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Dezembro
Terminei de arrumar minha mala e sorri satisfeita, estava tudo bonitinho. Era véspera de ano novo, uma data que sempre gostei muito, naquele ano as meninas e eu iríamos para a casa de Pepe em Hamptons, ele iria dar uma festa lá para mais pessoas.
Sabi já estava em Hamptons com o namorado desde o dia anterior, eu iria com Sina e Noah. Até onde eu sabia o sócio de Pepe, meu chefe, não estaria, ele deveria passar a data com o irmão dele na Europa, ou algo assim, surpreendentemente o Gonzalez não deu muitos detalhes.
Tirei minha mala de cima da cama, nós ficaríamos na casa de Pepe até o dia dois e precisávamos levar roupas o suficiente para aquele tempo. Fora que tínhamos de carregar apetrechos para nos arrumarmos decentemente para a festa daquela noite.
Meu celular, que estava ali sobre a cama também, vibrou. Eu o peguei e atendi minha mãe, ela tinha voltado para Phoenix há dois dias, depois de passarmos o Natal juntas em New York, ela passaria a véspera de ano novo com amigas na cidade do Arizona.
Priscila: Any Gabrielly, o que deu em você?
- O que foi, mãe? - Perguntei confusa.
Priscila: Como você fala pro seu tio que ele é chato, mas que ainda mantém contato com ele por conta dos presentes.
- O quê? - Gritei. - Nunca falei isso pro tio Paul, mãe.
Priscila: Falou sim, Paul me mandou um print da mensagem que você acabou de enviar para ele, dando parabéns e dizendo isso.
- Tá doida, mãe? Claro que não, eu nem dei os parabéns para tio Paul ainda.
Priscila: Deu sim, olha aí no seu celular. - Teimou. - E depois dá seu jeito de pedir desculpas, Paul está muito magoado.
- Olha, eu não falei nada, isso é loucura, não tenho porque pedir desculpas.
Priscila: Gabrielly...
- Mãe, vou viajar daqui a pouco, depois a gente se fala, tá?
Não esperei ela responder, fui logo desligando e por curiosidade abri o aplicativo de mensagens, procurando pela conversa com tio Paul vendo que eu tinha mesmo enviado uma mensagem para o homem. Minha pressão caiu, coloquei uma mão no peito e sentei na cama, eu tinha dito para ele exatamente o que mamãe falou.
- Não, não, não. - Murmurei.
Como aquilo tinha acontecido? Eu não tinha enviado aquela mensagem
Sina: Any. - Entrou no meu quarto. - O que foi? - Perguntou. - Você está pálida.
- E-Eu. - Gaguejei, sem saber o que falar, muito menos entender o que tinha rolado ali.
Sina: Ah, Sabina já te falou que vamos dar carona para o Josh?
Arregalei os olhos e mais uma vez gritei:
- O quê?
Sina: Josh decidiu ir para Hamptons. - Contou. - Mas o carro dele está com um problema, sei lá. - Deu de ombros.- E aí a Sabina sugeriu que ele fosse com a gente, Noah já foi pegar ele e estão vindo para cá. Podemos ir descendo logo com as malas.
Josh iria para Hamptons? No mesmo carro que eu? Meu Deus!
O celular de Sina, na mão dela, tocou, informando que minha amiga tinha recebido uma mensagem.
Sina: Você quebrou minha chapinha em agosto? - Ela perguntou em choque.
- Como você descobriu? - Perguntei espantada, aquele era um segredo, eu não devia ter pego a chapinha dela sem pedir, Sina tinha regras rígidas sobre isso.
Sina: Você contou! - Virou seu celular para mim, de onde estava eu não podia ler nada.- Me mandou uma mensagem confessando, como digitou isso agora se nem mexeu no seu celular? Agendou uma mensagem confessando seu crime? Todos esses meses eu fiquei achando que tinha feito alguma merda na chapinha, mas foi você, sua traidora de uma chapinha nova. - Acusou. - Vai me dar o dinheiro.
- Sina, eu agendei uma mensagem comprometedora pro tio Paul também. - Sussurrei, ela riu.
Sina: O que você disse?
- Que eu achava ele chato com o lance dos cavalos, mas que ainda mantinha contato porque ganhava bons presentes dele.
Sina: Quando você agendou essas mensagens? - Quis saber curiosa.
- Não faço ideia.
Voltei a mexer em meu celular, vendo que eu tinha recebido um milhão de mensagens do meu ex. Andrew estava furioso, aparentemente eu tinha enviado uma mensagem para ele também, confessando que queria ter ficado com seu amigo Nikolas.
- Puta merda, falei sobre Nikolas para Andrew. - Sussurrei, Sina se aproximou.
Sina: Gabrielly, para quem mais você mandou mensagens desse tipo?
- Não faço ideia, muito menos de quando foi.
Então, Sabina me ligou. Eu coloquei no viva-voz.
Sabi: A minha mãe tá de rolo com o vizinho? - Ela gritou. - Qual vizinho, Any? Por que você não me disse? Por que minha mãe não falou? Já tem tempo que meu pai morreu.
- Meu Deus, eu te mandei mensagem sobre o 4 de Julho?
Sabi: Sim, você aparentemente agendou no dia do seu aniversário, é o que está na mensagem que acabei de receber. Você não lembra de agendar isso? Qual vizinho?
- O vizinho careca.
Sabi: Ai que nojo, o careca não, ele peida muito. Pepe, minha mãe tá beijando o vizinho que peida na nossa frente! - Gritou e desligou.
Sina: Bom, agora tá explicado, você não se lembra de nada da noite do seu aniversário. - Falou.
Não lembrava mesmo, eu tinha bebido tanto. E se tivesse agendado mensagem para mais alguém? Desliguei meu celular sem querer conferir, estava apavorada.
