𝚝𝚑𝚒𝚛𝚝𝚢 𝚜𝚎𝚟𝚎𝚗

Megumi acordou com os passos descontrolados de Satoru no quarto ao lado. O mais novo também não tinha conseguido dormir nada. Você saiu de manhã no dia anterior e ainda não tinha voltado para casa. O seu celular estava desligado e ninguém sabia onde você estava.

Logo quando os dois tinham finalmente batido o martelo em seguir você para onde quer que você fosse. A ideia de que a agência tinha se antecipado e prendido você fazia o Fushiguro querer chorar até secar todas as lágrimas.

Ainda não eram nem cinco da manhã quando ele decidiu sair da cama e falar com o pai. Satoru estava estressado desde ontem de tarde, quando tentou ligar para você pela terceira vez e não tinha recebido nenhum retorno.

Mei Mei ficava fazendo perguntas sobre onde você estava, mas ele ficou dando desculpas bem elaboraras até o turno dela acabar e ela sair do apartamento. Megumi era esperto o suficiente para saber que a pior coisa que eles poderiam fazer naquele momento era admitir que você tinha sumido.

Se não tivesse sido a agência que prendeu você, isso só os alertaria para uma possível fuga, o que provavelmente acabaria com você sendo pega.

Por isso, eles sofreram em silêncio.

Depois de escovar os dentes e trocar de roupa, Megumi bateu na porta de Satoru, que não demorou muito para abrir. O rosto do platinado estava inchado como o mais novo nunca tinha visto antes. Ele tinha passado a madrugada inteira chorando e Megumi jamais poderia julgar, porque estava com os olhos tão vermelhos quanto.

— Alguma notícia dela?

— Nada ainda — O Gojo suspirou e passou a mão pelo cabelo molhado. Provavelmente ele tinha acabado de sair do banho — Você não conseguiu dormir?

— Não.

— Eu também não.

Um pequeno silêncio se instaurou entre eles. Megumi estava com a cabeça baixa, encarando o chão, mas não conseguiu se segurar por muito tempo. Ele queria parecer forte para Satoru, até porque o mais velho deveria estar sofrendo ainda mais que ele, mas não conseguiu.

As lágrimas e os soluços incansáveis o atingiram como uma bomba. Megumi chorava como nunca chorou em toda a sua vida. A mãe dele morreu muito cedo. O pai dele morreu logo depois. Ele nunca teve irmãos. O mais perto de uma família que ele tinha era Satoru, mas o platinado nunca quis o assumir como filho. Foi nessa missão que ele finalmente entendeu o que era fazer parte de uma família de verdade e você era uma peça essencial nisso tudo. Você era a figura materna na vida dele e ele tinha perdido isso também.

— Eu não quero ficar sem ela — Ele praticamente gritava, como se o desespero tivesse tomado conta de vez — Ela não pode ter ido embora.

Por um momento, Satoru não conseguiu fazer nada. Ele nunca tinha visto Megumi daquele jeito e queria nunca ter presenciado aquilo. A criança que ele mais amava na vida, por muito tempo a única pessoa que ele realmente amava antes de você entrar na vida deles, estava destruído.

E o Gojo não conseguia deixar de pensar que parte disso era culpa dele.

Se ele tivesse sido claro desde o começo. Se ele tivesse se colocado à sua disposição para superar qualquer barreira. Se ele tivesse dito que te amava como nunca amou ninguém. Se ele tivesse mostrado que não existia a possibilidade de ele ser feliz sem você ao lado dele. 

— Nós vamos achar ela — Satoru disse, deixando que os joelhos cedessem e caindo no chão, puxando Megumi para os braços dele, o apertando forte. Porque, naquele momento, o mais novo era a única coisa que poderia segurar o platinado em pé. Não poderia perder ele também — Eu prometo, Megumi. Vamos achar ela.

O mais novo não respondeu, mas agarrou o Gojo com toda a força que tinha, deixando que as lágrimas caíssem sem restrições. O próprio Satoru também deixou que algumas escorressem pelo rosto dele, como se ele já não tivesse chorado o suficiente na noite passada.

