01. new life

Ela se posicionou, mexendo os pompons e os quadris ao som da música. As meninas fizeram o mesmo, cada uma colocando em prática sua parte da coreografia. Seus uniformes em tons de branco, preto e vermelho reluziam sob á luz do sol. Respirou fundo, sentindo suas bochechas coradas de excitação e o humor lá nas alturas. Ser líder de torcida era incrível e valia a pena todo o esforço, tirando a parte de não poder comer besteira e os músculos doloridos de tanto ensaiar.

Quem diria, não? Na sua outra vida, ela era sedentária e tinha orgulho de dizer isso em voz alta para quem quisesse ouvir. Agora, via o quão errado agia, apesar de ainda odiar Educação Física com todas as fibras do seu ser.

Quando a música estava chegando ao fim, deu uma cambalhota. Caiu de pé, como previsto e levantou os braços, segurando os pompons com um sorriso radiante estampado no rosto. Pelo canto do olho, viu as meninas repetirem o ato e logo o ensaio para a temporada de jogos declarou fim ao som do sinal ecoar por todo o pátio.

Passou o torso das mãos pelo rosto suado, pensando que deveria tomar um banho o quanto antes e abriu sua garrafinha d'água, tomando um gole generoso. Seus olhos doíam pela claridade do sol que pegava bem na sua cara e a sua respiração estava descompassada. Abriu o zíper da bolsa vermelha de ginástica, aquelas que as líderes de torcida usam, encontrando seu celular e o desbloqueou, vendo a foto de parede com Caroline onde as duas sorriam para a câmera, a loira com os braços nos seus ombros e ela a dando um abraço lateral, a legenda da foto sendo "melhor amiga 💕". Sorriu, lembrando desse dia com carinho.

Aos treze anos, Caroline tinha organizado a festa da Véspera de Natal em segredo dos pais, planejando que fosse um momento em família por que o casal parecia não ter mais um momento há décadas, mas Bill não pode ir por que já tinha marcado um compromisso e Liz prometeu que iria, mas ligou quase duas horas depois para dizer que não poderia ir, pois estava muito ocupada no trabalho. Caroline então foi para sua casa ao entardecer, e as duas, junto com uma Elena enciumada, passaram a noite toda juntas em uma festinha do pijama feita em cima da hora, assistindo filmes da Disney e comendo besteiras.

— Clara!

Falando no diabo, pensou, olhando por cima do ombro, a loira chegando cada vez mais perto.

Caroline tinha seus cabelos loiros presos em um rabo de cavalo e ainda usava o uniforme de líder de torcida. Tinha um sorriso no rosto corado e esbanjava energia por onde passava. A Forbes era muito parecida com um energético, de certo modo.

— Oi, Care — a cumprimentou com um sorriso divertido, fazendo a outra bufar. — Terminou de palestrar sobre o quão é importante saber toda a coreografia de cor e salteado?"

— Ah! Que engraçado. Me poupe, Clara — Rolou os olhos azuis, mas um sorriso fantasma ameaçou se formar nos seus lábios.

Riu, pegando seu celular e entrou na câmera, olhando crítica para seu reflexo por lá mesmo. Colocou uma madeixa incoveniente de cabelo atrás da orelha e deu um sorriso cheio de dentes brancos e alinhados para si mesma. Mesmo com a sua tentativa de fazer um rabo de cavalo firme e sem fios soltos, ele não saiu como deveria. Iria se certificar de pedir a ajuda de Caroline na próxima vez, a loira era boa nessas coisas.

— Você já tem um par para o baile? — perguntou como quem não quer nada. Care bufou outra vez ao ver sua cara confusa. — O dos anos setenta, Clara! Pelo amor de Deus, você esqueceu disso também?!

— Claro que não! — se defendeu, guardando o celular na bolsa. — Como poderia me esquecer? Nós duas somos as organizadoras!