Sina: E pode apostar que vai mesmo me dar a grana da chapinha - Relembrou. - Agora vamos descer, Noah e seu chefe já devem estar chegando.
Puta merda, eu ainda teria de viajar com Josh!
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Noah estacionou o carro na frente do prédio, ele e Josh desceram para nos ajudar com as malas. O irmão de Sabi me cumprimentou normalmente, indo logo beijar sua namorada, mas meu chefe falou comigo com desconfiança em seu olhar.
Josh: Olá, senhorita Soares.
- Oi.
Sina: Então, você é o famoso Josh! - Exclamou.
Josh: Famoso? - Perguntou confuso.
Sina: Pepe fala muito de você.- Minha amiga disse e me lançou uma piscadela. Sou Sina Deinert. - Estendeu a mão.
Josh: Joshua Beauchamp
Noah: Beleza, vamos logo. - Pegou a mala da namorada e a minha, Josh o ajudou a arrumar as malas lá dentro.
Eu fui logo entrando no banco de trás do carro, tentei puxar Sina comigo, mas ela me traiu e sentou no lugar do carona. Sendo assim, meu chefe acabou se sentando ao meu lado, Noah logo estava de volta ao seu lugar, dirigindo para deixarmos o Brooklyn.
Tirei meu casaco e luvas, colocando as roupas no espaço entre Josh e eu. Ele usava calça jeans, tênis e um suéter, nunca tinha o visto pessoalmente com roupas casuais como aquelas.
- O que aconteceu com seu carro? - Me vi perguntando.
Josh: Um idiota bateu nele ontem à noite. - Resmungou, passando a mão pela barba que estava mantendo há um mes.
- Sinto muito, logo no final do ano, que chato.
Josh: Pois é. - Ele ainda olhava para mim com desconfiança, o que me intrigava. O que tinha acontecido para isso? Eu tinha feito alguma merda no trabalho no dia anterior?
Fiquei mexendo no fecho da minha bolsa, tentando pensar em algo que pudesse ter feito de errado, quando percebi o que poderia ter acontecido. Uma mensagem agendada, para Josh, meu chefe, uma mensagem que eu não lembrava do conteúdo.
Rapidamente tirei meu celular de dentro da bolsa, liguei ele, esperei muito mais do que gostaria, mas consegui acessar minhas mensagens. Foi quando vi a que deixei agendada para Josh, que naquele momento estava de olhos fechados, com a cabeça recostada na janela.
any gabrielly: quero te beijar!
- Noah, para o carro, preciso vomitar! - Gritei sentindo a náusea, isso fez Josh olhar para mim, então para o celular em minhas mãos.
Noah: Vomitar? Como assim? Não consigo parar agora, tem muito carro...
- Eu estava bêbada! - Exclamei para Josh, balançando meu celular. - Não quero te beijar, nunca quis. - Menti.
Sina olhou para trás, mordendo o lábio inferior para não rir.
Josh: Por que me enviou essa mensagem, senhorita Soares? - Ele perguntou.
- Eu falei, estava bêbada, a mensagem não era para você. - Continuei mentindo.
Josh: Como assim bêbada? Você não parece bêbada, a mensagem chegou minutos atrás.
- Não, não. - Neguei. - Ela chegou agora, mas eu a agendei em setembro, no dia do meu aniversário. Mas não era para você, era para outro Josh.
Sina: Que outro Josh você conhece, Any? - Questionou, se divertindo muito com meu sofrimento.
- Josh não é da sua conta! - Exclamei para minha amiga, que riu da minha cara. - Josh Perry. - Falei para meu chefe, que gesticulou para o som do carro, onde tocava Firework da Katy Perry.
Josh: Perry como Katy Perry?
- Claro que não, Perry como Josh Perry, um cara que estudou comigo na faculdade. Ele é quem quero beijar, não você. E agendei a mensagem no meu aniversário, meses atrás, não estou bêbada agora às 10 da manhã, obviamente. Estamos resolvidos, né?
Guardei meu celular e fechei os olhos, ia fingir dormir pelo resto do caminho.
Noah: Eu não entendi nada. - Disse do banco da frente.
Josh: A senhorita Soares, por engano, enviou uma mensagem dizendo que queria me beijar. - Explicou.
Fechei os olhos com mais força, todos ficaram em silêncio por alguns minutos, até Sina não aguentar e começar a rir. Eu quis morrer, nunca mais agendarei mensagens.
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Sabina e Pepe já estavam sabendo de tudo quando chegamos à Hamptons, Sina também podia ser bem fofoqueira. Eu ignorei as piadinhas dos dois sobre o assunto, perguntei em qual quarto ficaria e me tranquei lá, mas não aguentei por muito tempo, ainda precisava almoçar.
Pepe tinha contratado uma equipe para organizar a festa daquela noite, isso incluía um buffet, que também tinha servido almoço na sala de jantar. Todos estavam lá quando entrei, sentei ao lado de Noah, que era o único que não tinha me zoado, Josh estava do outro lado do irmão gêmeo de Sabi.
Fiquei caladinha durante todo almoço, também enrolei para comer querendo ser a última a deixar a sala de jantar. Noah e Sabi saíram primeiro, iam ligar para a mãe deles, Pepe foi falar com o pessoal que estava organizando a festa e para meu desespero Sina disse que ia passar o vestido que usaria a noite, isso me deixou só com Josh.
Josh: Então, senhorita Soares. - Ele bebeu um pouco do vinho que Pepe serviu, eu tinha declinado e bebia só refrigerante. - Você convidou Josh Perry para festa? Lembro que Pepe deixou cada convidado trazer um acompanhante.
- Não, Josh Perry se mudou para a Espanha. - Sussurrei, desviando o olhar para meu prato, cortava ali o pedaço de salmão grelhado que comia.
