⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ 👻⠀ ⦙ 01. 𝐰𝐚𝐤𝐞 𝐦𝐞 𝐮𝐩 𝐰𝐡𝐞𝐧 𝐬𝐞𝐩𝐭𝐞𝐦𝐛𝐞𝐫 𝐞𝐧𝐝𝐬


TODOS OS EVENTOS QUE SEGUIRAM  após a ingestão dos cachorros-quentes pelos quatro membros da Sunset Curve ocorreram rápido de mais. Em questões de segundos o quarteto foi bombardeado de informações, com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e dificultando a compreensão. Primeiro vieram as pontadas no estômago, as quais foram acompanhadas por náuseas, sangue e fraqueza. Em seguida vieram os gritos, principalmente por parte dos vendedores da barraquinha e pessoas próximas da onde o quarteto esteve sentado. Em questões de segundos começaram as luzes e sons das sirenes, em questão de segundos eles foram postos dentro da ambulância. Por último, quando chegaram no hospital para tratarem das dores, eles desceram da ambulância e foram para um quarto escuro, onde acabaram ficando trancados por tempo indeterminado.

De uma coisa o grupo de amigos estavam certos, eles não haviam sobrevivido ao último "banquete" de procedência duvidosa.

— Reginald! — Gritou Arabella desesperada ao ser engolida pela escuridão da sala. Naquele instante ela estava enfrentando duas das coisas que mais temia em sua existência, a morte e a escuridão.

— Eu estou aqui, calma! — Tendo conhecimento sobre os temores da melhor amiga, ele a envolveu em um abraço confortante antes mesmo que ela terminasse chamá-lo por seu nome. Caso não estivesse tão assustado quanto os outros, ele teria ficado muito feliz por ter sido nomeado por Ella para ser seu porto seguro ao invés do Alex ou Luke. — Vai ficar tudo bem! Vai ficar tudo bem!

Os dedos do rapaz passavam com ternura pelos cabelos de Arabella, desde o topo de sua cabeça até as pontas, enquanto depositava alguns beijos tenros entre a testa da adolescente e a raíz dos cabelos. A menina mantinha o abraço forte, agarrando a jaqueta de couro de Reggie com ambas as mãos e afundando o rosto contra seu peito, querendo ter certeza de que ele não sumiria feito fumaça e a deixaria para trás. Em algum lugar daquela sala era possível escutar os choros de medo e pesar do Alex, o qual estava tão assustado e confuso quanto os outros.

— Não sai de perto de mim! — Implorou Arabella mantendo-se firme no abraço enquanto refletia sobre sua breve existência terrena.

O principal motivo de pesar da Arabella não era estar morta, mesmo que aquilo a assustasse terrivelmente. Mas as coisas e pessoas que deixou para trás, principalmente Ornella e seus avós. Temia em como a notícia poderia atingi-los. Todos da família já haviam sofrido terrivelmente no passado quando os pais das meninas começaram a se envolver com drogas, negligenciando as filhas pequenas para dar prioridade aos vícios. As garotas passaram por muitas Foster Familys e abrigos antes de serem entregues de vez aos cuidados dos seus avós maternos, mesmo com todas essas idas e vindas do programa de proteção ao menor, elas nunca tinham sido separadas. NUNCA. A todo momento as irmãs estavam juntas, como um casamento estranho, elas eram unidas na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Mas como no fim dos discursos essa união terminou em morte. Arabella queria ao menos estar ao lado da irmã quando ela descobrisse sobre seu fim trágico, ver sua reação, dizer que ficaria tudo bem e que a protegeria como um anjo da guarda. Porém ela estava impossibilitada de fazer isso, estando trancada num cômodo minúsculo e escuro com seus três melhores amigos. Ao menos não estava sozinha.

— Eu amo vocês! — Disse Arabella afastando a cabeça do peito do Reggie, mas mantendo o abraço — De verdade. Eu acho que nunca disse isso para vocês em voz alta.