E também, como se esqueceria se Caroline vivia falando sobre isso? Mas ela deveria ser mais específica ao falar, porque o que mais tinha em Mystic Falls era festa. Clara só entrou na organização por que uma das alunas do primeiro ano sugeriu uma festa de cosplay e quase todos do comitê estudantil gostaram da ideia. Não que a festa de cosplay não fosse uma ideia legal, mas poderia mudar drasticamente os acontecimentos da série. E ela não podia deixar isso acontecer, certo?

Seu nascimento por si só foi um evento que não deveria ter acontecido. Ser filha de Isobel e John e irmã gêmea idêntica de Elena só complicou ainda mais as coisas. Mas, apesar de tentar não se intrometer no sobrenatural, certas coisas precisavam vir a acontecer, como o dia em que conheceu Caroline e Bonnie, as melhores amigas de Elena ou como se tornou a melhor amiga de Tyler e Matt, os dois mosquiteiros. Clara fez o possível para não se intrometer muito e ser só mais uma figurante, mas a ideia de não aproveitar essa sua nova vida pareceu algo idiota demais. Qualquer um faria loucuras no seu lugar, ainda mais com a cara e corpo da Nina Dobrev. E, além do mais, o universo não teria a feito renascer ali se não fosse para mudar os acontecimentos da série, não é?

Por isso, Clara fez o possível para se aproximar de Caroline e ser a melhor amiga que a loira merece, já que na série ela foi uma das personagens que mais passou dificuldades por causa da bagunça sobrenatural que vinha de bônus com a doppelganger Petrova e os irmãos Salvatore. Ela não merecia morrer pelas mãos de Katherine Pierce e se tornar uma vampira, mas evoluiu tanto ao ser transformada... De alguma forma, Clara sentia que iria a privar de algo incrível se impedisse sua morte. Por isso, Clara não fez nada para impedir que Katherine matasse Caroline. Mas, sobre a vampira de cinco séculos ameaçar sua amiga, era uma coisa totalmente diferente.

Outro fato que Clara não sabia ao certo sobre o que pensar ou muito menos sentir era ter o mesmo rosto que Katherine e Elena. Tudo seria muito mais fácil se ela não tivesse a cara da doppelganger, mas o universo parecia querer dificultar a sua vida. Por isso, Clara construiu uma imagem para si mesma que, pelo menos aos seus olhos, a diferenciava das outras doppelgangers Petrova; ela não se envolvia com irmãos ou era "talarica". Ah, ela também tinha o corpo um pouco mais curvilíneo do que o de Elena — Clara gostava de se gabar do seu corpo, por que manter uma boa aparência não era fácil — e usava roupas mais coladas que destacavam suas curvas, mas, em compensação, tinha a mesma estatura mediana de Elena, o que não era bom mas também não era ruim, por que ser comparada com uma anã perto de pessoas altas não era lá algo muito legal. E isso pareceu funcionar, já que os irmãos Salvatore costumavam a olhar estranho, como se ela tivesse cometido um ato terrível ou se perguntando por que ela existia. Mas, apesar de tudo isso, ela ainda tinha o rostinho lindo da Nina Dobrev e aparência de uma doppelganger.

Balançou a cabeça, tentando se livrar desses pensamentos. Não estava a fim de criar mil e uma teorias para estar ali, em universo fictício e que passava na TV, era desgastante tanto emocionalmente quanto fisicamente. No final, ela só sentia vontade de arrancar os cabelos da cabeça de frustração por não chegar a lugar nenhum.

Se voltou para Caroline, que a encarava com uma das sobrancelhas bem feitas arqueada.

— E então? — Tornou a perguntar a Forbes, curiosamente. Clara molhou os lábios secos com a ponta da língua, pensando no que dizer.

