0.3

   — Você fez um amigo, sério mesmo?

   O homem de cabelos loiros e levemente raspados nas laterais indagou de modo surpreso pela chamada de vídeo, você riu baixinho antes de concordar com a cabeça por fim, havia acabado de sair do banho, tinha um roupão de algodão gigantesco que envolvia seu corpo lhe mantendo quente, o frio do outono realmente acabava consigo, nunca havia tido uma das imunidades mais fortes do mundo por assim dizer; suspirou pesadamente enquanto jogava o seu corpo contra a cama gigantesca de casal segurando celular acima de seu rosto, Atsumu parecia trabalhar no computador e havia deixado o celular apoiado em algum canto, vez ou outra levando os olhos até você.

   — Posso desligar se estiver ocupado, nos falamos outra hora.

   Murmurou antes de bocejar, ele levou a atenção até a tela do celular quase que desesperado antes de negar com a cabeça diversas e diversas vezes, respirou fundo.

   — Nem pense em desligar, (Nome), não nos falamos a dias estou com saudades de você.

   — Está com saudades? Uau, achei que me odiava, lembra de quando enfiou meu rosto no bolo de aniversário?

   Indagou com a voz divertida, ele revirou os olhos antes de voltar a segurar o celular por entre as próprias mãos, se jogou na cama de solteiro do apartamento pequeno que dividia com o irmão em Londres, encolheu os ombros.

   — Pare de lembrar disso, nós tínhamos treze anos de idade.

   — Eu chorei a festa inteira, Miya Atsumu, tudo isso porquê você queria chamar a atenção da Lia.

   — Eu era apaixonado nela.

   — E mesmo assim ela escolheu o Osamu, parabéns.

   — Você gostava dele não gostava? No ensino médio eu digo, eu via o jeito que você olhava para ele, mesmo o Samu sendo namorado da Lia.

   Você engoliu em seco ao escutar as palavras do homem, respirou fundo, não sabia ao certo se poderia ser completamente sincera, de fato nutria sentimentos por Osamu Miya desde o jardim de infância, você e Lia brigaram a vida inteira por conta dele, mas ela foi a única que teve coragem de confessar os sentimentos quando adentraram no ensino médio e bem... ninguém nunca negaria namorar com sua irmã gêmea, ela era simplesmente única demais, sua presença gritava independente do lugar que ia.

   — Gostei dele por um tempo, mas passou depois que eles começaram a namorar sério — murmurou por fim, respirou fundo, não sabia se poderia perguntar aquilo —, como ele está? Ele já encontrou alguém novo? Está indo em encontros ou trabalhando? Já faz dois anos, Atsumu, ele precisa seguir com a vida dele.

   O loiro respirou fundo do outro lado da tela, esfregou o rosto com a mão antes de encolher os ombros por fim, Osamu e Lia namoraram por anos, eram simplesmente inseparáveis, nem você ou Atsumu aguentavam o grude que aqueles dois eram, quando o acidente ocorreu e sua irmã morreu ele simplesmente ficou desolado, não comia e nem bebia, passava os dias trancado no quarto chorando, foi quando Atsumu teve a brilhante de ideia de se mudarem para Londres onde trabalhariam e poderiam respirar novos ares.

   — Ele está melhor, mas vez ou outra eu ainda tenho que força-lo a comer alguma coisa, ele tentou ir em um encontro uns dias atrás com uma atendente de café, não sei o que aconteceu mas ele voltou para casa horas depois e se trancou no quarto até o dia seguinte — o homem murmurou com a voz baixa, você respirou fundo sentindo seu estômago se revirar em angústia — E você? Conseguiu virar a esquina da rua ou continua trancada em casa o dia inteiro?

   — Zero progressos por aqui.

   — Como diabos você conheceu esse amigo novo então?

   Atsumu indagou confuso, você mordiscou o interior da bochecha antes de rir baixinho, encolheu os ombros, girou sobre a cama apoiando os cotovelos contra o acolchoado e segurando o celular mais perto de seu rosto.

   — Jura que não vai rir de mim?

   — Sim, senhora.

   Ele respondeu com um sorriso divertido em lábios, você cerrou os olhos desconfiada antes de abrir os lábios para falar.

   — A Alteza Leopoldina ficou presa na árvore e eu tive que ligar para o corpo de bombeiros.

   — Nem ferrando que você fez amizade com um bombeiro! Não acredito nisso! — ele gritou na ligação antes de soltar um riso alto por entre seus lábios, arregalou os olhos — (Nome), sua depravada!