— Oh, Ella! — Disse Reggie segurando o rosto da menina com uma das mãos e passando o polegar por sua bochecha — Eu também te amo!

— Você me ama? — Perguntou Ella olhando profundamente nos olhos marejados de Reggie.

— Desde o primeiro dia que te vi — Assentiu o rapaz com um sorriso breve e sem desviar o olhar.

As palavras de Reggie pegaram Arabella de surpresa, fazendo a sorrir de modo bobo e sentir-se culpada por ter o afastado durante o tempo que esteve viva, eles poderiam ter vivido uma linda história de amor caso ela tivesse permitido se entregar a esse sentimento de cabeça. Eles trocaram outro sorriso bobo, compreendendo o que queriam dizer sem a necessidade de palavras. Lentamente o rapaz começou a aproximar seus lábios dos de Arabella, a qual ficou na ponta dos pés e fechou os olhos, se preparando para sentir o tão aguardado beijo.

Entretanto o momento mágico entre eles foi interrompido abruptamente. Antes que o casal pudesse selar seus lábios e findar o primeiro beijo, dando um passo a mais na relação entre amigos, uma luz branca invadiu todo o ambiente, sugando os quatro fantasmas para o seu interior com força desigual, dando a sensação de que estavam sendo puxados para dentro de um aspirador de pó gigante. Os quatro começaram a gritar desesperados enquanto eram transportados por um tipo de corredor iluminado, muito parecido com os buracos de minhoca utilizados em séries como Star Trek e outras de ficção científica, parando apenas quando caíram no chão.

— Acho que quebrei alguma coisa! — Reclamou Arabella ao cair de costas em cima do Reggie.

— Com certeza foram as minhas costelas — Reclamou o menino fazendo careta com a queda.

A queda não havia sido tão dolorida como poderia ter acontecido caso estivessem vivos, mas todos os rodopios dentro daquele estranho corredor até onde o local levemente familiar que se encontravam havia os deixados zonzos. Com dificuldade para ficar em pé devido a tontura, Arabella aceitou a ajuda de Luke para sair de cima do Reggie, dando alguns tropeços antes de finalmente equilibrada.

— Peguei você! — Disse Luke quando a amiga finalmente adquiriu equilíbrio.

— Valeu! — Agradeceu a menina coçando a cabeça.

— Como voltamos para cá? — Perguntou Luke admirando o seu redor.

De repente uma garota negra utilizando óculos de armação preto, camisa amarela com um rostinho redondo sorridente e pantufas de patas monstruosas, soltou um grito estridente e assustador. Pegando os quatro fantasmas de surpresa, os quais começaram a saltitar e se abraçaram ao acompanharem os gritos assustados da garota que depois de alguns segundos deixou o lugar correndo.

— Que merda acabou de acontecer? — Perguntou Arabella soltando-se do abraço e empurrando os meninos.

— Ei, calma aí. Parece que viu um fantasma. — Eles escutaram o pai da garota falar do lado de fora da casa.

— E eu vi! — Disse a menina para o homem.

— Bom, isso confirma que morremos! — Disse Arabella gesticulando emburrada. — Não acredito que morri por causa de vocês.

— Nossa causa? — Perguntou Luke olhando nervoso para Ella.

— Eu estava de dieta. Se eu tivesse seguido a dieta ainda estaria viva — Rebateu a menina irritada.

— Desde quando você segue alguma dieta? — Perguntou Alex franzindo o cenho.

— Verdade, nem quando você foi obrigada a seguir uma depois de retirar pedra na vesícula você seguiu a dieta — Disse Luke mantendo-se firme na ideia de que a morte da menina não foi sua culpa, ou dos outros dois melhores amigos.

— Cale a boca! — Ordenou Arabella atravessando o piano com expressões desgostosas na face e dando as costas para o trio. — Não quero falar com vocês.

