𝚜𝚎𝚟𝚎𝚗𝚝𝚎𝚎𝚗
Seus olhos encaravam a tela do notebook, arregalados, embora você não estivesse tão surpresa. Já esperava que a agência estivesse fazendo alguns planos nas escondidas, só gostaria de acreditar que aquilo não fosse verdade. Você precisava pensar no que faria, urgentemente. Essa nova informação mudaria completamente o rumo em que essa missão estava indo. Mas, assim que você ouviu os passos de Satoru se aproximando, fechou a tela aberta e bloqueou o notebook.
— Já tá pronta, amor? — Ele perguntou, assim que entrou no quarto. Você apenas assentiu com a cabeça, colocando o seu sorriso habitual no rosto. Não podia correr o risco de deixar nada transparecer e parece que o Gojo não tinha percebido nada — Temos que sair agora.
— Megumi está pronto? — Você perguntou, enquanto se levantava da cadeira e ia até a cabeceira pegar a sua bolsa.
— 'Tá, e ele não para de falar sobre a excursão.
Você riu. O mais novo estava, de fato, falando muito sobre esse final de semana e o dia finalmente chegou. Seria bom para você ter mais tempo de investigar o que acabou de descobrir e Satoru aproveitaria para sair mais com Geto.
Megumi já estava na porta do apartamento quando vocês saíram do quarto e basicamente arrastou vocês dois pelas camisas durante todo o trajeto até o carro que a agência tinha mandado para o platinado. Ter um carro facilitaria as coisas, mesmo que você não tivesse autorização para usá-lo.
Diferentemente dos dias em que iam andando para o colégio, chegaram lá muito mais rápido do que o previsto. Não foi nem um pouco difícil achar Nobara, que logo se juntou para conversar com Megumi. Você e o platinado aproveitaram a oportunidade para conhecer os pais dela, que eram, de fato, pessoas extraordinárias.
A maioria dos alunos já tinha chegado e você tentava não olhar muito ao redor atrás do seu alvo, mas começou a se perguntar se Suguro realmente apareceria ali. Megumi, ao contrário de você, ficava procurando Yuji por todos os lados e tinha um pequeno sorriso triste nos lábios dele sempre que não achava o amigo.
— Ei, Satoru — Mas então uma voz que não era nem um pouco familiar atingiu seus tímpanos.
O Gojo se virou primeiro, esboçando um sorriso... sincero? Não, você deveria estar enganada.
Megumi saiu correndo em direção a Itadori e nenhum dos seguranças tentou impedir quando os dois se abraçaram. Uma quantidade considerável de olhos femininos se fixou onde os dois homens conversavam amigavelmente. Não era nenhuma surpresa que isso fosse acontecer. Os dois tinham uma presença muito marcante, além de serem estupidamente atraentes, como se fosse um concurso idiota de beleza.
— [Nome], não sei se você se lembra de Suguro — Seu marido de mentirinha disse, passando um dos braços pela sua cintura e lhe trazendo mais para perto.
— O pai do Yuji, não é? — Você falou, com um sorriso simpático no rosto — Se não me engano, já nos vimos uma vez.
— Sorveteria — Geto disse, fazendo você murmurar um "ah, sim" — É um prazer revê-la, Senhora Gojo.
— Por favor, pode me chamar de [Nome] — Forçou a parecer que estava levemente envergonhada.
— Então fique a vontade para me chamar de Suguro.
Ele era simpático, você tinha que admitir. Existia uma energia ao redor dele que se assemelhava muito com a de Satoru. Uma energia levemente caótica. De repente, você se pegou imaginando aqueles dois como parceiros na agência. Talvez fosse uma mistura interessante.
— Se importa de eu roubar o seu marido? Prometo que vou fazer ele se comportar.
— Você fala como se a gente tivesse indo pra um prostíbulo — Ele olhou na sua direção, ainda com um sorriso divertido no rosto — A gente vai pra um bar perto de casa. Pode voltar com o carro, se quiser.
— Tudo bem — Pegou as chaves da mão dele. Não deveria dirigir aquele carro por ordens da agência, mas não tinha o que fazer — Eu preciso arrumar as coisas em casa mesmo.
— Você devia ir descansar naquele bar que você me falou outro dia — Não era bem um sinal. Vocês tinham percebido alguns homens de Geto vigiando na frente do prédio de vocês durante a semana. Seria um problema se alguém desconfiasse que você estava saindo às escondidas de Satoru. Além disso, você realmente precisava ir conversar com Nanami, principalmente agora que ele seria o contato de vocês com a agência, por mais que isso fizesse os seus nervos estourarem — Posso passar lá pra te buscar mais tarde.
— Você tem razão.