   — Eu não sou depravada!

   Gritou aos risos sentindo suas bochechas queimarem de vergonha, ele revirou os olhos com um sorriso divertido em lábios.

   — Por favor, ser virgem aos vinte e três anos não faz de você uma santa.

   — Cale a boca, Atsumu, nossa eu vou matar você! — disse afundando o rosto no travesseiro, escutou o som da campainha ecoar na casa inteira, levantou o rosto rapidamente levando o olhar até a tela do celular mais uma vez — Vou desligar tem alguém na porta, pode ser meu bombeiro.

   — Tem algum filme romântico antigo sobre bombeiros?

   — Acho que não, Lia com certeza saberia se existisse.

   — Com certeza, está bem vou desligar, love ya.

   — Love ya.

   Respondeu de volta com um sorriso em lábios antes de desligar a chamada, largou o celular sobre a cama antes de deslizar o corpo para fora do acolchoado deixando o quarto em passos rápidos, arrumou o roupão em seu corpo e passou os dedos em seus cabelos antes de descer os degraus amadeirados em direção ao primeiro andar, aproximou o rosto do olho mágico da porta tentando enxergar quem estava do lado de fora.

   — Quem é?

   Indagou com a voz alta, escutou a pessoa tossir antes de aparecer no olho mágico, engoliu em seco ao ver cabelos acinzentados com as pontas levemente escuras.

   — (Nome), posso entrar? Não posso ir para casa agora.

   Ele murmurou, você engoliu em seco antes de girar a chave abrindo a porta de uma vez, seus olhos caíram sobre Shinsuke, ele tinha as roupas amassadas e as bochechas vermelhas, soltou um soluço alto antes de cambalear para o lado, você esticou o braço quase que desesperada o segurando ali para que o homem não caísse, cerrou os olhos.

   — Você está bêbado?

   — Um pouco, não sou... forte com bebidas, saí para beber com uns colegas de trabalho, não posso voltar para casa assim a Nana vai ficar triste.

   Ele disse por fim antes de cair sobre você, soltou um gritinho sufocado segurando o corpo do homem com dificuldade, suas pernas tremeram, céus, ele era pesado, perdeu a força caindo sobre o chão com ele sobre você, grunhiu sentindo suas pernas fisgarem, escutou passos vindo em sua direção.

   Por favor que não seja um ladrão.

   Pensou consigo mesma se sentando no chão com dificuldade a cabeça do homem caiu sobre sua coxa, estava completamente apagado. Olhou para a frente se detendo com Bokuto, ele vestia shorts de academia pretos com uma espécie de calça legging por baixo da mesma cor, um agasalho de corrida e um boné escuro, o homem piscou confuso andando em sua direção rapidamente quase como se estivesse se preparando para expulsar qualquer um aos chutes.

   — (Nome), está tudo bem?

   Ele indagou se aproximando abaixou o olhar para Kita que estava adormecido contra suas pernas, você riu baixinho antes de concordar com a cabeça devagar.

   — Ele é o meu vizinho, apareceu bêbado aqui, não pode aparecer em casa nesse estado pelo jeito — murmurou com a voz baixa, o homem de cabelos acinzentados a sua frente possuía uma feição surpresa em rosto enquanto lhe ajudava a levantar Shinsuke com facilidade o levando para a parte de dentro da casa, suspirou aliviada conseguindo ficar de pé finalmente —, e você? O que está fazendo aqui?

   Indagou curiosa enquanto ele jogava o corpo do homem contra o sofá, respirou fundo ajeitando a própria coluna, levou os olhos amarelos em sua direção antes de arrancar o boné preto de sua cabeça bagunçando os fios acinzentados que estavam para baixo e levemente úmidos pelo suor, riu baixinho.

   — Eu moro a algumas quadras daqui, estava fazendo uma corrida noturna, pode me dar um copo de água, por favor?

   Ele pediu de maneira cansada enquanto pousava as mãos sobre a cintura, você sorriu antes de concordar com a cabeça andando até a cozinha pegando um pouco de água na maior xícara que possuía andando até o homem alto estendendo a xícara avermelhada em direção a ele que agradeceu baixinho antes de a segurar por entre os próprios dedos.

   — Quer mais alguma coisa? Acho que tenho comida chinesa na geladeira.

