3.6

   Os dias se passavam de maneira calma quando estava junto a Koutarou, não tinha que se preocupar com muita coisa além de ficar próxima ele para se proteger do frio ou brigar sobre quem iria se levantar da cama para apagar a luz do banheiro que havia ficado ligada por fim; você chiou irritada antes de se encolher mais contra as cobertas lançando um olhar mau humorado para o namorado que apenas revirou os olhos, você chutou sua canela por baixo das cobertas quentes, ele fez uma careta de dor lhe encarando com cara de poucos amigos, não duvidava nada que começariam uma discussão de verdade em alguns minutos.

   — Eu já desliguei a luz ontem, Koutarou, vai você.

   — (Nome), eu estou sem meias e o chão está gelado, você está com meias felpudas, vai você.

   Revirou os olhos antes de enfiar às mãos dentro das cobertas arrancando as meias de seus pés de modo mau humorado as jogando sobre o rosto do homem que franziu o cenho as segurando com as pontas dos dedos, você sorriu fraco apontando com a cabeça para ele.

   — Pronto, vista as meias e vá desligar a luz.

   — Pelo amor de deus, você acha que essas meias cabem nos meus pés?

   — Vá apagar a luz, Bokuto!

   — Eu não quero me levantar!

   — E você acha que eu quero?! — murmurou indignada, virou de costas para ele se aconchegando mais contra o acolchoado antes de puxar o cobertor para o seu corpo lhe cobrindo por completo se forçando a fechar os olhos — Vou dormir, boa noite.

   Disse por fim, escutou o homem de cabelos acinzentados bufar irritadiço antes de socar os pés para fora da cama de maneira completamente raivosa andando de modo pesado contra o assoalho amadeirado e desligando a luz por fim, você riu baixinho enquanto afastava o cobertor de seu rosto devagar fitando o namorado andar em sua direção novamente no quarto agora escuro; um grito fino escapou de seus lábios quando ele jogou o corpo ao lado do seu e tocou os pés gelados contra os seus quentes, tentou se afastar dele sem sucesso.

   — Céus, você está gelado como um cadáver, esqueceram de te enterrar, foi? Tire os pés de mim, Bokuto! — gritou de modo irritado por entre um riso ao o que acinzentado empurrou mais os pés gelados como cubos de gelo contra os seus — Estou falando sério, se não tirar os pés de mim eu vou bater em você!

   Bokuto não conseguiu conter o próprio ao ouvir suas palavras, arqueou uma das sobrancelhas claras de modo petulante enquanto corria os olhos amarelados por seu rosto.

   — Vai me bater é? Com que força?

   — Koutarou...

   Murmurou em forma de aviso juntando as sobrancelhas de modo irritado, o homem riu baixinho assentindo por fim enquanto afastava os pés gelados dos seus lhe puxando para mais perto juntando seus corpos com cuidado, deixou um beijo suave contra a sua testa, você suspirou de modo sonolento se aconchegando mais contra o corpo do mais velho.

   — Estou brincando, gatinha, tenho medo de você.

   — Bom mesmo.

   Respondeu de maneira divertida deitando o corpo sobre o dele recostando o rosto contra o peitoral macio escutando as batidas de seu coração se fizerem presentes por entre a caixa torácica de modo preguiçoso, o acinzentado com certeza estava morrendo de sono naquele exato momento. Você fechou os olhos enquanto o sentia levar as mãos em direção aos seus cabelos os acariciando com cuidado fazendo com que o sono lhe pegasse de maneira desprevenida.

   — Gatinha?

   — Hum?

   — Vou te pedir em casamento logo, já somos quase casados mesmo, você mora mais aqui do que na sua casa.

   Você riu baixinho antes de concordar com a cabeça devagar, abriu os olhos novamente levantando o rosto em direção ao homem correndo a atenção pelas suas feições calmas.

   — Está bem.

   — Onde você quer que seja seu pedido de casamento? Me preparar e depois fazer você ter uma amnésia e esquecer dessa conversa.

   Franziu o cenho fingindo pensar antes de suavizar a expressão abrindo um sorriso curto por entre seus lábios; encolheu os ombros levando a destra até o rosto do namorado desenhando seus traços com as pontas dos dedos, o viu segurar seu pulso com cuidado lhe puxando para mais perto e deixando um beijo suave contra os nós de seus dedos.

   — Em qualquer lugar que não seja em público, se me pedir em casamento em público eu te chuto e ainda grito não.