Não deu muito tempo de você interagir com Suguro. Logo depois, um dos professores avisou para todos os alunos entrarem nos ônibus, que sairiam em poucos minutos. Assim, Megumi e Itadori vieram se despedir de vocês, mas não pareciam nem um pouco tristes em passarem o final de semana longe dos pais.
Yuji Itadori era uma criança formidável. Ele era simpático e aparentava ser muito destemido. Bem mais sociável do que Megumi, muito embora tenha sido criado praticamente isolado de todo mundo por causa do trabalho do pai adotivo. Você realmente estava feliz que os dois estavam se dando bem, ainda que suas preocupações sobre o fim da missão assolassem sua mente de vez em quando.
Somente quando o ônibus das crianças finalmente partiu e você conseguiu ver seu filhote acenando da janela, você se despediu de Satoru e Suguro e saiu de lá. Precisava ir conversar com Nanami e ainda tinha que acabar sua pesquisa de mais cedo. Já estava cansada só de pensar nisso.
— Sua mulher é bem simpática — Geto falou, olhando de forma descontraída pela janela do carro. Ele e Satoru estavam no veículo já faziam alguns minutos, jogando conversa fora e decidindo se realmente iriam voltar naquele bar da vez passada ou tentarem um outro — Tem certeza de que ela gosta de ficar em casa?
— O que quer dizer?
— Ela parece bem ativa — Uma risada alta saiu dos lábios do platinado e Suguro revirou os olhos — Não nesse sentido, seu animal — O moreno deu um suspiro pesado antes de dar de ombros — Ela só não parece bem o tipo de mulher que se sente confortável sendo uma dona de casa.
— [Nome] sempre foi um espírito muito livre, mesmo quando éramos mais novos — Tinha um pequeno sorriso nos lábios do Gojo, ainda que ele não olhasse na direção de Geto — Sempre foi impossível dizer àquela mulher o que fazer. Mas, quando Megumi nasceu, ela quis aproveitar mais essa fase nova da vida dela.
— E agora?
— Eu não sei — Finalmente, Satoru encarou os olhos do homem ao lado dele — Já perguntei pra ela algumas vezes sobre tentar entrar em uma universidade pra dar aula, mas ela sempre muda de assunto.
Nada disso era verdade. Satoru gostava quando Geto dava margem para que o platinado misturasse a verdade com a mentira. Assim ficava mais fácil de enganar as pessoas. Mas, hoje, Suguro escolheu um assunto sobre você que o Gojo não tinha a menor ideia. Vocês nunca conversaram sobre o fato de você ser dona de casa ou se você preferia estar fazendo outra coisa além de ficar no apartamento o dia inteiro na frente de um notebook. Ainda que esse fosse o seu trabalho, Satoru imaginava que fosse insuportável passar todos os dias da mesma forma. Ele até fez uma nota mental para lhe perguntar sobre isso mais tarde.
As únicas verdades que saíram da boca do platinado até agora era que você era um espírito livre e que era muito difícil lhe dizer o que fazer.
— Você tende a não conversar com ela sobre as coisas que realmente importam — Geto soltou um pequeno risinho e o Gojo tentou não demonstrar surpresa ao ver a facilidade com a qual o outro conseguia ler a situação — Isso é engraçado, já que de fora vocês parecem ser um casal perfeito.
Dessa vez foi Satoru quem soltou uma risada, mas não tinha nada de pequenininha nela. Pelo contrário, ele gargalhava, como se Suguro tivesse acabado de contar uma piada.
— Você sabe que as coisas não são assim — O platinado disse, assim que parou de rir — Na primeira vez que saímos eu e ela tínhamos brigado e conversar com você me ajudou a ver que precisávamos fazer as pazes — Ele deu de ombros — Obrigado por aquele dia, inclusive.
— Disponha — Suguro estava com uma expressão leve no rosto, encarando Satoru como se estivesse o estudando — Imagino que o problema daquele dia tenha se resolvido.
— Definitivamente.
— E eu não acho que vocês sejam um casal perfeito, mas a cidade inteira sim — O Gojo encarou o "amigo" com uma sobrancelha arqueada e, só então, o moreno explicou — As pessoas falam até demais nessa cidade. Vocês são novos aqui e não demorou nada para que começassem a falar sobre o casal de jovens bonitos que tem um filho e são a definição de família perfeita.
— As pessoas realmente falam isso? — Então a missão estava sendo um sucesso. A não ser que sendo perfeitos demais vocês acabassem atraindo uma certa atenção indesejada. Ninguém era perfeito, muito menos famílias, que sempre possuíam problemas internos. Talvez próxima semana vocês encenassem uma discussão um pouco mais alta que o normal e deixariam que Fumiko se encarregasse de espalhar para todo o bairro.
