EPISODE THREE • read your mind

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Depois de todo aquele conjunto de sensações no corredor, Marjorie passou sua tarde ao lado de sua avó e consequentemente, de Luke, que permaneceu na cadeira de frente para a janela observando a avó e neta.

Por debaixo da mesa, seus pés se encontravam, em toques sutis. Algumas vezes seus olhares se encontravam e eles trocavam sorrisos, mas logo disfarçavam. Mas em algum momento, ela olhou pro lado e ele não estava mais lá.

O resto do dia ocorreu normal, ela esperou seu avô chegar do trabalho para dar um beijo nele e já sair para casa. Lá, ela fez sua rotina de sempre, banho, um pouco de música e tarefas da escola, nem ao menos se lembrou de ir na casa de Julie. No dia seguinte, teria a sua apresentação para o Evento Motivacional na escola, havia ensaiado milhares de vezes durante a última semana e se sentia preparada, não precisava se preocupar com nada na noite anterior.

Sua roupa já estava lavada e passada em cima de sua poltrona, a letra da música perfeita e sua voz não a deixaria na mão. Tudo perfeito como ela havia planejado.

A noite passou tranquila, sem Carrie gritando suas próprias músicas ou seu pai chegando tarde do trabalho, bêbado.

Na manhã, o despertador tocou mais cedo, na hora que Marjorie tinha programado. Seguiu os passos de sempre, mudando apenas o seu perfume para um mais forte. As apresentações seriam logo nos primeiros horários, então decidiu já ir com a roupa, para caso não der tempo de trocar.

O conjunto era composto por um corset branco com renda, uma saia preta jeans, uma bota preta de couro que alcançava o meio de sua panturrilha e por cima, uma jaqueta vermelha do time de futebol da escola. E complementando o look, um laço vermelho no cabelo.

Dessa vez prefere deixar Milo em casa, para não correr o risco de acabar perdendo ele durante a correria. Com ele ainda dormindo, e sua irmã também, ela pega uma xícara de café puro na máquina e caminha pela casa relembrando da coreografia montada.

♪⭒

Já nos corredores da escola, Marjorie é ovacionada por onde passa, sendo parada diversas vezes para receber desejos de boa sorte e elogios sobre quanto estava bonita.

Graças a seu ego e auto estima, ela sabia que estava belíssima mas era melhor ainda quando recebia confirmação, vinda de suas amigas.

Ela ainda não tinha visto Julie e Flynn pela escola, mas já tinha encontrado suas amigas, que também eram as suas dançarinas, reunidas em uma mesa no refeitório. Elas estavam vestidas parecido com a cantora, a única diferença era a falta da jaqueta vermelha nelas.

— Bom dia, vadias. Ansiosas? – Ela senta do lado de Lola e dá um tapinha na bunda de Tasi, que estava pendurada na mesa vendo algo com Sasha.

— Tudo controlado por aqui, 'Tá sendo essa animação desde as sete da manhã. – Gem responde, sendo a mais tranquila entre as quatro, era responsável por controlar os ânimos do grupo.

— Confesso que tô com uma ansiedade, umas borboletinhas no meu estômago.

— Ensaiamos milhares de vezes e 'tamo acostumadas a apresentar nesse nível. — Tasi a tranquiliza, se sentando no lugar — Vai dar tudo certo, como sempre.

Anastásia sempre foi no grupo, a mais fácil de se comunicar, tendo palavras de conforto e zero papas na língua. Havia feito terapia desde muito nova por causa da dança e acabou aprendendo muito nas sessões.

— Eu sei, mas sinto que dessa vez vai ser diferente.

Por mais que não houvesse nada de novo nessa apresentação para ela, uma sensação incômoda abrigava em seu estômago. Respirava fundo, tentando manter para si mesmo, mas os olhos indo para um lado e para o outro em busca de algo, deixava claro seu estado, mesmo que não soubesse o que estava procurando.

Ela escutou pela porta do refeitório, a diretora anunciar ao público a Dirty Candy, grupo da Carrie, onde apenas ela canta e as meninas fazem presença na dança. Não era muito diferente de Marjorie, mas pelo menos ela não fingia ser um grupo enquanto só uma canta.

