2.0

Suna estava surtando.

   Você teve certeza daquilo no momento em que estava prensada na parede ao lado de Aran que parecia calmo demais, bem, você não poderia julga-lo, afinal, ele fazia parte da Elite da Inarizaki, eles provavelmente eram treinados para aquilo, mas em nenhum momento você havia sequer pensado na possibilidade dele e Suna terem trabalhados juntos.

— Suna, não coloque ela no meio disso, você sabe que...

Aran começou com a voz branda e você respirou fundo, não sabia como reagir a aquilo, Suna gritou, seu corpo tremendo de leve enquanto apontava a arma na direção de vocês dois, ele respirou fundo, os olhos dourados se encontraram com os seus, você engoliu em seco, eles pareciam machucados, magoados, se olhasse com atenção conseguiria ver lágrimas suaves se formando no canto de seus olhos.

— Cale a boca, seu bosta! — Suna rosnou transtornado, volteou a arma em sua direção, você tremeu de leve, mesmo que tivesse a certeza que ele não iria atirar — Seria muita coincidência ela me trazer para o lugar onde um dos membros da Inarizaki está sem que não soubesse de merda nenhuma!

— Suna, eu...

Você começou com a voz baixa e o homem de fios escuros levantou a mão destra como se pedisse para que você ficasse quieta, ele respirou fundo como se tentasse manter a própria calma.

— Por favor, S/N, por favor fique quieta.

Ele pediu com a voz baixa, embargada, como se estivesse a um passo de entrar em uma tremenda crise de choro ali mesmo, você suspirou antes de assentir, sentia seu coração apertado, com certeza Suna tinha milhões de motivos para duvidar de você naquele momento.

— Suna Rintarou, me escuta seu babaca.

Aran disse levantando a voz e Suna bufou irritado.

— Eu mandei você...

— E eu mandei você me escutar, porra! — Aran gritou ao seu lado e você sentiu seu corpo tremer de leve, os olhos dourados correram em direção ao homem e ele apenas assentiu por fim — Você realmente acha que o Kita se dedicaria tanto para te matar? Você acha que é tão importante assim? Que porra de síndrome de personagem principal é essa que você tem, cara?

O homem de pele escura indagou arqueando uma das sobrancelhas de modo petulante e Suna chiou de modo irritado, Aran sorriu de lado antes de continuar.

— Ele só quer te matar por orgulho, porque você fodeu com a reputação dele, mas não é como se ele fosse mandar alguém te seguir para todo o canto que você vai, você não é tão importante assim — ele disse encolhendo os ombros, seu olhar alternava entre os dois homens pensando o que poderia acontecer dali —, e mesmo que ele estivesse fazendo isso eu não teria nada haver com a vida suja dele, eu larguei a Inarizaki um pouco depois de você fugir.

Ele disse por fim e Suna arregalou os olhos de modo surpreso abaixando a arma pouco a pouco mas ainda com a guarda alta.

— Você... largou a Inarizaki?

Ele indagou com a voz baixa e Aran apenas assentiu devagar, bocejou.

— Larguei, eu já estava planejando fazer isso a um tempo, você foi apenas o estopim para eu entender o que era o certo a se fazer — Aran murmurou e colocou as mãos nos bolsos, girou o rosto suavemente em sua direção, você ainda estava sem reação ali sem saber o que fazer, ele voltou os olhos azuis ao Suna —, então ela não tem nada haver com isso, foi apenas uma coincidência, no momento quem quer quebrar sua cara sou eu por estar arrastando ela para a Nekoma.

Ele bufou e foi a vez de você falar de uma vez franzindo o cenho de modo irritado.

— Ele não está me arrastando para nada, nós só trabalhamos juntos, eu cuido do Kenma.

— Quem é Kenma?

— O garoto do chefe.

Suna completou enquanto guardava a arma novamente no cós da sua calça, suas mãos ainda tremiam, ele não parecia bem, nenhum pouco bem, você suspirou pesadamente antes de se desencostar da parede andando em direção ao homem ficando no mínimo um passo de distância, ele levou os olhos dourados em sua direção, parecia cansado, você segurou as mãos grandes entre as suas com cuidado as sentindo parar de tremer pouco a pouco, estavam geladas.

— Você está bem?

Você perguntou baixinho e ele apenas assentiu, tanto você quanto ele sabiam que aquilo não era verdade.

— Desculpa ter apontado uma arma para você.

Ele murmurou com a voz sentida desviando o olhar, você riu baixinho.

— Ei, você tinha todos os motivos para ficar na defensiva, não precisa se desculpar — você disse com a voz suave, Suna não disse nada, você suspirou levando as duas mãos até o rosto do homem o forçando voltar o olhar em sua direção, os olhos dourados encontraram os seus, ele piscou devagar, cansado —, você entendeu? Não se culpe por isso.

Ele assentiu, prensou os lábios antes de encolher os ombros.

— Eu... vou voltar para a casa, está bem? Pode ficar aqui com o Aran e conversar sobre quadros ou sei lá o que — ele disse com a voz fraca —, quando quiser voltar me ligue e eu venho te buscar.

— Tem certeza que não quer que eu vá junto? Eu não me importo.

Você perguntou cuidadosa, ele negou com a cabeça.

— Eu preciso colocar meus pensamentos no lugar agora, é melhor você não ir junto, pelo menos não agora.

