𝚜𝚎𝚟𝚎𝚗
Primeiro, o Gojo não tinha entendido absolutamente nada do que você tinha acabado de fazer. Você já tinha deixado claro que não pretendia fazer nada com ele a mais do que a missão exigia. A mente dele estava imersa em pensamentos conflitantes, ao mesmo tempo, ele tentava se controlar, mais do que nunca, para não perder o controle e te atacar ali mesmo enquanto vocês esperavam o elevador.
Somente quando Satoru desviou o olhar de você por um segundo, percebeu que Fumiko, a vizinha de vocês, tinha acabado de sair do apartamento dela, acompanhada por um homem, que provavelmente deveria ser o marido dela. Aí, o platinado percebeu algo muito importante: ele estava tão concentrado em você, que nem percebeu aquelas pessoas se aproximando. Isso era perigoso, e muito. Perto de você, ele perdia completamente a postura de espião. O Gojo era fenomenal no que fazia, ele sempre percebia quando alguém se aproximava, com excessão de você, que era tão silenciosa quanto um fantasma. Mas pessoas normais não conseguiam se aproximar sem que ele notasse. Você fazia com que os sentidos dele ficassem embaralhados. Ele sabia que você era perigosa, mas nunca imaginou que uma pessoa poderia afetar tanto assim a mente dele.
Outra conclusão muito importante que ele chegou foi que você apenas tinha o beijado porque aqueles dois estavam vendo vocês. Mal ele sabia que você simplesmente tinha agarrado uma oportunidade. Queria sentir os lábios do platinado mais uma vez e se aproveitou da deixa para suprir suas necessidades. Mas, aquele beijo não tinha sido nem perto do suficiente. Seu corpo ainda gritava pedindo por mais.
— Boa noite — O Gojo falou para os dois, que já estavam bem próximos de onde vocês estavam, depois de limpar a garganta.
Finalmente, você se virou na direção deles, parecendo surpresa que eles estavam ali, e envergonhada por terem visto e ouvido o que você falou parando platinado. Mal eles imaginariam que você tinha ouvido os passos deles ainda de dentro do apartamento e sabia exatamente para onde eles estavam indo.
— Boa noite — O homem, moreno e alto, falou, com um sorriso simpático — Acredito que vocês são o novo casal que se mudou agora a pouco — Ele estendeu a mão para Satoru, que retribuiu o ato sem pensar duas vezes — Muito prazer, meu nome é Sasuke.
— O prazer é todo nosso.
Ele também lhe cumprimentou com um aperto de mão, e você tentou manter a postura levemente tímida, mesmo que estivesse se divertindo muito com a expressão da loira atrás dele.
— Essa é a minha esposa — Sasuke disse, apontando para a mulher que vocês já conheciam — Fumiko.
— Acredito que já nos encontramos no elevador alguma vez — Satoru disse, cumprimentando-a com a cabeça, sem nenhuma maliciosidade em sua voz.
— É bastante provável — Ela respondeu, na defensiva — Mas minha memória não é das melhores.
Você segurou uma risada sarcástica. O clima poderia até ter ficado tenso, mas no elevador chegou no segundo depois em que a loira falou, e todos vocês entraram nele.
Aparentemente, o Gojo e Sasuke estavam se dando muito bem, já que não pararam de conversar nenhum segundo em que vocês estiveram lá dentro. A mão do platinado segurava a sua, de uma forma tão natural que quase parecia que isso era algo que vocês sempre fizeram. Você tentava prestar atenção na conversa, mas estava mais concentrada em elaborar um pequeno plano para o jantar de vocês. Seria um grande passo na missão e, mesmo que Satoru preferisse fazer as coisas no improviso, você queria ter, pelo menos, uma base do que fariam.
— Estão saindo para jantar? — O moreno falou, fazendo você se desligar de seus pensamentos e voltar a focar na conversa.
— Sim, é nosso aniversário de casamento — O Gojo respondeu, apertando ainda mais a sua mão e lhe trazendo mais para perto — Vamos sair para comemorar.
— Soube que vocês tem um filho. Foi muito difícil achar uma babá?
— Na verdade, já tínhamos pesquisado algumas antes de nos mudarmos para cá — Dessa vez, foi você quem respondeu — E Megumi é uma criança bem inteligente, então sabemos que não precisamos nos preocupar muito.
— Entendo — Sasuke parecia ser uma pessoa extremamente agradável, muito diferente da esposa dele. Fumiko não tinha falado uma palavra desde que entraram no elevador e o olhar dela só fazia revezar entre o chão e o platinado ao seu lado. Você não sabia bem explicar, mas o olhar pretensioso dela em cima de Satoru começou a lhe incomodar um pouco. Mas, por mais que essa fosse uma situação típica em que o Gojo iria se aproveitar, os olhos dele não se voltaram para a loira uma única vez sequer — Bom, podíamos marcar um dia para sairmos juntos para jantar. Sabe, é sempre bom conhecer os casais novos da vizinhança.