Josh: Any. - Aquilo me pegou de surpresa, olhei para Josh, ele tinha usado meu nome? - Não existe nenhum Josh Perry, não é?
- Hum, estou satisfeita. - Larguei os talheres. - Com licença.
Deixei a sala de jantar rapidinho e fui para o quarto novamente, planejava ficar ali direto até o dia dois, ou até o mundo acabar. Tudo para não ter mais que cruzar com Joshua Beauchamp.
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Trancada no quarto da gigantesca casa de praia dos Gonzalez, eu lia o livro que por sorte coloquei na minha mala. Era Daisy Jones The Six, um livro maravilhoso e que narrava uma história de tempos sem celulares e o perigo de mensagens agendadas para pessoas alcoolizadas.
Estava ali lendo quando meu celular vibrou, era uma ligação de uma amiga minha que cursou direito comigo. Atendi rapidamente, fazia tempo que não falava com Joalin e estava com saudades dela.
- Oi, amiga!
Joalin: Any, oi. - Me cumprimentou animada. - Você está em New York?
- Não. - Infelizmente, já estava arrependida de ter ido para aquela viagem. - Estou em Hamptons, para uma festa que o namorado da Sabina vai dar.
Joalin: Ai que chique. - Disse. - Então, eu ainda estou no trabalho e preciso te contar algo.
Joalin trabalhava em um escritório de advocacia comandado por três mulheres, Heyoon Jeong, Hina Yoshihara e Sofya Plotnikova. O escritório delas era focado em defender mulheres, especialmente em casos de violência doméstica. Gostava muito de toda a causa delas, já tinha enviado meu currículo para lá duas vezes, mas nunca fui chamada.
- Conta, alguma fofoca?
Ok, talvez eu também fosse fofoqueira.
Joalin: Não - Respondeu e riu suavemente. - O escritório está com duas vagas abertas... - Naquele instante senti meu coração disparar. - E as chefes estão pedindo indicações para os advogados que já trabalham aqui, eu indiquei seu nome.
- Ai meu Deus. - Murmurei.
Joalin: Heyoon Jeong amou o seu currículo, vão te mandar um convite formal para entrevista semana que vem, mas ela disse que eu já podia te antecipar isso para você ir se preparando.
- Joalin! - Gritei.
Joalin: Fiz mal?
- Claro que não, você não fez nada mal, sabe que já tentei trabalhar ai antes. Caramba, não acredito que isso está acontecendo, ai mas eu gosto tanto do escritório que estou agora. - Comecei a divagar.
Joalin: Você ainda vai ter tempo para pensar e precisa se sair bem na entrevista. - Lembrou. - E já ouvi falar muito bem do escritório que você está, mas garanto que aqui é mais divertido, tem eu! - Disse animada, me fazendo rir.
- Seria tão legal trabalhar com você. Jojo, muito obrigada por me indicar, isso foi incrível.
Joalin: Não precisa agradecer, somos amigas. - Afirmou. - E agora preciso voltar ao trabalho, vamos ficar aqui até mais tarde hoje, temos um caso grande semana que vem. Feliz ano novo, tá? Qualquer coisa me manda mensagem.
- Pode deixar. Feliz ano novo pra você também, amiga.
Finalizamos a ligação e eu mandei mensagens para Sina e Sabina, que logo surgiram no quarto.
Sina: O que rolou? - Ela tinha uma máscara dourada de hidratação no rosto, Sabi estava com seus cabelos presos em grampos.
- Já estão se arrumando?
Sabi/Sina: Claro. - Responderam juntas. - O que rolou? - Repetiu sua pergunta. - É sobre seu chefe gostoso que recebeu a mensagem agendada confessando sua paixão?
Sabina riu, eu revirei meus olhos.
- Não é sobre esse assunto. - Sentei na cama, elas me acompanharam. - Mas envolve Josh, como meu chefe.
Sabi: Conta logo, para de enrolar. - Exigiu.
- Eu vou fazer uma entrevista para aquele escritório em que a Joalin trabalha, abriram duas vagas e ela me indicou, aparentemente uma das advogadas sócias adorou meu currículo. E se gostarem mesmo de mim? Não quero virar as costas para o Pepe. - Gesticulei para Sabi, ela logo balançou a cabeça em uma negativa.
Sabi: Relaxa, Any. - Mandou. - Pepe é tão de boa. - Completou. - Ele vai entender se você quiser deixar o escritório e ir para outro.
Sina: E o Josh? Você está pronta para não ver mais seu chefe gostosão quase todos os dias? - Indagou, e eu bufei, mas fiquei imaginando que seria chato pra' caralho não conviver mais com o Beauchamp. Não apenas por ser gostoso e bonito, mas porque realmente gostava de trabalhar com ele e trabalhando em outro escritório era possível que em algum momento até acabássemos em lados opostos de um caso. - Sabi tá namorando o Pepe há mais de um ano e só agora ela e eu vimos o Josh pessoalmente, sendo que eles são melhores amigos.
Sabi: Josh é quieto assim na dele mesmo. - Disse. - Mas talvez a Any beba umas quando eu casar com o Pelé e pegue o loiro depois da festa. - Ela cutucou meu braço, eu afastei sua mão.
Sina: Ai amiga, você precisa casar aqui - Afirmou mudando de assunto. - Pode tirar tantas fotos legais na praia aqui na frente.
Sabi: Sim! - Soltou um gritinho. - Eu pensava que queria casar no Plaza, mas essa casa é muito melhor.
Sina: Agora, voltando para você. - Me olhou. - Sempre falou desse escritório aí que Joalin trabalha, se te chamarem para trabalhar lá acho que deve topar na hora, sem pensar se Pepe ficará triste ou se só irá ver o gostosão no casamento da Sabina.
