𝚝𝚑𝚒𝚛𝚝𝚢 𝚎𝚒𝚐𝚑𝚝
Satoru corria como nunca tinha feito antes na vida, mesmo que os treinamentos para se tornar um agente foram tão intensos que o fizeram desmaiar algumas vezes. Talvez fosse a adrenalina correndo nas veias dele, mas as pernas do Gojo se recusavam a parar. A respiração ofegante não parecia nada comparada ao ritmo frenético com o qual o coração dele batia.
Precisava se apressar.
Não tinha muito tempo.
Depois de sair do apartamento que antes era de vocês, a prioridade dele foi deixar Megumi em um lugar seguro. Por sorte, Satoru tinha vários esconderijos espalhados pelo Japão, justamente para o caso de precisar colidir com a agência.
Ele ainda não sabia muito bem o que estava fazendo. Não sabia se você já tinha deixado o Japão. Não sabia onde poderia lhe encontrar. Não sabia se Suguro já tinha sido preso.
Mas ele precisava começar do início.
A agência estava lhe procurando por toda a cidade, enquanto mandava um batalhão de homens até o porto. Com certeza Satoru não chegaria antes da agência, mas precisava tentar mesmo assim.
O plano era: contar toda a verdade para Suguro e impedir que ele fosse preso; lhe encontrar, onde quer que você estivesse; voltar para buscar Megumi; fugirem juntos para algum lugar.
É, parecia um ótimo plano, tirando alguns meros detalhes, como a sua localização, que ninguém sabia ao certo, ou o fato de que era muito improvável que ele, sozinho, conseguisse dar conta de todos os membros que a agência tinha mandado para prender Suguro.
Mas ia dar certo.
Tinha que dar certo.
A mão dele já estava segurando a pistola, a medida em que ele ia se aproximando do porto. Mas, ao chegar lá, as pernas dele pararam bruscamente.
O lugar estava vazio. Não "pouco movimentado", mas "completamente vazio". Não tinha uma única alma viva naquele lugar.
O medo começou a assolar o peito de Satoru. Se a agência já tivesse chegado e varrido o lugar, teria sido tarde demais. A culpa de não ter conseguido salvar Suguro era pesada demais. Ele até poderia ser o alvo da missão, mas, no final das contas, o Gojo não tinha a intenção de prender ele. Tinha adiado aquela missão por tempo demais. Deveria ter achado alguma forma de salvar o amigo, que provavelmente estava sendo levado para uma cela, na qual seria torturado durante o resto da vida e...
— Sabia que existem dois portos na cidade?
Satoru arregalou os olhos e se virou na direção da voz tão conhecida. Nada daquilo fazia sentido, tanto que ele começou a achar que a adrenalina estava o fazendo ver coisas.
— Os dois são muito parecidos e, convenientemente, cada um fica de um lado diferente da cidade.
Suguro sorriu, como se toda aquela situação não fosse uma catástrofe, mas sim uma piada muito engraçada.
— Eu já tinha ouvido falar sobre a Espectro muitas vezes — O moreno se aproximou em passos nem um pouco cautelosos — Mas ver ela em ação superou todas as minhas expectativas. Não sabia que ela conseguia manipular a maior agência de espionagem do país com tanta facilidade.
— [Nome] falou com você? — Satoru queria ter parecido menos desesperado do que soou.
— Conversamos por pouco tempo, mas foi o suficiente.
O coração do platinado deu um estalo doloroso.
— Suguro, eu...
— É um agente que foi mandado pra cá pra me prender? — Ele tinha um sorriso no rosto, mas Satoru já o conhecia o suficiente para saber que o Geto estava realmente magoado — A culpa foi minha por ter baixado a guarda.
— Você não foi o único a fazer isso — Não tinha um sorriso nos lábios do Gojo e ele nem conseguia olhar na direção do outro homem enquanto falava — Eu so falhei em uma única missão na minha vida, sabia disso? Eles realmente colocaram fé de que eu podia prender a Espectro e, por um breve momento, eu também achei que eu podia, até passar meses procurando por ela e não achar nenhum sinal. Todas as pistas que a gente encontrava era só pra despistar a gente para outro lugar — Ele passou a mão suada pelos cabelos bagunçados. Estava um caco como nunca estivera antes — Mas agora eu posso colocar outra missão na conta.