Marjorie se levanta, chamando a atenção das meninas ao seu redor que se levantam, já prontas. Colocando as mãos no meio do círculo que formaram, a energia passava por elas, contaminando as outras.

— Cinco, seis, sete, oito. — elas gostavam de contar os dois meios de contagem, o da dança e o da música — Um, dois, três, quatro, merda!

Elas passam pela porta do ginásio, em passos sincronizados, todas de cabeça erguida e sem olhar para os lados. Carrie estava terminando sua apresentação, quando o grupo de garotas parou ao redor da delimitação da quadra. Ao finalizar todo seu show, Carrie encara a irmã, com puro sangue nos olhos, ao ver que não iria mais encerrar o show, recebendo um beijo no ar e tchauzinhos.

Antes que a diretora Lessa e a professora Harrisson pudessem falar alguma coisa, todas as luzes do ginásio se apagaram, causando uma bagunça de vozes por toda arquibancada.

As garotas se apressam para chegar aos seus lugares em silêncio, e Marjorie com o microfone branco na mão se posiciona no meio delas. Ela estava de lado para os alunos, pronta para começar com a coreografia.

Made it clear when you told me. — A batida da bateria começa exato junto com a voz dela, o chute que ela dá com a perna direita e o balançar do cabelo.

Don't know why, but you gotta be lonely. — O verdadeiro instrumental começa a tocar, e as dançarinas iniciam a coreografia.

Say it's hard, but you make it look easy
So I'm tryin' to live in reality Marjorie balançava o quadril, e a mão livre do microfone apontava para alguém qualquer da arquibancada, deixando as coreografias mais complexas para suas amigas

Decompressin', tryna ease the tension
But you got me stressin', feelin' like I need to call
When you sneak up on me
Tell me that you miss me in your life — Sua concentração estava em cantar, dançar e interagir com o público ao mesmo tempo, mas um brilho incomum no canto do ginásio chamou sua atenção. Os três fantasmas surgiram ao redor de Julie, que já assistia a apresentação a tempos. Marjorie olhou para eles e voltou sua atenção para as dançarinas, mas o reconhecimento passou por sua mente e olhou para eles de volta, mandando uma piscada.

Marjorie se preparou para o refrão, se pondo no meio da coreografia.

I can't read your mind
You say that you need to be alone
But night and day want me at your beck and call
You say you know that you might be crossin' a line
Wastin' all our timeAs garotas ao seu lado acompanharam seus movimentos, interagindo delicadamente entre elas.

— É por causa disso que eu sinto falta do ensino médio. — Reggie assiste a apresentação de queixo caído e os olhos vidrados.

Luke tenta olhar no mesmo rumo que o amigo, o empurrando pro lado. Quando percebe que sua atenção estava na loira, tampa os olhos dele, e ao mesmo tempo, ela vira de costas para eles. — Ela não.

Double-checkin', did I get the message
In the way you intended? Got me second-guessin'
When you sneak up on me
Tell me that you need me in your life
I can't read your mind — Ela estalava os dedos, junto com o movimento do quadril, sendo acompanhada das meninas seguida da pequena coreografia. A cada menção do título, Marjorie apontava para a própria cabeça.

You say that you need to be alone
But night and day want me at your beck and call
You say you know (yeah) that you might be crossin' a line
Wastin' all our time  – Ela fez gestos de descaso, em meio aos passos da dança. Cada movimento era feito com leveza, a roupa e o cabelo acompanhando-os e palmas eram batidas junto com a música.

To think that we could be casual
You're not my friend and baby, you never were
Why the fuss if you say you just wanna be mine?
I can't read your mind
You say that you need to be alone
But night and day want me at your beck and call
You say you know that you might be crossin' a line
I can't read your mind – O som dos instrumentos diminuíram a medida que ela foi andando em direção a arquibancada. Os passos dela hipnotizavam, um atrás do outro, calma mas decidida no que fazer.

— Botcats, faça algum barulho pra mim. – A plateia vibrou, o microfone estava virado para eles, numa expectativa. Os pés batendo no chão e as palmas ao redor da boca mas não foi o suficiente. – Eu disse, Botcats, faça algum barulho!