— Quer um abraço? — Perguntou Reggie abrindo os braços na direção da Arabella.

— Vai a merda, Reginald! — Gritou Arabella inclinando o corpo para frente e levando ambas as mãos até a testa.

— Mas... — Reggie começou a falar, porém Luke colocou a mão sobre o ombro do menino e balançou a cabeça negativamente, impedindo de prosseguir com qualquer tipo de frase.

— Eu vou falar com ela! — Disse Alex sorrindo sem humor. Diferente da melhor amiga, o rapaz não atravessou o piano, mas se teletransportou na frente dela — Uau!

— Ah! — Gritou Arabella levando um pequeno susto, mas logo voltou as expressões carrancudas — Belo truque!

— Como você está? — Perguntou Alex sentando ao lado da melhor amiga no banco do piano e acariciando suas costas com ternura.

— Morta, Alex! EU TÔ MORTA! — Ela levantou da onde estava sentada, gesticulando com ambas as mãos — Você espera que eu esteja bem? Eu sou a porra de um gasparzinho.

— Eu gosto do Gasparzinho! — Disse Reggie tentando fazê-la ficar um pouco alegre.

— Não estou falando com você! — Ela estendeu a mão na direção do rapaz, deixando o dedo em riste enquanto mantinha o olhar sobre Alex — Eu MORRI por causa de um cachorro-quente. Nós MORREMOS por causa de um cachorro-quente! Tem morte mais idiota que isso? — Ella olhou para Reggie, o qual estava prestes a abrir a boca novamente — Foi uma pergunta retórica.

Utilizando do truque de teletransporte que o Alex mostrou ser possível fazer, Arabella deixou a sala e foi ao banheiro na intenção de ter um pouco de privacidade. Ela precisava colocar seus pensamentos em ordem, compreender exatamente tudo o que estava acontecendo além do fato de estar morta. Era visível de que nenhum dos quatro haviam ido ao Paraíso, por algum motivo eles estavam presos juntos na Terra, o que Arabella considerava muito injusto. Por mais que fossem roqueiros e tivessem sua fase de rebeldia, nenhum deles havia cometido maldades ao longo da vida terrena.

— Você está bem? — Dessa vez Luke foi o responsável por tirar Ella dos seus devaneios.

— Você está? — Rebateu a menina com outra pergunta, olhando pesarosa na direção do melhor amigo — Isso é injusto, Luke! Eu devia estar no Céu, eu li a bíblia, fui a catequese, fui bondosa com as pessoas, fiz caridade porque eu quis. E não venha falar que "Deus escreve certos por linhas tortas"...

— Não entro nesse assunto — Disse Luke erguendo as mãos em rendição — Mas, Ella, você não está sozinha. E não vamos te deixar na mão.

— Eu sei! — Assentiu a menina suspirando — Mas não é certo, não é!

— Hum, gente! A menina voltou — Disse Reggie colocando a cabeça para dentro do banheiro, ele e Alex estavam parados do lado de fora, esperando Arabella sair do seu momento de crise.

— Vamos falar com ela! — Disse Luke apertando o ombro da melhor amiga e gesticulando para os outros dois amigos o seguirem.

— Eu sei que vi algo. Não estou maluca. — Disse a menina relaxando os braços, era visível que estava segurando algo nas mãos.

— Todo mundo é meio maluco. — Disse Luke ao aparecer com os outros três membros da banda atrás da menina. A qual voltou a gritar desesperada enquanto estendia uma cruz na direção dos quatro.

— Para de gritar! Por favor. — Pediu Alex dando um passo para trás como os outros meninos.

Diferente dos amigos, Arabella manteve sua posição inicial. Por mais que estivesse confusa e abalada, queria passar uma imagem confiante e, ao mesmo tempo, intimidante para a adolescente. Seus braços estavam cruzados na frente do corpo e as expressões fechadas, porém com um leve toque de sarcasmo.