Finalmente, ele olhou para o moreno, que tinha tirado o sorriso do rosto e arregalado os olhos.
— Você ainda pode completar essa missão — Geto falou, levantando os braços, em sinal de rendição — É só me levar preso, não é?
— Não vem falar merda uma hora dessas da manhã — Satoru reclamou como se eles não estivessem em uma situação complicada. Como se o maior segredo dele não tivesse sido descoberto. Era como se estivessem conversando em uma sexta-feira qualquer no bar de sempre — Existiam dois motivos pra eu ter enrolado nessa missão pra que ela nunca acabasse — Ele tirou a arma de dentro do casaco e a jogou no chão — A primeira delas era porque eu sabia que [Nome] me abandonaria depois que ela terminasse — Ele chutou a arma para longe, até que ela chegasse nos pés de Suguro — A segunda era porque você é um canalha imbecil que me fez perceber que eu podia, sim, ter um amigo. E, como eu também sou um canalha imbecil, eu fui escolher virar amigo logo da última pessoa que eu podia fazer isso.
— Sinto muito por ter estragado a sua bela marca de apenas uma missão não cumprida — O Geto foi sarcástico ao falar, mas minha um sorrisinho divertido nos lábios dele.
— Vai se foder.
Os dois riram. Mas, depois de poucos segundos, ficaram calados e tiraram os sorrisos dos rostos. A conversa não tinha acabado e nada estava resolvido ainda. Ambos sabiam muito bem disso.
— Por que não me contou?
— Pra ser justo, você só me contou que era um criminoso porque 'tava quase morrendo.
— É verdade, mas você sabia disso desde o começo.
Satoru desviou o olhar mais uma vez. Na verdade, nem ele sabia muito bem o motivo de não ter aberto o jogo com o moreno antes. Claro que, no início, isso era impensável. Mas, depois de tanto tempo convivendo juntos, Suguro acabou se tornando uma das pessoas em que o platinado mais confiava. Já fazia um tempo que o Gojo decidiu que essa seria a segunda missão fracassada da vida dele, e o Geto era um dos motivos desse fracasso.
— Sinceramente? — Ele esperou Suguro confirmar com a cabeça e precisou respirar fundo antes de responder — Acho que eu só 'tava com vergonha. Não me leve a mal, eu gostava de ser agente e tudo mais, mas eu não queria admitir pra mim mesmo que conhecer [Nome] e você me fizeram querer parar de querer ser um.
— Isso é bem fofo, mas se você for me fazer uma declaração de amor e propor um trisal, eu vou ter que recusar.
— Vai tomar no meio do seu cu.
E, simples assim, os dois já estavam rindo de novo.
— Mas, sério, me desculpa por ter estragado todos os seus esquemas — Satoru coçou a cabeça mais uma vez, desajeitado — Deve ter dado um trabalho do caralho fugir.
— Não deu, na verdade — O moreno pegou a arma no chão e a atirou no rio — [Nome] já tinha um plano de fuga pra mim também.
— Ela tinha? — Os olhos de Satoru se arregalaram. Ele não tinha ideia de que você tinha tantas cartas na manga.
— Ela disse que fez isso mais por você do que por ela, mesmo que eu tenha certeza de que ela gosta de mim o suficiente pra ter se dado o trabalho.
— O que você vai fazer?
— Vou sair do país.
— E Yuji? — Ele se lembrou da promessa que tinha feito a Megumi de garantir que o Itadori ficaria bem no final disso tudo.
— [Nome] cuidou disso também — Suguro se aproximava mais ainda do platinado, como se ele não representasse nenhum tipo de ameaça — Ele tá em um lugar seguro e vai comigo.
— Mas e os seus trabalhos por aqui? Não vai precisar de grana pra sair do Japão?
— Eu já tinha dinheiro mais do que o suficiente e ela conseguiu mandar tudo pra uma conta no exterior sem que ninguém consiga me rastrear — Suguro finalmente chegou perto o suficiente para conseguir colocar uma mão em um dos ombros do Gojo, que não recuou com o contato — Ela é realmente incrível no que faz. Agora eu entendo porque a agência não quer manter ela solta.
