୨୧ ﹙000﹚ 𝐏𝐑𝐎𝐋𝐎𝐆𝐔𝐄, nightclub princess .
FEVEREIRO DE 2021
Dezesseis anos. Finalmente. Mas, para ser sincera, nada parecia realmente diferente. Eu ainda era a filha mimada da vereadora da cidade, a garota que todos achavam ter uma vida perfeita. A que sorria para as fotos e cumpria seu papel de princesa intocável, enquanto, por trás das portas fechadas, afogava-se em cigarros e bebidas. Minha mãe fingia não ver. Ela nunca via.
Mas ele via.
Zachary sempre via tudo.
Eu estava sentada na cama, vestindo uma camisola rosa bebê que mal cobria minhas coxas. As cortinas estavam entreabertas, permitindo que a luz amarelada dos postes da rua iluminasse meu quarto em tons suaves. Entre os dedos, segurava um baseado forte que Victor Cave, meu melhor amigo, havia me dado como presente de aniversário. A fumaça pairava no ar, se misturando ao perfume doce que eu tinha borrifado na pele minutos antes.
Meu diário estava aberto no colo, as páginas repletas de pensamentos desordenados, segredos que eu não ousava contar a ninguém.
Duas batidas na porta. Firmes, certeiras.
Meu coração quase saltou do peito.
Rapidamente, apaguei o baseado que ainda queimava entre meus dedos, jogando-o debaixo da cama como se isso pudesse apagar o cheiro forte que impregnava o quarto. Passei as mãos pelos cabelos, tentando parecer minimamente apresentável antes que a porta se abrisse.
Zachary entrou sem esperar permissão. Alto, imponente, vestido no típico traje impecável que gente rica usava o tempo todo. Seu terno preto parecia recém-passado, a gravata perfeitamente alinhada, como se tivesse acabado de sair de um evento importante. O tipo de homem que nunca parecia fora de lugar. Exceto ali, no meu quarto bagunçado, onde a fumaça do baseado ainda pairava no ar.
Ele fechou a porta atrás de si, e seu olhar percorreu meu corpo exposto na camisola curta.
Meu estômago revirou.
──── Estava fumando de novo? ──── Sua voz saiu baixa, rouca, carregada de algo que não soube nomear.
Engoli em seco, desviando o olhar para o diário ainda aberto no meu colo. Ele sempre sabia. Sempre via além do que eu queria mostrar.
E, pela primeira vez, senti que aquele olhar não era apenas de desaprovação.
──── Não, claro que não, tio. Estou sóbria, lembra? ──── Soltei uma risadinha inocente, tentando parecer despreocupada, mas ele me conhecia bem demais para cair nessa.
Zachary não respondeu de imediato. Apenas me observou, seus olhos escuros analisando cada detalhe, meus lábios ligeiramente entreabertos, os dedos ainda tensos sobre o diário, a forma como minhas pernas nuas estavam dobradas sobre a cama.
Ele deu um passo à frente, e o cheiro amadeirado do seu perfume invadiu meus sentidos, misturando-se ao resquício de fumaça no ar.
──── Não minta para mim, Penelope ──── sua voz saiu baixa, quase um aviso.
Engoli em seco, mas mantive o sorriso no rosto, desafiadora.
──── Não estou mentindo ────
Ele arqueou uma sobrancelha, inclinando-se ligeiramente.
──── Então não se importa se eu checar, certo? ────
Meu coração disparou. Ele estava perto demais. Perto o suficiente para que meu corpo se enrijecesse sob seu olhar.
──── O que você vai fazer? Me revistar? ──── provoquei, minha voz mais fraca do que pretendia.
Por um instante, algo brilhou nos olhos dele, uma tensão densa, carregada de algo que me fez prender a respiração.
──── Você realmente quer testar meus limites, pequena? ──── O sussurro foi quase um desafio, mas também um aviso.
Eu ri, um som leve e despreocupado, quase infantil. Zachary era o único que me fazia rir assim. Não de um jeito bobo, mas de um jeito que me fazia sentir segura, invencível.
──── Foi só um ────
Antes que eu pudesse terminar a frase, ele se moveu. Sem pedir permissão, sem hesitar. Sentou-se na beirada da minha cama, puxando meus pés para o colo como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Meu riso morreu na garganta.
