0.2

[você]

oi?<<<

[O moço que quer a fantasia de gato]

>>>HEY HEY HEY

>>>tudo certo?

   Você piscou levemente atônita ao ver o quão rápido a mensagem havia sido respondida, nem havia terminado direito de passar os dedos sobre o teclado do celular e a notificação do homem de cabelos acinzentados já havia chego; estava encolhida contra o sofá da Senhora Kita, o cheiro de comida caseira tomava conta da casa fazendo com que seu estômago roncasse e sua boca salivasse, fazia realmente muito tempo que não se alimentava com comida de verdade, a Alteza Leopoldina estava deitada contra o carpete macio da sala dormindo de forma calma. Esfregou os olhos antes de responder a mensagem por fim, não sabia mais muito bem como começar uma conversa.

[você]

tudo certo, vim almoçar com a minha vizinha<<<

e com você? tudo certo?<<<

[O moço que quer a fantasia de gato]

>>>tudo certo, bom almoço para vocês

>>>quer ver uma foto do indigente?

   Ele disse por fim, você sorriu fraco antes de encolher os ombros, se encolheu mais contra o pijama gigantesco de gato, deslizou os dedos sobre o teclado.

[você]

indigente?<<<

[O moço que quer a fantasia de gato]

>>>bem, ele ainda não tem um nome então

vou o chamar assim por enquanto

[você]

por que não o chama de "Lord Pauvre"?<<<

pauvre é indigente em francês<<<

[O moço que quer a fantasia de gato]

>>>uau, você sabe falar francês?

[você]

eu morei na frança por um tempo por conta

do trabalho, então sei um pouco<<<

[O moço que quer a fantasia de gato]

>>>você trabalha com o que?

   Você respirou fundo ao ver a mensagem, remexeu os dedos de maneira ansiosa, o que ele diria se dissesse que era desempregada a quase dois anos? Que literalmente vivia seus dias trancada em casa com a Alteza nos braços. Omitiria aquilo por um tempo, não gostava de pensar naquilo, ficava tão ansiosa que seu estômago doía.

[você]

eu era atriz e musicista de teatros<<<

me apresentava em musicais<<<

mande a foto do Lord Pauvre<<< 

   Disse rapidamente tentando mudar o foco do assunto, não queria ter que pensar em trabalho naquele momento, não queria ter que se lembrar do tempo em que ainda se apresentava, as vezes desejava ser outra pessoa, acordar em um corpo diferente do seu, Lia certamente não estaria naquela posição, a mulher de cabelos cacheados sempre havia sido a melhor gêmea, se você tivesse ido no lugar dela aquele dia... tinha a plena certeza que ela não teria ficado desabada como você ficou, provavelmente voltaria a fazer o que amava em alguns meses, mas você não, você simplesmente não conseguia, mesmo que amasse cantar e atuar não conseguia mais pisar em um palco onde centenas de pessoas lhe assistiam.

   Não demorou muito para que o celular vibrasse diversas vezes, o desbloqueou rapidamente, sorriu fraco quando seus olhos caíram sobre a conversa que estava tendo com o homem de cabelos acinzentados, haviam lá pelo menos umas oito fotos diferentes, a maioria delas era apenas um filhote branco com os olhos extremamente azuis sentado no acolchoado ou sobre o batente da janela fitando o vidro, já em outras era apenas o homem segurando o filhote próximo ao rosto com um sorriso gigantesco em lábios, a última foto enviada o gatinho branco estava dentro do bolso da calça moletom cinza do homem onde ele havia tirado no espelho de corpo inteiro. Mordeu o interior da bochecha, ele era realmente bonito, sempre ficava nervosa conversando com pessoas bonitas demais.

   Respirou fundo começando a digitar, antes que pudesse enviar a mensagem seu celular tocou, arregalou os olhos quase que desesperada ao ver uma ligação do homem de cabelos acinzentados ali, piscou devagar sem saber muito bem o que fazer, pensou em apenas ignorar para que ele desistisse mas o celular simplesmente não parava de tocar, suspirou trêmula antes de deslizar o dedo sobre a tela do celular atendendo a chamada, se sentou no sofá com cuidado enquanto pousava o celular contra a orelha ficando completamente em silêncio.

   — Hey?

   A voz do homem se fez presente do outro lado da linha, você engoliu em seco sentindo suas bochechas queimarem de leve.

   — Hey hey... por que me ligou?

   — Por que eu não ligaria?

   — Não responda a minha pergunta com outra pergunta. 