— Eu concordo — Satoru respondeu, parecendo mais simpático do que nunca — Se importa de me dar o seu número? Assim podemos combinar melhor.
— Claro — E, como num passe de mágica, o Gojo conseguiu com que vocês criassem a primeira relação com seus vizinhos. Claro que você preferiria fazer isso com alguém que não fosse casado com uma mulher que estava claramente dando em cima do seu marido. Mas qualquer tipo de contato já era uma vitória momentânea.
Quando o elevador finalmente chegou, vocês se despediram deles e saíram do prédio, entrando no táxi que você tinha chamado. Claro que o platinado abriu a porta para você e lhe ajudou a entrar no veículo, até parecendo um cavaleiro. Você apenas entrou na onda e, assim que ele também entrou, se aproximou o máximo que conseguisse dele. Além de cumprir bem o seu papel como esposa apaixonada, você estava adorando a ideia de poder provocar ele assim. Só não sabia se estava preparada para quando ele fosse provocar de volta.
— Eu achei eles simpáticos — Você disse, olhando diretamente para as íris azuis dele, que estavam tão próximas agora — A gente podia mesmo jantar um dia juntos.
— Eu também acho — Ele respondeu, sem quebrar o contato entre os seus olhos. Você teve que unir todas as forças que conseguiu para não tremer quando ele colocou a mão em cima da sua coxa, que estava descoberta pela fenda do vestido — Podemos fazer isso na próxima semana, mas, hoje... — Devagar, mas não de um jeito doce, ele começou a acariciar aquela região, subindo um pouco mais o contato, até onde a fenda permitia — ...você é só minha.
Você apenas murmurou um "uhum" baixo e assentiu com a cabeça. Poderia aproveitar que estava "encenando" para não precisar esconder 100% dos seus sentimentos atrás da máscara da Espectro.
O restaurante não ficava muito perto de onde vocês moravam, por isso, tiveram bastante tempo para conversar casualmente, como se fossem casados de verdade. Obviamente que essa conversa era muito bem mascarada e, por trás dela, vocês estavam esquematizando como seria essa noite.
Seria a suposta comemoração de aniversário de casamento de vocês, o que você já se preveniu em alterar na certidão de casamento falsa que a agência tinha mandado para vocês. A mesa que você reservou ficava longe o suficiente de Geto para que vocês não serem percebidos por ele, mas perto o suficiente para vocês olharem para ele. Assim, poderiam analisar o tipo de comportamento dele, obviamente que de forma discreta, mas isso vocês sabiam fazer muito bem.
Quando chegaram no lugar, Satoru desceu primeiro e, como se fosse um cavalheiro, estendeu a mão para você e lhe ajudou a descer do carro. Você logo entrelaçou o braço no dele, ao perceber que tinham muitas pessoas ao seu redor e, como se fossem um casal de verdade, andaram em direção à entrada do restaurante, com sorrisos bobos e falsos estampados nos rostos.
— Boa noite — A recepcionista falou, mais especificamente com o platinado, que mantinha um sorriso simpático no rosto, e aproximou você para ainda mais perto ao perceber que ela estava flertando — Como posso ajudar?
— Temos uma reserva no nome de Satoru Gojo.
— Claro — Ela respondeu, tirando o sorriso pretensioso do rosto — Por aqui, por favor.
Vocês a seguiram, enquanto falavam sobre supostos planos em ir com Megumi no shopping durante o final de semana. Na teoria, vocês ainda não conheciam muito bem a cidade, já que chegaram faziam poucos dias, por isso, precisariam passear por aí, para, pelo menos, fingirem que estavam conhecendo. Na verdade, você e Satoru já tinham aquela cidade inteira mapeada nas suas cabeças, até mesmo cada detalhe.
Ao chegarem na mesa, o platinado puxou a cadeira para você se sentar e, depois que você estava devidamente em seu lugar, ele foi se sentar no dele. Você tinha que segurar uma risada alto pelo falso cavalheirismo dele.
— Eu gostei daqui — A voz dele lhe tirou de seus próprios pensamentos, fazendo você encarar aquelas íris azuis, que causavam um calafrio em qualquer um que as olhasse de perto — Você realmente acertou na escolha, amor.
— Imaginei que você gostaria — Respondeu, com um sorriso feliz (e falso) no rosto, mas teve que pegar o cardápio e desviar a atenção dos olhos dele, que estavam intensos demais para o seu gosto — Quer começar pedindo uma garrafa de vinho?