Seus dedos longos envolveram meus tornozelos, pressionando a pele com uma firmeza calculada. Começou a massageá-los lentamente, seus polegares traçando círculos preguiçosos enquanto seu olhar permanecia fixo no meu rosto.
──── Você sempre tem uma resposta na ponta da língua, não é? ──── Ele murmurou, a voz rouca.
Tentei agir como se aquilo não me afetasse, mas o toque dele era diferente daquela vez. Não era apenas um gesto casual ou fraternal. Havia algo mais. Algo que fez um arrepio subir pela minha espinha.
──── É assim que você se livra de problemas, Penelope? Sorrindo, rindo... fingindo que nada importa? ────
Engoli em seco, sem saber se ele esperava mesmo uma resposta ou se só queria me ver desconcertada.
Eu não sabia se estava brincando com ele, ou se era ele quem estava brincando comigo.
──── Você também se livra dos seus problemas com cigarros... e mulheres ──── murmurei, estreitando os olhos para ele.
Zachary sorriu de lado, aquele sorriso que não mostrava os dentes, mas carregava algo perigoso.
──── Eu sou adulto, pequeno lírio ──── Ele apontou um dedo para mim, um gesto brincalhão, mas sua voz ainda carregava um tom de advertência. ──── E mesmo assim, isso não é certo ────
Ri baixinho, divertindo-me com o jeito que ele tentava manter a pose de responsável.
──── Você deveria vestir algo mais decente ──── disse, deslizando os dedos pela bainha da minha camisola, erguendo-a ligeiramente, apenas o suficiente para me fazer sentir a pele arrepiar.
Meu coração vacilou, mas não recuei.
──── Esse é mais confortável ──── respondi, sustentando seu olhar.
Ele não disse nada por um momento, apenas segurou o tecido entre os dedos, como se testasse sua paciência. Como se estivesse lutando contra algo dentro de si.
──── Confortável pra você... ou pra mim? ──── A pergunta veio baixa, quase um sussurro, e dessa vez não havia nada brincalhão em sua voz.
Corei, mas ignorei. Afinal, ele era apenas meu tio. Apenas Zachary Law.
Dei um tapinha no ombro dele, fingindo que aquela tensão não existia, que o jeito como seus dedos demoraram um pouco mais do que o necessário na bainha da minha camisola não significava nada.
Ele riu, levando a mão ao ombro como se eu tivesse o machucado de verdade.
──── Se continuar me batendo assim, não vai mais ganhar seu presente de aniversário, pequeno lírio ──── provocou, a voz carregada de diversão.
Cruzei os braços, erguendo uma sobrancelha.
──── Você nunca negaria um presente para mim ────
Zachary inclinou a cabeça para o lado, um brilho malicioso nos olhos.
──── Tem razão ──── murmurou, deslizando os dedos pelo próprio terno, como se estivesse deliberando algo. ──── Mas talvez eu faça você merecê-lo primeiro ────
O jeito como ele disse aquilo fez um arrepio subir pela minha espinha.
──── E o que eu teria que fazer? ──── perguntei, tentando manter o tom leve.
Ele sorriu, um sorriso lento, perigoso.
──── Apenas ser boazinha ────
Seu tom era baixo, quase hipnotizante.
Sorri, inclinando a cabeça para o lado, tentando disfarçar a inquietação que começava a se formar no meu peito.
──── Tudo bem. Então... apenas um maço de cigarro por mês? ──── brinquei, arqueando as sobrancelhas.
Zachary suspirou e, antes que eu pudesse reagir, estendeu a mão e bateu levemente o indicador na ponta do meu nariz. O gesto foi suave, mas cheio de significado.
──── Nada de cigarros ou bebidas, pequeno lírio ────
Meu coração deu um salto involuntário. Não era só o que ele dizia, mas a forma como dizia. Como se minha vida estivesse sob seu controle, como se eu pertencesse a ele de alguma maneira.
──── Você age como se pudesse decidir isso por mim ──── provoquei, cruzando os braços.
Ele se inclinou ligeiramente, e sua proximidade fez minha respiração vacilar.
