𝚝𝚑𝚒𝚛𝚝𝚢 𝚏𝚒𝚟𝚎
— Mais um — Satoru falou ao barista, que olhou de relance para o Geto. Somente depois de uma confirmação leve com a cabeça do moreno, ele serviu mais uma dose de uísque para o platinado — Por que esse cara fica olhando pra você toda vez que eu peço outra dose?
— Talvez porque você já tenha bebido doses suficientes pra fazer alguém dar pt.
— Não me lembro da última vez que eu passei mal com bebida.
— Nesse ritmo, você vai ter que reiniciar a contagem hoje — Suguro tinha um sorriso nos lábios, que era ao mesmo tempo divertido e preocupado — Vai me contar o que tá acontecendo?
Como Satoru poderia colocar em palavras?
Lembra de [Nome], minha esposa? Então, na verdade ela foi contratada pelo serviço secreto. Já falei que eu sou agente? Enfim, não somos casados de verdade. Mandaram a gente em uma missão pra te prender e, por causa disso, fingimos que somos uma família feliz e isso inclui Megumi, que, inclusive, não é meu filho de verdade. Acontece que eu acabei me apaixonando perdidamente por aquela maluca, mas a agência pra quem eu trabalho pretende prender ela no final da missão e torturar ela pra fazer uns trabalhos pra eles. Ela pretende fugir e, por mais absurdo que pareça, eu realmente acredito que ela vai conseguir. Tentei falar que eu ia com ela, mas ela não quer estragar minha vida e a de Megumi. E agora eu não sei o que fazer. Minha vida nunca teve tanto na merda. Eu tenho um prazo de validade pra ficar com a mulher que eu amo, porque eu também tenho que pensar no bem estar de Megumi, que, até pouco tempo, era a única pessoa com quem eu me importava nesse mundo. E pra completar, a ideia de prender você (o meu alvo) me dá tanta repulsa que faz com que eu queira jogar tudo pra cima e gritar foda-se, porque, por mais absurdo que possa parecer, eu realmente te considero o melhor e único amigo que eu já tive na vida.
— É complicado — Satoru respondeu, recebendo um suspiro pesado do Geto como resposta.
Depois da conversa que vocês tiveram sobre o futuro, o platinado só precisava sair de casa. Não aguentava a ideia de ter que olhar no seu rosto ou no de Megumi naquele momento. Por isso, enxugou as lágrimas que já estavam secando na bochecha dele e ligou para a única pessoa que faria ele se sentir melhor.
Suguro estava no meio de uma reunião, mas o Gojo não conseguiu disfarçar o leve desespero na voz quando falou para o amigo que precisava de uma bebida muito forte. Mesmo com alguns deveres para cumprir, o moreno cancelou a reunião na metade, liberou a agenda do resto do dia e marcou de se encontrar no bar em vinte minutos.
E lá estavam eles.
— Ainda é sobre [Nome]?
Talvez fosse o (muito) álcool que tinha no organismo de Satoru naquela hora ou apenas aquele sentimento de confiança e conforto que Suguro causava nele, mas ele assentiu com a cabeça repetidas vezes, ainda olhando para o copo, agora cheio, em mãos.
O Geto já sabia que o relacionamento de vocês estava passando por uma crise, mas, depois da rápida conversa que ele e o platinado tiveram no apartamento de vocês quando Yuji foi dormir lá, não aprofundaram no assunto. Na verdade, o Gojo estava evitando ficar em um ambiente sozinho com Suguro justamente para não chegarem nesse tipo de conversa.
A essa altura do campeonato, ele não se garantia em não relevar absolutamente nada da missão sem querer para o alvo de vocês. Mas ele também sabia que essa conversa era inevitável.
— Talvez ela precise sair da cidade por um tempo indeterminado — Foi o mais perto da verdade que ele conseguiu chegar.
— Vocês vão se mudar? — Se o Geto tentou esconder a tristeza no tom de voz dele, não conseguiu.
— A gente não, só ela.
— Não entendi — Suguro estava com as sobrancelhas franzidas e o platinado percebeu que precisaria estar ainda mais alcoolizado para ter aquela conversa. Por isso, ele virou a dose de uísque antes de finalmente voltar a encarar o amigo.
— A família dela é complicada e vive tendo confusão — Um suspiro pesado escapou dos lábios dele, por mais que essa parte fosse mentira — Parece que deu uma merda das grandes dessa vez e precisam que ela volte pro país dela, só que ninguém sabe quanto tempo vai demorar até tudo se resolver.
— Qual é o país?
— Brasil — Ele falou a primeira coisa que veio na cabeça.
— E você não vai com ela?