Sabi: Que não sabemos quando vai rolar, já que nem estou noiva. - Falou mexendo no grampo que estava caindo perto da sua orelha esquerda.
- Vou deixar pra pensar melhor após a entrevista. - Murmurei e esfreguei minhas mãos. - Acho que preciso começar a me arrumar também.
Sabi: Precisa sim. - Declarou.
Sina: Tomara que te paguem bem no novo trabalho, quero o reembolso da chapinha logo. - Beliscou minha bochecha, eu resmunguei. - Já ligou para seu tio e pediu desculpas?
- Ainda não, faço isso depois.
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Comecei a me arrumar por último, mas ainda assim fui a primeira a ficar pronta. Deixei as meninas se arrumando no quarto que eu estava ocupando e desci para o primeiro andar, alguns convidados já tinham chegado.
Noah estava conversando com uma prima dele e de Sabina, Pepe com uns amigos advogados dele de outro escritório. Não vi Josh em lugar algum, por mim não o veria mais aquele dia, queria fugir dele o máximo possível, não ia aguentar olhar para a cara bonita dele e não querer morrer ao lembrar da mensagem.
Para a festa eu estava vestindo uma calça preta e uma blusa azul escura de seda, um presente caro que ganhei de tio Paul no Natal. Precisava mesmo ligar para ele e me desculpar, mas deixaria para depois aquela noite.
Segui para a varandinha da casa, colocando meu casaco para não congelar de frio lá fora. Na praia, não tinha ninguém na frente. Desejei ser mais corajosa, tirar meus saltos e ir para lá sentir o mar gelado em meus pés, mas claro que não fiz isso, ia acabar doente.
Josh: Hum, olá! - Paralisei.
Continuei encolhida dentro do meu casaco, encarando as ondas. Senti ele se aproximar mais do parapeito da varanda, ficando por fim ao meu lado, mas com uma distância segura. Josh estava todo de preto, calça e camisa social, mas sem terno ou gravata, com um casaco por cima de suas roupas, ele ainda tinha luvas nas mãos, um erro que cometi já que não peguei as minhas e segurava um cigarro e isqueiro.
Josh: Posso fumar aqui?
Continuei muda, ele acendeu o cigarro. Meu nariz coçou um pouco com o cheiro, mas não reclamei. Normalmente odiava cigarros, mas aquele homem ficava sexy fumando e achar isso era ridículo da minha parte, eu não deveria ficar romantizando o uso daquele tipo de coisa.
Josh: Recebi uma mensagem de Heyoon Jeong. - Aquilo foi o suficiente para eu olhar diretamente para ele, sem ser pelo canto do olho. - Ela disse que está interessada em te contratar, você enviou seu currículo para o escritório dela?
- Não, não, não! - Exclamei em pânico. Tinha medo de acabar demitida do escritório dele sem ter nada certo com o outro emprego, não poderia deixar uma merda dessas acontecer. - Eu não enviei nada, uma amiga que trabalha lá me indicou para a vaga.
Josh: Entendi. - Ele deu uma tragada em seu cigarro. - Estudei com Heyoon na escola de direito, já competimos muito no meio.
- Não sabia disso.
Josh sorriu, vi as marcas de expressão em seus olhos marcarem mais. Ele era um homem de 39 anos, já com algumas rugas e muito gostoso ainda assim.
Josh: Agora ela me disse que amou seu currículo e te quer muito na equipe dela, porém eu não quero que você deixe a Beauchamp Gonzalez, foi uma das melhores contratações que fizemos esse ano.
Outra tragada, eu respirei fundo e até senti vontade de fumar, ou colocar algo na boca para aliviar a tensão... Isso parecia meio sexual de se pensar.
Josh: Sendo assim, estou disposto a negociar um aumento quando voltarmos para o escritório semana que vem, você pode pensar em um valor e me apresentar, eu irei verificar se estou de acordo, o que me diz?
- Heyoon ainda nem me entrevistou. - Murmurei, foi idiota da minha parte dizer aquilo, eu devia ter dito que Heyoon estava mesmo muito interessada em mim, isso me daria margem para pedir um bom aumento.
Josh: Pense no valor. - Insistiu. - Você quer um? - Gesticulou com o cigarro na minha direção.
- Não, eu não fumo. E você sabe disso, já me ofereceu outras vezes. - Falei, meio chateada por ele não se lembrar.
Josh: Sei disso, mas vai que você mudou de ideia.
- Não mudei. - Apertei mais meus braços ao redor do meu corpo quando um vento forte passou pela gente. - E você deveria parar de fumar de novo, senhor Beauchamp.
Josh: Bem que eu queria, mas tenho muita tensão para lidar. - Resmungou.
Quis perguntar sobre o que, porém, fiquei caladinha.
Josh: Vamos entrar e beber algo?
- Não sei se devo beber. - Respondi, lembrando das mensagens agendadas. Meu celular estava no bolso da minha calça, um lembrete que eu tinha feito merda meses atrás.
Josh: Vamos, eu te pago um drink e você leva isso em consideração quando for escolher entre meu escritório e o da Heyoon.
- É open bar. - Disse e me vi sorrindo, Josh sorriu também.
Josh: Viu? Seu outro chefe te chamou para uma festa com open bar, a Heyoon nem bebe, ela anda para cima e para baixo com um suco verde.
- Eu gosto de suco verde. - Ele fez uma careta.
Josh: Vamos beber algo decente, Any..
Any, era a segunda vez que ele usava meu nome.
- Você não está me chamando de senhorita Soares. - Observei, ele deu de ombros.
Josh: Não estamos no trabalho.
- Você me chamou de senhorita Soares no carro hoje cedo. - Insisti.
Josh: Quer que eu te chame de senhorita Swan? - Perguntou confuso.
