𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 37

CAPÍTULO 37

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Eu acordei sozinha.

Imaginei que Cinco estaria com os outros, ou tomando seu café da manhã. Ou até mesmo no aeroporto escoltando Luther e Allison que vão chegar hoje à noite. Qualquer que seja o motivo, ele não me avisou que sairia.

Tento não ligar para isso, mas um pequeno e velho incômodo dentro de mim odeia não saber onde ele foi. Não é toxicidade. É só um presente que ele deixou para mim há dezessete anos atrás.

Ao perguntar para os meus irmãos se sabem onde Cinco está, não me surpreendi quando eles não souberam responder.

— Tia, podemos tentar pegar ursinhos na máquina? Por favor, por favor? — Claire me trouxe à realidade, juntando suas mãos e estrategicamente deixando seus olhos tão brilhantes que não consigo resistir. Vai ser bom para me distrair também.

— Podemos, sim.

— Você é a melhor tia do mundo! — Claire pula várias vezes, com um excesso de energia característico de crianças nessa idade.

— Eu sou a única que você tem.

— Não por muito tempo… — Diego diz, no seu canto.

— Ah, nem me lembre — eu reviro os olhos, segurando a mão de Claire para irmos até o térreo.

Podíamos ir a qualquer shopping ou supermercado onde há várias dessas máquinas, mas Claire não estava pela experiência do jogo. Ela queria um ursinho de pinguim que só tinha na máquina do hotel. Eu gostaria de evitar qualquer possibilidade de interação com Ethan, mas assim como a sua mãe, Claire consegue tudo o que quer, então me convenceu a usarmos as máquinas de pegar bichinhos do hotel.

Fomos até a pequena sala de jogos, e ao lado dos cassinos e jogos de tabuleiro, a máquina colorida e com uma música animada se destaca para nós. Claire correu na minha frente e ficou pulando ao lado da máquina até eu chegar.

Conferi a tabela de preços e coloquei 5 dólares, para 5 jogadas.

— Vamos, tia! Tenta pegar esse pinguim! — Claire incentiva, sua voz doce e fina mais alegre do que nunca. O urso em questão está debaixo de uns outros quatro ursos, e só é visível pelo vidro.

— Beleza, vou tentar.

Eu uso a alavanca e a garra de dentro da máquina começa a se mexer. Pelo tempo cronometrado, é impossível pegar aquele pinguim. Mas talvez Claire fique feliz com o sapo de olhos esbugalhados que está em cima. Ele está mais fácil.

Claire e eu revezamos as jogadas e em nenhuma delas tivemos sucesso. Coloquei mais 5 dólares.

E depois de dez tentativas, o urso verde cai no quadrado que leva à portinha abaixo. Eu, muito empolgada, pego o urso e digo que conseguimos. Claire também fica animada, porém não dura muito tempo.

— Mas tia, e o pinguim?

— Bem, eu tenho mais alguns trocados. Quer insistir nele?

— Sim!

Coloco 10 dólares na máquina e deixo Claire descobrir sozinha que aquele urso não vai chegar tão cedo. A garra da máquina muitas vezes pegou um urso mas o soltou antes de cair no quadrado. Claire usou várias tentativas só para tirar os ursos de cima do pinguim. Precisei pagar mais 5 dólares. E depois mais 5. E mais 5.

Até que finalmente ela conseguiu trazer o pinguim até o quadrado, aparecendo na portinha. Tínhamos seis ursos, mas Claire abraçou aquele pinguim e não soltou mais. Até que valeu a pena toda a frustração quando não conseguimos só para vê-la realizada com seu ursinho.

Voltamos para deixar todos aqueles ursos no quarto, e no caminho Claire diz:

— Tia, podemos tomar sorvete?

— Podemos.

— Obrigada! — Ela pula enquanto segura a minha mão. — Será que o tio vai gostar do ursinho? Eu vou dar de presente pra ele.

— Qual tio?

— O tio Cinco. O pinguim é igualzinho ele.

Eu olhei para o urso em seu braço e no mesmo segundo soltei uma gargalhada que provavelmente escutaram no andar inteiro. É a cara de Cinco mesmo.

— Sim, sim, entrega pra ele.

— Ele é meio bravo. Se tiver um ursinho vai ficar mais feliz.

— Com certeza.