— Está bem — você murmurou puxando o rosto do homem em sua direção o abaixando de abrupto deixando um selar rápido contra sua testa, deixou seus lábios ali por alguns segundos —, qualquer coisa me ligue e eu volto correndo se precisar, está bem?

Você disse com a voz baixa antes de o soltar por fim, Suna assentiu, bagunçou os próprios cabelos com a mão destra antes de dar meia volta e sair da galeria de artes, não demorou muito para que você conseguisse escutar o som do carro dando partida. Você respirou fundo, levou o olhar em direção a Aran que suspirou pesadamente provavelmente já sabendo o que você diria.

— Aran, que merda aconteceu com o Suna?

— Vamos conversar na minha casa, fica lá em cima, você gosta de chocolate quente?

— Sim.

Balbuciou o vendo pegar o rolo de chaves andando em direção a porta da galeria a fechando, volteou os olhos azuis até você.

— Vamos.

Ele murmurou girando os calcanhares em direção a um dos corredores adentrando no mesmo, você apenas o seguiu vez ou outra prestando atenção a um dos quadros presos as paredes mesmo que estivesse ansiosa demais para aquilo.

Em questão de segundos vocês estavam na parte de cima daquele pequeno edifício, a casa de Aran não era muito grande mas mesmo assim era muito mais organizada do que seu próprio quarto. Você se sentou sobre um sofá pequeno e não demorou muito para que o homem voltasse com duas xícaras de chocolate quente, tudo estava silencioso demais, você agradeceu baixinho pegando a xícara entre suas mãos as sentindo esquentarem de leve, Aran se sentou em uma poltrona simples que ficava ao lado do sofá, respirou fundo.

— O que você quer saber?

Ele indagou bebericando devagar e você franziu o cenho pensativa antes de encolher os ombros.

— Tudo.

— Tudo?

— Sim.

Você respondeu, Aran suspirou antes abaixar o olhar para a própria xícara em suas mãos, pensativo.

— Eu vou te contar, mas só porque eu sei que o Suna nunca conversaria sobre isso com você.

— Por que não?

— Porque ele entra em pânico.

Ele disse com pesar na voz, você engoliu em seco, piscou devagar.

— O que aconteceu?

Aran respirou fundo, prensou os lábios sem saber muito bem por onde começar.

— A família dele morreu quando ele tinha seis anos, foram assassinados por agiotas da Yakuza, ele foi o único que escapou porque se escondeu em uma espécie de baú que ficava no quintal — ele começou com a voz baixa, apertou a xícara contra suas mãos —, ele ficou preso lá dentro e o Japão estava em sua temporada de chuvas, se eu não me engano demorou dois dias para que a polícia o encontrasse ali dentro, ele só não morreu sufocado porque haviam frestas entre as madeiras do baú onde ele conseguia respirar. Ele estava simplesmente acabado quando o encontraram ali, ficou ao menos duas semanas no hospital pelo o que eu sei.

Aran disse brando, você arregalou os olhos, sentia que estava começando a ficar difícil para respirar.

Família assassinada. Yakuza. Temporada de chuvas. Ele havia ficado dois dias preso debaixo da chuva logo depois de ver sua família ser morta.

— Ele... tem medo de tempestades...

Você murmurou com a voz fraca se lembrando de quando ele foi ao seu quarto tremendo assustado, Aran assentiu.

— Ele dormia comigo quando a tempestade estava muito alta.

O homem murmurou, você sentiu seu estômago se embrulhar por completo.

— O que aconteceu depois?

Você indagou de modo cauteloso, Aran respirou fundo.

— Ele viveu de casa em casa mas sempre acabava voltando para o orfanato, quando ele cresceu ele se alistou para a Inarizaki, ele tinha o plano de bater de frente contra a Yakuza, de encontrar quem havia feito aquilo com a família dele — Aran deu uma pausa breve, bebericou o chocolate quente antes de continuar —, mas nem mesmo a própria polícia de elite é completamente certa, a Inarizaki trabalhava junto com a Yakuza, apagava os seus rastros por dinheiro e quando o Suna descobriu isso ele simplesmente enlouqueceu e denunciou o Kita chefe da polícia para o governo.

Aran balbuciou, encolheu os ombros, você sentiu suas mãos tremerem, Aran colocou a xícara sobre a mesinha de centro antes de continuar.

— E bem, Kita é um homem poderoso, ele sempre teve seus contatos então não demorou muito para que ele saísse da prisão, agora ele está atrás do Suna para fazer ele pagar por ter traído sua confiança — Aran fechou os olhos por um instante —, quando o Suna descobriu que estava sendo caçado ele foi atrás de uma das máfias que ele estava investigando, uma das únicas máfias que não machucavam pessoas boas, a Nekoma, Kuroo tem uma rincha gigantesca com a Yakuza então ele está cuidando do Suna nesses últimos anos.

— Porra.

Você murmurou, simplesmente não sabia o que dizer, não sabia o que sentir, parecia que você se afundaria contra o sofá a qualquer segundo, sentia seu rosto dormente, um gosto ruim em sua língua. Você despertou do seu pequeno transe quando um som alto foi escutado, um trovão, levou o olhar rapidamente em direção a janela, seu peito apertado.

Por favor não.

Estava chovendo.

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