𝚝𝚠𝚎𝚗𝚝𝚢 𝚗𝚒𝚗𝚎
Você ouviu passos no hall do seu andar. Em um pulo só, saiu da sua mesa de trabalho, onde estava tentando mapear o percurso que os homens de Suguro faziam durante as manhãs, e correu para a porta.
Eram três homens. Eles mexiam em algo na parede oposta à da porta dos apartamentos, onde ficava o elevador. Você teve que reprimir o sorriso vitorioso ao abrir a porta e se deparar com eles, usando fardas, como se fossem homens da manutenção.
— Bom dia — Você disse, com um sorriso meio sem jeito — Aconteceu alguma coisa?
— Bom dia, senhora — O mais alto deles falou, largando a chave de fendas que tinha na mão e se aproximando de você — Teve um vazamento no andar de cima e estamos verificando se não aconteceu nada com o elevador.
Mentira.
Não tinha vazamento nenhum e você sabia muito bem disso. Eles trabalhavam para Suguro. Você reconhecia aqueles rostos da lista de homens que memorizou pouco antes de se mudarem para lá.
Mais uma vez, teve que suprimir o seu sorriso rapidamente. Seu plano improvisado tinha dado certo e Geto tiraria todas as câmeras do hall. Quem diria que aquilo funcionaria.
— Ah, tudo bem — Foi o que você respondeu, se voltando para dentro do seu apartamento de novo — Muito obrigada pelo trabalho.
Assim que o homem assentiu com a cabeça e se virou para voltar ao trabalho, você fechou a porta do seu apartamento e deu alguns pulinhos de felicidade. Infelizmente, teria que esperar Satoru voltar do hospital para contar a notícia.
— Que pulinhos são esses? — A voz de Mei Mei fez você parar de pular, mas o seu sorriso ainda não tinha morrido.
— O plano deu certo — Disse, se virando na direção dela, que saia da cozinha e entrava na sala de estar — Estão tirando as câmeras.
Uma das sobrancelhas dela se arqueou. Era claro que ela estava surpresa. Até você estava. No fundo, não achou que fosse mesmo dar certo.
— Não vou nem perguntar o que vocês dois fizeram naquele corredor pra fazer Geto abrir mão das câmeras — O tom dela ela desafiador, com uma leve pontada de nojo.
Isso não fez o seu sorriso morrer, porque você sabia que, mais do que tudo, ela queria estar lá no seu lugar naquela hora.
— É melhor você não perguntar mesmo — Você respondeu, sorrindo com ironia e dando as costas para ela, voltando ao seu quarto.
Menos um problema na sua lista. As coisas estavam indo bastante bem. Vocês estavam planejando chamar Yuji para dormir no apartamento de vocês em um futuro bem próximo. Estreitar os laços dele com Megumi era o próximo passo do plano de vocês. Também teriam que pensar em uma forma de Geto se abrir com Satoru.
Era óbvio que Suguro já confiava no platinado, mas ainda não ao ponto de confessar sobre os reais trabalhos dele. Esse era o próximo grande desafio. E, se ele não falasse, você tinha consciência de que conseguiria descobrir tudo se precisasse. Só seria mais difícil.
Mas, mesmo com a cautela dele, você achava que o Gojo seria capaz de criar esse laço de confiança em um futuro próximo. Isso faria a missão acabar mais rápido. Um leve sentimento de tristeza percorreu pelo seu peito. Queria contar a Satoru o que aconteceria com você depois que essa missão acabasse, mas não faria isso.
Você confiava nele o suficiente para saber que ele não estava trabalhando com o resto da agência. Acreditava que ele não tinha ideia das reais intenções de Masamichi com você. Mesmo assim, tinha medo de ele acabar tomando o seu lado no final de tudo. Porque isso arruinaria a vida dele para sempre.
De volta ao seu notebook, você não conseguia mais se concentrar direito. Estava cada vez mais difícil se empenhar em solucionar os mistérios da missão. A verdade era que você não queria que ela acabasse.
Quando conheceu Satoru pela primeira vez, tinha certeza de que iria querer acabar tudo o mais rápido possível. Mas não demorou muito para você conhecer ele de verdade e se apaixonar. Com Megumi não foi diferente. Se encantar com aquela criança foi a parte mais fácil da missão até agora. Era simplesmente impossível não querer levar ele consigo para todo o sempre.
Com isso em mente, você foi vagando aleatoriamente pelos seus documentos sobre a missão. Já tinham uma base enorme de informações, mas nada que pudessem usar como acusação para levar Suguro a um tribunal.