──── Eu posso, se for para o seu bem ──── murmurou, seu olhar fixo no meu.
Engoli em seco, incapaz de desviar o olhar.
──── E se eu não quiser ser boazinha? ────
Por um momento, Zachary não respondeu. Seus olhos escuros estudaram meu rosto, sua expressão oscilando entre a diversão e algo mais intenso, mais perigoso.
Então, com um sorriso lento, ele roçou os dedos pelo meu tornozelo ainda em seu colo.
──── Então eu te ensino a ser ────
Meu sorriso vacilou por um segundo. Algo no tom dele, na intensidade do seu olhar, fez meu estômago revirar de um jeito estranho, inquietante.
Mas então ele sorriu, aquele sorriso brincalhão que sempre me fazia sentir segura, como se nada de ruim pudesse acontecer quando ele estava por perto. Como se tudo ainda fosse simples entre nós.
──── Vai se trocar ──── disse, dando um leve tapinha na minha perna antes de soltar meus tornozelos. ──── Vou te levar pro shopping ────
Pisquei, surpresa.
──── Sério? ────
Zachary riu, balançando a cabeça.
──── Você acha que eu ia esquecer o aniversário do meu pequeno lírio? ────
Minha expressão suavizou, e uma onda de felicidade genuína tomou conta de mim.
──── Eu posso escolher o que quiser? ────
Ele fingiu pensar por um instante, depois estreitou os olhos de brincadeira.
──── Desde que não seja cigarro ou bebida ────
Revirei os olhos, mas não consegui conter o sorriso.
──── Chato ────
──── Responsável ──── corrigiu ele, levantando-se da cama e ajeitando o terno. ──── E rápido, antes que eu mude de ideia ────
Levantei de um pulo, animada. Mas, enquanto pegava uma roupa no closet, senti o olhar de Zachary ainda sobre mim.
E, por alguma razão, aquela sensação permaneceu mesmo depois que ele saiu do quarto.
Vesti uma camiseta assimétrica, um braço coberto, o outro exposto, que mal chegava à minha barriga, deixando um vislumbre da minha pele à mostra. Combinei com uma saia jeans rodada no melhor estilo anos 2000, curta o suficiente para me fazer sentir ousada, mas sem exagerar.
Claro, nenhum look estaria completo sem meus fiéis tênis All Star, já um clássico no meu armário, e meu par de óculos de lentes grandes, estilo "mosca", que me faziam sentir como se estivesse pronta para uma sessão de fotos para alguma revista alternativa.
Dei uma última olhada no espelho, inclinando a cabeça para o lado enquanto deslizava os dedos pelo tecido da camiseta. O conjunto estava perfeito. Descolado, confortável e um pouco provocante.
Quando saí do quarto, Zachary já me esperava no corredor, escorado contra a parede. Seu olhar percorreu minha roupa de cima a baixo em um exame silencioso, e por um segundo, algo relampejou em seus olhos antes de ele arquear uma sobrancelha.
──── Isso é a sua definição de "roupa decente"? ──── perguntou, cruzando os braços.
Sorri de canto, inclinando a cabeça.
──── É confortável ────
Ele soltou um suspiro, como se estivesse se preparando para um longo teste de paciência.
──── Claro que é ────
Mas, mesmo enquanto caminhávamos para sair, senti seus olhos em mim mais tempo do que deveriam.
──── Espera, quase esqueci! ──── falei, já subindo as escadas rapidamente, os degraus ecoando sob meus pés.
Antes de sair, precisava avisar minha mãe.
──── Mãe, vou no shopping com o tio Zack! ──── gritei, sabendo que ela estava na sala de estar do segundo andar.
Ouvi um murmúrio de resposta, algo entre um "tá bom" e um "não gaste muito", mas duvidava que ela realmente se importasse.
Desci de volta apressada, agora carregando minha bolsinha. Pequena, mas essencial, com algumas coisas básicas: um batom, meu perfume favorito, chicletes de menta, e um maço de cigarros que Zachary provavelmente confiscaria se visse.
Ao chegar perto dele, estendi a bolsa sem cerimônia.