I can't read your mind
You say that you need to be alone
But night and day want me at your beck and call (want me at your beck and call)
You say you know that you might be crossin' a line
Wastin' all our time (time)
To think (think) that we could be casual
You're not (you're not) my friend (my friend) and baby, you never were
Why (why) the fuss (the fuss) if you say you just wanna be mine? – Impulsionada pela força da plateia, ela atingiu a maior nota da música e no resto do último verso, ela fazia brincadeiras com as notas enquanto Lola e Sasha cantavam no ritmo normal. Enquanto cantava e dançava, ela apontava para algum colega e mandava tchauzinhos.

I can't read your mind! – Ela finalizou com um último giro e parou na mesma posição que havia começado.

A histeria explodiu no momento em que Marjorie abaixou o microfone. Aplausos e assovios preenchiam o ginásio, todos reconheciam a estrela que tinham como colega.

O grupo se juntou no centro, e com os braços dados agradeceram o público. Enquanto, suas amigas saíam do centro, uma de cada vez, Marjorie ficou por último como combinado. Referenciou o público uma última vez antes de sorrir, e sair para a mesma porta que as meninas.

Seu caminho até a saída do ginásio foi interrompido, três garotos muito conhecidos estavam acenando com a mão e gritando, numa clara tentativa de chamar sua atenção. Achando estranho todo aquele escândalo que estavam fazendo, decidiu ir lá conferir o que eles queriam falar, se distanciando as amigas.

— Marjorie, você arrasou na sua apresentação. — Reggie interrompeu Luke, antes mesmo dele poder falar, recebendo um olhar fuzilando.

— Você precisa me ensinar aqueles passos que vocês fizeram, absolutamente incríveis. — Alex pediu, imitando uma parte da coreografia, em completo fascínio. Marjorie riu, achando graça do quão empolgado ele estava. 

— É, Marjorie, 'tava incrível. — O de regata finalmente conseguiu falar, atraindo os olhos azuis da garota até ele — Não sabia que você era um projeto de pop star. 

— Obrigada, meninos, foi uma honra ter vocês na minha plateia. — Ela aproximou a mão do braço de Alex, mas seus dedos passaram através da jaqueta jeans que ele usava. Marjorie sem perceber, enrugou o nariz em descontentamento, e suas bochechas coraram, em desconforto pela situação que se colocou. Em esperança de dissipar esse sentimento, falou de novo:

— A Julie não estava com vocês? Podia jurar que ela estava aqui também.

— Ela estava. Mas agora... — Luke, o que agora tinha mais intimidade com ela, a segurou pelos ombros e a virou gentilmente até ela estar olhando para o palco — Ela está ali.

— O que? 

Marjorie não podia acreditar no que estava vendo, sua melhor amiga, cuja não canta em público a um ano, em cima de um palco na frente da escola inteira. Seu coração não cabia no peito, quase sem acreditar no que estava acontecendo, mas a sensação de orgulho e emoção era esmagadora. Um sorriso incrédulo surgia em seu rosto, e as mãos passaram a tremer, sem entender que sua Julie iria mesmo superar sua aflição. Depois de um ano cinza, ela estava prestes a brilhar novamente.

— Ela vai mesmo fazer isso? — Marjorie virou seu rosto para Luke, que agora estava atrás dela, procurando alguma confirmação do que estava acontecendo e ele apenas a ofereceu um sorriso. 

Os alunos lentamente começaram a caminhar em direção a saída, indicando que o tempo de Julie estava acabando. Respirando bem fundo, ela tocou as primeiras notas da música no piano que estava sentada, mas parou, repensando no que estava pra fazer. Seu olhar desceu para a melhor amiga e os fantasmas ao seu redor, buscando uma certeza que só havia em suas faces.

— Você consegue. — Luke exclamou, a encorajando. Marjorie concordou com a cabeça, suas mãos juntas a frente do corpo. Julie voltou a tocar, o olhar ainda buscando por seus amigos e eles demonstrando nervosos, os adolescentes pareciam sair mais rápido.

Sometimes I think I'm falling down
I wanna cry, I'm callin' out
For one more try
To feel alive — Como se fosse combinado, no momento que ela começou a cantar as luzes focaram nela, uma mistura de verde e azul, chamando a atenção dos que ainda estavam no ginásio.