   Murmurou com a voz baixa, ele riu baixinho antes de negar com a cabeça devagar, deu um gole grande na água antes de a deixar sobre um móvel pequeno que estava próximo, volteou os olhos amarelos em sua direção, os abaixou até seu corpo, engoliu em seco levando uma das mãos até seus ombros arrumando o roupão que caía por seu braço voltando a cobrir sua pele, desviou o olhar devagar antes de coçar a garganta em uma tosse baixa, repuxou o colarinho de seu agasalho com as pontas dos dedos como se não estivesse conseguindo respirar.

   — É melhor eu voltar, deixei o Lord Pauvre sozinho em casa.

   — Tem certeza? — indagou com a voz baixa, deu um passo para a frente aproximando mais o corpo do de Bokuto, ergueu o rosto em sua direção antes de sorrir fraco — É o melhor restaurante de comida chinesa da região.

   Ele abaixou o olhar até seu rosto, as orbes amarelas correram por seu pescoço em direção a clavícula exposta pela abertura do roupão, encarou ali por um tempo antes de voltear o olhar em direção ao seu rosto, sorriu fraco antes de negar com a cabeça devagar.

   — Tenho que ir, tem certeza que vai ficar bem junto com ele?

   Indagou preocupado, você riu antes de assentir, encolheu os ombros.

   — Pode ir, sei me virar.

   — Posso te ligar quando chegar em casa?

   Você respirou fundo antes de concordar com a cabeça, sentiu suas bochechas queimarem de leve quando ele sorriu de canto, desviou o olhar rapidamente.

   — Pode me ligar quando quiser, eu tenho muito tempo livre.

   — Vou te ligar quando eu estiver no banho então — ele sussurrou, você arregalou os olhos sentindo seu coração bater forte contra o próprio peito, ele riu baixinho antes de enfiar as mãos grandes nos bolsos do agasalho de corrida —, estou brincando, gatinha, até mais tarde então.

   Ele disse, lançou um último olhar para o seu ombro que insistia em se fazer presente graças ao roupão, sorriu curto antes de deixar a casa por fim; você respirou fundo andando até a porta o vendo colocar os fones de ouvidos antes de simplesmente correr para longe como se nada mais importasse, suspirou trêmula antes de fechar a porta devagar, voltou para dentro da casa andando até o sofá onde Kita permanecia completamente apagado, pegou algumas cobertas jogando sobre o homem antes de esticar os braços se espreguiçando ali. Esquentou um pouco de comida chinesa no micro-ondas e comeu sentada no chão da sala assistindo algum filme de romance qualquer do pendrive que havia feito durante o ensino médio com Lia.

   Deixou a sala por fim e os potinhos de comida sobre a pia antes de subir as escadas rapidamente em direção ao próprio quarto, sorriu curto ao ver o celular tocando sobre a cama, o pegou rapidamente vendo o nome do contato "O moço que quer a fantasia de gato", atendeu de uma vez pousando o celular sobre o ouvido.

   — Hey.

   Murmurou com a voz baixa, conseguiu escutar um riso soprado do outro lado da linha.

   — Hey hey.

   Ele respondeu em sussurro, você engoliu em seco antes de jogar o seu corpo contra o acolchoado macio, encolheu os ombros antes de sorrir fraco.

   — Chegou bem em casa?

   — Sim... estou arrependido, deveria ter ficado.

   — Sinto muito, eu já acabei com toda a comida chinesa.

   Murmurou rindo, conseguiu escutar ele resmungar do outro lado da linha, encolheu mais o corpo contra o acolchoado.

   — Pode falar mais um pouco? Gosto da sua voz.

   Você respirou fundo ao ouvir as palavras do homem, entreabriu os lábios devagar, conseguia escutar a respiração dele pelo celular, causava arrepios suaves em sua nuca.

   — Odeio golfinhos.

   Disse por fim, ele riu alto pelo celular, respirou fundo.

   — Como assim odeia golfinhos?

   — Eles matam os filhotes de tubarão para brincarem de bola e furam o estômago dos tubarões mais velhos, golfinhos são praticamente os ditadores do mar! — murmurou indignada, cerrou os olhos — Não gosto deles, tenho pena dos tubarões. 

   — (Nome).

   — Sim?

   — Você é definitivamente uma pessoa muito estranha.

   Ele murmurou, você prensou os lábios antes de fitar o teto acima de seus olhos.

   — Isso é algo ruim?

   Indagou com a voz baixa, ele riu do outro lado da linha, ficou em silêncio por alguns segundos antes de começar a falar.

   — Nenhum pouco, eu gosto.

   

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