──── Leva pra mim, tio? ────
Ele arqueou uma sobrancelha, olhando da minha mão para o meu rosto, como se estivesse me avaliando.
──── Você tem duas mãos, pequeno lírio ────
──── Mas você é mais forte ──── argumentei, fazendo um biquinho dramático.
Zachary soltou um suspiro teatral, pegando a bolsa da minha mão com uma expressão de falsa exasperação.
──── Um dia, você vai ter que parar de me usar como seu carregador pessoal ────
Sorri vitoriosa.
──── Mas hoje não é esse dia ────
Ele balançou a cabeça, mas, enquanto saíamos, percebi que ele segurava minha bolsa de um jeito quase protetor. Como se fosse mais do que apenas um favor. Como se fosse um hábito. Como se, de alguma forma, ele já estivesse acostumado a carregar o peso das minhas vontades.
Tio Zack me levou ao shopping mais caro da cidade, um lugar que gritava exclusividade em cada detalhe, desde as vitrines imaculadas até os seguranças impecavelmente vestidos que avaliavam cada cliente antes mesmo de permitirem sua entrada.
Era claro que o shopping ficava em Lake Hill, o bairro mais luxuoso de Chicago. Fundado nos anos 50 pela poderosa família Lane, Lake Hill sempre foi sinônimo de riqueza e status. Se você pertencia à alta sociedade ou era milionário, provavelmente morava ali. Ou, pelo menos, queria morar.
O mais irônico era que, atualmente, os próprios Lane mal estavam por perto. Com o tempo, a maioria perdeu dinheiro em negócios fracassados ou simplesmente decidiu se mudar para a Inglaterra, trocando sua antiga glória por uma vida mais discreta do outro lado do oceano.
Agora, Lake Hill pertencia a outros nomes da elite. Novos magnatas, velhos herdeiros e aqueles que fizeram fortuna recentemente dominavam as mansões e os edifícios luxuosos. Mas, mesmo sem os Lane, o bairro ainda exalava tradição e poder, como se os fantasmas de seus fundadores continuassem assombrando cada rua bem pavimentada.
Enquanto caminhávamos pelo shopping, senti os olhares de algumas mulheres pousando em Zachary. Não era surpresa. Com seu terno impecável, sua postura confiante e aquele ar de mistério irresistível, ele chamava atenção onde quer que fosse.
──── Você é praticamente um chamariz de olhares, tio ──── comentei, divertida.
Ele apenas lançou um olhar de canto para mim, um sorrisinho discreto brincando em seus lábios.
──── E você é um ímã para problemas, pequeno lírio ────
Revirei os olhos, mas não consegui evitar o sorriso.
Lake Hill podia ter mudado ao longo dos anos, mas uma coisa continuava igual: aqui, ou você pertencia, ou nunca passaria de um mero espectador. E, gostando ou não, eu pertencia.
──── Qual loja vamos primeiro, lírio? ──── Zack perguntou, segurando minha mão com firmeza.
Eu odiava quando ele fazia isso.
Era um gesto simples, inofensivo para qualquer um que olhasse de fora. Mas para mim, parecia uma jaula. Como se ele estivesse me guiando, me controlando, me protegendo de um perigo invisível. Como se eu fosse uma garotinha incapaz de andar sozinha.
Ou pior.
Como se fôssemos algo que não éramos.
Um pai protegendo sua filha.
Ou um namorado guiando sua garota.
Que nojo.
Tentei puxar minha mão, mas seus dedos apertaram um pouco mais, como se soubesse exatamente o que eu estava prestes a fazer. Seu toque não era bruto, mas também não era suave. Era... deliberado.
Levantei o olhar para ele, pronta para reclamar, mas Zack já me observava, os olhos carregando aquele brilho indecifrável que eu nunca conseguia interpretar completamente.
──── Você realmente precisa segurar minha mão? ──── provoquei, tentando soar desinteressada.
──── Não ──── ele respondeu, sem hesitar. Mas não soltou.
Minha garganta secou, e por um segundo, senti algo estranho deslizar pela minha espinha.
──── Então solta ────
Ele sorriu de canto, como se se divertisse com meu incômodo. Mas, para minha surpresa, ele soltou.
