THIRTEEN
Faziam algumas horas que você estava tentando finalizar os relatórios atrasados encolhida no sofá, o laptop sob suas coxas enquanto mordia o polegar distraidamente. A única coisa e que sua mente conseguia se focar era em Toji... O modo como ele havia deslizado os dedos em sua pele.
A cera quente.
Os dedos gélidos.
A boca morna.
Você choramingou baixinho escondendo o rosto quente contra suas mãos. Estava mais abalada do que já estivera com qualquer outro homem... e ele nem havia lhe fodido.
Você respirou fundo e afastou ás mãos do rosto devagar, foi quando a campainha soou pela casa, um som agudo. Quando o segundo toque ecoou, seus dedos apertaram o laptop como se o objeto pudesse te proteger do que estava prestes a acontecer. Algo dentre de si lhe dizia para que não levantasse.
Não abre a porta.
A voz na sua cabeça disse de um modo irritante, você se levantou devagar, os pés descalços afundando no tapete, e andou até a porta. Cada passo parecia mais pesado, mais difícil, como se o chão quisesse te engolir.
Quando você abriu a porta, sentiu seu equilíbrio ir embora, sua mente gritando com você.
Eu te avisei!
— Filha!
Sua mãe gritou sorrindo de um modo que te fazia querer morrer, desaparecer; sua mente entrou em alerta. Tudo em você dizia para correr, para fechar a porta e nunca mais olhar para trás. Mas você ficou parada, como uma estátua, enquanto eles cruzavam a porta sem permissão.
Sua respiração pesada.
O coração acelerado contra a caixa torácica, batendo contra seus ouvidos silenciando tudo ao redor.
— Você ia nos deixar do lado de fora?
A voz do seu pai veio logo atrás, mais fria, mais imponente. Você recuou, os olhos fixos neles. Eles pareciam tão... normais. Como se fossem apenas pais visitando a filha.
— O que vocês estão fazendo aqui?
Sua voz saiu baixa, quase um sussurro, mas o suficiente para quebrar o silêncio pesado. Sua mãe riu, um som forçado que fez seus ombros se encolherem.
— É assim que você nos recebe? Depois de tanto tempo?
Você não respondeu. Não conseguia. Sua garganta parecia fechada, como se o ar estivesse sendo roubado de você. Seu pai te encarou, os olhos estreitos. Ele tinha aquele mesmo olhar calculista que você conhecia bem demais.
— Precisamos de ajuda, Sophie.
Ele foi direto, como sempre fazia quando queria algo. Você ficou imóvel, mas sentiu o peito começar a doer. Eles precisavam de ajuda. Claro que precisavam. Eles sempre precisavam de algo.
Seu pai sempre precisava de algo.
Sempre.
— Eu...
Você tentou falar, mas a voz falhou. Sua mãe avançou, estendendo a mão como se fosse te tocar, mas você deu um passo para trás.
— Sophie, querida, não torne isso mais difícil do que já é. Estamos aqui porque amamos você.
Você riu. Uma risada quase que desesperada. Sem vida.
— Me amam?! Vocês nunca me amaram!
— Não diga isso, garota.
seu pai interrompeu, sua voz mais grave. Ele deu um passo em sua direção, e você instintivamente recuou até sentir as costas contra a parede
— Não encosta em mim.
Você sussurrou, mas ele continuou se aproximando, sua mente começou a girar. Você não conseguia evitar as lembranças que vinham em clarões lhe roubando o ar lhe deixando a mercê do desespero. Sua irmã. O rosto dela, o sorriso dela, tudo o que ela foi antes que eles a destruíssem.
Você fechou os olhos por um momento, mas isso só piorou. A imagem dela estava ali, tão viva, e a dor veio como uma facada no peito.
— Vocês mataram ela.
Você disse, abrindo os olhos. Sua voz estava quebrada, mas firme o suficiente para fazer seu pai parar. Sua mãe piscou, surpresa. Seu pai franziu o cenho.
— O que você disse?
Ele perguntou, como se não tivesse ouvido direito. Você olhou diretamente para ele, o coração batendo tão forte que parecia ecoar em seus ouvidos.
— Vocês mataram minha irmã.
O silêncio que se seguiu foi insuportável. Sua mãe tentou disfarçar, mas você viu a culpa, ou talvez fosse apenas irritação, passar por seu rosto.
— Sophie... você sempre teve um problema em imaginar coisas — ela disse, com aquele tom falsamente calmo que você odiava —, você já procurou um psiquiatra, meu amor?
Seu pai, por outro lado, deu um passo à frente, os olhos brilhando de raiva.
— Nós não fizemos nada com a sua irmã, Sophie... ela se matou afogada no rio e você sabe disso.
Você sentiu como se o chão estivesse desabando sob você. As palavras dele ecoaram em sua mente, cada uma mais dolorosa do que a anterior.
— Saíam da minha casa. Agora — Você disse, mas sua voz tremia. Sua mãe tentou se aproximar, mas você levantou a mão, impedindo-a. — Não. Eu disse para saírem.
— Sophie, não seja tão dramática. Somos sua família. Não pode nos tratar assim.
— Vocês nunca foram minha família! — você gritou, e sua própria voz te surpreendeu. Seu pai deu mais um passo, e dessa vez ele tentou te agarrar pelo braço. Você se soltou com força, empurrando-o para trás, as lembranças do dia em que fugiu a dez anos atrás tomando conta de sua mente, lhe deixando bagunçada, seus pensamentos gritando — Não me toque!
Sem pensar, você correu. Pegou as chaves na mesa e saiu pela porta antes que eles pudessem te seguir. A noite estava fria, mas você mal sentia o ar cortando sua pele. Entrou no carro, as mãos tremendo enquanto ligava o motor. Você dirigiu sem rumo, os olhos embaçados pelas lágrimas que insistiam em cair. Cada vez que piscava, via o rosto de sua irmã. Sentia a presença deles, como se ainda estivessem te perseguindo.
Quando viu as luzes de um posto de gasolina, parou o carro e desceu, sentindo as pernas bambas, caiu de joelhos no chão a respiração não chegava. Suas lágrimas molhando o concreto.
Vai fugir de novo, Sophie?
A voz sibilou e você grunhiu por entre o choro sofrido batendo contra a própria cabeça.
— Cale a boca, cale a boca, cale a boca!
Você gritou consigo mesma e enquanto pegava o próprio celular com as mãos trêmulas ligando para alguém que sabia que atenderia imediatamente. O telefone tocou algumas vezes antes que ele atendesse.
— Sophie?
A voz dele baixa, preocupada talvez pelo fato de você nunca ter tentado qualquer tipo de contato antes. Você soluçou por entre o choro e ouviu ele se apressando do outro lado da linha abrindo a porta do carro e dando partida.
— Toji... — Sua voz falhou, mas você respirou fundo e tentou de novo. — Preciso de você.
Houve um momento de silêncio antes que ele respondesse.
— Onde você está?
Você passou o endereço e desligou. Ficou esperando ajoelhada no chão, sentindo o frio arranhar seus braços nus. Então, você viu os faróis ao longe. Quando ele desceu do carro e começou a correr na sua direção, você finalmente respirou.
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