#8
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Que os deuses tivessem piedade de Suna, suas aulas pareciam que haviam dobrado o tempo, cada trabalho, simulado, portifólio e outras milhares de coisas que precisa fazer se tornaram insuportavelmente impossíveis de serem concluídas.
Sem ele se esforçando dando cada gota de seu precioso tempo para fazer era óbvio que não iriam ser entregues a tempo.
Mas Suna estava tão cansado e exausto de tudo que a faculdade que tanto gostava não estava sendo o suficiente para mantê-lo distraído.
Conversar com seu pai não era nada agradável na maioria das vezes, era sempre uma ligação para reclamar sobre como Suna era incompetente, em como ele dera desgosto a família, que ele era apenas um fardo o qual o pai não estava disposto a deixar em paz por um bom tempo... Mas hoje, o homem estava incomumente frio, o temperamento explosivo havia sumido e uma calma sobrenatural permanecia nas palavras de seu pai quando dava-lhe notícias sobre a saúde de sua mãe.
A mulher sempre fora frágil, com a saúde instável mas nos últimos meses piorou gradativamente, sem melhoras significativas e mais dor a toda sua família.
Independente de se odiarem, Suna e seu pai amavam a mulher de maneira incondicional, era triste ver a única coisa boa daquela família se desmoronando de dentro para fora.
Suna encarava o teto branco do quarto, com a música da festa que acontecia no andar debaixo soando insuportavelmente alta e irritante.
Nem bebida ajudaria Suna está noite.
Já havia cogitado tomar um banho, ou comer algo e descansar ou até mesmo ligar para Mayumi e pedir desculpas por aquela noite mas era capaz de não resolver absolutamente nada e só piorar o estado deles.
Então optou por descer, seus amigos sempre foram o melhor remédio de qualquer jeito.
Desviou do caminho por onde seus amigos o veriam e foi em direção aos fundos após pegar uma garrafa de cerveja, teve a vaga impressão de que o levantador da antiga Karasuno passou nervoso ao seu lado esbarrando em seu ombro mas se absteve a ignorar, não estava afim de procurar confusão.
E talvez a poucos metros do jardim dos fundos estivesse o motivo pelo qual Kageyama estava tão bravo quando o viu. Hana sentada em um dos bancos de madeira, com os olhos voltados para os próprios pés e o semblante um pouco mais pensativo que o normal.
— Pensei que não gostasse de festas - Suna disse se aproximando cautelosamente.
Hana levantou o olhar mas não teve a costumeira expressão de nojo ou de desdém, nem um revirar de olhos, apenas a mais singela expressão de cansaço — O que você quer agora? Vai dizer que escutou mais uma das minhas conversas?
Ele soltou um riso anasalado se sentando ao lado dela — Não. Hoje realmente foi uma coincidência infeliz.
Tudo que teve como resposta foi o silêncio, apenas o barulho da música que vinha de dentro casa impedia que o clima ficasse mais desconfortável.
— Hana, você me odeia? - Suna perguntou com os olhos vidrados na porta de vidro que levava para o interior.
Ela não respondeu nada por alguns segundos torturantes mas então falou, não com o tom geralmente frio ou rude que costumava falar com Suna, o garoto pôde jurar que dessa vez ela tentou ser gentil.
— Não. Eu não te odeio - ela o encarou com os cabelos curtos balançando junto com o movimento — Mas que te acho irritante e esquisito pode ter certeza.
Ele riu dando um gole na cerveja oferecendo a garrafa para Hana, que para sua surpresa, aceitou e deu uma longa golada.
— Espero que não tenha colocado a boca em nenhum lugar suspeito - ela disse inexpressiva recebendo um leve empurrão de ombro de Suna.
— Digo o mesmo para você - Suna pode jurar que um lampejo de um sorriso surgiu nos lábios pintados de gloss avermelhado.
Eles voltaram a ficar em silêncio mas não era tão estranho quanto antes, os dois estavam cheios de problemas, provocações incessantes não iriam ser de grande ajuda.
— Como soube o que queria? Digo, na faculdade... - ela perguntou aleatoriamente, como se apenas dissesse sem se importar muito com o que pensava.
— Sei lá, sempre foi isso que eu quis, uma paixão da infância que eu concluí quando cresci... - Ele a encarou por alguns segundos antes de abrir a boca novamente — Por que a pergunta repentina?
— Porque eu não tenho certeza se o que eu faço é o que eu realmente quero para a minha vida.
Suna acabou de ter mais uma certeza sobre ela. Aquela foi a primeira vez que Hana foi sincera de verdade com ele.
— Você cresceu rápido de mais - Hana franziu o cenho se perguntando o que ele queria dizer com aquilo — Não teve tempo de se conhecer e faz aquilo que te ensinaram que era o certo... Acertei, não foi?
Ela se perdeu por um segundo infinito nos olhos esverdeados com o aro dourado em volta, o espectro do verde com o dourado sempre fez parecer que Suna tinha os olhos âmbar.
Ela conteve um suspiro de aprovação quando percebeu que Suna sempre acertava as suposições sobre ela.
— Acertou... Na verdade você sempre acerta - ela deu a ele um sorriso triste.
E foi aí que Sua percebeu que o que quer que tenha acontecido conseguiu derrubar a arrogante Hana de seu pedestal e isso era estranho e preocupante em níveis absurdos.
— Está com fome?
— Acho que sim... Por que?