- Não, pode usar meu nome, só estou surpresa. - Apontei para o cigarro. - Apaga isso e a gente pode entrar e beber algo.
Josh: Ok. - Ele apagou o cigarro com seu sapato caro.
- Heyoon fuma?
Josh: Não.
- Ponto para ela.
Josh bufou e revirou seus olhos azuis, abriu a porta da varanda e indicou o interior da casa.
Josh: Ela escuta música country.
- Você escuta música clássica na sua sala.
Josh: Não gosta disso? - Perguntou parecendo ofendido.
- Detesto.
Josh: E o que você escuta no trabalho?
- Barulho de chuva. - Passei pela porta.
Josh: Está falando sério?
- Estou sim, me acalma.
Josh: Música clássica também acalma.
- É irritante, principalmente quando você coloca no volume máximo e toca por todo escritório.
Josh: Ninguém nunca reclamou.
Eu sorri e falei:
- Porque você é o chefe.
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Eu o acompanhei no uísque, Josh ficou surpreso, achou que eu fosse uma garota de vinho.
- Não, eu não gosto de vinho. - Falei e bebi um pouco do uísque.
Sabi e Sina já tinham descido e ficaram surpresas quando me viram bebendo e conversando com Josh perto do bar.
Josh: Eu também não gosto. - Contou. - Visitei até uma vinícola com meu primeiro chefe, tentando agradar o cara, mas odiava. Na verdade, não gosto nem de uva.
- Dois! - Praticamente gritei ao falar aquilo, chocada com a coincidência. É uma fruta que todo mundo fala bem, mas detesto.
Josh: A verde então, horrível. - Estremeceu, ele tinha guardado nossos casacos em um armário, sendo assim em uma mão segurava seu celular e na outra o copo de uisque. Eu ainda tinha meu celular no bolso da calça.
- Aprendi a beber uísque com meu pai, ele adorava. - Comentei, Josh assentiu, bebeu um pouco do seu e perguntou:
Josh: Como ele se chamava?
- Carlos, era policial em Phoenix.
Josh: Está brincando? Você é filha de policial?
- Sou sim. - Eu ri e assenti. -Neta também, todos os homens Soares foram da policia.
Josh: E sua mãe?
- Ela era policial também, mas se aposentou depois que meu pai faleceu em serviço agora ela faz artesanato.
Josh: Posso perguntar como ele faleceu? - Indagou sério.
- Tiroteio em uma escola. - Contei e respirei fundo. - Conseguiu salvar muita gente, isso me conforta.
Josh: Sinto muito, Any.
- Tudo bem, já faz mais de sete anos, eu aprendi a lidar com a dor.
Meu celular vibrou, eu o tirei do bolso, ri um pouco e falei:
- Viu? Só falar na minha mãe que ela aparece. Com licença, preciso atender.
Josh: Ok.
Eu me afastei um pouco e atendi a ligação.
Priscila: Any, você ainda não pediu desculpas para seu tio?
- Mãe, eu vou ligar para ele depois.
Ela resmungou.
Priscila: Olha, Paul é um homem rancoroso, você não pode vacilar com ele.
- Vou ligar ainda hoje, prometo.
Priscila: Ok, espero que faça isso mesmo. Como está a festa?
- Bem legal. - Confessei.
Priscila: Está se divertindo com as meninas?
- Também.
Eu ainda nem tinha interagido com Sina e Sabina na festa, mas não queria falar sobre estar batendo papo com meu chefe gostoso.
Priscila: Deve ficar complicado te ligar depois, então feliz ano novo, filha. - Desejou. - E liga para o seu tio, ou ele vai me fazer pagar pelos seus atos também.
- Feliz ano novo, mãe. E relaxa, juro que vou ligar.
Priscila: Tá bom, vou te deixar aproveitar a festa, beijinhos.
- Beijos, mãe.
Encerrei a chamada e voltei para perto de Josh, com algo em mente.
- Você me fez falar sobre minha família, justo que fale sobre a sua, chefe.
Ele assentiu.
Josh: Acho que é justo mesmo.
- Vamos, conte! - Exigi.
Josh: Bom, sou filho mais velho de uma professora de matemática e um professor de biologia. Eles faleceram há cinco anos, acidente de carro. Eu fiquei com a guarda do meu irmão mais novo, Jaden, que hoje tem 20 anos e vive na Inglaterra.
Aquilo tudo me pegou de surpresa, eu não fazia ideia de que ele era órfão, muito menos que ficou responsável pelo irmão caçula.
- J-Josh.. - Gaguejei, ele balançou a cabeça e pegou meu copo vazio.
Josh: Não precisa dizer nada, também aprendi a lidar com a dor, como você. Mais uísque?
- É, sim. - Falei, ele se afastou e voltou com nossos copos abastecidos.- Sinto muito. - Disse, mesmo que ele tivesse dito que não precisava falar nada. - Não sabia sobre nada disso.
Josh: Eu não conto, nunca gostei de ver as pessoas me olhando com pena, como você está fazendo agora. - Alfinetou.
- Ai, desculpa. - Abaixei meu olhar, respirei fundo e voltei a olhar para ele, fingindo sorrir. - Como foi criar um adolescente?
Josh: Um inferno. - Ele bufou e bebeu um pouco. - Jaden me dá dor de cabeça até hoje. Era para passarmos o ano novo juntos em Londres onde ele mora, mas de última hora avisou que tinha viajado para o Brasil com a nova namorada.
- Que idiota. - Não me contive em dizer aquilo.
Josh: Pois é, eu também acho. - Riu e bateu seu copo no meu em um brinde. - O irresponsável vive aprontando, nem sei como ele ainda não foi expulso da Inglaterra.
- Ele faz faculdade lá?
Josh: Sim, recebeu uma bolsa parcial e tudo, é inteligente, mas sem controle.