──── Como quiser, pequeno lírio ────
Fiz uma careta e desviei o olhar, focando nas vitrines.
──── Vamos na Chanel primeiro ────
Comecei a andar sem esperar por ele, tentando ignorar a sensação de que, mesmo sem tocar minha mão, Zack ainda me segurava de alguma forma.
Fui direto para a seção de saltos, meus olhos brilhando ao ver os modelos luxuosos exibidos como verdadeiras joias. Havia de todos os tipos: clássicos, extravagantes, envernizados, cravejados de cristais. Peguei um par preto com salto fino e alto o suficiente para me fazer parecer alguns anos mais velha.
──── Você sabe andar nisso? ──── A voz de Zack soou atrás de mim, carregada com um tom de julgamento. ──── Você pode se machucar ────
Revirei os olhos antes de me virar para encará-lo. Lá estava ele, de braços cruzados, olhar sério, como se o simples pensamento de me ver sobre um salto alto fosse uma ameaça real à minha segurança.
──── Não... ──── admiti, mas um sorriso malicioso se espalhou pelo meu rosto conforme uma ideia surgia. ──── Mas vou aprender hoje ────
Antes que ele pudesse protestar, virei-me para a atendente mais próxima, uma mulher bem-vestida que já nos observava com interesse.
──── Quero experimentar esses aqui ──── disse, apontando para o par que segurava.
A atendente assentiu e rapidamente trouxe minha numeração.
Sentei-me em uma poltrona elegante para calçá-los, sentindo o olhar de Zack sobre mim o tempo todo. Quando levantei, vacilei um pouco, mas logo firmei a postura, me esforçando para parecer confiante.
──── Viu? Fácil ──── brinquei, dando um passo.
Ou tentei.
Porque no segundo seguinte, meu tornozelo virou levemente, e antes que eu sequer tivesse tempo de reagir, Zack já estava ao meu lado, segurando minha cintura com firmeza para me impedir de cair.
──── Ah, sim. Muito fácil ──── ele zombou, segurando minha cintura como se estivesse me ancorando no chão.
Tentei ignorar o calor que subiu para o meu rosto e, principalmente, o jeito como suas mãos pareciam grandes e seguras demais contra minha pele.
──── Só preciso de prática ──── murmurei, determinada, tentando me afastar.
Mas ele não soltou de imediato.
Seus olhos escuros me analisaram por um momento, intensos, quase calculistas. Então, com um suspiro, ele finalmente me soltou.
──── Tudo bem, pequeno lírio. Mas se quebrar o tornozelo, não diga que não avisei ────
Fiz uma careta para ele, mas a verdade era que, naquele momento, eu estava muito mais preocupada com a sensação fantasma do toque dele do que com o salto em si.
──── Vai me ajudar ──── resmunguei, minha voz saindo quase manhosa, como uma criança pedindo atenção.
Zack arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços como se estivesse considerando minha súplica.
──── A senhorita independente agora quer ajuda? ──── Ele provocou, um meio sorriso brincando em seus lábios.
Revirei os olhos, mas dei um passo em falso, quase tropeçando, e ele segurou meu braço no mesmo instante, com um reflexo rápido demais.
──── Para de graça e me ajuda logo ──── resmunguei, me segurando nele para evitar um tombo desastroso bem no meio da loja de luxo.
Ele suspirou, mas não resistiu por muito tempo. Com um movimento natural, pegou minhas mãos e as colocou sobre seus ombros, segurando firme minha cintura.
──── Tudo bem, pequeno lírio. Mas se pisar no meu pé, vou te fazer pagar um sapato novo pra mim ────
Soltei uma risada e, por um momento, a tensão sumiu.
──── Prometo que vou ser delicada ──── brinquei.
──── Duvido ────
Ele guiou meus passos com paciência, seus olhos fixos nos meus enquanto eu tentava me equilibrar. O toque dele era firme, quente, e mesmo que eu tentasse ignorar, a proximidade era inevitável.
Meu coração deu um pulo estranho quando percebi o quão perto estávamos. Como se, por um segundo, o shopping, as vitrines, as pessoas ao redor, tudo tivesse desaparecido.
Só eu e ele.
Mas eu pisquei e a realidade voltou.
