FIVE
Seus olhos se abriram devagar, levemente trêmulos, seu corpo ardendo como o inferno, sentia que cada mínima célula de seu corpo implorava por misericórdia. Você resmungou de maneira suave, a vista ainda embaçada mas tinha certeza de algo o quarto ao seu redor era desconhecido, decorado de forma sombria e fria, com paredes escuras e uma iluminação fraca que criava sombras alongadas nas paredes luxuosas, o lençol era suave como seda e parecia deslizar sobre sua pele; você se sentou com cuidado, abaixou o olhar para o próprio corpo e uma sensação quase que desesperadora tomou conta de sua mente por completo.
Aquelas não eram as roupas que estava usando horas antes.
Sobre o seu corpo havia apenas uma camisa social masculina longa o suficiente para que servisse como uma espécie de vestido. Você engoliu em seco. Seu coração batendo tão forte que você quase conseguia ouvir o som ecoando por seus tímpanos.
Como eu vim parar aqui?
Aquelas palavras rodavam como moscas irritantes dentro dos seus pensamentos, sua respiração estava rasa, rápida, o corpo tenso enquanto seus olhos corriam pelo quarto em busca de alguma resposta. Qualquer uma.
Você tentou lembrar da última coisa que se passou — flashes de uma luta, mãos te puxando, escuridão. Seu coração começou a bater mais rápido, e você automaticamente verificou seu corpo. Estava tudo aparentemente bem, mas a sensação de algo errado se mantinha. Havia um leve perfume no ar, misturado ao cheiro de limpeza, como se o lugar tivesse sido cuidadosamente preparado. Suas mãos deslizaram cuidadosamente até o meio de suas pernas e um suspiro aliviado escapou de seus lábios ao perceber que sua calcinha ainda continuava ali intacta.
Seria tudo tão mais fácil se eu já estivesse morta.
Aquele pensamento apareceu tão facilmente em sua mente que chegava a ser assustador que pensar aquilo não lhe assustasse nem ao menos um pouco dado ao inferno mental que estava vivendo nos últimos meses.
Antes que pudesse processar qualquer um dos seus próprios pensamentos autodestrutivos, a porta se abriu lentamente, e ele apareceu. Um homem alto, seus cabelos eram escuros e levemente despenteados, seus olhos eram de azul sombrio, quase como se ele conseguisse ver dentro de você, era uma sensação quase que sufocante. Ele estava vestido de forma casual, mas sua presença dominava o espaço de forma avassaladora. Seu corpo instintivamente se encolheu, como se uma parte de você já soubesse que havia algo profundamente errado.
— Você acordou.
Ele disse, sua voz era grave, controlada, quase como se cada milímetro de seu corpo soubesse perfeitamente o que estava fazendo. Você engoliu em seco. Seu coração batia quase que desesperado contra a caixa torácica a respiração acelerada, curta, você entreabriu e fechou os lábios diversas vezes tentando encontrar as palavras certas.
"Quem é você? Eu sei artes marciais não mexa comigo"
Foi o que passou na sua cabeça mas as únicas palavras que escaparam foram:
— Onde eu estou?
Sua voz saiu mais fraca do que pretendia, quase trêmula, quase como se as palavras arranhassem sua garganta, ele manteve o olhar fixo em você, aqueles olhos azuis, tão azuis que pareciam que lhe afogariam a qualquer segundo. Ele colocou as mãos nos bolsos. Os olhos atentos quase como se estivesse estudando cada um de seus mínimos movimentos.
— Você desmaiou ontem à noite. Te trouxe para cá para que pudesse descansar.
Ele se aproximou lentamente, mas cada passo fazia seu corpo enrijecer ainda mais. Você não sabia se ele estava te protegendo ou se o perigo estava justamente ali, diante de você. Sua respiração estava acelerada e seu coração batia tão forte que tinha medo que ele escutasse.
— Descansar?
Você repetiu a palavra, a incredulidade tomando conta de sua voz trêmula. Seus olhos se estreitaram, tentando entender o que exatamente estava acontecendo. Nada fazia sentido.
Nada.
— Sim — ele murmurou de maneira simplista parando ao lado da cama, a poucos passos de distância. — Você estava em uma situação perigosa. Não parecia certo deixar você sozinha naquele lugar.
A voz dele era suave, rouca, mas havia algo algo que você não conseguia definir, mas que causava uma inquietação profunda... quase a mesma inquietação em que vinha sentindo a meses.
A mesma inquietação que acelerava seu coração quando achava que estava sendo observada.
— O que... aconteceu com aquele homem?