- Já colocou ele na terapia? - Ele suspirou.
Josh: Assim que nossos pais morreram, mas ele fugia para ir fumar com os amigos no estacionamento do shopping.
- Você já fumava? Deve ter sido um exemplo.
Josh: Engraçadinha. E sim, eu já fumava, fumo desde que acabei o colégio.
- Você odeia seu corpo, né?
Josh: É só um modo de aliviar a tensão.
Pensei na minha forma favorita de aliviar a tensão: comer bolo. Mas, também pensei no meu segundo jeito preferido de escapar de dias tensos: transar. E me imaginei propondo sexo para Josh, só para ele ficar menos tenso, eu quase falei, mas mordi a lingua e me contive, ele ainda era meu chefe.
Josh: Você é filha única?
- Sou, infelizmente, seria bom ter outra pessoa para minha mãe perturbar.
Josh: Ou seria só outra pessoa para você ter que aturar problemas, olha meu caso.
- Nossa, nem imagino o quanto Jaden te tira do sério.
Josh: No dia do seu aniversário ele quase foi preso.
- Sério?
Josh: Sim, eu lembro que nem cantei parabéns para você.
Me lembrava vagamente disso, mas por conta da bebedeira daquela noite o dia 13 de setembro era um borrão para mim.
- O que rolou?
Josh: Cocaína na mochila, ele jurou que era de um amigo e eu até acredito, mas quase fodeu com a vida dele. Por sorte a polícia o liberou.
- Sorte ou privilégio? Ele é branco também? O último caso que trabalhei um garoto negro, com cocaina na mochila se deu mal e foi condenado.
Josh: Claro, meu irmão é um puta de um privilegiado. Foi o caso Smith, não foi?
- Sim, pró-bono, ainda me sinto culpada por não ter conseguido livrar o garoto da pena.
Josh: Não se sinta, não podemos ganhar todas.
- Você não perdeu um caso esse ano.
Josh bebeu um pouco e disse: - Ok, você não pode ganhar todas.
- Engraçadinho. - O imitei, ele riu.
Sina apareceu do meu lado, diferente de mim, ela amava vinho e tinha uma taça na mão. Noah veio logo atrás, como Josh e eu, ele estava bebendo uísque.
Sina: Ei vocês. - Minha amiga falou. - Vamos jogar dardos? Josh faz dupla com Noah, eu com a Any.
Noah: Sina e eu não podemos jogar no mesmo time, sempre sai discussão. - Explicou para Josh.
Sina: Ele me atrapalha, sou muito competitiva e Noah todo tranquilão. - Reclamou, e o namorado resmungou.
- Eu topo. E você? - Perguntei para Josh.
Josh: Vamos sim, mas sou péssimo nisso. - Falou.
Sina: Excelente, eu vou ganhar! - Comemorou e me puxou pela mão até a sala onde ficava o jogo de dardos.
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Josh mentiu, ele era excelente de mira.
- Você disse que era péssimo. - Reclamei quando ele acertou mais um no alvo.
Josh: Falei foi? - Perguntou e me lançou um sorriso gigante, ele tinha desabotoado o primeiro botão da sua camisa, deixando que um pouco do seu peito ficasse aparecendo. Ele malhava, isso eu sabia, mas queria muito poder tocar no peito dele e sentir os efeitos da malhação com minhas mãos ansiosas. - Acho que me enganei, sou ótimo nisso, senhorita Soares. - Mexeu em seus cabelos, que estavam mais bagunçados do que nunca, até um pouco suados, já que a sala de jogos estava bem quente.
Sina: Cretino. - Reclamou ao meu lado, estávamos perdendo e ela odiava isso. E eu, que também era competitiva como minha amiga, estava furiosa.
Noah: Vamos ganhar, vamos ganhar. - Cantarolou.
Sina: Você só acertou um. - Acusou.
Noah: Ainda assim, estou na dupla que está vencendo. - Ele mandou um beijo no ar para a namorada.
Josh se aproximou de mim com um dardo.
Josh: Sua vez, Any.
- Eu deveria espetar esse dardo no seu olho.
Josh: Você não faria isso, Any a vencedora. - Debochou falando do jeito como chamei a mim mesma quando joguei o primeiro dardo e acertei o alvo. - Acho que agora você será Any a perdedora.
Ele exalava cheiro de uísque, eu também. Não tínhamos parado de beber e estávamos bem altinhos naquela altura, isso misturado ao calor da sala, a raiva de estar perdendo e a camisa aberta dele só me dava mais vontade de foder com aquele homem. Meu corpo bêbado implorava por isso, suas mãos, seus lábios, sua língua, seu pau.
Josh: Quer deixar isso mais interessante? - Ele perguntou, o rosto perigosamente próximo ao meu.
- Como?
Josh: Fazemos uma próxima rodada, só nós dois, se eu ganhar você continua na Beauchamp Gonzalez, nem faz a entrevista com a Heyoon . Agora, se eu perder, você pode ir à entrevista, trabalhar com ela e eu não reclamo mais.
- Nem fodendo. - Tentei pegar o dardo da mão dele, mas Josh era mais forte. - Eu é que não vou apostar meu futuro profissional.
Josh: Se você for trabalhar com a Heyoon vou sentir sua falta. - Sussurrou em tom de confissão.
- Para de brincar. - Exigi.
Josh: Não estou brincando. - Ele soltou o dardo. - Você é uma advogada incrível, adoro quando está em algum caso comigo, adoro te ver falando no tribunal, fazendo o júri comer na palma da sua mão. E adoro ainda mais quando ficamos até tarde no escritório e você fica com carinha de sono, quase desmaiando ali, mas não bebe café porque diz que depois das seis da tarde não faz bem.