Balancei a cabeça e ri baixinho, tentando afastar qualquer pensamento estranho. Era Zack. Meu tio Zack. E eu só estava aprendendo a andar de salto, nada mais.
Quando finalmente peguei um pouco de jeito, Zack, com aquele olhar divertido e desafiador, começou a me guiar como se estivéssemos dançando ali, bem no meio da loja.
Seus movimentos eram firmes, calculados, como se soubesse exatamente como me conduzir. Ele segurava minha cintura com delicadeza, mas com controle suficiente para não me deixar tropeçar. Nossos pés se moviam em sincronia, como se aquilo fosse algo natural para nós dois.
──── Agora você está pegando o jeito, pequeno lírio ──── ele murmurou, um sorrisinho de canto surgindo em seus lábios.
Mordi o lábio para segurar o riso, mas foi impossível. A situação era absurda. Estávamos em uma loja cara de Lake Hill, cercados por manequins vestindo vestidos de gala e vendedores observando discretamente, e ainda assim, lá estava eu, aprendendo a andar de salto como se estivesse ensaiando uma valsa improvisada com meu tio.
──── Você leva jeito pra isso, tio Zack. Algum talento escondido? ──── provoquei, tentando esconder o nervosismo que subia pelo meu peito.
Ele apenas riu baixinho, inclinando o rosto ligeiramente para me observar melhor.
──── Talvez eu só goste de segurar você assim ────
Minhas bochechas esquentaram, e meu riso morreu na garganta por um segundo.
Mas então ele me girou de leve, como se realmente estivéssemos em uma dança de verdade, e eu não consegui evitar a gargalhada que escapou.
──── Meu Deus, vamos ser expulsos daqui ──── sussurrei entre risos.
──── O dono dessa loja me deve favores ──── ele piscou. ──── Então aproveite seu momento de princesa ────
Eu ri mais uma vez, tentando ignorar o arrepio que percorreu minha espinha ao perceber que, por um instante, eu realmente me senti assim. Como se fosse especial. Como se fosse dele.
──── Já que é assim, posso experimentar alguns vestidos de princesa também? ──── brinquei, parando de dançar e lançando um olhar inocente para Zack.
Ele me olhou de cima a baixo, como se avaliasse minha proposta. Então, com um suspiro teatral, deslizou as mãos para dentro dos bolsos do terno.
──── Se isso significa que vou ter um minuto de paz sem você tropeçando, então sim ──── respondeu, fingindo cansaço, mas o brilho divertido nos olhos o denunciava.
Eu sorri vitoriosa e imediatamente me virei para a atendente da loja, que já observava tudo com uma mistura de fascínio e curiosidade.
──── Quero os mais bonitos que tiver! Algo digno de uma princesa de verdade ──── declarei, empolgada.
A mulher assentiu, sumindo entre os corredores cheios de tecidos luxuosos. Enquanto esperava, virei para Zack, que me observava com os braços cruzados.
──── Está me analisando por quê? ──── provoquei.
Ele ergueu uma sobrancelha, inclinando a cabeça para o lado.
──── Estou tentando imaginar qual vestido combina mais com você ──── respondeu, seu tom mais baixo, quase um murmúrio.
Meu estômago deu um pequeno salto involuntário.
Antes que eu pudesse responder, a atendente voltou com uma pilha de vestidos e me conduziu até um provador privativo.
────.Quer me ajudar a escolher, tio Zack? ──── provoquei, piscando para ele antes de entrar.
──── Se eu entrar aí, pequena, não sei se você vai conseguir se concentrar em escolher um vestido ──── ele respondeu de imediato, um sorriso perigoso brincando nos lábios.
Eu ri, mas meu coração bateu mais forte do que deveria. Fechei a cortina do provador, tentando ignorar a onda de calor que subiu pelo meu corpo.
Afinal, era só uma brincadeira. Certo?
Coloquei o primeiro vestido: um longo verde, justo no corpo, abraçando cada curva como se tivesse sido feito para mim. O tecido brilhava sob as luzes da loja, e o corte sereia me fazia parecer mais alta, mais madura. Mas, dessa vez, dispensei os saltos. Meus pés descalços tocaram o chão frio quando saí do provador, respirando fundo antes de encará-lo.