Ela, sinceramente, não estava pensando em encontrar um par ou algo assim. Ficaria na maior parte do tempo cuidando dos alunos para que nenhum mal intendimento acontecesse ou servindo ponche por que, segundo o diretor Wilson, os adolescentes não podiam sequer pensar em encostar os dedos lá, já que algum engraçadinho provavelmente iria batizar a bebida. Não havia razão para marcar um encontro com alguém sendo que nem aproveitaria a noite.

Mas aquilo, para Caroline, seria o cúmulo. Sua amiga às vezes exagerava quando se tratava de coisas desses tipo, e tudo o que Clara menos queria era uma Caroline ofendida. Depois que se tornou vampira, as emoções da loira foram ampliadas e ela se tornou um verdadeiro pé no saco quando queria. Não que Caroline soubesse que Clara sabia desse pequeno detalhe, claro.

Porra, eu já não me aguento, pensou, encarando a amiga. Aguentar uma Caroline brava é a mesma coisa que aguentar dez de mim de uma vez só.

E, bom, Clara tinha um defeito. Ela era sincera demais nas piores situações e, quando realmente precisava ser sincera, simplesmente escolhia mentir. Era algo que ela não entendia e preferia que continuasse assim, até por que sua mente era complexa demais para conseguir captar alguma coisa. Qualquer situação, por menor que fosse, já transformava seus pensamentos em um caos absoluto. Ela descobriu esse defeito quando, aos nove anos, tocou sem querer na barriga da sua prima materna de sangue distante, Jessica Young, que tinha uns dezesseis anos na época, e a cena da garota transando com seu namorado apareceu diante dos seus olhos. E ela não sabia como, mas sabia que Jessica estava grávida de um mês, três semanas e dois dias. E, claro, Clara parabenizou a mais velha, sorrindo e dizendo que o filho dela seria muito bonito se puxasse os seus cabelos ruivos cereja e os olhos verdes amendoados do pai. Nem mesmo sua mentalidade de uma adolescente de dezessete anos conseguiu a calar, por que ela tinha nove anos naquele corpo atual, e era normal ser uma criança ingênua aos nove. A comprovação de que estava certa foi a cara de pavor de Jessica, que logo em seguida saiu correndo para o banheiro vomitar suas tripas no vaso sanitário e o jeito como seus pais a olharam quase horrorizados.

(Jessica Young não visitou os Gilbert nas férias seguintes.)

Mas Clara não se preocupou tanto com isso, não via motivo para tal. Talvez fosse os poderes de bruxa de Katherine que foram passados para os descendentes da linhagem Petrova. E, se por acaso se descobrisse bruxa, ficaria mais do que orgulhosa. Bruxas eram incríveis, tirando os ancestrais que as usavam em prol do "bem maior".

Bom, voltando... Clara tinha um péssimo defeito. E esse defeito era ser sincera nas piores situações.

— Talvez eu vá com Ty — deu de ombros, fazendo pouco caso. E realmente não estava nem aí, mas não queria que Caroline desse seus surtos. — Ele sabe que, se eu por um milagre conseguir uma folguinha dos olhos de gavião do diretor Wilson, posso eu mesma batizar a bebida e trazer um pouco de visão a festa e iríamos nos divertir bebendo até passar mal. Mas nada garantido.

Caroline piscou.

— Bom, sendo assim… — abriu um sorrisinho, segurando a morena pelos ombros. E replicou, divertida: — Eu posso te dar uma ajudinha, mas nada garantido!

As duas riram. Clara passou o braço pela cintura da loira, a dando um abraço lateral. Juntas, caminharam até o vestuário para lá tomarem um banho rápida e trocarem de roupa, já que não era uma boa irem para casa suadas e com o curto uniforme das cheerleader Timberwolves.

oi, rs 😅

primeiro cap postado, só pra vocês verem mesmo como a Clara é e a interação dela com a Care 🌌

espero que tenham gostado! ❤
qualquer coisa ou dúvida, podem comentar aqui que eu responderei assim que ver 😏

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