— Essa que é a parte complicada — Ele fez um gesto para o garçom colocar mais uma dose e, depois de confirmar com Suguro mais uma vez, o senhor de idade colocou a bebida no copo do platinado — [Nome] passou muito tempo escondendo de mim que esse problema com a família dela tava rolando, porque ela não queria me envolver e também não queria que as coisas afetassem Megumi. Eu sabia que ela tava com algum problema e não queria me dizer, aí eu dei espaço pra ela.
— Esse clima estranho já tava rolando quando eu fui deixar Yuji pra dormir lá, né?
— Uhum — Outra dose de uísque para dentro — E hoje, mais cedo, foi quando a gente conversou finalmente sobre isso — Ele teve que fazer uma pausa, tendo que se desdobrar para se concentrar em não revelar muitos detalhes, não lembrar muito sobre a conversa terrível que vocês tiveram de manhã e, principalmente, em não chorar de novo — Ela não quer que eu e Megumi viajemos com ela.
— Por que não?
— O primeiro deles é que eu não consigo uma transferência do hospital pra lá e [Nome] é dona de casa, então nossa renda ia ser um total de zero, porque o apoio da família dela tá fora de cogitação — Ele tentava ao máximo chegar perto da realidade, mas estava sendo impossível — Além disso, Megumi tá no ensino fundamental aqui no Japão. Cara, até o alfabeto deles é completamente diferente do nosso. Ele ia se foder pra aprender a língua nova.
— Esses, na verdade, são ótimos motivos — Suguro parecia pensativo, como se também estivesse tentando pensar em uma solução para todos os problemas — Não tem nada que eu possa fazer a respeito? O Brasil fica meio longe, mas eu posso dar um jeito.
— Nem tente fazer nada — Finalmente, o Gojo deu a primeira risada desde que os dois chegaram no bar, embora essa risada não tenha sido nada feliz — Não tem muito o que você possa fazer, mesmo com todo esse poder aí. Além disso, é da família dela que a gente tá falando. Por mais cuzões que eles sejam, [Nome] ainda se importa muito com eles.
— Entendi — Foi a vez do moreno virar a própria bebida.
Não era segredo para ninguém que o Geto gostava muito de você. Satoru não ficava chocado com a ideia de ele ter ficado triste com a notícia de que você, eventualmente, iria embora. Pelo menos ele não sabia que, na teoria, ele também seria preso nesse mesmo lapso tempo.
Que merda.
— Megumi sabe?
— Aquela criança é esperta demais pra a gente conseguir esconder alguma coisa dele.
— E o que ele acha sobre isso?
— Ele nunca me disse nada diretamente, mas eu já ouvi uma conversa dele com [Nome] sem querer — O que parecia ser o trigésimo suspiro fundo dele escapou pelos lábios de Satoru — Ele tá tão desesperado quanto eu com a ideia de ela ir embora de vez.
— Ela não volta?
— E quem sabe? — A risada do platinado não foi nem um pouco divertida. Na verdade, ele estava se segurando mais do que nunca para não deixar as lágrimas vencerem.
Um pequeno silêncio se instaurou entre os dois por alguns minutos. Foi baixinho, mas o Gojo conseguiu ouvir um "puta que pariu" muito sincero vindo do amigo.
Realmente. Puta que pariu era uma ótima reação para tudo o que estava acontecendo.
— Você tá pensando em fazer o que?
— É aí que tá — O sorriso depressivo no rosto do Gojo ainda não tinha saído — Todos os motivos que ela me apresentou pra a gente não ir são cem por cento válidos. Eu também preciso pensar no futuro de Megumi. Ela deixou bem claro que ir com ela não é uma opção, mas eu me recuso a deixar aquela mulher ir embora e agora eu não tenho a menor ideia do que fazer — De repente, o sorriso sumiu do rosto dele e Satoru olhou para o amigo com uma intensidade fervorosa no olhar — Eu amo ela, Suguro. Nunca nem se passou pela minha cabeça que eu ia me apaixonar por alguém como eu sou apaixonado por ela. Não posso deixar isso passar.
Um sorriso, dessa vez sincero e confiante, foi esboçado nos lábios do Geto.
— Então eu acho que você já tem a sua resposta, Satoru Gojo.
[...]
Sua cabeça latejava e você nem conseguia mais prestar atenção no episódio de Haikyuu!! que passava na televisão. Já faziam horas desde que Satoru mandou uma mensagem dizendo que precisava resolver algumas coisas e saiu do apartamento antes que você conseguisse ver sequer a sombra dele.
Você tinha feito o possível para Megumi ficar entretido a tarde inteira. Ele nitidamente ficou triste pelo pai não ficar em casa para assistir o anime e almoçar com vocês, mas você conseguiu colocar sorrisos e arrancar risadas dele quando vocês dois começaram a jogar alguns jogos de videogame. Impressionante como você, que conseguia hackear até o FBI era uma completa inútil jogando até Batman Lego.
