15 | Inevitável

"E agora estou fechando todas as portas porque estou cansado de querer mais.
Você é bom para mim ."

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Merliah

FOI DIFÍCIL CONSEGUIR DORMIR.  Jacob obviamente não teve o mesmo problema que eu, simplesmente se enrolou na coberta ao meu lado e em questão de segundos voltou a cochilar. Eu invejava essa capacidade dele de relaxar em qualquer momento e qualquer situação. Eu não consegui.

Observei o ponteiro do meu relógio de cabeceira se mover, meu estômago se revirando a cada segundo numa ansiedade que consumia meus pensamentos. Só conseguia ver Seth, de todos os ângulos e maneiras e em todos os cenários imagináveis. Imaginei ele gritando comigo, ele chorando, ele me beijando, nós selando um acordo de paz.

Não sei qual realidade iria acontecer.

Me perdi em meus pensamentos e consegui cochilar um pouco mesmo com o sol fraco invadindo completamente o quarto. Dormi três horas e quando acordei ao meio dia Jacob não estava mais ao meu lado.

— Onde está o Jake? — pergunto ao meu pai assim que boto meus pés na sala.

Ele estava lá com o senhor Uley, os dois comiam peixe — felizmente cozido e não frito — enquanto assistiam jogo.

— Foi no aeroporto com os garotos tem algum tempo — responde.

Me forço a sorrir para os dois antes de seguir em direção ao lado de fora. Eu amava a capacidade do Jacob de me excluir de qualquer assunto que ele julgava necessário, eu estava preocupada poxa, será que não podia ter pelo menos me avisado quando estava prestes a sair?

Minha ira me faz marchar para a casa dos Clearwater mas quanto mais eu me aproximava mais eu hesitava.

Talvez Jake não tenha me acordado porque Seth não quer me ver, ele deve ter falado alguma coisa e meu irmão julgou ser melhor assim, só pode ser isso. Tento me obrigar a voltar pra casa e falar com o Seth outro dia mas não dá certo.

Estou muito perto para desistir e bom, não faz tanto mal assim se humilhar um pouco.

Me aproximo da casa e coloco minha cabeça no vão da porta que por sinal estava completamente aberta.

— Olá Lia! — diz Sue, saindo de trás da bancada da cozinha.

Sorrio pra ela, olhando em volta e percebendo que ela estava sozinha.

— Oi Sue. Você... Você sabe quando o Seth chega? — pergunto, me censurando por gaguejar.

— Já está quase em Port Angeles, logo logo deve estar em casa.

Assinto.

— Ah, tudo bem.

Sue pega a bolsa que estava em cima da mesa e coloca em seu ombro.

— Vou ir no mercado comprar algumas coisas, quero fazer uma comida decente, Deus sabe o que um bando de garotos comem quando nenhum deles sabe cozinhar.

— Pensei que Seth soubesse.

— Ele sabe mas é preguiçoso demais pra isso — diz, revirando os olhos e então passa por mim. — Alex está no banho e Charlie só chega mais tarde então se quiser pode esperar.

— Obrigada.

Ela sorri pra mim.

— De nada querida.

Nem ao menos tenho tempo de me sentar, ouço a porta do banheiro se abrir e um vulto se aproximar de mim.

Era Alex com sua rapidez invejável.

Seus cabelos escuros estavam molhados e ela vestia um vestido vermelho de manga comprida e botas, estava tão bonita que me deixava envergonhada por ter saído de jeans e moletom. Ela ergue uma sobrancelha na minha direção, seus olhos dourados cintilam assim como seus dentes quando ela sorri pra mim.

— Olá humana, bom ver que ainda está viva — diz, parecendo estar com bom humor.

— Não graças à você — rebato.

Ela faz careta.

— Essa doeu.

Sorrimos uma pra outra, um gesto cúmplice que me deixou satisfeita. Alex e eu parecíamos estar criando um tipo de vínculo.

— Achei que nunca mais fosse voltar, sua perseguição foi demorada — continuo, dando de ombros e me sentando no braço do pequeno sofá.

— Nem eu achei que voltaria na verdade.

— E você pode me contar o que aconteceu? — pergunto, a curiosidade me dominando.

Nenhum lobo me contaria nada se eu perguntasse e meu pai parecia estar mais no escuro do que eu.

— Considerando que seu irmão ainda está irado por eu ter deixado você sozinha e nos colocado nessa enrascada provavelmente seria melhor que eu ficasse em silêncio. Mas como não dou a mínima pro seu irmão e adoro uma fofoca vou te contar sim.

Sorrio.

— Sou toda ouvidos.