— Não quero ouvir objeções - ele disse se levantando estendendo a mão para ela com um sorriso acolhedor no rosto — Vamos sair daqui.
[...]
— Espera um pouco - Suna deu mais uma mordida no lanche — Então quer dizer que você nunca comeu um fast food? Você só pode estar mentindo.
— Nunca. Não tenho motivos para mentir - Hana disse em simplista, como se fosse completamente comum.
Suna a levou para carro logo após terem saído da casa, correndo uns poucos quilômetros até chegar em seu fast food favorito, para descobrir que Hana nunca sequer havia comido um.
Os dois estavam sentados no capô um de frente para o outro, o carro estava parado em um acostamento de uma estrada pouco movimentada, Sweater Weather, The Neighbourhood, tocava em um volume baixo enquanto os dois conversavam.
O clima estava frio mas não tanto para chegar a incomodar, o céu, estrelado com a lua cheia. Era um lugar calmo que provavelmente Hana não reclamaria em nenhum momento.
Ela desembalava o sanduíche antes de dar um suspiro e morder, soltando um murmúrio de aprovação ao sentir o sabor diferente invadir sua boca — Isso... É muito bom.
Suna riu se ajeitando mais no capô, observando o quanto ela estava diferente naquela noite. Ele sabia que a garota estava frágil e triste, e que provavelmente voltaria a levantar a muralha que a cercava diariamente assim que a tempestade passasse mas era tão bom vê-la assim.
— Por que nunca comeu esse tipo de coisa? - ousou perguntar mas se preparando para pedir desculpas caso a garota se sentisse ofendida.
— Minha mãe sempre me proibiu. - disse simplista, preocupada demais em devorar sua comida.
— Mas tipo, você não tem 19 anos? Acho que ela não pode mais te controlar desse jeito...
Hana soltou uma risada anasalada — Não mesmo, até porquê ela não está mais aqui.
— O que quer dizer com isso...?
— Quero dizer que ela está morta - Hana não pareceu incomodada em dizer aquilo mas Suna corou por ter tocado em algo que não deveria.
— Eu sinto muito por você, meus pêsames e... Sinto muito também por ter tocado em um assunto delicado.
— Não sinta - ela colocou outra batata frita na boca — Já faz três anos, eu só estava focada demais para me aventurar nas coisas que ela me proibia quando criança, eu apenas esqueci de provar.
Não era mentira, depois da morte da mãe a cobrança em cima de si mesma não havia aliviado, Hana pareceu se sobrecarregar ainda mais para compensar a falta da mãe. Isso resultou nela não ter tido tempo para degustar e aproveitar tudo o que foi privada durante a infância.
Hana nunca olhou para o horizonte e sim para baixo, onde geralmente ficava os livros e para frente onde permanecia a tela do computador. Ela não teve experiências memoráveis o suficiente.
Deveria ser por isso que não tinha mais namorado, nem amigos, nem família...
— Foi mal por ter deixado o clima estranho - Suna deu um meio sorriso envergonhado — Está tudo bem com você?
— Sim, estou bem. - Hana limpou a boca com um guardanapo se esticando para pegar o celular de Suna, trocando a música por Locked out of Heaven, Bruno Mars, se apoiando com os braços para trás sentindo a brisa suave do fim da primavera acariciar seu rosto enquanto sua música favorita tocava — E você está bem? Percebi que não esteve na festa por bastante tempo.
— Ah então quer dizer que sentiu falta da minha presença?
Ela prendeu o riso se contentando em apenas revirar os olhos — Você sabe que não foi isso que eu quis dizer.
Suna inclinou a cabeça para trás inalando o cheiro de chuva sentindo seus pulmões serem preenchidos e sua mente se esvaindo com a sensação de relaxamento — Problemas comuns me derrubam com muita facilidade... Mas não é nada com que eu não possa lidar.
Hana não iria pagar de psicóloga amadora dando os mesmos conselhos clichês de sempre que com certo o garoto já havia escutado, aqueles que não agregavam em nada mais que um simples pensamento que ficaria guardado na memória, mas também não gostaria de ficar calada deixando o garoto agonizando sem poder dar algo que lhe acalmasse.
Então de um jeito atrapalhado Hana abriu um pacote de balas coloridas que havia comprado para si e estendeu para Suna, e ela fez o que sabia — Açúcar aumenta gradativamente a dopamina e vai ajudar com sua serotonina também.
Suna a encarou por uns segundos antes de gargalhar vendo a garota ainda estendendo a bala — Obrigado, você é uma nerd muito útil sabe? - ele pegou a bala a jogando para cima abocanhando de primeira.
Hana não percebia mas a maneira que demonstrava preocupação era com a saúde, simples lembretes de suas aulas da faculdade e dos cursos que fizera durante a adolescência apareciam surpreendentemente quando tentava acalmar alguém.
Ela corou com o comentário então franziu o cenho escondendo o fragmento de insegurança que mostrou — Coma muito para depois ter uma queda de produção de substâncias, Rin.
Ela também fazia comentários inteligentes para fugir de assuntos que a deixavam envergonhada ou que mostram suas inseguranças.
Está noite fez Suna adicionar muitas certezas sobre a garota. E talvez, ela não fosse tão arrogante quanto o fez pensar durante todo esse tempo.
E a mais nova certeza que Suna teve está noite foi que aquela foi a primeira vez que Hana o chamou por um apelido.
— Você aumenta minha serotonina, Hana.
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