𝐄𝐩í𝐥𝐨𝐠𝐨

— Me perdoa. – choro incansavelmente enquanto vejo o vulto do meu pai no canto do quarto — Eu não tive escolha.

— Todos temos escolha, Amelie. – ele diz já sentado ao meu lado com o rosto deformado.

Acordo pulando da cama e com a respiração ofegante. Olho ao meu lado vendo Amberly dormir num sono profundo, tão profundo que nem se quer ouviu. Corro para o banheiro me trancando lá, abaixando e vomitando. Escovo meus dentes, lavo o rosto suado e volto para o quarto me sentando devagar tossindo baixo.

— Ei.. – Amberly passa o braço envolta da minha perna.

— Oii - limpo meu nariz.

— Passando mal de novo?

— Pesadelo apenas. – respondo.

— Devia ver um médico. – balanço a cabeça confirmando. — Que horas são?

— 9h30. Quase na hora de ver o advogado.

Meu estômago está mais enjoado do que nunca, desde ontem na verdade, o pesadelo só piorou tudo. Eu sei o porquê da cisma de Amberly. O único exame que não fiz foi de gravidez e agora com os enjoos constantes, até eu estou cismada. Mas meu período menstrual está regular, o que acabo descartando também.

Nos levantamos, tomamos café e Amberly nos teleporta pra porta da frente do advogado.

— Odeio advogados. – digo quando bato na porta.

— Fique tranquila, eu não mordo – uma voz fala do interfone e em segundos a posta se abre mostrando um homem na faixa dos 38 anos, cabelo castanho e óculos escuros. Provavelmente deve ser cego. Parabéns, Peter!! — Entrem. – ele dá espaço para que entremos e observo o local, sempre com pé atrás. — Qual das duas é a Amelie? – ele estende a mão exatamente em minha direção.

— Sou eu – aperto.

– Prazer. – ele sorri — Peter disse que viriam cedo mesmo. E você a Ambely?

— A própria  Amberly responde.

— Ok meninas, sentem-se. – ele arruma os óculos. Nos sentamos e Amberly o encara como se fosse o atacar a qualquer momento. — Fica calma, se você não me atacar, eu não ataco.

Matt diz e fico me perguntando como raios ele está percebendo tudo isso sendo cego.

— Tá, tá. Comece.

— Peter contou sua história. Ou melhor, o que sabe da sua história. Preciso que você me conte tudo agora, sem esconder detalhes importantes.

Matt diz sentando na poltrona e respiro fundo antes de contá-lo tudo. É a primeira vez que estou contando a história até para Amberly, que me olha atentamente com os olhos arregalados. Tudo é falado, desde os primeiros momentos da descoberta da doença do meu pai até a minha ida a procura de emprego.

— Nossa. – Matt pronuncia com o queixo apoiado na mão.

— Vá direto ao assunto. – Amberly diz impaciente.

— Senhorita Amberly – percebo Matt começar a paciência também. — Eu trabalho com fatos e com calma. Isso é um assunto delicado. Preciso entender tudo antes de ajudar a sua namorada a não ser linchada na cadeira. — Matt dá essa rasteira em Amberly fazendo-a revirar os olhos. – Quantos anos você tinha?

— Treze.

— Você disse que seu.. Leonard roubava armamentos de Wilson Fisk? – ele pergunta e balanço a cabeça. Quando me lembro que ele é cego, abro a boca pra responder, mas ele continua. — Uma cobra comendo a outra. Bom, vamos recorrer na audiência, o juiz vai entender que você fez tudo isso porque não te deram escolha. Mas o promotor vai pegar no seu pé, e as pessoas que você ajudou a prejudicar também. Vai precisar ter argumentos muito fortes e tudo o que você me contou agora, não mude. Uma palavra que mudar, eles vão entender o contrário. – balanço a cabeça concordando já me sentindo apavorada. — Vai ser júri popular, então precisa fazer o possível pra convencer. Já vamos aproveitar e passar a guarda da Daya pra você.

— Obrigada! – sorrio fraco.

— Mateo quer a guarda da Daya? – Amberly pergunta.

— É bom prevenir. Ele pode aparecer pedindo – Matt diz — A menina não tem nem certidão de nascimento. Precisa de um nome. Mas o juiz não vai dar para uma mãe.. Bom você sabe. – Matt respira fundo — Precisa provar que pode cuidar dela. Enquanto isso continue arrumar um emprego. Vai ser ótimo pra audiência se você conseguir.

— Vou tentar. – dou um sorriso fraco.

— Boa sorte. – ele diz e me levanto — Pode pegar uma agenda dentro daquela gaveta pra mim? – pego e entrego a ele uma agenda preta. Quando Matt abre passando os dedos em letras normais, o que me surpreende, porque pelo que sei cegos leem em braile. — Me liguem se precisar, mas vamos mantendo contato – Matt diz depois de dizer o dia da audiência. Boa sorte.

— Obrigada.

.


Já em casa, Amberly e eu conversamos sobre as várias possibilidades dessa confusão. Além de ela reforçar novamente sobre me levar a um hospital pra ver os enjoos.

— No que tá pensando? – Amberly pergunta mexendo no meu cabelo.

— Minha cabeça não para. – respiro fundo — Cada hora é uma coisa.

— Acha que isso um dia vai acabar?

— Eu não sei. Tenho medo, sabe? Leonard morreu ok. Mas e o resto, Amby? E agora tem você e a Daya. Não quero que se machuquem por minha causa de novo. – digo.

— Vou me machucar de um jeito ou de outro, assim como você, mas o que importa é que vamos cuidar uma da outra. – Amberly diz e concordo — Mas a Daya não pode se machucar.

— Se algo acontecer, eu morro. – digo.

— Nós duas. – Amberly diz.

— Mas nada vai acontecer. Precisamos ser positivas. – dou um selinho nela e ouço uma batida na porta. — Eu já volto.

Levanto preguiçosamente da cama praticamente me arrastando pra sala. As esperanças de ser uma visita boa é interrompida quando abro a porta.

— Mãe??

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top