   — Pare de ser rabugenta — ele disse rindo, sua voz estava levemente rouca, fez com que um arrepio passasse por sua nuca, ele suspirou fundo —, quer tomar um café mais tarde? Eu pago.

   Ele indagou com a voz baixa, você arregalou os olhos surpresa, olhou para o calendário preso na parede da sala da Sra. Kita, quinta-feira, não poderia sair de quinta-feira, suspirou pesadamente antes de negar com a cabeça devagar.

   — Não posso, quinta-feira é dia de assistir uma linda mulher e pedir pizza.

   Disse por fim, conseguiu escutar o riso suave do homem de cabelos acinzentados do outro lado da linha.

   — Uma linda mulher? Acho que nunca assisti.

   Você entreabriu os lábios completamente embasbacada ao escutar as palavras dele, cerrou os olhos em indignação.

   — Como você nunca assistiu uma linda mulher?! Esteja na minha casa as seis da tarde, você já sabe o endereço.

 ⸙͎۪۫

   Você respirou fundo de maneira aflita ao escutar o som alto da campainha da porta de entrada, desceu os degraus rapidamente, estava mais nervosa do que julgava ser possível, pela primeira vez em meses se arrumou minimamente, havia feito uma maquiagem suave para esconder as olheiras e colocou apenas um vestido bege de gola e mangas longas que ficava minimamente apertado em seu corpo já que havia roubado do guarda-roupa de Lia que ainda permanecia completamente intocado. Abriu a porta da casa devagar se detendo com o homem de cabelos acinzentados, ele sorriu curto, vestia calças pretas e uma camisa de gola da mesma cor, sorriu curto mostrando o filhote em sua mão que dormia de maneira tranquila.

   — O Lord Pauvre veio junto, tudo bem?

   Ele indagou com a voz baixa, você riu baixinho antes de concordar com a cabeça, deu um passo para o lado deixando a entrada livre para ele que adentrou na casa por fim olhando ao redor; a casa era simplesmente impecável, talvez por você ter muito tempo livre ou as vezes não conseguir dormir por conta dos pesadelos e apenas arrumava tudo de cima a baixo, sentia que organizar suas coisas lhe dava uma mínima sensação de controle por sua vida, mesmo que não tivesse controle de absolutamente nada, chegava a ser assustador o modo como sentia que o tempo simplesmente esvaia por entre seus dedos. Encolheu os ombros por fim enquanto fechava a porta da casa, tomou o filhote da mão do homem o segurando por entre seus braços o sentindo se espreguiçar pouco a pouco, sorriu.

   — Ele é muito fofo, vou deixar ele junto com a Alteza Leopoldina, ela está deitadinha no carpete... tire os sapatos.

   Você disse apontando com a cabeça para os pés do homem que apenas obedeceu de prontidão retirando os coturnos pretos os deixando com cuidado de frente para a porta, deslizou os pés cobertos pelas meias felpudas contra o assoalho amadeirado em direção a sala onde você estava; colocou o filhote no carpete ao lado da gata preta que o olhou com cuidado antes de começar a cheira-lo.

   — Por que quinta-feira é dia de uma linda mulher e de pizza?

   Ele indagou com a voz divertida enquanto se sentava contra o sofá branco, você encolheu os ombros enquanto se ajoelhava de frente para a televisão pegando uma das fitas cassetes de filmes antigos que estavam empilhadas ali, sorriu ao ver o papel escrito com a letra de Lia "Pretty Woman With Pizza". Colocou a fita dentro do aparelho antes de ligar a televisão e andar em passos rápidos em direção ao sofá jogando o seu corpo ao lado do dele, suspirou animada ao ver os créditos no começo do filme.

   — Eu não perguntei — você sussurrou virando o rosto em direção a ele, os olhos amarelos correram em sua direção —, qual o seu nome?

   O homem de cabelos acinzentados não conseguiu conter o próprio riso ao escutar suas palavras, arqueou uma das sobrancelhas claras.

   — Você me chamou para a sua casa sem saber o meu nome? E se eu fosse o assassino do machado?

   — Bem, você gosta de gatos então tudo bem... era só cuidar da Alteza Leopoldina depois de me assassinar.

   Murmurou com a voz divertida enquanto encolhia o corpo contra o sofá puxando as pernas para cima do estofado, ele sorriu fraco, correu os olhos por seu rosto como se examinasse suas feições, encolheu os ombros.

   — Me chamo Bokuto, Bokuto Koutarou e você?

   — (Nome), pode me chamar de (Nome).