Satoru não tinha falado da boca para fora. Ele encontraria você, nem que a vida dele dependesse disso. Se a agência tivesse lhe prendido, seria ainda mais fácil lhe achar. O difícil seria organizar a sua fuga, mas ele faria o que fosse preciso.

Mas, se você tivesse fugido por conta própria, o problema seria encontrar a sua localização. A agência demorou anos para conseguir uma pista de onde você estava. A verdade era que eles nunca tinham ativamente lhe encontrado, só conseguiram fazer um contato com a proposta da missão atual. Foi você quem resolveu sair da toca e aceitar o trabalho.

Isso não o impediria.

Com esse pensamento em mente, ele cessou as lágrimas e se afastou levemente de Megumi, usando uma das mãos para enxugar as lágrimas do rosto dele.

— Precisamos nos apressar — Satoru disse, calmo, mas tinha uma urgência implícita na voz dele — Vamos descobrir o que aconteceu e pensar em um plano de ação.

— Tá bom — Megumi fungou uma última vez e fez as lágrimas pararem de escorrer. Ele era muito mais forte do que o Gojo pensava.

— Eles não podem saber que a gente tava chorando.

— Vou lavar o rosto.

O mais novo disparou em direção ao próprio quarto e Satoru também foi até o próprio banheiro. Eles usaram algumas sacolas de gelo para diminuir o inchaço na região dos olhos e usaram um pouco do seu protetor solar com cor para afastar a vermelhidão.

Depois de alguns longos minutos, nem parecia que os dois estavam destruídos por dentro.

Computadores nunca foram o forte do platinado. Ele sempre preferiu usar a força física na missão, mas tinha aprendido uma coisa ou outra com você ao longo dos meses em que passaram juntos. Não era tão difícil assim usar o seu notebook, o qual ele sabia a senha, para tentar rastrear o seu celular. O único problema era que a última localização era no meio do rio da cidade.

— E então? — Megumi perguntou, ansioso.

— Ela deve ter se livrado do celular ontem de tarde.

— Isso é bom ou ruim?

— Significa que não foi a agência que prendeu ela — Ele usou um pendrive para passar e deixar armazenado todos os dados existentes naquele aparelho. Depois que concluiu, fechou o notebook com força — Precisamos destruir isso daqui.

— Por que?

— Se tiver alguma pista de onde ela pode ter ido, a agência não pode descobrir.

— O forno.

— O que?

— Podemos colocar fogo nele! — Megumi estava mais animado do que deveria. Era a primeira vez que ele ativamente se sentia um membro importante de uma missão, a missão de encontrar você mais uma vez.

— Genial.

Satoru bagunçou os cabelos do mais novo com uma das mãos, pouco antes de se levantar e correr até a cozinha. Colocou o forno na maior temperatura e jogou o notebook lá dentro.

— Temos que correr — Ele se virou na direção do filho, que tinha o seguido até a cozinha — Prepara a sua mochila e esconde ela de baixo da cama.

Megumi apenas assentiu com a cabeça e disparou em direção ao próprio quarto. O Gojo fez a mesma coisa, preparando uma bolsa com algumas mudas de roupa, materiais de higiene pessoal e também colocou algumas comidas enlatadas.

O ideal seria passar na casa dele antes. Lá tinha uma bolsa para casos de emergência que Satoru sempre deixava preparada. Tinha notas em espécie, passaportes falsos e aparelhos não rastreáveis pela agência. Talvez não desse tempo de ir buscar. Tudo dependeria das próximas horas.

Satoru tinha acabado de deixar a bolsa de baixo da cama quando ouviu a porta da frente ser bruscamente aberta a força. Ele nem pensou direito. Pegou a arma dentro da gaveta da cabeceira dele e disparou em direção ao quarto de Megumi.