Você parou em uma observação que tinha feito a um tempo atrás, para investigar as movimentações dos homens do Geto no cais da cidade. Ironicamente, as filmagens das câmeras de vigilância de lá eram alteradas pelo menos uma vez por semana. Não precisava ser um gênio para saber que algo estava acontecendo ali, mas você tinha evitado entrar mais afundo.
Talvez fosse uma boa ideia só dar uma olhada depois. Mesmo que você encontrasse alguma coisa, não significava que você precisava avisar para a agência. Já tinham coisas demais que você estava escondendo mesmo.
— Yuji vai mesmo poder dormir aqui? — O grito de Megumi poderia ser escutado até do outro lado da cidade e você conseguiu ouvir mesmo antes dele entrar no apartamento.
Nem tinha notado quanto tempo havia se passado desde que você se sentou de novo na cadeira para continuar o trabalho. Bem, você só não trabalhou mais.
— Eu vou conversar com Suguro na próxima semana e resolvemos isso, pode ser? — A voz do Gojo fez o seu coração bater mais rápido e todos os seus pensamentos conflitantes de antes sumirem da sua mente.
Desligando o notebook, você se levantou de onde estava e foi andando em passos não tão apressados na direção do grito de felicidade do seu filho. Não iria conseguir se concentrar de toda forma e precisava contar a novidade para Satoru.
— Mamãe, Yuji vai dormir aqui em casa! — O mais novo largou a mochila no meio da sala e foi correndo até você, pulando em seus braços na primeira oportunidade que teve.
Estava ficando cada vez mais difícil pegar Megumi no colo. Isso só era mais um sinal de que ele estava crescendo e já já não seria mais o seu bebê. Nem bebê. Nem seu.
— Eu disse que ainda preciso ver com Suguro — O platinado xingou baixinho enquanto pegava a mochila que o filho largou no meio da casa, mas não conseguiu tirar o sorriso divertido dos lábios — Você sabe que não é tão fácil pra ele deixar Yuji dormir aqui em casa sem supervisão.
— Esse negócio de ser chefe do crime é um saco — O mais novo disse, arrancando uma risada alta sua.
— É um saco mesmo — Você falou, rodopiando o mais novo em seus braços — Mas seu pai vai conseguir convencer Suguro e seu melhor amigo vem dormir aqui em casa.
— Você consegue, papai? — Os olhos do antigo Fushiguro brilhavam intensamente e, quando o Gojo soltou um suspiro cansado, você acabou rindo de novo.
— Vou fazer o meu melhor — O mais novo já estava começando a cantar vitória novamente, quando o pai interrompeu, falando mais alto — Mas só se você se comportar. Não vou me esquecer que você não fez a tarefa de casa na semana passada e levou bronca do professor.
— É porque ela era muito fácil!
— Não importa — Satoru deixou a mochila de Megumi e sua própria bolsa em cima da mesa da sala de estar — Se eles te mandam uma tarefa, você faz, mesmo que seja a coisa mais idiota do mundo.
Megumi emburrou a cara, mas, ao se lembrar do que estava em jogo, apenas respondeu, baixinho, sem olhar na direção do pai:
— Tá bom.
Você o colocou no chão e observou enquanto ele andava até o próprio quarto, provavelmente indo tomar banho, antes de fazer a lição do dia. No início, Megumi se esforçava para fazer todas as atividades que passavam para ele, mas, depois de um tempo, começou a fazer corpo mole. Isso aconteceu provavelmente porque as tarefas começaram a ficar muito fáceis para ele. O Fushiguro era uma criança extraordinária em todos os sentidos, inclusive na inteligência.
— Você mima demais ele — Ao ouvir a voz do Gojo, bem perto de você, se virou na direção dele, apenas para perceber que ele tinha se aproximado muito, e fez uma expressão de inocente.
— Eu?
— Você mesma, Senhora Gojo — Ele arrodeou os braços pela sua cintura e lhe puxou para mais perto, depositando beijos demorados no seu pescoço, tentando fazer cosquinha. Você deixou que ele se divertisse um pouco e acabou rindo da situação. Fazia tempo que vocês tinham ficado grudentos assim e isso nunca seria uma reclamação sua — Eu sei que você viu ele não fazendo a tarefa e não falou nada.
— Ele é só uma criança — Deu de ombros, passando os braços por trás do pescoço dele, enquanto ele apertava mais ainda a sua cintura — Todo mundo deixa de fazer a lição de casa uma vez na vida.
— De novo, você mima muito ele.
Você abriu a boca para responder, mas não teve tempo. Satoru colidiu os lábios nos seus e, sem perder tempo, pediu passagem com a língua. O beijo não foi tão sedento, até porque vocês estavam no meio da sala de estar, mas foi um puta beijo de boas vindas.