— Falam, e muito — Suguro se acomodou ainda mais no banco de couro — Quando vocês chegaram eu nem consegui contar quantas vezes eu ouvi as mães lá do colégio dos meninos falando sobre você, ou os pais falando sobre a [Nome]. Depois de algumas semanas, começaram a falar que vocês dois eram um casal muito unido e aí começaram algumas especulações sobre traições. Megumi também não se parece nem um pouco com você, então muita gente se perguntou se você era realmente o pai biológico dele — Satoru tentou não engolir seco e manter o sorriso divertido no rosto — Enfim, depois de ouvir muitas e muitas coisas diferentes, eu decidi vir ver por conta própria.
— Uau. Você realmente sabe de muita coisa que acontece na cidade — Era uma deixa perfeita, que o platinado não pretendia perder — Achei que você trabalhasse mais em casa com aquele negócio de comprar e vender terreno. Como você fica sabendo de tudo isso.
Suguro não tirou o sorriso do rosto, mas dava para perceber que ele tinha ficado abalado. Obviamente ele não esperava ter que começar a mentir tão cedo e o Gojo sabia que ainda não era hora de eles trocarem segredos confidenciais. A ideia era só pressionar o moreno um pouquinho, para ver até onde ele sustentava essa pose de garoto bonzinho.
— A maioria dessas informações foi meus homens que conseguiram pra mim — Não era exatamente uma mentira — Pode me julgar, mas eu sou curioso e gosto de saber das fofocas, então eles acabam de contando quando ouvem alguma coisa nova acontecendo pela cidade.
— Claro que eu não vou te julgar — Com o maior esforço do mundo, Satoru conseguiu manter a expressão divertida no rosto e não deixou que a decepção ficasse transparente.
O Geto não tinha falado exatamente uma mentira, mas, por algum motivo, o platinado acabou se pegando pensando que talvez gostaria que ele falasse a verdade sobre ser chefe de uma gangue. Mas, mesmo que isso acontecesse, Satoru não sabia dizer se conseguiria manter a farsa e fingir que não sabia de nada.
Esse joguinho era muito difícil, mas era um que o Gojo não pretendia perder.
— Me serve mais uma, por favor — Você falou, deixando a voz um pouco mais manhosa que o normal, mas sem forçar muito. Queria parecer no brilho, não completamente embriagada.
— É pra já — Nanami também não parecia nem um pouco animado com o fato de que agora vocês se veriam, pelo menos, uma vez na semana. Por você tudo bem, o sentimento era mútuo. Pelo menos vocês não teriam que ficar bancando os melhores amigos de toda a vida — Algum movimento hoje? — Ele perguntou, baixo, enquanto lhe entregava o copo gelado.
— Satoru está com ele agora — Respondeu, ainda com um sorriso divertido no rosto, como se estivessem conversando sobre o dia estar muito quente — Ele foi até a escola deixar o filho na excursão e os dois foram para o bar.
— Viraram melhores amiguinhos foi?
— Se tudo tiver dado certo, sim — Você fez questão de parecer o mais sarcástica possível — Precisa tomar cuidado, não me surpreenderia nada se amanhã os homens de Geto começassem a vir aqui vigiar esse lugar.
— Tomamos nossas precauções — Dessa vez, ele não estava brincando. O loiro parecia convicto e você se deixou relaxar diante das palavras dele — Você falou com ele?
— Poucas frases.
— Ele é tão terrível quanto todos falam?
— Claro que não — Sua risada foi genuína — Ele só parece um pai preocupado e um herdeiro sem ter muito o que fazer.
Não era mentira, principalmente depois do que você ouviu de Satoru sobre a forma como Geto age normalmente. Ele, de fato, não parece com um chefe de grupo de máfia nem nada do gênero. Na verdade, você provavelmente nunca diria que ele trabalha com alguma coisa ilegal. Talvez seja por isso que ele é tão bom no que faz.
— Esqueci de falar, vão mandar um agente para a casa de vocês — A voz dele estava mais tensa do que o normal.
— Um agente? Pra que?
— Ela vai se disfarçar de babá do Megumi — Ele não olhava na sua direção enquanto falava, mas sim para os copos que tinha em mãos enquanto os enxugava — Provavelmente chega daqui a três semanas.
— Achei que eu tinha deixado claro que não precisamos de ninguém nos vigiando.