— Quem são vocês? O que fazem no estúdio da minha mãe? — Perguntou a menina rapidamente e de modo firme, encarando cada um dos presentes.

— Da sua mãe? Este estúdio é nosso. Pode acreditar... — Falou Luke tentando aproximar da menina, porém ela o ameaçou com a cruz, o que fez o menino fugir do objeto religioso tomando cuidado para não ser tocado por ele, arrancando assim algumas risadas debochadas da Arabella, as quais foram encobertas por sua mão — O piano de cauda é novo e... Meu sofá! — Luke se jogou de costas no sofá — Esse com certeza não é meu violão. — Luke levantou confuso do sofá, prestando atenção aos detalhes do estúdio pela primeira vez — Pode me dar só um segundo? Só um segundinho. Obrigado! — Ele gesticulou para que os quatro se unissem no canto, ficando afastados da menina — Galera, o que está rolando? Como ela trouxe essas coisas tão rápido?

Arabella abriu a boca para dizer uma de seus teorias, mas foi interrompida por Reggie antes que pudesse começar a falar.

— Talvez seja uma bruxa. Tem cadeiras voando no teto. — Falou Reggie com ar preocupado.

— Bruxas não existem. — Disse Alex ignorando a teoria maluca do amigo.

— Será? Eu pensava que fantasmas não existiam. — Disse Reggie convicto de sua teoria.

— Ele tem um ponto — Disse Arabella tentando não soar sarcástica e arqueando as sobrancelhas. — Mas acho que não é isso.

— Tem certeza? — Perguntou Luke arqueando uma das sobrancelhas para Arabella.

— Claro que eu tenho. Ela está segurando um crucifixo, bruxas queimam — Ella mordeu o canto do lábio tentando não rir.

— Além do mais, ela está assustada — Disse Alex apoiando Arabella — Deixa alguém que sabe falar com jeitinho resolver isso.

Os três olharam na direção da Arabella, a qual voltou a ficar com expressões carrancudas.

— É claro que esse alguém seria eu — Falou a menina forçando um sorriso — Fiquem atrás de mim, bobocas! — Ela gesticulou para que os meninos dessem espaço e aproximou da menina assustada — Você, coisinha!

Quando Arabella aproximou da menina assustada sem aviso prévio, ela utilizou do crucifixo para se proteger, enfiando dentro do corpo da fantasma numa tentativa de fazê-la ir embora. Como não poderia perder a oportunidade de assustar, não só os amigos, mas também aquela estranha, Arabella gritou e curvou o corpo como se estivesse sendo queimada. Fazendo todos os outros gritarem assustados junto com ela. Rapidamente seus gritos falsos de agonia deram espaço para uma gostosa gargalhada.

— Peguei vocês! — Disse Arabella batendo palmas enquanto ria divertida.

— Isso não teve graça — Repreendeu Luke levando a mão até o peito.

— Precisam ver suas caras! — Gargalhou Arabella limpando os olhos.

— Meu Deus! como fez isso? — Perguntou a menina voltando a ficar nervosa.

— Estamos mortos, mas acho que você ainda não está sacando isso! — Disse Arabella franzindo o cenho — Nós somos três lindos fantasmas, eu principalmente, que estamos gratos por voltar para casa. Entiendes muchacha?

— Agradecemos a nova decoração, mas assumimos a partir daqui. — Disse Alex aproximando das duas meninas, porém mantendo a segurança atrás da Arabella.

— Temos uma banda, a Sunset Curve — Disse Luke também aproximando das meninas e, assim como Alex, mantendo a segurança atrás da Arabella.

— Conta para geral! — Disse Reggie fazendo o mesmo que os outros meninos.

— Ontem teria sido uma noite importante que mudaria nossas vidas... — Começou Luke, mas foi interrompido por Arabella.

— Bem, ela mudou de um modo literal — Disse a garota mexendo o nariz ao fazer careta.