— Bem vindo de volta, meu amor — Você disse, assim que seus lábios se afastaram, demorando alguns segundos para recuperar o fôlego — Como foi no trabalho?
— A mesma chatice de sempre — Os braços dele ainda lhe prendiam perto do corpo dele — Alguma novidade por aqui?
— Na verdade, sim — Dessa vez, você ficou animada e o brilho dos seus olhos fez com que o platinado esboçasse um sorriso genuíno — Suguro mandou tirar as câmeras do corredor.
— Aquele plano merda funcionou mesmo? — Mais uma pessoa na lista de descrentes de que o plano realmente ia dar certo.
— Ei! Fui eu que bolei aquele plano!
— E você é a mulher mais inteligente que eu conheço, amor — Mais um beijo rápido nos seus lábios — Mas aquele foi, disparado, o pior plano que você já pensou desde que a gente se mudou pra cá.
Você riu. Queria retrucar, mas era verdade. Foi péssimo e mal elaborado. Você só estava tão cansada que acabou dando aquela ideia. Por incrível que pareça, Satoru concordou, mesmo você sabendo que ele só tinha feito isso para ter uma desculpa de lhe pegar no corredor. E, mais absurdo ainda, tinha dado certo.
— Aparentemente seu amigo não quer te ver comendo sua mulher.
— Graças a Deus! — O platinado disse, enterrando o rosto no seu pescoço — Se ele ficasse assistindo aquilo eu juro que me mudava de país.
— Que mentira — Você ainda estava rindo. Se tocou que riu mais nesses últimos meses com ele e com Megumi do que tinha rido sua vida inteira — Eu sei que você ia chamar ele pra participar.
— Por mais que a ideia de dividir uma mulher seja muito interessante — Ele voltou a colar os lábios no seu pescoço, mas, dessa vez, não era com o intuito de fazer cócegas — Eu jamais deixaria outro homem tocar em você.
— Nem o seu melhor amigo? — Disse, brincando, tentando não arfar enquanto ele sugava sua pele.
— Nenhum outro homem.
Suas penas já tremiam e você sabia que a única coisa que Satoru queria no momento era lhe levar até o quarto e fazer uma lágrima escorrer pelo seu rosto depois de um orgasmo surreal. Mas, o som de passos vindo da cozinha vez com que você o afastasse suavemente. Inicialmente ele franziu as sobrancelhas, mas depois que também ouviu Mei Mei se aproximando, deu um passo para trás.
— Tenho notícias da agência — A mais velha disse, com um sorrisinho no rosto que fez o seu coração se apertar um pouco.
— Que notícia? — Foi o platinado quem perguntou, depois de ela não ter falado mais nada, provavelmente para deixar vocês dois mais tensos do que já estavam.
— Masamichi quer que você vá até a agência.
O que?
A viagem até lá duraria algumas horas. Se quisessem que ele fizesse uma reunião, por que Masamichi não iria para onde vocês estavam como nas outras vezes? Algo tinha mudado? Você achava que estavam indo bem na missão ao ponto de não precisarem ser incomodados pela agência. Mas, então, o que aconteceu?
— Por que? — Mais uma vez, apenas Satoru falava, enquanto você tentava processar a informação.
— Uma reunião de emergência.
— E ela não pode ser aqui?
— Não.
— Por que?
— Desde quando você faz tantas perguntas ao invés de só aceitar uma ordem? — Mei Mei falou em um tom debochado. Ela estava se divertindo com toda a situação.
Satoru teria que sair por um tempo e ela ficaria sozinha aqui com você e Megumi. E se isso fosse o plano final da agência colocado em prática antes do momento? Não. Eles precisavam de você até o final da missão. Você ainda não tinha dado informações suficientes para eles. Não lhe descartariam tão cedo.
Mas, se isso fosse mesmo acontecer, se eles tiverem decidido que você não era mais imprescindível para a missão, o que aconteceria com Megumi?
Sua cabeça doía e de repente ficou muito difícil de respirar.
O platinado olhou apenas uma vez, e bem rápido, na sua direção. Ele conseguia lhe ler melhor do que qualquer um e não precisou de muito para entender o que se passava na sua cabeça. Você estava assustada com a ideia de ficar só. Mei era uma agente treinada. Não seria difícil ela fazer algo com você. Além disso, Nanami também estava a poucos quilômetros do apartamento.
Ele pensou em Megumi, mas sabia que Masamichi não era maluco de fazer alguma coisa ao mais novo. A agência sabia que Satoru colocaria fogo em absolutamente tudo se algo acontecesse com seu filho.
— Por quanto tempo?
— Duas semanas.
— Eles precisam de duas semanas pra fazer a porra de uma reunião?