Foi assim que vocês passaram a tarde inteira. Jogaram diversos jogos diferentes e, depois de você cansar de ser humilhada pela sua criança, deu a ideia de assistirem o anime que ele queria. Por isso, fizeram pipoca e se jogaram no sofá durante horas, enquanto os episódios iam passando.
No início, Megumi estava empolgado e fazendo vários comentários a medida em que a história ia se desenrolando. Depois, ele foi falando menos. E, naquele momento, já fazia meia hora que ele não dava um piu. Você imaginou que ele estaria entediado depois de passarem tanto tempo assistindo, mas, ao olhar para a criança sentada ao seu lado no sofá, percebeu que ele apenas tinha acabado caindo no sono.
Você nunca deixava de ficar impressionada com o quanto Megumi parecia um anjinho dormindo.
Com um sorriso no rosto, você o pegou no colo com todo o cuidado do mundo para não acorda-lo e foi caminhando em passos leves até o quarto dele.
Vocês dois não tinham jantado, mas comeram tanta besteira que você duvidava que ele sentiria fome. Quando estava prestes a deixar ele na cama, se lembrou que ainda não tinham escovado os dentes. A ideia de deixar essa passar uma vez na vida passou pela sua cabeça, mas se ele aparecesse com uma cárie você nunca iria se perdoar.
— Filho — Você sussurrou, recebendo um resmungo em resposta — Filho, você só precisa escovar os dentes antes de dormir.
Os olhos, que pareciam grandes demais no rostinho pequeno dele, se abriram lentamente.
— Tudo bem, mamãe.
Você foi até o banheiro, com ele ainda em seus braços. O colocou em cima do banquinho na frente da pia e o ajudou a escovar os dentes. Normalmente Megumi fazia isso sozinho, mas estava tão zonzo de sono que mal conseguia se sustentar em pé sem a sua ajuda.
Quando finalmente acabou, você o pegou no colo novamente e o colocou na cama. Assim que a cabeça dele atingiu o travesseiro, Megumi ficou imerso em um sono profundo. Você sorriu ao perceber que ele deveria estar extremamente cansado, mas tinha feito o possível para passar o máximo de tempo acordado ao seu lado.
Você fechou as cortinas e ligou o ar-condicionado antes de sair do quarto e fechar a porta atrás de si. Ainda era cedo para você ir dormir e, mesmo que tentasse, sabia que não conseguiria. Também estava preocupada com Satoru, que tinha saído de casa sem nem avisar direito depois da conversa sensível que vocês tiveram.
Seus pés já estavam se movimentando em direção ao sofá da sala, onde você tinha deixado o seu celular, para mandar uma mensagem ao platinado, quando o som da tranca digital chamou a sua atenção. O barulho da senha sendo colocada incorretamente fez as suas sobrancelhas se franzirem. Mais uma vez, senha errada.
Em passos cautelosos, você caminhou até a porta, espiando pelo olho mágico, enquanto a pessoa errava pela terceira vez a senha da tranca.
— Puta merda — Você sussurrou, assim que viu, através do olho mágico, um Satoru Gojo completamente embriagado e sem condições de entrar dentro do próprio apartamento.
Rapidamente, você abriu a porta, tendo que apoiar o corpo dele para não cair de uma vez no chão, já que ele estava se apoiando na porta antes de você abri-la.
— Amor! — Ele gritou, animado, enquanto abria os braços na sua direção.
— Shhhhh — Você murmurou, olhando na direção do corredor, rezando para que Megumi não tivesse acordado com o barulho — Nosso filho tá dormindo e você não vai acordar ele porquê tá bêbado demais pra fazer silêncio.
Depois de o repreender, muito séria, o platinado tirou o sorrisinho besta do rosto e assumiu uma postura mais culpada, mas, ainda assim, murmurou:
— Eu não fico bêbado.
— Então claramente teve alguma desconfiguração no seu sistema, porque esse fedor de uísque me diz outra coisa.
Você passou um dos braços dele por trás do seu pescoço, fazendo o seu marido de apoiar em você e conseguir andar pelo corredor da casa. Pelo menos ele estava tentando ficar calado enquanto passavam pelo quarto de Megumi.
Foi só quando chegaram no quarto de vocês, depois de você fechar a porta, que ele falou:
— Você tá brava comigo?
— Não tô brava — Respondeu, ainda ajudando ele enquanto seguiam para o banheiro — Só achei idiotice você chegar em casa nesse estado.
— Eu tava com Suguro.
— Eu sei — Ele lançou um olhar confuso na sua direção, o que fez você dar de ombros — Ele é o seu único amigo e eu achei que você precisasse de um tempo depois da nossa conversa de mais cedo.
Com cuidado, você o ajudou a se sentar em cima do vaso sanitário.
— Você vai passar mal? — Você perguntou, enquanto procurava alguns remédios dentro das gavetas de baixo da pia.