Seguro na mão dela enquanto saímos do hotel, procurando por alguma sorveteira. De tempos em tempo a imagem de Cinco com seu paletó e o pinguim de pelúcia aparece para mim, um ao lado do outro, e me tira uma risada que preciso disfarçar para não me acharem louca.

Claire não é tão exigente com sorvetes como ela foi com os ursos, ela só conhece o sabor chocolate e morango. Foi mais fácil. Tomamos o sorvete, e às vezes eu esquecia de tomar conta da minha sobrinha para vigiar a rua, esperando que alguma hora eu veria Cinco andando no meio das pessoas e finalmente o encontraria.

Está começando a entardecer e ele ainda não voltou. Eu procuro deixar de lado outra vez, e volto com a Claire para o hotel. Eu não disse a ela que sua mãe voltaria hoje, queria que fosse surpresa, e é por esse motivo que ela continua tentando me falir com todos os brinquedos que vê pela loja.

— E esse, tia?

— Não, temos que voltar.

— Só um?

— Você ainda precisa tomar banho — Eu seguro a mão dela.

— Mas tia…

Claire.

Ela torce seus lábios para baixo, abaixando a cabeça junto. Parte meu coração, mas não consigo continuar aqui fora.

Voltamos para o hotel e mando ela para o chuveiro. Ela estava um pouco emburrada, mas logo começou a cantar suas músicas infantis e esqueceu da frustração. Deixo a roupa dela reservada enquanto penso em que penteado irei fazer. Devo tentar algo como o que eu fazia com as minhas bonecas quando eu era criança.

Só foi fácil tirar a Claire da banheira porque ela queria brincar com os novos ursos. Faço duas trancinhas de cada lado e prendo-as junto com o restante do cabelo. Fico orgulhosa do meu trabalho e tenho certeza que Allison vai reparar.

— Está com fome? — eu pergunto, guardando os produtos na cômoda.

— Não.

Ela está bem entretida com a história de zoológico que está criando com os ursos. Eu poderia descansar agora, mas a criatura que aparece de repente do meu lado é certamente quem irá me trazer mais dor de cabeça.

— Oi, gatinha.

Eu cerro os olhos, chegando perto o bastante para segurar sua gravata e puxá-lo. Digo baixo para Claire não escutar, posso não ter controle do que irá sair da minha boca.

— Onde você estava, porra?

— Eh… Eu?

— Você.

— Eu… Eu estava na Comissão.

— É?

— Resolvendo a papelada. Tinham que me reconhecer como o novo diretor, é um processo chato.

— Por que eu não fui?

— Você não ia gostar, Amber, acredite.

— E por quê não me avisou?

— P-porque… eu não queria te acordar, amor. Você tava tão quietinha.

— Cinco, você tá mentindo.

— Não tô, não.

— Tá sim! Tá sim! — Claire cantarola, rindo. Ela escutou tudo mesmo.

— Sai daqui, pirralha! Anda. — Ele grita para a sobrinha, que assustada sai correndo pela porta. Se ela vai esperar no corredor ou encher o saco dos tios dela, eu não sei.

Cinco não vai me enganar. Ele nunca ficaria nervoso ou ansioso por eu confrontá-lo se ele não tivesse nada a esconder.

— É coisa da sua cabeça, Amber. Não estou mentindo. — Ele diz isso olhando nos meus olhos, e assim talvez seja mais crível.

— Só… não some do nada, tá? — Aos poucos eu solto a sua gravata, e ele faz uma massagem pela pressão que causei em sua garganta.

— Se é assim que você quer, então vai ser. Eu não quis te assustar — Ele segura minha cabeça com as duas mãos, gentilmente beijando minha testa. Suas mãos me envolvem num abraço apertado, adentrando meus cabelos e juntando minha cintura ao seu corpo. — Aceita sair comigo nesse sábado para eu me redimir?

Eu levanto minha cabeça para encontrar seus olhos, abrindo um sorriso.

— Aceito.

— Eu escolho o lugar desta vez. Nada de donuts ou batata frita.

Eu solto uma risada, com uma sensação boa de dejavu. Há mais liberdade agora do que num sótão de uma mansão.

Cinco sorri ao olhar para a minha boca, passando seu polegar sobre meus lábios enquanto minha risada perde a força. Num impulso só, ele junta nossos lábios num beijo longo o bastante para tirar meu fôlego. Respiramos descontroladamente contra a bochecha do outro, esperando pelo momento que faremos outra vez.