   — Certo, anotado, agora vai dormir, vou fazer uma magia oculta pra você esquecer dessa conversa.

   Riu de maneira divertida antes de concordar com a cabeça por fim voltando a deitar o corpo sobre o de Koutarou, fechou os olhos por fim, suspirou pesadamente, Bokuto Koutarou realmente lhe fazia bem, tão bem que você sentia que poderia superar tudo e qualquer coisa que ocorresse em sua vida.

   Nunca havia amado tanto alguém como o amava.

🌾

   Era por volta das duas da tarde quando o homem de cabelos acinzentados saiu para o trabalho, três horas haviam se passado desde então, você não se focou muito aos ponteiros do relógio pelo simples fato de estar concentrada demais trocando as fantasias da Alteza Leopoldina e do Lord Pauvre, uma câmera profissional no chão ao seu lado; estava recriando "Um amor para recordar" com os gatos.

   — Alteza Leopoldina, eu sei que você não gosta de fazer papéis masculinos, mas será assim até o Lord Pauvre crescer, ele vai ser a protagonista hoje — murmurou com a voz séria, a gata preta miou em resposta fazendo com que você revirasse os olhos enquanto terminava de colocar o terno sobre ela —, tudo pelo teatro, Alteza, sinto muito.

   Disse de modo dramático, voltou a arrumar as fantasias em ambos os felinos e preparou os fundos dos cenários que utilizaria, fazer filmes dos gatos havia virado um hobbie de seu tempo livre — uma coisa que possuía muito pelo jeito —, estava começando a pensar em criar um canal apenas para os filmes dos gatos.

   Estava prestes a ligar a câmera quando escutou o som da campainha ecoar por toda a casa de praia de dois andares de Koutarou, suspirou pesadamente pousando a câmera preta sobre o sofá enquanto andava em direção a porta amadeirada a abrindo devagar sem se importar com quem estava do lado de fora, realmente quase todos se conheciam em Hateruma, provavelmente era algum amigo de Bokuto, você não era muito familiarizada com a cidade pequena já que antes da morte de Lia vivia viajando o mundo e logo após sua morte ficou dois anos trancada em casa, talvez fosse uma das pessoas que menos conhecia aquele lugar minúsculo. Arregalou os olhos suavemente ao ver quem estava do lado de fora, deu dois passos para trás sentindo seu coração bater quase que desesperado contra o próprio peito.

   — Oi, (Nome).

   Engoliu em seco encarando os cabelos claros do outro lado da porta, encolheu os ombros desviando o olhar para os próprios pés rapidamente.

   — O que você quer, Osamu?

   Murmurou de maneira falha, quase como se as palavras estivessem presas por entre as paredes de sua garganta, sentia um nó se formar e parecia ser difícil respirar, o Miya suspirou de maneira fraca enquanto enfiava às mãos nos bolsos do moletom preto que vestia para protegê-lo do frio.

   — Posso entrar? Queria conversar com você.

   Arregalou os olhos suavemente erguendo a atenção ao amigo de infância antes de negar com a cabeça devagar, entreabriu os lábios.

   — Acho melhor não, o Kou não tá em casa agora e vocês não se dão muito bem... acho que é melhor você ir embora, Osamu.

   Disse com a voz baixa prestes a fechar a porta quando a mesma se negou a continuar o percurso, abaixou o olhar para o chão rapidamente se detendo com a ponta do pé do acinzentado, engoliu em seco voltando a abrir a porta, Osamu respirou fundo antes de curvar o corpo em uma espécie de reverência.

   — Por favor, eu só quero conversar com você, juro que não vou demorar muito.

   Você prensou os lábios, respirou fundo e de maneira pesada sentindo o ar preencher seus pulmões por completo, concordou com a cabeça por fim dando dois passos para trás permitindo que ele adentrasse na casa, o homem agradeceu baixinho andando para a parte do interior da sala de estar, você suspirou enquanto fechava a porta devagar, cruzou os braços sobre o abdômen fitando o homem a sua frente, cerrou os olhos.

   — Pode falar.

   Osamu respirou fundo correndo os olhos claros em sua direção, remexeu os dedos de maneira nervosa.

   — Me desculpe, (Nome), de verdade, eu sei que te deixei péssima falando aquilo — ele murmurou andando em sua direção, você engoliu em seco levantando o olhar em direção ao homem que agora levava as mãos até as suas as segurando com cuidado, você piscou de maneira desconfiada o encarando ali, ele coçou a garganta em uma tosse baixa —, não sabe o quanto eu me senti culpado, me desculpa por favor... eu já perdi ela, não posso te perder também.