— Você sabe onde ela tá?
O pânico começou a tomar conta de Satoru. Se você já tivesse sido presa, o plano dele seria muito mais difícil de ser executado. Pelo menos, ele saberia onde você estava, o que já seria uma vantagem.
— Ela saiu logo depois de falar comigo e me dar todas as instruções — O olhar de Suguro exalava tristeza. Ele não queria que você abandonasse o platinado e Megumi depois de tudo — Mas ela me pediu pra te entregar isso.
O moreno tirou um envelope do bolso do casaco e entregou a Satoru, que o observou com as sobrancelhas franzidas.
— O que tem aqui?
— Não sei — O moreno deu de ombros — Ela disse que se eu abrisse ela saberia e mandaria alguém atrás de mim pra me matar.
Satoru soltou uma risada alta e descontraída.
— Isso é bem a cara dela.
Ele estava prestes a abrir a carta, mas a mão de Suguro o impediu.
— Ela me disse pra você abrir apenas quando tivesse sozinho — Ele olhou para o relógio no pulso dele e soltou um suspiro alto — Eu preciso ir de qualquer forma. [Nome] falou que eu tinha só uns vinte minutos antes da agência perceber que ela mandou eles pro lugar errado.
— Pra onde você vai?
— Eu entro em contato assim que eu chegar lá — De repente, os braços de Suguro estavam ao redor do corpo do platinado, em um dos abraços mais calorosos que ele já sentiu na vida — Só vê se não morre até lá.
— É claro que eu não vou morrer.
Depois que se separaram, nenhum dos dois falou mais nada enquanto o moreno se virava e começa a andar em direção aos fundos das docas. Satoru não tentou ir atrás dele, até porque sabia que, naquela hora, ele só atrapalharia mais do que ajudaria. Se Suguro estava seguindo um plano elaborado por você, a agência não tinha mais a menor chance de prender ele.
O Gojo olhou para o envelope mais uma vez. Era branco e simples, sem nenhuma dedicatória ou assinatura. Ele caminhou até um dos bancos que tinham perto do píer e se sentou lá. Não tinham muitos barcos bloqueando a visão do rio, que desaguava no mar. A vista era tão dramática quanto a vida dele estava naquele momento.
Antes que tivesse a chance de abrir o envelope, o celular dele tocou dentro do bolso. Nem precisava ler o contato antes de atender para saber de quem se tratava.
— Oi, velho.
— A Espectro mandou a localização errada — A voz irritada dele só era um mínimo motivo para alegar um pouco mais o dia desastroso do platinado — Estamos a caminho do outro porto da cidade, mas não vamos chegar a tempo. Preciso que você vá para lá imediatamente e...
— Eu já tô aqui.
— Conseguiu prender Suguro Geto?
— Ele 'tava aqui, mas já esperava um ataque, então foi fácil me render e fugir, já que eu 'tava sozinho.
— Aquela vagabunda deve ter orquestrado isso tudo com ele — Tinham várias movimentações acontecendo onde Masamichi estava, e Satoru conseguiu perceber que você também tinha criado um caos dentro da própria equipe do chefe — Sabe onde ela está?
— Sinceramente, queria eu — Ele olhou para o envelope e, por mais que a ansiedade estivesse o atacando, o platinado sabia que não teria a sua localização ali. O Gojo já tinha uma ideia do que você teria escrito naquela carta e não existia a menor possibilidade de o seu endereço estar nela — Mas, infelizmente, eu não tenho ideia de onde aquela maluca se meteu.
— Isso é tudo culpa sua. Controlar a Espectro era sua responsabilidade.
— Vamos ser sinceros, velho — Satoru suspirou, cansado. Estava exausto de Masamichi e de toda aquela agência. Não aguentava mais olhar para a cara de Mei Mei e Nanami. Mandaria tudo para a puta que pariu se pudesse — Você pode até ter me escolhido pra missão por inúmeros motivos, mas nenhum deles era porque você acreditava realmente que eu conseguiria controlar aquela mulher — Um sorriso orgulhoso tomou conta dos lábios dele — Nós dois sabemos que nem um batalhão consegue parar ela.