Sina: Voltem a jogar! - Exclamou, quebrando qualquer que fosse aquele clima entre Josh e eu.
Inspirei fundo mais uma vez, sentindo o cheiro de uísque misturado ao perfume de Josh. Então, fui jogar, ainda pensando em meu chefe dizendo aquelas coisas sobre mim, eu perdi.
Algumas jogadas depois Sina e eu oficialmente perdemos, o que fez Noah e Josh comemorarem com um aperto de mãos.
Sina: Ai que saco, não acredito que perdi. - Saiu da sala batendo o pé, Noah gargalhou e foi atrás dela.
Josh recolheu os dardos e colocou eles no suporte na mesinha ao meu lado.
Josh: Quer comer alguma coisa? - Perguntou sorrindo.
- Acho que nunca te vi sorrindo tanto quanto hoje. Por que você não sorri mais no trabalho?
Ele franziu o cenho e disse por fim.
Josh: Acho que fui ensinado a levar meu trabalho de forma muito mais séria do que qualquer um. Meus pais sempre exigiram muito de mim nos estudos, por serem professores e por não terem muita grana, sabiam que eu precisaria de bolsas para a faculdade. Eu consegui duas, que foram uma salvação financeira, uma pelo grupo de debates, outra pelo time de basquete.
- Não sabia que você jogava basquete.
Josh: Eu não jogo há anos. Enfim, eu precisava levar meus estudos e depois meu trabalho de forma impecável, sempre quis ser advogado, não aceitaria falhar e queria fixar meu nome na história da advocacia de New York. E entre um irmão que só me causa problemas e uma vida amorosa que mal existe, meu trabalho é a única coisa que sou bem sucedido e tenho total controle. Por isso não tenho tanta intimidade com os funcionários, odeio imaginar criar problemas no meu ambiente de trabalho. Essa noite, com você, é o mais perto que já estive de interagir com alguém que trabalha comigo, tirando Pepe. Aliás, sobre ele, nós brigamos feio no começo do ano, por isso que não temos saído muito juntos nos últimos meses, fora o fato de eu ser um cara mais caseiro. Pepe acha que eu devia trabalhar menos, eu disse que ele devia trabalhar mais. Nos afastamos, mas estamos bem agora, só que isso fez a amizade ficar estremecida, Somos melhores amigos desde a faculdade, trabalhar com ele já nos criou muitos problemas justamente por acabarmos misturando pessoal com profissional.
- Por isso nunca deu chance para as garotas do escritório que deram em cima de você. - Ele se apoiou na mesinha e concordou.
Josh: Foram muitas, Pepe brinca que eu sou tipo um imã para mulher, mas que também as repele.
Pepe estava certo, Josh era um imã para mulheres.
Josh: Eu nunca quis ficar com ninguém do trabalho, isso poderia ser ainda mais problemático do que ser melhor amigo do meu sócio.
E todos meus devaneios sexuais deveriam morrer ali, aquele homem nunca ficaria comigo.
- Vamos comer algo? - Mudei de assunto.
Josh: Sim, vamos. - Deixamos a sala juntos, lá fora Josh me pegou de surpresa, pegando em meu braço e falando baixinho perto do meu ouvido. - Eu me expressei errado, há sim uma mulher do
trabalho, que já pensei em não repelir, Any.
Quem? Poderia ser eu? Não, claro que não!
Antes que eu pudesse perguntar, Sabi surgiu, queria me apresentar às primas de Pepe. Ela me levou para longe de Josh, me fazendo ficar confusa e com o coração acelerado.
Eu acabei passando as próximas horas conhecendo os outros convidados da festa, a família de Pepe, os amigos dele da faculdade, alguns dos seus colegas advogados. Também fiquei um tempo com as meninas, até dancei com Noah, que era um excelente dançarino após ter aulas com Sina.
Já eram mais de onze da noite, quando topei com Josh novamente.
- Ei, onde você estava? - Perguntei, ele estava perto do bar, mas segurava uma latinha de refrigerante de limão.
Josh: Comendo e bebendo água na cozinha, basicamente. Estava bem bêbado, também fiquei um tempinho lá fora fumando.
- Eca!
Eu mexia em minha argola, que tinha prendido em uma mecha do meu cabelo.
Josh: Quer beber algo?
- Uma Coca-Cola, valeu. - Agradeci.- Já suspendi uísque há um tempo também. - Estava praticamente sóbria de novo.
Josh pegou a bebida para mim, também um potinho com amendoins que comecei a atacar.
Josh: Você dança bem.
Sina é professora de balé e sabe muito sobre dança no geral, ela fez um intensivão comigo antes de mudar para New York.
Josh: Eu sou um péssimo dançarino. - Ele comeu um pouco dos amendoins também. - A pobre garota que foi comigo no baile de formatura da escola ficou com o dedinho sangrando porque eu pisei nele.
- Ai meu Deus, que horror.
Josh: Pois é.
- Hum, já sei. - Larguei os amendoins e a latinha de refrigerante numa mesinha perto da gente. Posso tentar te ensinar algo.
Josh: Está tocando música eletrônica, como dança isso? Melhor não. - Negou rapidamente.
- Ok, então vou apenas te levar para a pista de dança para você curtir a música. - Tirei a latinha de soda da sua mão, ele tentou protestar, mas coloquei a lata junto da minha e o puxei pela mão até a pista de dança improvisada no meio da sala de estar.
Tinham umas 100 pessoas na festa.
- Tenho que te confessar algo. - Falei, balançando meu corpo ao som da música, Josh na minha frente só mexia a cabeça e estava levemente corado.
Josh: O quê? Me conta. - Pediu bem interessado.
- Eu já fui para um festival de música eletrônica no meio do deserto de Nevada, lá usei um negocinho meio forte e acabei no palco com o DJ, os seguranças apareceram e vomitei no DJ.
