe puxando para mais perto. 

   — Ela me chamou de papai — ele sussurrou de maneira animada, deixou um beijo estalado contra sua bochecha arrancando um riso alto de seus lábios —, de papai!

   Ele repetiu afastando o rosto do seu devagar, você sorriu antes de assentir devagar, correu os olhos pelo rosto do mais velho.

   — Vai ter que lidar conosco agora, ruivinho.

   — Eu fico mais do que feliz por ouvir isso, mocinha.


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