──── E então? Como estou? ──── perguntei, girando devagar para ele ver cada detalhe.
Zack levantou os olhos do celular e me encarou por um longo momento. Seus lábios se entreabriram levemente, mas ele rapidamente recobrou a compostura.
──── Por que você não fez uma festa de 16 anos? ──── ele perguntou, desviando o olhar por um segundo antes de voltar a me encarar. ──── Você fica linda nesses vestidos, meu pequeno lírio ────
Meu coração pulou uma batida com a forma como ele disse aquilo. Baixa, rouca, quase como um segredo.
──── Ah, você sabe... ──── dei de ombros, tentando parecer indiferente. ──── Minha mãe achou melhor manter tudo discreto. "A imagem da família e bla bla bla" ──── fiz aspas no ar, revirando os olhos.
Ele franziu o cenho levemente, como se algo o incomodasse nessa resposta.
──── Você queria uma festa? ──── perguntou.
Eu ri baixinho.
──── Talvez. Mas só se fosse do meu jeito. Algo divertido, sem políticos chatos e sem discursos sobre a "herdeira perfeita da família Morissette" ──── brinquei, fazendo uma careta.
Ele sorriu de canto, mas seus olhos ainda me analisavam de um jeito estranho.
──── Bom, ainda dá tempo. Você merece ter um momento especial, pequena ────
Meu peito apertou um pouco com aquela frase. Havia algo sobre Zack que sempre me fazia sentir... vista. Como se eu fosse mais do que apenas a filha da vereadora.
──── Talvez eu já tenha meu momento especial ──── murmurei, mais para mim mesma do que para ele.
Mas, pelo jeito que seu olhar escureceu ligeiramente, eu sabia que ele tinha ouvido.
──── Por que não pedimos para seu irmão preparar aquelas festas incríveis na boate dele para você? ──── Zack sugeriu, com um sorriso despreocupado, como se estivesse falando de algo completamente inocente.
Eu parei de me admirar no espelho e me virei para ele, cruzando os braços.
──── Você realmente acha que uma festa organizada pelo Blake seria um bom ambiente pra mim? ──── ergui uma sobrancelha, tentando segurar a risada.
Zack riu, balançando a cabeça.
──── Você fala como se nunca tivesse ido ────
Mordi o lábio, sem responder de imediato. Meu irmão Blake tinha só 17 anos, mas já comandava as melhores festas de Lake Hill, eventos que nem sempre terminavam de forma legal. Eram cheios de bebida, música ensurdecedora e segredos que só existiam sob luzes neon. E tio Zack? Tio Zack sempre estava lá.
──── É louco como você frequenta essas festas e age como se estivesse apenas de passagem ──── provoquei, inclinando a cabeça para o lado.
Ele deu um passo mais perto, as mãos enfiadas nos bolsos do terno, o olhar afiado e divertido.
──── Eu fico de olho em vocês ──── respondeu com aquele tom grave que fazia meu estômago revirar de um jeito que eu não deveria admitir.
──── Ah, claro ──── revirei os olhos. ──── Aposto que "ficar de olho" inclui aquelas modelos bêbadas se jogando em cima de você ────
Zack soltou um riso baixo, como se aquilo fosse uma piada sem graça.
──── Ciúmes, pequeno lírio? ────
Meu coração disparou, mas mantive minha expressão inabalável.
──── Só acho engraçado você querer me dar lições de moral enquanto faz exatamente tudo que diz que eu não devo fazer ────
Ele ergueu uma sobrancelha, parecendo analisar cada detalhe do meu rosto, cada mudança na minha expressão.
──── Eu sou adulto, Penelope. Você ainda tem muito o que aprender sobre o mundo ────
Ele estendeu a mão e puxou delicadamente uma mecha do meu cabelo para trás, os dedos roçando de leve na minha pele. Um arrepio subiu pela minha espinha.
Eu queria responder, queria dizer algo afiado, algo que o desafiasse. Mas tudo que consegui foi ficar ali, olhando para ele, tentando ignorar a estranha eletricidade que parecia existir entre nós.
──── ( 000 ) Não se esqueça de votar e comentar ! 💋
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top