— Estão me apavorando. — A menina retirou de dentro do bolso um tipo de aparelho eletrônico esquisito que eles nunca haviam visto na vida.

— O que é esse negócio aí? — Perguntou Arabella confusa tentando ver como a menina mexia no aparelho retirado do bolso. — O que está fazendo?

— É o meu celular — Disse a menina dando um passo para trás.

— Mentira, celulares não são assim — Falou Arabella cruzando os braços na frente do corpo. — Posso ver o que você está fazendo?

— Claro que são — Ela mostrou o aparelho para Arabella, porém puxou de volta para trás — Para de falar com eles. Eles não existem. Não existe fantasmas gatos e, muito menos, uma tão descolada.

— Nos achou gatos? — Perguntou Reggie arqueando uma das sobrancelhas e ficando convencido.

— Own, ela me achou descolada! — Disse Arabella levando a mão até o peito e fazendo beicinho.

— Está ligando para quem? — Perguntou Alex após a menina lançar um olhar de desaprovação para os comentários de Reggie e Arabella.

— Estou googlando Sunset Swerve — Respondeu a menina sem tirar os olhos do telefone.

— Sunset Curve! — Corrigiram os quatro ao mesmo tempo.

— Existe uma Sunset Curve! — Disse a adolescente voltando a olhar para o quarteto — Vocês morreram mesmo. Mas não ontem à noite.

— Há quanto tempo isso aconteceu? — Perguntou Arabella aproximando da menina e olhando a data da trágica notícia da matéria — Há vinte e cinco anos? — Perguntou a menina ao fazer a conta depois de checar a data atual no telefone da adolescente — VINTE E CINCO ANOS!

— Quê? Não, impossível! — Disse Reggie descrente. — Após sair da ambulância só fomos para aquela sala escura que o Alex chorou.

— Bem, eu acho que... Acho que todos estávamos tristes — Disse Alex tentando não mostrar vulnerabilidade.

— Eu passei vinte e cinco anos abraçada com o Reggie. — Sussurrou Arabella afastando dos amigos com a mão na cabeça — Eu passei vinte e cinco anos abraçada com o Reggie.

— Os melhores vinte e cinco anos da minha vida — Falou Reggie sorrindo abobalhado ao notar esse detalhe.

— Não! Isso não pode ter acontecido... — Disse Arabella aproximando raivosa da adolescente — Veja de novo, isso está errado. Não posso ter passado vinte e cinco anos abraçada com o Reggie. Só ficamos lá, o que? Uma hora?

— Mais ou menos isso — Assentiu Luke rapidamente ao notar o olhar furioso da Arabella em sua direção. — E depois viemos parar aqui.

— Só estou falando o que vi no meu celular — Disse a menina parecendo um pouco mais calma, porém ainda assim assustada. Ela estendeu o celular na direção dos rapazes, mostrando a tela do aparelho — Viu? Morreram em 1995, quando tinham dezessete anos. Estamos em 2020.

— Então o futuro é assim? — Perguntou Reggie chateado.

— Não quero o futuro, quero o passado — Reclamou Arabella voltando a perambular pelo estúdio.

— Espera. Então já se passaram vinte e cinco anos... — Disse Alex começando a compreender o que estava acontecendo — Eu passei vinte e cinco anos chorando? Como é possível?

— Você é muito sensível — Disse Reggie tentando acalmar o melhor amigo.

— Eu não sou nada. — Repreendeu Alex fazendo cara de choro novamente.

— A Arabella também chorou — Disse Luke tentando amenizar as coisas para o lado do Alex.

— Talvez só por uns dez anos — Falou Arabella coçando a nuca.

— Mas passou vinte e cinco anos abraçadinha comigo — Reggie apontou com os polegares para o peito.

— Cala a boca! — Ordenou Arabella gesticulando irritada por ele lembrar desse fato.