— Naquela noite segui o rastro de Ellijah até um apartamento no subúrbio, tinha outro vampiro lá com ele — Alex começa. — O rastro do desconhecido ficou num vai e vem insuportável por dias, ele ia pra perto daqui, se afastava, ia pra outro lugar, voltava. Tudo isso com certeza pra me confundir.

"Anteontem eles se reuniram em um grupo de seis, passaram perto de Forks mas depois começaram a se afastar em direção à Califórnia. Eu me preocupei, é claro. Perdi o rastro deles quando todos entraram num rio.
Sem saber o que fazer achei melhor voltar pra casa e trazer os garotos também. Juntos podemos cuidar de tudo mas se nos atacarem separados a coisa pode ficar bem ruim."

Um suspiro sai de minha boca, o peso da preocupação atinge meus ombros.

— Isso é tudo minha culpa né?

— Eu adoraria dizer que sim mas Isabel está atrás de mim desde que Leah teve o imprinting. Eu não gostava muito daquele grupo então foi bem fácil ignora-los para dar minha atenção a garota bonita que magicamente estava apaixonada por mim.

— E o que aconteceu depois?

— Eles sumiram mas no último mês andei sentindo o cheiro deles por perto de novo. Tentei ficar o máximo de tempo com a Leah com medo de que algo acontecesse com ela mas ambas sabemos como ela é teimosa.

— Mas por que estão atrás de você?

— Porque minha ajuda é importante, porque não querem que eu seja feliz, porque Isabel adora torturar e amedrontar a todos — ela pontua, dando um sorriso sombrio. — É isso que ela faz. Ser uma vampira velha levou ela a adquirir métodos de diversão um tanto cruéis.

Uma vampira com centenas de anos com prazer em fazer os outros sofrerem, perfeito. O que mais eu poderia querer para agitar a minha vida? Com certeza um imprinting não foi o suficiente!

— E o que isso tudo quer dizer? — pergunto fazendo essa conversa mais parecer um questionário.

— Quer dizer que agora nós somos sua fonte de diversão e ela vai brincar com a gente até se satisfazer. Quando Seth matou Ellijah ativou a ira dela, acabar com a gente seria muito fácil, ela vai nos torturar. Por isso precisamos ficar juntos.

Somente a encaro, sem nada a dizer. Não conseguia tirar da minha cabeça a sensação de culpa, queria me socar até eu aprender a ser menos idiota. Pelos Deuses, como eu consegui estragar tanta coisa em tão pouco tempo?

— Agora vou pegar minhas coisas e trazer tudo pra cá, parece que estou de quarentena com os Clearwater até tudo isso passar — diz Alex, indo em direção à porta.

— Não que você fizesse muita coisa antes — provoco.

Ela sorri.

— É, não que eu fizesse muita coisa.

— Obrigada Alex, de verdade, e eu sinto muito por ter piorado as coisas — sou sincera.

— Todos nós temos uma parcela de culpa mas foi mesmo uma tragédia eu não perceber que Ellijah estava atrás de nós.

— Eu sinto muito — insisto.

Alex balança a cabeça, descartando meu pedido de desculpas.

— Por favor vê se trata o Seth direito, Leah está com vontade de arrancar sua cabeça.

Dou risada.

— Eu prometo.


Estava sentada na varanda dos Clearwater quando o carro de Leah estaciona no jardim. Era fim de tarde, quase noite e não havia muita luz para iluminar o local mas eu sabia que a forma alta que saiu do banco do carona era Seth.

Eu poderia reconhecê-lo mesmo de olho fechado.

Foi torturante esperar os dois chegarem enquanto Sue e Alex conversavam animadamente e Charlie mordiscava um enorme sanduíche. Obviamente eu não havia conseguido comer, a ansiedade de vê-lo não havia me deixado e agora ela parecia acabar comigo.

Sue desce as escadas correndo para abraçar Seth que até o momento não tinha lançado nenhum olhar em minha direção. Observo a cena sem me mexer, me sentindo um pouco paralisada pelo nervosismo.

Alex beija Leah com tanto afeto que derrete meu coração, elas entrelaçam os dedos e sussurram no ouvido uma da outra, tudo isso enquanto Seth era esmagado por uma surra de beijos vindos de sua mãe.

Charlie acena pela varanda e Seth retribui. Ele fala alguma coisa para sua mãe que faz com que ela se vire em minha direção, em questão de segundos Alex e Sue voltam pra dentro de casa e Leah desaparece pela floresta. Charlie me lança um olhar amigável antes de entrar.

Finalmente Seth se dá ao trabalho de olhar em meu olho e caminha em minha direção.

— Oi — eu digo, assim que ele para na minha frente.