O mais novo tinha os olhos arregalados, mas não tremia, se manteve firme quando o platinado o colocou no colo e apontou a arma para a porta do quarto, esperando o invasor dar as caras. Porém, quando o rosto de Masamichi apareceu, ele abaixou a pistola.

— Que porra é essa? — Satoru gritou, mas o mais velho o ignorou.

— Procurem por todos os quartos — Ele estava obviamente muito agitado e nem toda a experiência que ele tinha acumulado conseguia esconder isso — Ela tem que estar aqui em algum lugar.

Então eles não tinham achado você ainda. Um peso enorme tinha sido tirado das costas do Gojo. Ele tinha os dados do seu notebook. Parecia idiotice achar que você deixou alguma pista ali sobre para onde iria, mas essa era a última esperança a qual Satoru podia se agarrar.

Os homens armados entraram aos montes no apartamento, verificando cada centímetro quadrado do lugar, mas não demorou muito tempo até um deles se dirigir a Masamichi.

— Nada, senhor.

O chefe olhou para o platinado com uma raiva significativa.

— Onde ela está?

— Juro que não tenho ideia — Satoru respondeu, sem precisar mentir — Ela saiu ontem pra comprar algumas coisas no mercado e não voltou mais.

Os olhos de Masamichi se estreitaram na direção dele. Ele não acreditava nas palavras do Gojo.

— Ele tá falando a verdade — Mei Mei apareceu no campo de visão deles, entrando no quarto de Megumi não mais vestida como empregada doméstica, mas sim com o uniforme da agência — A Espectro saiu cedo ontem e não tem nenhum sinal de que ela voltou aqui.

— O que tá acontecendo? — A pergunta de Satoru fez um sorriso divertido e arrogante brotar nos lábios da mais velha.

— A sua queridinha entregou Geto e fugiu — As palavras dela ainda estavam sendo processadas por ele quanto ela continuava — Você disse com tanta sinceridade que amava ela, mas duvido que sabia que ela já tinha conseguido acabar a missão. E, pra completar, ela ainda fugiu e deixou você.

Algo estalou na mente dele.

De fato, Satoru não tinha a menor ideia de que você tinha conseguido acabar a missão. Você estava fazendo um trabalho tão preguiçoso que ele tinha certeza de que você tinha acabado a resposta sem querer. Ele se perguntava a quanto tempo você sabia. Talvez você tivesse segurado aquela informação porque não queria que as coisas finalmente acabassem.

Você teria que fugir. Nunca mais veria Satoru e Megumi de novo. Teria que prender Suguro.

Você e Suguro estavam se dando muito bem desde que se conheceram. Talvez você não quisesse que ele fosse preso, tanto quanto o próprio platinado não queria.

— O que aconteceu com Suguro?

— Nossos homens estão indo em direção do porto agora mesmo — Foi Nanami quem respondeu, com um sorriso infeliz no rosto — O que foi, Satoru? Triste porque perdeu sua mulher e o seu amiguinho em uma tacada só?

Os olhos de Satoru se arregalaram, o que fez com que Nanami e Mei Mei alargassem os sorrisos. Mas, depois de apenas alguns poucos segundos, uma risada alta e estridente escapou dos lábios do Gojo, fazendo os dois dois perderem os sorrisos e franzirem as sobrancelhas.

É... estava tudo um caos.

Você estava tentando fugir da agência. Suguro seria preso em algumas horas.

Só que... provavelmente as coisas não fossem sair exatamente da forma como a agência previa. O maior erro daqueles homens era subestimar você e o Geto. E esse é um erro que Satoru jamais cometeria.

— Mandem a equipe do porto agir mais rápido — Masamichi gritou, obviamente abalado — E tragam todos os homens para a cidade! Procurem em cada bueiro dessa porra se precisarem — Os homens se moviam a medida em que as palavras dele eram proferidas — Não vamos deixar a Espectro fugir de novo. Essa é a maior das nossas prioridades! Aquela mulher não pode ficar solta de novo.