   — (Nome)?

   — Sim?

   Indagou com a voz baixa enquanto volteava o olhar para a tela brilhante que iluminava a sala pouco a pouco.

   — Por que uma linda mulher e pizza de quinta-feira?

   Ele perguntou outra vez, você engoliu em seco sentindo seu estômago se revirar de maneira ansiosa, entreabriu os lábios com cuidado.

   — Eu e minha irmã mais velha assistíamos uma linda mulher e pedíamos pizza todas as quintas-feiras — murmurou com a voz fraca, riu baixinho antes de encolher mais o corpo contra o sofá —, digo, ela não era tão mais velha, só dez minutos mais velha.

   Disse por fim, ele ficou em silêncio antes de voltear o olhar para a televisão, não falou mais nada, talvez pelo fato de você falar "Era", talvez ele só não quisesse te aborrecer com algo que se esforçava tanto para esquecer, agradecia mentalmente por aquilo.

   — Eu posso assistir uma linda mulher e comer pizza com você nas quintas-feiras... quando eu não estiver trabalhando é claro.

   Ele murmurou sem tirar os olhos amarelos da televisão, você sorriu fraco antes de concordar com a cabeça devagar.

   — Você só está interessado na pizza, não precisa mentir.

   — Céus, como você descobriu? Tem poderes psíquicos?

   Bokuto respondeu em tom de brincadeira fazendo com que você revirasse os olhos de maneira divertida, voltearam a atenção por completo para o filme, em um momento você se levantou para buscar as pizzas na porta que haviam chego, deixou as caixas sobre a mesa de centro da sala antes voltar a se sentar contra o sofá, Bokuto foi arrastando o corpo para mais perto do seu a cada minuto que passava do filme, em um momento que você não faz a mínima ideia de como aconteceu mas ele havia deitado a cabeça contra suas coxas fitando a tela de modo quase que hipnotizado ao o que estava acontecendo ali. Você mordiscou a bochecha de maneira nervosa quando a parte mais triste do filme se fez presente, seus dedos acariciavam os fios acinzentados do homem o escutou fungar baixinho, arqueou uma das sobrancelhas antes de levar o olhar até ele.

   — Você está chorando? 

   Indagou com a voz suave tentando segurar o próprio riso, ele secou a bochecha rapidamente contra o ombro antes de negar com a cabeça diversas vezes.

   — Não estou chorando... céus, por qual motivo eles não podem ficar juntos? Eles claramente se amam.

   Ele disse com a voz trêmula pelo choro, você não conseguiu segurar o próprio riso, negou com a cabeça devagar.

   — Mas eles são de mundo diferentes, Bokuto.

   — E qual o problema?

   — Acho que... deve ser complicado, sabe?

   — Não, não sei, ela deveria engolir o orgulho e ficar com ele e ele deveria deixar as outras mulheres e ficar só com ela!

   Ele disse claramente indignado enquanto se levantava de seu colo se sentando sobre o sofá, a pontinha de seu nariz estava completamente vermelha, você sorriu de modo divertido, apontou para a televisão com a cabeça.

   — O filme não acabou ainda.

   Sussurrou, Bokuto bufou irritadiço antes de voltear o olhar para a tela, você soltou uma risada por entre suas narinas enquanto curvava o corpo suavemente pegando mais uma fatia de pizza a levando até seus lábios comendo de maneira preguiçosa enquanto o filme continuava passando na televisão, quando o casal se reencontrou e o homem pulou a janela para o quarto dela e eles fizeram as pazes Bokuto tinha um sorriso gigantesco em lábios, bateu uma palma de maneira animada, apontou para a televisão.

   — Era disso que eu estava falando! Viu, eles se amam!

   — Sim, eles se amam — você respondeu rindo, girou o rosto até ele, encolheu os ombros —, gostou do filme?

   — Virou meu filme favorito.

   — Então não vem mais aqui as quintas-feiras só por conta da pizza.

   Sussurrou, ele correu os olhos amarelos por seu rosto, concordou com a cabeça devagar.

   — Tenho mais do que um motivo para vir aqui agora.

   Ele respondeu, você riu baixinho antes de encolher os ombros. Bokuto lhe ajudou a levar os pratos sujos até a cozinha não muito grande, deixou os copos e pratos na lava-louças enquanto você guardava as que já estavam secam, conseguia escutar o homem cantarolando "Oh pretty woman" da trilha sonora do filme a cada passo que dava; estava feliz, estava mais do que feliz por ter uma nova companhia durante as quintas-feiras.

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