— Por que não? — Sem perceber que você tinha desviado a atenção de propósito, Satoru também pegou uma cartela de vinhos que estava na frente dele, lendo atentamente cada uma das opções — Você prefere vinho branco, não é?
Você assentiu com a cabeça, mas teve que se esforçar para não franzir as sobrancelhas ao ouvir aquilo. Ele tinha acertado. Não sabia dizer se foi um chute ou se ele tinha realmente pesquisado algo sobre sua vida, mas isso seria impossível. Todos os dados a seu respeito foram cuidadosamente excluídos de todas as plataformas possíveis. Tudo o que ele sabia sobre você era o que você mesma tinha dito à agência, o que era um número muito limitado de informações.
— E o seu favorito é o Nimbus Single Vineyard, certo?
Ele estava lhe provocando. Você não tinha ideia de como ele sabia sobre isso, mas, de alguma forma, o platinado conseguiu algumas informações sobre você. Ele poderia até ter chutado sobre o vinho branco, mas era quase impossível ele ter acertado até o seu vinho preferido no chute.
— Não sabia que você se lembrava — Foi sua resposta, com o sorriso mais falso que já deu na vida.
— Foi o vinho que eu te dei no natal do ano passado — A naturalidade com a qual ele falava até que lhe impressionava, mas obviamente você não demonstrou nada — Eu nunca esqueceria.
Seu pé quase o chutou por baixo da mesa, mas conseguiu se controlar. Nesse meio tempo, o garçom chegou com o vinho de vocês. Assim que o líquido gelado tocou nos seus lábios, você se derreteu toda. Aquele vinho era untuoso, com um longo final, destacando delicadas notas minerais. Sofisticado e fresco, com rica acidez natural. Exatamente do jeito como você se lembrava. Acabou se deixando levar e tomou a taça inteira quase que de uma só vez.
— Alguém estava com sede — A brincadeira de Satoru lhe irritou, mas você soltou uma risada delicada e divertida.
— No pior dos casos — Resolveu entrar na onda, esticando um pouco a mão por cima da mesa, até que seus dedos tocassem os dele — Se eu ficar bêbada, você cuida de mim — Fez o possível para soar o mais maliciosa possível.
Você não sabia se isso tinha causado algum efeito no platinado, mas o Gojo conseguia esconder muito bem seus sentimentos. Ele achava que já tinha sido insuportável se segurar para não lhe atacar no elevador mais cedo. Agora, ele tinha certeza de que você não facilitaria em nada a noite dele.
— Pode ter certeza que eu vou.
Era bom brincar com Satoru, mas era terrível quando ele brincava de volta. Todos os pelos do seu corpo se arrepiaram com o tom provocativo dele.
— Posso pedir para a babá ficar mais tempo com o Megumi — Disse, acariciando a mão dele e subindo mais um pouco, até chegar no início do braço dele — Aí a gente pode ir para outro lugar depois daqui.
— Tem certeza que quer deixar ele a noite inteira com ela?
— Ele é esperto, vai conseguir se virar.
Você sabia que não estava falando sério. É claro que vocês não deixariam o filho de vocês sozinho. Além disso, não queria passar a noite em um hotel com Satoru, depois de beber tanto vinho quanto você estava bebendo. Geralmente, mesmo com álcool no seu organismo, você conseguia se controlar muito bem e sempre tinha plena consciência de suas ações. Mas, por algum motivo que você ainda não conhecia, o platinado lhe fazia perder o controle quase que completamente. Pelo menos, ele não parecia saber disso ainda. Se soubesse, seria um problema.
— A gente pode fazer isso quando ele for dormir na casa de algum amigo da escola — Para sua sorte, Satoru iniciou a conversa que vocês haviam planejado — Ele te falou sobre alguém?
— Ele comentou que tinha um garoto que parecia ser muito legal, mas vivia cercado de seguranças — Respondeu, não precisando falar muito alto para que a escuta em baixo da mesa lhe ouvisse — Acho que o nome dele era Yuji.
— E por que ele vive cercado de seguranças?
Você queria rir, mas teve que se conter. Assim que se sentaram na mesa, você conferiu discretamente se tinha alguma escuta implantada ali. Foi verdadeiramente gratificante quando descobriu que tinha. Geto vinha com certa frequência para esse restaurante. Fazia sentido que ele tivesse olhos e ouvidos por todo o estabelecimento. Por isso, vocês fariam bom uso dessa situação, o máximo que conseguissem.
— Não sei — Respondeu, com um suspiro cansado — Ele deve ser filho de algum milionário. Não acho uma boa ideia Megumi ficar andando com ele por aí.
— Se ele realmente se der bem com esse Yuji, não vejo nenhum problema em eles se tornarem amigos — O Gojo respondeu, dando de ombros.
— Você tem razão.