Eu seguro a sua nuca, sentindo seus cabelos macios e um formigamento na barriga. Sinto sua mão quente entrar na minha camiseta, contornando minha cintura e subindo cada vez mais. Seu rosto chega perto, trazendo seu cheiro e seu calor, pouco antes explodir minhas emoções ao beijar minha boca.

Não sei se conheço um mundo lá fora. Só existe eu e Cinco nesse quarto. Apenas. E é bom pra caralho.

Esse homem se atreve a levar sua mão com confiança para lugares pouco explorados por ele, e faz parecer que conhece meu corpo melhor do que eu mesma. Ele acaricia minhas costas, ignorando o fecho do meu sutiã, mesmo que a força na qual cravo minhas unhas em seu ombro grite o quanto eu quero que ele abra.

Ele segue a renda até a parte da frente, lentamente, sua língua deslizando na minha na mesma velocidade. Caminhamos de olhos fechados até trombarmos com a cômoda, tendo enfim um apoio. Ele morde o meu lábio inferior enquanto aperta o meu seio, simultaneamente, sem saber que também acabou de mexer com o meu discernimento.

Minha respiração treme e, pelo calor, preciso tirar minhas roupas o quanto antes.

Cinco solta risadas baixinhas ao notar o que faz comigo, um tom quase de orgulho. Sua boca volta para a minha, e a recebo como se fosse meu oxigênio. Embora eu o perca facilmente quando ele desce suas mãos para o meu quadril e me aperta, me fazendo senti-lo por completo.

Ele me observa deslizar minha mão pelo seu peitoral, e há satisfação em seu olhar, porém ele não me deixa chegar perto de sua calça. Cinco segura os meus punhos e me afasta dele.

— É melhor nós irmos, daqui a pouco eles chegam.

— Tá brincando? — Eu pergunto, com sinceridade. Na intensidade que estávamos, não achei que íamos parar tão cedo.

— Amber, você não acreditaria se eu dissesse que tenho uma granada no bolso. Eu nem devia ter te apertado tanto.

— Uma granada? Cadê? — Eu levanto as sobrancelhas, surpresa, mas desisto da curiosidade em troca de continuarmos de onde paramos. — Guarda ela na gaveta.

— A gente termina outra hora, tá? — Cinco me dá um selinho, quebrando e destruindo as expectativas que eu tinha, criadas por ele mesmo.

Ele se afasta rápido, colocando as mãos nos bolsos e me dando as costas. Fico imóvel por um tempo, recuperando minha temperatura natural e de volta ao mundo real onde mais coisas além de nós existem. Eu prefiro o meu mundo fantasioso.

Sem mais nenhuma palavra, Cinco saiu para tomar banho e as coisas voltaram ao normal. É, nós nos pegamos muito bem, só tivemos um empecilho. E o que raios ele estava fazendo com uma granada no bolso? Como eu não reparei? Eu deveria sentir dois volumes ao invés de um? Ou aquele nunca foi de Cinco? Que situação mais estranha.

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Para dar as boas vindas, decidimos esperar nossos irmãos na recepção do hotel, nos sofás com cestas de revista que nunca vi alguém usando. Viktor chegou a tempo, e se juntou a nós, convidando-nos para o seu próximo concerto.

— Eu vou tocar Eleanor Rigby. É no próximo domingo, vocês deviam ir, é uma orquestra incrível — ele diz.

— Nós vamos, com certeza — eu digo, entusiasmada. Os meninos não parecem estar igual, então preciso adicionar um pouco de ameaça — Né?

— É.

— É.

— É.

— Ótimo, vocês vão adorar — Viktor sorri.

No mesmo momento, escutamos a porta giratória do hotel ranger, com malas batendo em suas superfície porque Luther é grande demais para a passagem. Eu, sem conseguir controlar ou planejar qualquer movimento, dou um pulo e corro em direção às portas.

Antes de abrir meus braços, cobri minha boca ao perceber que eles estão completamente bem. Luther tem bastante curativos no rosto, mas ambos continuam com seus membros.

— Não acredito!

— Não achei que diria isso um dia, mas me dá um abraço maninh… — Luther não precisou terminar a frase e eu já estava passando meus braços por cima de seus ombros. Ele abraça as minhas costas e me levanta do chão com a maior facilidade.