   Você sentiu seus olhos marejarem de leve, fungou baixinho abrindo um sorriso suave em lábios, assentiu devagar, sentia falta de Osamu, ele era um de seus melhores amigos de infância, mesmo que houvesse lhe machucado ele continuava a ser seu amigo, conseguiria o perdoar por completo com o passar do tempo.

   — Tudo bem, eu sei que você também ficou mal com a morte da Lia, todo mundo ficou — balbuciou de maneira branda, abriu os braços como a aceitação oficial das desculpas do Miya —, abraço de desculpas?

   Murmurou por fim, ele riu de maneira baixa concordando com a cabeça devagar enquanto aproximava o corpo do seu aceitando o abraço por fim, passou os braços ao redor de seu corpo lhe puxando para mais perto aconchegando você contra o próprio peitoral, engoliu em seco, não era aquilo que estava esperando. Ficaram daquele modo por alguns segundos que mais pareceram uma eternidade, tentou se afastar mas ele apenas lhe puxou de volta para o abraço.

   — Fique mais um pouco assim... por favor.

   — Osamu, o que você...

   — Shh... não fale nada, só... fique assim mais um pouco, está bem?

   Ele disse de maneira baixa, você engoliu em seco sentindo seu coração bater de maneira terrificada contra o próprio peito, sabia que Osamu era seu amigo, mas mesmo assim não deixava de ser estranho, não deixava de ser assustador, não falou nada ficando apenas paralisada contra os braços do homem com medo de simplesmente respirar. O Miya levou uma das mãos até seus cabelos os acariciando com cuidado, você engoliu em seco levantando o olhar até ele.

   — Osamu, acho melhor você...

   — Posso te beijar?

   Ele disse de uma vez, você arregalou os olhos de modo assustado se afastando dele de uma vez, sentiu seu estômago se revirar por completo, negou com a cabeça diversas vezes dando vários passos para trás o vendo andar em sua direção.

   — Vai embora, Miya Osamu, eu não estou brincando vai embora! O Atsumu vai te arrebentar se souber disso.

   O homem bufou irritadiço andando em sua direção de modo raivoso agarrando seu pulso com força, você grunhiu baixinho tentando o empurrar para longe.

   — (Nome), você não tem a mínima noção do que eu estou passando! Você tem a obrigação de me ajudar com isso, a Lia não deveria ter morrido naquele dia, sabe disso! — ele gritou sem pensar, as bochechas vermelhas de raiva e o cenho franzido, você arregalou os olhos o encarando de modo assustado — Como você ainda continua viva faça alguma coisa de útil!

   Você praticamente rosnou antes de tentar se soltar sem sucesso o sentindo apertar mais forte seu pulso, grunhiu em dor o sentindo torcer levemente, sentia seus olhos lacrimejarem de raiva.

   — Me solta!

   Gritou novamente, no exato momento a porta da sala se abriu de uma vez, você levou o olhar até ela se detendo com o homem de cabelos acinzentados segurando várias sacolas do mercado, os olhos amarelos correram de você chorando até Osamu que segurava seu pulso com força; o homem não pensou muito antes de simplesmente largar as sacolas no chão e andar em passos raivosos em direção ao Miya que lhe soltou rapidamente, você suspirou em dor passando a mão sobre o pulso que parecia levemente inchado.

   — O que você pensa que está fazendo com ela, seu porra?! Você quer morrer?!

   Ele gritou completamente transtornado enquanto agarrava Osamu pelo colarinho, o Miya abriu um sorriso petulante em lábios, sussurrou algo para Bokuto que você não conseguiu entender, mas provavelmente havia sido algo ruim porquê não demorou muito para que Osamu estivesse jogado no chão e um Koutarou cego de raiva sobre ele o socando diversas e diversas vezes.

  O punho grande do homem se encontrava contra o rosto do Miya sem piedade alguma, você estava completamente paralisada chorando de modo desesperado agarrada a bancada sem saber o que fazer, não demorou muito para que um Kuroo apressado adentrasse na casa agarrando Bokuto a força o arrastando para longe, você fitou o corpo desacordado de Osamu jogado ao chão, estava sujo de sangue. Se ajoelhou no chão sentindo a força em suas pernas irem embora, o choro parecia lhe deixar sem ar.

   Não conseguia respirar.

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