Isso só fez com que Satoru risse mais ainda. A mera ideia de conseguir parar um espírito tão livre quanto o seu era, no mínimo, absurda.

Você era imparável. Nem todos os membros da agência era o suficiente para prender você.

[...]

Seus passos eram firmes, ainda que suas penas estivessem tremendo levemente. Você já não deveria mais estar naquela cidade, principalmente porque não demoraria muito para que a agência começasse a execução da parte final da missão. Mas você ainda tinha um último assunto pendente antes de ir embora de vez.

Não foi muita surpresa a facilidade com que você chegou até o porto. Ainda não tinha nenhum agente ali. Provavelmente Masamichi estava verificando a veracidade da sua informação, até porque ele nunca confiou muito em você, ao mesmo tempo em que preparava os homens dele para prenderem o maior mafioso atualmente do Japão.

Essa parte teria que ser muito certeira e sem nenhum tipo de erro. Você conhecia Masamichi o suficiente para saber que ele não seria afobado e correria o risco de cometer um deslize, mas você estava ficando sem tempo.

Não era a primeira vez em que você se esgueirava para dentro da toca inimiga, você só esperava que aquela fosse a última. A forma sutil em que seu corpo se movia, sem fazer nenhum barulho e sem ser notada, era o que fazia com que todos lhe chamassem de Espectro. Um nome que você tentou deixar para trás várias e várias vezes.

Era fácil não ser notada pelos homens armados que guardavam o porto. O difícil era achar o homem que você estava procurando, mas, assim que avistou os cabelos escuros, começou a agir.

Suguro estava sozinho em uma sala mais afastada, o que facilitava muito a sua vida. Você chegou perto o suficiente para precisar apenas dar três batidinhas leve na porta de vidro e chamar a atenção dele.

Os olhos dele se arregalaram no mesmo instante que pousaram em você. A expressão dele ficou gélida, mas o Geto logo se recuperou e colocou aquele sorriso caloroso de sempre no rosto, o que fez o seu coração se apertar um pouquinho mais.

Você aproveitou a deixa para entrar na sala, sabendo que estava agora agindo muito mais com o coração do que com a razão. Mas não podia deixar as coisas como estavam. Não podia ir embora sem fazer esse último movimento.

— [Nome], eu não esperava você por aqui — Ele disse, com o tom de voz meigo, mas hesitante.

— Satoru deve ter te dito que eu ia embora — Você se sentou em uma das cadeiras na frente da dele e tentou ficar minimamente confortável para o que estava por vim — Eu não podia deixar o Japão sem antes falar com você.

Suguro estreitou os olhos e franziu as sobrancelhas. Ele desviou o olhar de você para olhar para além das enormes janelas de vidro que rodeavam a sala dele.

— Como você conseguiu chegar até aqui?

— Eu sempre fui muito conhecida por conseguir entrar em lugares proibidos sem que ninguém notasse.

Os olhos dele se arregalaram de novo, mas, mesmo tendo uma arma a poucos centímetros da mão dele, Suguro não fez nenhuma menção de a pegar. Ele só ficou lhe encarando por vários segundos, em silêncio, como se ele estivesse tentando achar uma forma de já negar o que sabia.

— Você é a Espectro.

Não era surpresa nenhuma ele conhecer o seu codinome. Uma diversidade enorme de mafiosos já tinham ouvido falar, muito embora fosse pouquíssimos os que conhecessem o seu rosto.

— Sou — Você não olhava nos olhos dele enquanto respondia, mas respirou fundo e o encarou com um olhar filme e sem dúvidas.

Você precisava fazer alguma coisa antes que a agência chegasse. Nunca em toda a sua carreira você tinha feito algo parecido com aquilo. Se envolver com o alvo e deixar que seu coração guiasse os seus passos dentro do campo de batalha. Mas, depois de conhecer bem Suguro, não parecia uma ideia tão ruim assim o que você estava prestes a fazer.

— Não temos muito tempo — Você disse, se encostando mais ainda na cadeira — Precisamos conversar sobre umas coisinhas.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top