Você indagou com a voz baixa, rouca, lembrando do homem que havia lhe puxado para o beco antes que o seu "salvador" lhe socorresse. Ele piscou devagar lhe encarando ali, os olhos azuis escuros fitando cada detalhe de seu rosto.
— Teve o que mereceu.
O homem disse com a voz baixa, grave, quase perigosa, você engoliu em seco o encarando ali, sentiu as pontas dos dedos dormentes. Pressionou os lábios de maneira nervosa, sua respiração pesada.
— Como assim?
Indagou cuidadosamente. Ele suspirou.
— A polícia tomou conta dele.
O homem disse de maneira simplista, você piscou devagar desconfiada mas apenas concordou com a cabeça devagar achando melhor não ficar mais envolvida naquela história do que já estava.
— Obrigada, mas... eu... eu posso ir embora agora?
Você perguntou, tentando não soar desesperada. Seu corpo estava tenso, pronto para se mover a qualquer sinal de perigo. Ele permaneceu em silêncio por um segundo longo demais, e você pôde sentir aqueles olhos azuis te observando de uma maneira que pareciam te despir, quase como se ele dissesse sem palavras que cada respiração sua estava sob o conhecimento dele.
— Posso te levar de volta — Ele finalmente respondeu, sua voz controlada demais —, mas você ainda parece fraca. Tem certeza de que está pronta?
Você assentiu lentamente, mesmo com a cabeça girando e o corpo ainda fraco.
— Eu estou bem. Só quero ir para casa.
Seu tom foi mais firme agora, tentando demonstrar uma segurança que você não sentia, certamente não sentia, suas pernas estavam tão bambas que sentia que se fossem palitos quebrariam a qualquer segundo.
Ele te olhou por mais alguns segundos, como se estivesse decidindo algo, mas então deu um passo para trás, sinalizando que não iria te impedir e você quase chorou de alívio soltando uma respiração trêmula por entre seus lábios que você nem ao menos percebeu que estava segurando e por uma fração de segundos jurou ver um sorriso curto se formando nos lábios do homem.
— Tudo bem. Eu vou te levar.
Ele disse por fim a voz baixa e grave, você assentiu devagar se levantando da cama com cuidado, ele lhe mostrou o caminho para o banheiro e lhe entregou as mesmas roupas que usava na noite anterior agora limpas e passadas. Cheiravam a lavanda. Você agradeceu com a voz falha e se trocou rapidamente.
O caminho pela casa foi silencioso. Cada passo que você dava ecoava pelas paredes frias e vazias. Os corredores eram longos, quase intermináveis, e você se pegou tentando memorizar a rota, mas tudo parecia um labirinto.
Um labirinto luxuoso demais.
Finalmente, vocês chegaram à garagem. Ele abriu a porta de um carro preto e potente, esperando pacientemente você entrar. Assim que você sentou no banco do passageiro, ele fechou a porta com cuidado quase como se tivesse medo de lhe machucar sem querer, ele deu a volta no carro preto luxuoso entrando pela porta do motorista, as mãos grandes ligando o carro e girando sob o volante com naturalidade; você engoliu em seco, seus olhos fixos nas veias bem aparentes das mãos e antebraços do homem. Ele se vestia casualmente, uma camisa de algodão preta e calças de moletom. Uma cicatriz sob o lábio.
"Para onde você está olhando, Sophie? Sua depravada, você acabou de conhecer ele"
Disse para si mesma chacoalhando a cabeça suavemente, conversar consigo mesma era um péssimo hábito que havia adquirido nos últimos meses. Mais brigava com sua voz interior do que conversava no caso.
Não sabia o que era mais preocupante.
O silêncio no carro era opressor. O único som era o ronco do motor e a respiração controlada do homem ao seu lado, ele estava tão perto, mas ao mesmo tempo parecia distante, inatingível. E essa distância te deixava inquieta.
— Obrigada... por me ajudar — Você finalmente quebrou o silêncio, tentando dissipar a tensão entre vocês, ele lhe fitou rapidamente com o canto dos olhos, você respirou aflita —, eu me chamo Sophie.
Ele não respondeu imediatamente, os olhos ainda focados na estrada. Após alguns segundos, ele apenas murmurou:
— Toji... e não se preocupe, apenas fiz o que tinha que ser feito.
Você mordeu o lábio, incomodada pela frieza dele algo dentro de você te dizia que havia mais ali, algo que ele não estava revelando.
Não que ele tivesse algo para revelar.
"Você acabou de conhecer ele, garota, pelo amor"
Você suspirou olhando para a janela pressionando a testa contra o vidro, quanto finalmente chegaram à sua casa, ele estacionou o carro suavemente. O silêncio persistia, e antes que você pudesse falar, ele se virou para você, seu olhar azulado penetrante como se quisesse gravar aquela imagem sua para sempre.