— Aceite isso como um reforço — O sorriso dele era sarcástico, mas apenas fez com que você revirasse os olhos — Presta atenção, Espectro — Ele cuspiu o seu nome como se fosse uma maldição — Eu também não sou muito fã de fazer uma reunião de agentes aqui nessa cidade. Quanto mais de nós em um único lugar, mais fácil de sermos identificados. Mas isso é uma ordem de cima. Nem você, nem eu podemos fazer nada a respeito. Por isso, faça o favor de ser boazinha e fingir que está procurando por uma babá para o seu filho de mentirinha até que, em três semanas, a babá também de mentirinha chegue.
— Vou postar nos stories e ver se alguma mãe nos arredores tem alguma indicação de babá — Você foi tão sarcástica quanto ele, pouco antes de virar a cerveja inteira de uma só vez — Aproveita e seja útil — Completou, balançando o copo vazio que tinha em mãos.
— Vai se foder — Ele sussurrou, baixinho, antes de tirar o recipiente de suas mãos e dar as costas para o balcão, provavelmente indo encher o seu copo.
Mais uma vez, um novo agente iria entrar em cena nessa missão, tornando cada vez mais difícil para vocês agirem livremente conforme desejam. Além disso, dessa vez algum deles ficaria dentro da sua residência. Pelo que descobriu mais cedo, você já sabia que não poderia confiar em nenhum deles. Talvez Satoru, mas apenas nele. Essa missão estava ficando cada vez mais difícil e você estava perdendo cada vez mais espaço.
Tinha que dar um jeito de se livrar desse novo agente o mais rápido possível. Nanami também não era um mar de rosas, mas o fato de você apenas o ver uma vez por semana fazia com que fosse um mal suportável. Você não sabia o que faria com um agente na sua cola a gigantesca maior parte do dia. Talvez seria bom você arrumar mais desculpas para sair de casa. Também seria mais difícil de você investigar o que a agência estava fazendo.
Você precisava pensar em várias coisas, com uma certa urgência. Essa nova informação caiu de paraquedas em uma semana em que tudo estava indo bem demais para ser verdade. Claro que algo de ruim precisava acontecer. Mesmo assim, você teria três semanas para se organizar e...
Uma caneca pesada de cerveja foi colada na sua frente com mais força do que deveria.
— Essa é por conta da casa — O sorriso de Nanami não era nem um pouco sincero.
— Tem mais alguma coisa pra me dizer ou já posso ir embora? — Seu sorriso já tinha morrido no seu rosto. A maioria dos clientes já tinha ido embora e basicamente só tinham vocês dois lá dentro.
— Masamichi quer saber como as coisas estão indo.
Você revirou os olhos.
— Ele devia perguntar isso antes de decidir mandar um agente pra ficar na nossa cola — Um sorriso malvado tomou conta dos seus lábios — Já não bastava você enchendo o meu saco uma vez por semana?
— Você é toda engraçadinha, não é? Mas fala logo sobre a missão antes que eu me demita de vez.
— Não sabia que existia uma opção tão fácil assim de me livrar de você — Sua brincadeira conseguiu arrancar uma mini risada dele, o que lhe deixou satisfeita e lhe fez responder a pergunta dele — Estamos indo bem. Satoru está indo bem, na verdade. Ele e Geto já estão mantendo contato semanalmente e tudo indica que vão sair mais vezes.
— Qual o próximo passo?
— Convidar ele para nossa casa e, depois, sermos convidados para a dele.
— Em quanto tempo você acha que consegue isso?
— Uns três meses.
— Masamichi mandou avisar que você tem um mês para conseguir fazer isso.
Suas sobrancelhas se franziram e seus lábios se apertaram.
— Se ele acha que é tão fácil assim, pode pedir pra ele vir me substituir na missão.
— Você é esquentadinha mesmo — Foi a vez de Nanami revirar os olhos — Vou fechar com ele em dois meses.
Você ainda respondeu mais algumas perguntas rotineiras dele, principalmente sobre a relação do platinado com Suguro. Nanami também fazia algumas perguntas discretas sobre você e o Gojo. Era óbvio que Masamichi ainda não confiava em vocês, e com toda a razão.
— A missão está indo bem. O que você vai fazer?
A voz de Nanami fez com que você tivesse que piscar algumas vezes antes de compreender o que ele estava falando.
— Faculdade de artes eu acho.
Era uma mentira barata. Vocês dois sabiam disso.
— Que bom — Ele deu de ombros — Pelo menos quando essa merda inteira acabar, você vai poder se livrar de todos nós e deve estar mais perto do que longe.
De fato, não faltava muito tempo para a missão acabar. Não faltava muito tempo para você poder se livrar da agência de viver sua vida. Não faltava muito tempo para você poder se inscrever em uma universidade. Não falta amigo tempo para que você pudesse abandonar o nome "Espectro" para sempre.
Mas um sorriso não se formou nos seus lábios com esse pensamento em mente.
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