— Oi — responde, a voz soando indiferente.

Percebo que seu rosto estava um pouco vermelho e a pele mais bronzeada, provavelmente resultado dos dias na Califórnia. Seu cheiro invade meu nariz me fazendo ter vontade de chorar, queria pular em cima dele e não soltar nunca mais.

— Seth eu realmente espero que a gente possa se resolver — começo mas antes que eu possa continuar ele pergunta:

— Por que?

— Você é importante, não consegue ver isso?

Ele dá um sorriso sem humor e revira os olhos.

— Acho que quem não conseguia ver era você.

Tudo bem, essa eu mereci.

— Eu fui idiota e me odeio pelo que falei com você. Menti pra mim mesma, eu sabia muito bem o que sentia por você quando te mandei ir embora.

Ele dá de ombros e começa a andar em direção à floresta.

— Mas me magoou mesmo assim — murmura.

Me apresso em ir atrás dele, com medo de que ele virasse um lobo e então sumisse. Não podia mais adiar essa conversa, eu morreria caso tivesse que esperar mais.

— Não soube lidar com o que senti e então culpei você.

Alguma coisa em sua cabeça o faz parar de andar. Os segundos passam devagar conforme eu esperava alguma reação.

— O que mudou? — ele pergunta, se virando pra mim e dando um passo em minha direção.

Seus olhos pequenos me encaram enquanto seu peito subia e descia numa rapidez incomum.

— Como assim?

— O que mudou daquele dia pra hoje? — repete, trincando os dentes.

Eu sabia que ele estava falando do dia em que briguei com o James e falei pra ele coisas que não devia.
Abro minha boca mas não sai barulho nenhum. Respiro profundamente duas vezes antes de me obrigar a falar. Não ia ficar calada dessa vez.

— Percebi que não posso ficar longe de você e nem quero — respondo.

Era verdade, cada palavra disso era verdade. É estranho como a um mês atrás eu me sentia completamente diferente, estranho como uma pessoa podia mudar tanto em tão pouco tempo. Mas era real.

Seth assente mais para si mesmo do que para mim e então sua expressão fica mais dura. Ele cruza os braços em frente o corpo.

— Não sou tapa buraco, eu vi como seus olhos brilharam no festival.

— No... festival? — indago, com a voz falha e um pouco mais baixa do que deveria.

Será que mais alguém havia percebido o meu estado no festival? Não pude evitar, tudo em volta me cheirava a mágica e eu me sentia encantada por cada detalhe daquela noite.

— Você descreveu tudo o que queria fazer com James com tanta paixão, tanto carinho. Só de pensar nele sua expressão ganhou vida.

Ah, mas não acredito que Seth estava preocupado com isso! Inevitavelmente dou risada, é claro que ele pensaria isso mas era engraçado o fato de sua teoria estar tão longe da realidade.

Seth dá de ombros, sua expressão ganhando uma ira incomum por eu estar rindo dele. Mas ora, era inevitável!

— Não sabia que tinha me chamado pra vir aqui só pra rir de mim — ele diz, entredentes.

Ergo as mãos descartando essa opção mas ele não me dá ouvidos e retorna a andar.

Retorno a correr para impedi-lo.

— Não, não é isso, espera! — exclamo, me enfiando na frente dele e o segurando pelo ombro. Seth olha para a minha mão em sua pele quente e isso me envergonha, me afasto imediatamente. — Eu estava pensando em você.

Sua expressão não muda.

— Eu estava pensando em você — repito, abaixando os olhos por estar admitindo aquilo em voz alta. — Quando estava descrevendo aquelas coisas eu só conseguia me imaginar fazendo aquilo com você. Chegou a ser estúpido o quanto fiquei feliz por James ter ido cedo pra casa e me dado a oportunidade de dançar com você.

Assim que James chegou e Seth se afastou de mim eu senti um sentimento estranho, quando dancei com meu ex namorado parecia que aquele não era o meu lugar. Toda minha empolgação se esvaiu, não tinha nem energia para manter uma conversa interessante, secretamente estava desejando que a noite acabasse.

Claro, fiquei vigiando o Seth a distância por mais tempo do que deveria e não posso deixar de admitir que me sinto aliviada por ele não ter percebido.

Quando dancei com Seth foi certo, quando ele riu e me rodou na chuva também. Meus dedos imploraram para toca-lo, meus lábios queimaram para beija-lo e isso me perturbou. Me envergonhou.

Seth franze o cenho.

— Você não está dizendo isso só p...

— Sabe o que eu senti? — o interrompo. — Me senti bem, satisfeita por ele ter ido pra casa! Não entendi por que havia insistido tanto para que ele fosse sendo que ele tinha outras coisas pra fazer. Você estava lá e queria estar lá, era o suficiente pra mim.