Josh: Não!
- Sim. - Afastei meus cabelos do rosto. - E eu nem deveria tá te contando isso, chefe, mancha minha reputação.
Josh: E se eu te contar um mico meu? Ficamos quites.
- Pode ser, me conta um bom.
Josh: Essa também envolve vômito.
- São os melhores micos, fala logo.
Josh: No primeiro ano da faculdade fui assistir uma palestra de Caius Jones, você com certeza sabe quem é.
- Uma das lendas do direito nos Estados Unidos, prossiga.
Josh: Pois é, eu fui cumprimentar ele depois da palestra, mas eu estava doente e vomitei nos pés do cara.
- Josh, não. - Gritei horrorizada, ele riu e se aproximou mais de mim. Vi que uma mão dele ia tocar em mim, mas Josh a recolheu.
Josh: Eu não como burritos desde então, foi o que me fez passar mal.
- E o Caius?
Josh: Acabei com o dia do cara, né? Ele foi embora e as outras pessoas que não falaram com ele ficaram putas comigo, eu terminei indo para o hospital, precisei tomar soro e tudo para desidratação.
- Ai meu Deus, tadinho.
Josh: Cogitei forjar minha morte naquele dia.
Eu ri, mas não dei continuidade ao assunto, a música eletrônica mudou para Fetish da Selena Gomez e peguei Josh de surpresa tocando em seus braços. Primeiro fazendo com que ele balançasse seu corpo, depois para descer minhas mãos até as suas e colocá-las em minha cintura.
- Dança comigo. - Pedi, seus olhos se fixaram nos meus e o homem não desviou o olhar enquanto me deixava guiá-lo.
As mãos dele apertaram minha cintura, eu deslizei uma perna entre as dele. Meu chefe soltou um suspiro, uma de suas mãos subindo para o meio das minhas costas.
Ele me queria como eu o queria? Seria possível?
Então, todo o momento foi quebrado quando Josh pisou no meu pé.
- Ai, porra! - Gritei o soltando.
Josh: Puta merda, desculpa. - Ele pediu.
- Está doendo pra caralho. - Reclamei e vi ele segurar uma risada. - Você está rindo? Acho que quebrou meu dedo. Agora sei o que seu par na formatura sentiu, coitada.
Josh: Calma, aposto que não quebrei, mas vamos te tirar daqui.
Ele me ajudou a seguir até a cozinha, me sentou em uma cadeira ali e se agachou diante de mim, tirando meu sapato. Dois dos meus dedos estavam vermelhos e doíam muito, eu conseguia mexer, mas quanto mais tentava mais doía.
Josh: Vou pegar gelo. - Ele se levantou e andando entre o pessoal do buffet que estava trabalhando pegou um saquinho com gelo do congelador. - Aqui, prontinho, vai melhorar. - Sentou no chão, apoiou meu pé sobre sua coxa e ficou segurando o gelo sobre meus dedos, com a outra mão segurava minha panturilha.
Ficamos em silêncio por um tempo, com Josh começando a afagar minha perna sobre a calça que eu usava. Isso lançava arrepios por todo meu corpo, estava me enlouquecendo.
Josh: Any?
- Sim?
Ele ergueu o olhar para mim.
Josh: A mensagem era para mim, não era?
Engoli em seco, desviei o olhar para longe do dele e respondi a verdade:
- Era sim, não existe nenhum Josh Perry.
Josh: Ok. - Foi tudo que ele disse, mas continuou afagando minha perna e mantendo o gelo sobre meu pé.
- Acho melhor... - Tentei sair dali, mas ele não deixou.
Josh: Não, fica quieta, não quebrou nada, mas precisa ficar com o gelo mais um tempo para parar de sentir dor.
- Tá, que seja. - Murmurei, ainda sem olhar para ele.
Alguns minutos depois foi minha vez de perguntar:
- Josh, foi você quem deu a ideia da minha festa surpresa de aniversário? - Era uma das poucas coisas que me lembrava daquele dia Pepe dizendo que tinha sido ideia do seu sócio, mas eu nunca mais toquei no assunto.
Josh: Sim. - Ele voltou a afagar minha panturrilha. - E comprei os waffles, lembra disso? Cheguei a te contar. Pepe pagou pelo bolo, mas eu lembrei ele que você gostava de baunilha. No meu aniversário você me levou um cupcake de baunilha, foi o melhor que já comi.
Eu sorri ao me lembrar disso. Josh tirou suas mãos e o gelo de mim.
Josh: Pode tentar andar agora.
Olhei para meu pé, consegui mexer os dedos sem dificuldade, não doía mais. Calcei meu sapato novamente e fiquei de pé, Josh se levantou lentamente.
O homem ficou na minha frente e com uma mão afastou uma mecha do meu cabelo do meu rosto.
Josh: Any...
Noah: Any, vem logo, já vai começar a contagem regressiva! - Apareceu chamando por mim. - Sabi e Sina estão procurando por você.
Josh se afastou, eu respirei fundo e fui procurar minhas amigas.
Pepe mandou todos pegarem seus casacos e seguir para o deck da casa, com a quantidade de convidados isso não foi possível. Mas, por eu estar junto dele, Sabi, Sina e Noah, consegui um lugar privilegiado lá na frente para vermos os fogos de artificio que um dos meus chefes disse que teríamos.
Olhei para trás, procurando por Josh, mas não o vi. Provavelmente tinha ficado com as pessoas que ainda estavam no interior da casa.
Faltando dez segundos para meia-noite a contagem começou, com Pepe puxando o coro. Eu não contei em voz alta, fiquei focada em apenas olhar para o céu, repassando a loucura que tinha sido aquele dia.
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🍃Votem e comentem. Dependendo do retorno, postarei mais um essa semana.
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