— Não estava com medo de vir para cá? — Perguntou um rapaz de, aparentemente, onze anos de idade. Ele ingressou confiante dentro do estúdio e ignorando a presença das quatro entidades fantasmagóricas — Está de papo com seu amigo fantasma? Ele é muito feio?

— Ele viu você — Disse Alex provocando Reggie e fazendo Arabella soltar um riso fraco.

— Ele não viu nada. — Falou a menina.

— Que? — Perguntou o garoto após olhar ao redor quando a menina agiu estranho.

— O que você quer? — Perguntou a adolescente ao menor.

— Uma irmã normal, pra começar — Disse o menino — Para de ser estranha e vem jantar.

O rapazinho deu as costas para a irmã mais velha e os quatro fantasmas, deixando o estúdio sem fazer a mínima ideia de que os falecidos membros da Sunset Curve estavam no local.

— Ele não viu vocês. — Disse a adolescente descrente do que havia acabado de acontecer.

— Geralmente é assim que funciona com fantasmas — Disse Alex olhando para Luke e Arabella, a qual curvou os lábios e assentiu. Assim como Reggie comentou sobre a existência de bruxas, ele também tinha um ponto.

— Argh! — Resmungou a menina andando em direção a saída — Sinto muito sobre o que houve com vocês, mas o estúdio já tem outro dono. Precisam ir embora.

— Mas espera... — Disse Luke antes que a menina voltasse para dentro da casa. — Não disse o seu nome.

— É Julie. — Se apresentou a garota estando tão irritada quanto Arabella.

— Maneiro. Eu sou o Luke... — Apresentou o líder da banda sorrindo simpático numa tentativa de não ser expulso do local. — Aliás esse é o...

— Sou o Reggie! — Apresentou o Reggie. — Oi.

— Esse é o... — Falou Luke dando a deixa.

— Alex! — Acenou o menino timidamente. — Tudo certinho?

— E ela...

— Arabella — Falou a garota com um aceno de cabeça, Reggie começou a abrir a boca para chamá-la de Mussarela, mas antes que fizesse isso foi interrompido pela jovem fantasma. — Me chama de mussarela e eu arrebento os dentes que tem na boca.

— Tadan... — Cantarolou Luke após apresentar os membros.

— O que acha? — Perguntou Julie baixando a cruz que havia erguido na direção do Luke quando o mesmo tentou dar um aperto de mão. Ela deu com os ombros e deixou o estúdio com passos pesados.

— A Julie parece bacana — Disse Reggie simpático após a menina se afastar.

— Não sei se notou, mas ela acabou de expulsar a gente — Falou Arabella se teletransportando para o sofá, caindo de costas sobre ele e colocando as mãos na frente do peito — Como eu pensei, você nunca presta atenção.

— Calma! — Disse Luke gesticulando para ela amenizar o tom de voz — Estamos todos no mesmo barco, Ella.

— Você não quis dizer caixão? — Perguntou Arabella dando um sorriso de escárnio. — Não acredito que perdi vinte e cinco anos da minha vida, ou melhor, perdi minha vida toda. Meus avós, a Oni... Como será que a Oni está?

— Deve ter ficado bonita — Disse Luke sorrindo gentilmente numa tentativa de consolar Arabella. — Podemos tentar procurar por ela amanhã.

— Se ela ainda estiver aqui — Arabella balançou a cabeça negativamente e levantou do sofá — Eu preciso ficar sozinha! Não me sigam dessa vez.

Com os pensamentos a mil, Arabella deu as costas para os meninos e desapareceu. Ela precisava de um tempo para organizar todos os eventos que aconteceram, para compreender sua nova condição de vida e, principalmente, chorar. Ela tinha de passar por todas as fases do luto antes de fazer qualquer coisa com os melhores amigos, caso contrário eles teriam de aguentar suas grosserias pelo resto da eternidade. Por não ter a intenção de ir muito longe e deixar os três preocupados, só existia um local da casa onde conseguiria um pouco de paz, o telhado.

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