— De novo, muitas perguntas — A mais nova suspirou, como se estivesse cansada, mas não tirou o sorriso dos lábios — Você sabe que nem eu tenho todas as respostas.
— Quando eu preciso ir?
— Amanhã — Essa parte, ela falou com uma diversão a mais.
— Porra e por que só avisaram agora? — Ela deu de ombros como resposta. O Gojo xingou de novo e deu as costas para a mais velha, entrando no quarto em seguida.
Você olhou mais uma vez para Mei Mei, usando sua expressão indiferente mais convincente que conseguiu. Não podia deixar que ela percebesse que você estava assustada. Isso só dificultaria ainda mais as coisas.
Não conseguindo mais encarar aquele sorrisinho irritante, você também deu as costas e entrou no próprio quarto, fechando a porta atrás de si. Satoru estava sentado na cama, com o olhar perdido e pensativo.
— Eu vou tomar um banho, tudo bem? — Você perguntou, mas só recebeu um aceno rápido de cabeça como resposta.
Pegou o seu pijama no armário e se trancou no banheiro, acreditando que a água morna do chuveiro pudesse afastar todas as suas aflições.
O platinado ainda olhava para o nada, tentando pensar em alguma forma de contornar isso. Ele já sabia que a agência tinha algo contra você, mas ele ainda não sabia o que era. Não tinha conseguido fazer você se abrir sobre isso ainda, então estava no escuro.
Masamichi tinha ajudado muito ele no passado, mas nunca foi por bondade. Sempre tinha um interesse por trás de tudo.
Mei Mei poderia lhe atacar. Megumi estava protegido, mas você não. A agência não o quanto você era importante para ele e nem poderiam saber no momento. Eles não tinham ideia de que Satoru invadiria a sede a atiraria no máximo de pessoas possível se alguma coisa acontecesse com você. Eles não sabiam que o platinado iria até o inferno por você.
Ele precisava de alguém para cuidar de você, mas quem? Mei Mei e Nanami trabalhavam para a agência e não mediriam esforços em lhe apagar completamente do mapa.
Utahime era fora de questão. Mesmo eles sendo amigos de longa data, ela provavelmente nem estava mais na cidade e já tinha sido de grande ajuda por ter aparecido meses atrás. Além disso, ele não podia arriscar que descobrissem que ela tinha dado algumas informações para ele por baixo dos panos. Isso dificultaria muito a vida dela e Satoru não podia arriscar colocar a amiga de longa data em risco.
Então, quem? Quem poderia garantir a sua segurança enquanto ele estivesse fora?
Foi aí que ele arregalou os olhos e, nas pressas, pegou o celular em cima da cabeceira. Procurou o contato certo e ligou. Não demorou mais do que três segundos para o outro lado atender.
— Fala, Satoru.
— Eu preciso de um favor.
Um segundo de silêncio na linha. Claro que seria estranho. Eles eram amigos, mas não ao ponto de pedirem favores um para o outro. O platinado podia ter acabado de colocar toda a missão em risco somente com essa ligação, mas precisava arriscar. Nem sabia que desculpas daria.
— Pode falar.
— Eu vou precisar viajar por duas semanas pra uma reunião do Conselho de Medicina — Ele explicou, tentando não parecer muito afobado — Me avisaram hoje eu já preciso ir pra lá amanhã de manhã.
— Quer ajuda com a passagem?
— Não — Fazia tempo que Satoru não ficava tão nervoso, inclusive conversando com alguém que ele considerava tanto — Preciso que você cuide de [Nome] enquanto eu tiver fora.
— Satoru, você sabe que...
— Sei que ela é uma mulher forte e independente. Minha mulher é foda e ninguém pode dizer o contrário — Mas ele não sabia do real perigo que ela poderia estar ameaçada — Mas ela nunca lidou muito bem com ficar sozinha e já que Megumi passa a maior parte do tempo na escola, eu...
— Claro que eu posso fazer companhia a ela — A voz dele era tranquila e calma, como se o mundo não fosse acabar — Eu vou ficar aparecendo por aí pra ver se ela tá bem, com prazer. Você sabe que eu gosto muito dela e já podia ter começado essa conversa dizendo que não quer que ela fique sozinha.
— Me desculpa — Finalmente, Satoru deixou que um suspiro cansado escapasse de seus lábios — É que esses putos acabaram de me avisar da reunião e eu nem tive tempo de planejar nada. Acabei ficando preocupado que ela se sentisse sozinha nesse meio tempo.
— Não se preocupa, Satoru. Eu vou cuidar dela.
E foi somente depois de ouvir a voz firme e determinada de Suguro que o Gojo se deixou relaxar por completo. Se ele estava falando que vai cuidar de você, não existiam mais motivos para Satoru se preocupar.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top