Os últimos acontecimentos só me provou que todos eles são pilares importantes na minha vida, e que eu sentiria a falta deles mesmo se eles foram babacas comigo desde a infância, como o Luther. Agora eu sei que não seria fácil perdê-los.

— Que bom que está de volta, loirinho.

— Também senti sua falta, por incrível que pareça.

— Beleza, agora me põe no chão.

Luther se lembra e então deixa que meus pés estejam de volta ao chão. Atrás dele, também com muitos curativos pelo corpo e um maior em sua garganta, está Allison. Eu suspiro de alívio e abraço-a, tomando cuidado para não machucá-la.

— Estou feliz que você esteja bem. Eu cuidei dela, tá? — Eu digo para acalmá-la. Allison está soluçando e com os olhos marejados, e tudo o que eu queria escutar era a sua voz.

— Mamãe! — Quando Claire a vê, corre em sua direção com os braços para cima, pedindo que sua mãe lhe pegue no colo. Claire deita no ombro de Allison e começa a chorar, não faço ideia de quanto tempo as duas não se veem.

Ela sabe que sua mãe não pode falar, mas ainda assim faz perguntas que Allison tenta responder acenando a cabeça.

Meus irmãos, depois de se cumprimentarem, chamam-nos para nos reunirmos nos sofás e beber algumas doses.

— Mas conta aí, como tudo aconteceu? — Diego diz, servindo vodca para todos nós.

— Nós já estávamos em nossos assentos quando fomos cercados por aqueles caras de uniformes. Eles fizeram todos de reféns e disseram que estavam lá para nos eliminar. — Luther explica, enquanto Allison concorda. — Um grupo deles foi até a cabine do piloto e depois não vimos mais nada. O avião simplesmente começou a despencar.

É inevitável. Mesmo vendo eles aqui na minha frente, sinto uma dor no coração. Eu deito minha cabeça no ombro de Cinco, enquanto ele aperta a minha mão.

— Eu só abracei a Allison e esperei pelo pior. — Ele abaixa a cabeça, se lembrando das cenas que viveu. — Mas estamos bem agora.

— Aqui nós tivemos que lutar com palhaços assassinos — Diego solta uma risada sarcástica — E os dois tiveram que… O que vocês fizeram mesmo?

— Eliminamos a Gestora, quem estava por trás de tudo isso, e me coloquei no cargo dela. — Cinco explica, sendo direto.

— Só fizeram isso mesmo? — Diego pergunta, um sorriso malicioso no rosto que eu adoraria tirar com um soco.

— Do que vocês estão falando? — Luther reveza seu olhar entre nós, confuso.

— Vocês também não sabiam que esses dois se curtem?

Allison me encara com olhos arregalados. Me obrigo a levantar, caminhar até Diego e apertar a sua orelha o máximo que consigo.

— O Cinco, Amber? — Luther diz, como um absurdo.

— O que Diego quis dizer é que agora eu e Cinco estamos juntos. Pode ser chocante para vocês, mas não começou agora. Nós nos gostamos desde… desde os doze anos. — Eu falo, e sinto minhas bochechas queimarem por dois motivos diferentes.

— É sério? — Viktor questiona, acompanhando a mesma cara surpresa de Luther e Allison.

— Sim. Vocês têm algum problema com isso? — Cinco se inclina para frente, ameaçador.

Os três que receberam a notícia agora balançam a cabeça, em negação.

— Perfeito.

— Caramba, as coisas por aqui mudaram mesmo — Luther conclui. Allison continua com aquele olhar de quem foi traído a vida inteira. Alguma hora ela vai entender que eu não podia dizer a ninguém naquela época.

— Me solta, Amber! Caralho — Diego xinga, pegando sua faca no bolso.

Eu aperto um pouco mais antes de soltar a orelha dele. Eu não teria esse esforço se ele respeitasse minha hora de contar meu caso com Cinco.

⦿ 2.719 palavras

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a Amber desconfiando do Cinco


TEM O POVO!!!

E ESSE TRAILER??

gente minha cabeça tá explodindo de tanta ideia, parece um computador hackeado

sem nem assistir a S4, só vendo aquela estação de trem do trailer eu já pensei numa distopia pra escrever 

se pá eu consigo lançar uma short fic até o 8 de agosto 😭😭

bjs meus curupiras companheiros 💛

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