— Se cuide, Sophie — Ele disse, a voz baixa e carregada de algo que você não conseguia identificar — Eu estarei por perto.
As palavras dele te fizeram arrepiar, e um calafrio percorreu sua espinha, você engoliu em seco ao que ele lhe entregava um cartão preto com o número dele, você apenas aceitou agradecendo baixinho e desceu do carro com as pernas trêmulas, sentindo o olhar dele queimar nas suas costas enquanto você se afastava.
Andou rapidamente em direção a sua casa, ao lugar que era o cenário da maior parte de seus pesadelos e fechou a porta de casa com um baque surdo, as mãos ainda trêmulas. Seu coração batia acelerado, como se algo sombrio continuasse a rastejar na sua direção. A sensação de ser observada não desapareceu, mesmo agora, sozinha no seu próprio espaço. O silêncio da casa, que costumava ser seu refúgio, parecia opressor, pesado demais para suportar, a sensação que tinha é que não importava para onde fugisse aquele sentimento desesperador sempre iria atrás de você.
Era algo que trazia consigo desde o dia em que fugiu da sua cidade natal.
Tentando controlar a respiração, você caminhou até a sala, mas cada passo fazia o chão ranger de forma ameaçadora. Sentada no sofá, abraçou os joelhos, sua mente vagando entre a realidade e os fragmentos confusos da noite passada.
Você ficou ali, imersa até o som de uma notificação no celular te tirar do transe. Sua mão tremia levemente enquanto pegava o aparelho. Uma nova mensagem desconhecida. O número não estava salvo e você quis chorar, jogar o celular contra a parede.
Desconhecido: "Tome cuidado, minha luz, não sei o que seria de mim se algo acontecesse com você"
Seus dedos apertaram o celular com força. Aquilo parecia mais uma ameaça velada do que uma preocupação genuína e você sabia que ele estava se referindo ao ataque que sofreu, mas a forma como ele falou fez um nó se formar no seu estômago.
Ele sabia.
Quem quer que fosse ele sempre sabia.
Você começou a digitar uma resposta, mas parou no meio do caminho. O que poderia dizer? No fundo você sabia que aquilo nunca pararia.
Sem saber muito mais o que fazer bloqueou o número e segurou o cartão de Toji salvando seu número rapidamente e enviando uma mensagem.
Soph: "Obrigada mais uma vez por hoje"
Sua respiração estava pesada enquanto olhava para a mensagem, a paranoia tomou conta. Seus olhos percorreram o ambiente, e você sentiu aquela velha sensação de ser vigiada. Será que a pessoa que lhe enviava aquelas mensagens estava te observando agora? Será que ele sempre esteve?
Levantando-se de um salto, você foi até a janela e olhou para a rua. Nada fora do normal. Apenas o silêncio habitual da noite. As luzes da rua piscavam, e você suspirou. Não havia ninguém ali, pelo menos era o que parecia. Mas, mesmo assim, seu instinto te dizia o contrário.
Uma sensação de impotência tomou conta de você. Não importava o quanto tentasse controlar a situação, havia algo ou alguém que sempre parecia estar um passo à frente. Quase deu um pulo quando a mensagem chegou a notificação alta, segurou o celular com cuidado.
Toji: "Vou marcar um médico para você, para ter certeza de que não machucou nada"
Você suspirou pesadamente digitando uma resposta rápida.
Soph: "Obrigada pela preocupação mas eu estou sem dinheiro no momento :)"
"Por que a carinha feliz no fim da mensagem, Sophie? Você tem quantos anos?"
Pensou consigo mesma, mas antes que pudesse se martirizar mais a resposta chegou rapidamente.
Toji: "Meu plano inicial nunca foi fazer você pagar, te busco amanhã:)"
Você se jogou de volta no sofá, suas bochechas levemente vermelhas, digitou um agradecimento e desligou o celular, cansada demais para pensar. Queria dormir, esquecer tudo aquilo, mas sabia que não seria tão simples. Seus pensamentos continuavam voltando para ele — para o olhar azul e frio, a calma perturbadora, e a sensação de que, de alguma forma, ele sempre soube mais do que dizia.
Fechando os olhos, você tentou afastar a imagem dele da sua mente. Tentou se convencer de que tudo aquilo era só uma coincidência, uma série de eventos isolados que se entrelaçaram por acaso. Mas, bem no fundo, você sabia que havia algo mais ali.
E, mesmo que não admitisse para si mesma, uma parte de você se sentia atraída por isso.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top