— Acho que não.
— Certo — Você colocou uma cartela de comprimidos na mão dele e se virou para sair — Vou te deixar tomar banho em paz.
Mas uma mão agarrando o seu pulso lhe impediu de dar mais um passo para frente. Sua cabeça se virou na direção dele e, quando você viu o rosto de Satoru, o seu coração murchou.
— Você pode me ajudar? — Ele não olhava nos seus olhos e parecia tão envergonhado que você quase não reconheceu o homem na sua frente.
Satoru não queria ficar sozinho. Queira aproveitar cada segundo que restava ao seu lado. Mas estava muito bêbado para colocar isso em palavras.
— Tudo bem — Respondeu, com um sorriso triste no rosto. Você sabia como ele se sentia, porque era muito parecido com o que você mesma estava sentindo.
Foi trabalhoso, mas você conseguiu dar banho nele. O Gojo estava tão inútil que você precisou fazer todo o trabalho por ele. Não era a primeira vez em que você ensaboava o corpo sarado e esculpido dele, mas foi a primeira que fez isso com nenhuma intensão maliciosa.
Satoru falava sem parar, mas a maioria das histórias não tinham nexo nenhum. Ele também lhe elogiava, dizendo que você era linda, gostosa e que mal podia esperar para lhe foder com força no outro dia.
Palavras vazias que você apenas ignorava. Pelo menos, estava sendo divertido cuidar dele.
— Me desculpa por ter ido embora hoje cedo — A voz dele chamou a sua atenção, enquanto tentava colocar a cueca no corpo do platinado.
— Não precisa se desculpar — Você finalmente conseguiu fazer com que ele levantasse uma perna de cada vez para a peça de roupa começar a subir — Eu sei que você precisava de um tempo depois da conversa.
— Tô falando de manhã, quando eu saí depois do sexo.
Você arqueou as sobrancelhas e se virou na direção dele. Não achava que ele fosse se desculpar por isso, mas claro que o álcool estava ajudando. Você pensou até em ignorar essa conversa, mas o foco nos olhos dele lhe dizia que ele não lhe deixaria em paz até essa conversa terminar.
— Tudo bem.
— Não tá tudo bem. Eu sei que você ficou chateada.
— É claro que eu fiquei, Satoru — Você pegou a bermuda dele e começou a fazer o mesmo processo que fez com a cueca box — Nosso relacionamento já tava muito difícil, aí você começou a sair da cama sem dar nenhum "piu" depois do sexo.
— Eu achei que as coisas fossem ser mais fáceis se eu só saísse — Ele não olhou na sua direção enquanto falava aquilo, envergonhado.
— Essa é uma ideia bem merda.
— É... eu não demorei muito tempo pra perceber isso.
Você acabou soltando uma risada verdadeira e genuína. Fazia tempo que você não ria assim.
— O pior é que é a sua cara pensar em uma porra dessas — Disse, ainda rindo, arrancando um sorriso bobo do rosto dele.
— O seu sorriso é o mais lindo que existe.
Você parou de rir, mas ainda tinha um sorriso no seu rosto quando levantou os olhos e viu o Gojo hipnotizado, olhando para você como se o resto do mundo simplesmente não importasse.
— Obrigada — E foi a sua vez de ficar com vergonha. Fazia um tempo que você não era elogiada por ele, estava quase se desacostumando — Agora é melhor a gente ir pra cama.
— Sem sexo hoje? — Ele perguntou em um tom brincalhão.
— Sem sexo hoje — Você respondeu revirando os olhos, o que o fez soltar outra risada divertida.
Satoru ainda aceirou a sua ajuda para chegar até a cama, mas dava para perceber que ele já estava bem mais sóbrio do que antes. Você saiu do quarto apenas para ir até a cozinha e encher uma garrafa de água para deixar na cabeceira ao lado da parte dele da cama, caso ele precisasse durante a madrugada.
— Eu não quero que essa missão acabe nunca — Ele disse, enquanto você se sentava na cama.
— Por que? — Perguntou, já se acomodando melhor no seu travesseiro e deitando ao lado dele.
— Porque eu não vou ser nada sem você.
As palavras arrastadas perfuravam a sua pele e atingiam o seu coração como cacos de vidro. Você se obrigou a sorrir e depositar um beijo casto na testa dele antes de se deitar de vez.
Satoru passou os braços ao redor da sua cintura e lhe puxou para mais perto. O cheiro dele, muito mais do que usual naquela altura do campeonato, atingiu as suas narinas, fazendo você pensar em como se sentia verdadeiramente confortável ao lado daquele homem. Mesmo assim, afastou os pensamentos.
Não podia voltar atrás com a sua decisão de ir embora. Precisava se lembrar de que estava fazendo isso por eles e não por você.
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