— Você me magoou — é o que ele diz.

— Eu sei e eu sinto muito por isso.

Ele respira profundamente e passa a mão nos cabelos que estavam soltos em seu ombro.

— Não é justo porque eu não consigo ficar longe de você.

— Não quero que fique longe de mim — repito, no momento sentia que poderia dizer isso quantas vezes ele quisesse ouvir. — Dizer aquilo foi um erro, foi sem pensar. Eu culpei você pelo que aconteceu sendo que a culpa foi minha, eu traí e eu desejei algo que eu não devia desejar. Gritei com você, culpei você por me fazer sentir essa maldita cambalhota que eu sinto toda vez que te vejo mas não é sua culpa. É só inevitável.

— Lia, eu...

— Olha pra você — continuo, precisava falar tudo que estava entalado dentro de mim por toda essa semana. — Você sempre foi a luz em pessoa, iluminava cada ambiente em que estava desde que éramos crianças. Você se empolga na hora de falar sobre um assunto que gosta, sorri mesmo quando está desconfortável e apesar de ser um pouco egocêntrico não chega a ser irritante. Você é engraçado sem ser malvado. Eu amei você quando éramos crianças e sei que posso amar agora.

Ele não sai da defensiva.

— Não quero que fique comigo só porque está com medo de ficar sozinha. Não quero ser sua segunda opção.

Sorrio, não seria um problema pra mim mostrar o quanto eu queria ficar com ele. Como imprinting ele sempre se dedicaria a mim, nada mais justo do que fazer o mesmo por ele.

— Eu posso esperar — garanto.

Seth ergue uma sobrancelha.

— Não vai embora no fim do verão?

— Essa uma semana me fez perceber que não tem a mínima chance de eu conseguir ser feliz do outro lado do país.

— Mas e a faculdade?

— Não quero ser engenheira, quero pintar e quero ficar na reserva. Você estando comigo ou não isso não vai mudar.

Ele assente. Alguma coisa em seu semblante parece mais fresca, seus ombros se relaxam.

— Vamos ver os Cullen daqui a pouco, resolver algumas coisas sobre toda essa confusão e trocar umas informações. Espero que não se importe de ficar com a Alex.

Pelo visto ela não era a única de quarentena na casa dos Clearwater. A parte boa é que Sue gosta de falar.

— Não me importo — respondo.

Ele assente.

— Tudo bem, quando eu voltar a gente conversa mais um pouco então.

Ele estava prestes a dar meia volta quando minha boca se abre e o chama, antes mesmo que eu perceba:

— Hm, Seth?

— Oi.

Seus olhos pequenos e escuros me encaram, o cabelo em seus ombros estava solto o deixando ainda mais lindo. Tudo nele me fazia querer toca-lo, não havia nada que eu pudesse querer mais nesse momento do que isso, todo o meu corpo tremia de desejo.

Então eu cedo.

Dou dois passos rápidos em sua direção e selo nossos lábios, emocionalmente preparada para a rejeição caso ele bem quisesse mas isso não acontece. Suas mãos firmam meu corpo rente ao seu, apertando minha cintura com força e me fazendo perder totalmente o ar. Minha mão se apoia em seu peitoral quente, sentindo seu coração bater firme, inclino meus pés pra cima tentando aumentar o contato.

Me perco em seus lábios, seu cheiro, seu calor. Torcendo para que nos fundíssemos em um só, para que esse momento nunca acabasse. Infelizmente ele se afasta cedo demais, me olhando com seus olhos brilhantes pela luz do anoitecer.

— Eu só precis... — tento me explicar mas ele me beija de novo.

Me aproveito da sua boca, do gosto da sua língua, da suavidade com que ele me toca. Arrepios percorrem meu corpo quando sua mão desce pelo meu quadril e aperta um lado da minha bunda, me erguendo um pouco do chão.

Quando ele se afasta de novo tenho a impressão de que perdi meu pulmão em algum lugar e que meu coração definitivamente estava com ele.

— Eu também — ele diz e abre o maior sorriso do mundo.

Antes que pudesse me recuperar ou dizer mais alguma coisa ele corre em direção à mata, me deixando completamente sozinha.

Ando em de volta para casa me sentindo em paz. O tipo de paz que não sentia a muito tempo.

A paz que somente Seth Clearwater poderia proporcionar.





"Juro que sou diferente do que era antes.
Eu não vou mais te machucar.
Porque você é bom pra mim."

Música: You Were Good To Me - Jeremy Zucker ft. Chelsea Cutler.

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