Não restavam dúvidas de que a escuta tinha pegado a conversa de vocês. Fazia parte do plano e vocês estavam indo até que muito bem. Estavam conseguindo passar a imagem de casal feliz para as pessoas e agora tinham se certificado de que Geto soubesse que seus filhos estavam ficando próximos e que você e Satoru não tinham ideia de que ele era um chefe da máfia.
Mas, por um mero deslize, só por alguns poucos segundos, as íris azuis de Satoru desviaram dos seus olhos e foram parar em outro par de olhos escuros e intimidadores. O platinado tinha certeza de que foi Geto que começou o contato visual, mas ele não devia ter olhado para ele naquela hora. Não sabia se desviava ou se continuava encarando, mas essa incerteza só durou alguns segundos, já que você pegou na mão ele a atraiu a atenção do platinado para você de novo.
— Acho que já podemos escolher nossos pedidos — Você disse, entregando um cardápio a ele.
— Você tem razão.
Mesmo que ele tivesse voltado ao normal imediatamente, você sabia que, por um breve segundo, Satoru hesitou. Algumas hipóteses do que poderia ter acontecido invadiram a sua mente, mas apenas uma delas parecia a mais plausível. O Gojo fez contato visual direto com Suguro. Talvez isso não fosse ser um problema. Claro, o ideal era que isso não acontecesse, mas, graças a escuta, parecia que vocês não tinham ideia de quem Geto era. Talvez o mafioso pudesse acreditar que não se passou de uma mera coincidência. Pelo menos, você esperava isso.
Vocês fizeram os seus pedidos, conversaram e tomaram mais vinho. Era nítido que os dois queriam acabar logo com isso, mas não poderiam deixar na cara que estavam com pressa. Por isso, tiveram o ritmo e conversaram sobre coisas do dia a dia, como um casal completamente normal. Óbvio que tinham alguns flertes ali e outros aqui, mas nenhum de vocês estava mais provocando o outro de verdade. Só queriam ir embora dali.
Por isso, quando já tinham se passado duas horas desde que vocês chegaram no restaurante, você decidiu olhar para o celular pela primeira vez desde que chegaram.
— Minha nossa, já está muito tarde — Você disse, desbloqueando o aparelho e vendo se a babá tinha mandado alguma mensagem — Acho melhor voltarmos, temos que liberar a babá é ver se Megumi está bem.
— Vou pedir a conta.
O platinado levantou uma das mãos e chamou o garçom. Eles não demoraram para trazerem sua conta e o Gojo pagar sem nenhuma cerimônia.
Quando estavam de saída, você ouviu uma movimentação na mesa de Geto, mas não ousou olhar para trás. Aparentemente, eles também estavam indo embora. Um sentimento de alívio percorreu todo o seu corpo quando se tocou que vocês pediram a conta no momento certo. Seria um problema se saíssem logo depois de Suguro e ele especulasse que vocês estavam ali só por causa dele.
— O taxista disse que já estava chegando — Você falou, enquanto olhava pelo aplicativo no seu celular — E mandei mensagem para a babá avisando que já estávamos voltando.
A resposta dele foi apenas um "uhum" baixo, mas, de repente, ele passou um dos braços por trás da sua cintura e lhe puxou para mais perto, lhe obrigando a desligar o telefone que tinha em mãos.
Seus corpos estavam muito próximos um do outro e os olhos dele encaravam os seus lábios de forma convidativa. Você não se surpreendeu. Conseguiu ouvir os passos de Geto e dos homens dele saindo do restaurante. Eles estavam próximos o suficiente de onde vocês estavam para conseguir ver vocês. Então, aproveitou a deixa e juntou seus lábios nos de Satoru mais uma vez no dia.
Diferente do elevador, você não recuou quando a língua dele invadiu a sua boca. Era um beijo diferente, com um desejo suprimido, mas calmo o suficiente para fazer o seu corpo ficar nas nuvens. Como se vocês não tivessem pressa. Como se ele tivesse tento o suficiente para ir com calma, até fazer você ceder. Como se aquilo fosse durar para sempre.
Quando seus lábios se desgrudaram, você tinha um sorriso no rosto. Só não sabia se aquele sorriso era parte da encenação ou se era de verdade.
— Eu gostei muito de hoje — A voz do Gojo lhe tirou de seus pensamentos, fazendo você até se esquecer que o alvo de vocês estava a poucos metros de distância — E isso não foi encenação — Ele sussurrou a última parte, ainda com os lábios quase colados nos seus, para que só você ouvisse.
No final, você não conseguiu responder, apenas se deu o luxo de acreditar naquelas palavras, nem que fosse por apenas um breve momento, e juntou seus lábios novamente, em um beijo que, aos olhos dos outros, eram de duas pessoas apaixonadas.
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