— Satoru, eu estou falando sério. Quero que você...
O Gojo apenas desligou a ligação e jogou o celular no rio, junto com a arma dele que Suguro também tinha jogado lá. Depois disso, se encostou de forma mais confortável no banco e tirou a carta de dentro do envelope.
Mesmo tendo se preparado mentalmente para qualquer coisa que pudesse estar escrita ali, ele aparentemente não tinha feito um bom trabalho.
Satoru,
Eu não sou muito boa em despedidas. Passei a minha vida quase toda sozinha, então nunca precisei fazer isso antes. Por isso, achei melhor colocar tudo em um papel.
Muitas coisas inesperadas aconteceram nesses meses durante a missão, mas a mais assustadora delas, com certeza, foi eu ter me apaixonado por você. Eu nunca tinha me sentido assim antes, sabe? Mas, passar todo esse tempo com você me fez questionar todas as minhas decisões de vida.
Eu aceitei essa missão já sabendo dos planos da agência para mim. O meu plano era simples e certeiro: depois da missão, eu pegaria meu dinheiro e fugiria para longe. Mas tinha uma única variável nesse plano que eu nunca tinha considerado antes: você.
Eu juro que tentei não me apaixonar por você. Juro que tentei suprir esse sentimento pelo máximo de tempo que eu pude, mas nada parecia funcionar. A verdade é que eu te amo, Satoru Gojo, como nunca amei ninguém na minha vida.
E foi justamente por isso que eu tive que ir embora. Não menti quando disse que nunca me perdoaria se eu estragasse a sua vida e a de Megumi, o que iria acontecer se eu deixasse vocês virem comigo. Eu quero que vocês vivam a vida de vocês sem precisarem se preocupar todos os dias se serão pegos. Já passei por isso e posso garantir que a pior sensação é a de ser caçado pelo resto da sua vida.
Quero que você diga ao Megumi que eu o amo com todas as minhas forças. Avise a ele que foi um prazer enorme ser a mãe dele por esses meses e que eu jamais poderia pedir por um filho melhor. Ele é perfeito em todos os sentidos e meu coração se parte toda vez que eu me lembro que nunca mais o verei.
Isso me leva ao próximo tópico dessa carta: quero que você o adote, mesmo que sozinho. Megumi é perdidamente apaixonado por você e o maior sonho dele sempre foi poder te chamar de "pai". Mesmo que você não acredite nisso, você é um pai sensacional em todos os sentidos e esses meses que passamos juntos só me provou o que eu já sabia. Você não precisa de uma mulher ao seu lado para criar Megumi da melhor forma possível e, mesmo que ache isso, tenho certeza de que você vai encontrar alguém para ficar ao seu lado. Alguém com menos empecilhos e problemas do que eu. Alguém que possa estar ao seu lado e te fazer feliz ao mesmo tempo.
Sobre Suguro, se você está lendo essa carta, significa que vocês se encontraram. Espero que tenha acabado tudo bem entre vocês. Eu tentei explicar algumas partes, mas o meu tempo era curto e confio em você o suficiente para conseguir resolver isso sozinho. Também dei a ele uma forma de entrar em contato com você mesmo sem o seu celular da agência (conheço você o suficiente para saber que você já se livrou dele).
Realmente espero que vocês possam continuar a manter contato. Sei que você é o tipo de pessoa que acredita que não precisa de amigos, mas Suguro se tornou uma parte muito importante da sua vida e espero que você já tenha parado de negar para si mesmo o quanto se importa com ele.
Eu não tenho muito mais tempo, então queria deixar algo bem claro: eu te amo com todas as minhas forças e espero que um dia você possa entender o porquê de eu ter decidido ir embora e que possa me perdoar. Desejo toda a facilidade do mundo para você, Megumi, Suguro e Yuji, mesmo que eu não vá fazer parte da vida de vocês.
Mais uma vez, eu te amo, Satoru. Muito obrigada por ter me proporcionado os melhores meses de toda a minha vida.
Eu nunca vou me esquecer de vocês.
Com amor,
Espectro.
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