And when I feel lost and alone
I know that I can make it home
Fight through the dark
And find the spark — Marjorie viu mais para o meio da quadra, Srt.Harrinson mostrando orgulhosa sua aluna, para diretora Lessa e uma faisca de esperança surgiu. Agora os alunos pareciam notar a apresentação surpresa e iam parando para assistir, a confiança de Julie ressurgindo e sendo ouvida através dos versos.

Life is a risk but I will take it
Close my eyes and jump
Together I think that we can make it
Come on let's run and Uma exclamação de surpresa surgiu na garganta de Marjorie, no momento que uma luz forte brilhou em cima do palco e a banda apareceu lá acompanhando os vocais. Não foi apenas ela, toda a quadra gritou de animação e surpresa, se aproximando para ver aquilo com mais clareza. A Wilson assistia tudo aquilo em descrença, ainda em completo choque.

Rise through the night you and I
We will fight to shine together
Bright forever
And rise through the night you and I
We will fight to shine together
Bright forever – Julie levantou do piano que estava sentada, se aproximando dos meninos, a surpresa na voz mas agora confiante em estar ali. Enquanto cantava virada para o público ela percebeu: todos estavam vendo os fantasmas. 

De cima do palco, ela procurou por Marjorie nas esperança de ser só impressão mas a expressão em seu rosto dizia outra coisa. Os meninos foram devagamente percebendo também, a sombra de uma confusão transparecendo em seus rostos, desacreditados no que estava acontecendo.

In times that I doubted myself
I felt like I needed some help
Stuck in my head
With nothing left
I feel something around me now
So unclear, lifting me out
I found the ground
I'm marching on Luke começou sua parte, a voz raspando na garganta, criando um efeito único. Seus olhos, sem perceber, pararam na loira atrás de todos, a mandando um sorriso, feliz por estar fazendo o que mais sentia falta.

Life is a risk but we will take it
Close my eyes and jump
Together I think that we can make it
Come on let's run and — Reggie se aproximou do microfone de Luke na intenção de dividirem o verso, sendo muito bem vindo pelo amigo.

— Marjorie, você sabia disso? — Flynn apareceu do seu lado, perguntando, seu braço se enroscando no da amiga.

— Eu não fazia ideia, mas 'tô adorando — Ela responde sem desviar o olhar do palco, aceitando o meio abraço, sem saber como explicar o que estava acontecendo.

In times that I doubted myself
I felt like I needed some help
Stuck in my head
With nothing leftLuke iniciou cantando no próprio microfone mas Jules se aproximou com o dela, para que pudessem cantar lado a lado. E quando ele acabou, se virou para cantar a própria parte.  

And when I feel lost and alone
I know that I can make it home
Fight through the dark, and find the spark Luke a acompanhou com um riff, um olhar orgulhoso sobre ela e sem eles nem se lembrarem um acidente aconteceu, quando ela foi caminhar para deixar a frente do palco toda para ele, acabou atravesando-o. Na visão de Marjorie, não foi todos que perceberam por estarem imersos na música, mas ela viu.

And rise through the night you and I
We will fight to shine together
Shine together
Bright forever
Bright forever
And rise through the night you and I
We will fight to shine together
Shine together
Bright forever
Bright forever No ultimo refrão, Reggie e Alex acompanharam fazendo uma segunda voz e Julie agora dançava, sentindo a música. Todos sentiam a harmonia da banda, como se estivessem fazendo isso juntos por anos. Julie finalizou a música com um ultimo high note e ergueu o microfone acima da cabeça, ofegante tanto pela música como pela sensação de estar viva de novo.

Os estudantes aplaudiram fervorosos, impressionados com a banda, num agradecimento, eles dobraram o corpo para frente, recebendo os aplausos mas quando levantaram, a luz forte imediatamente brilhou de novo e eles desapareceram, causando ofegos de surpresa da plateia. Marjorie se perguntou o que teria acontecido com eles, mas teve sua resposta quando eles reapareceram atrás dela, causando uma frente fria direto nelas. 

— Pra onde eles foram? — Flynn perguntou, apertando seu braço forte, procurando os garotos ao redor da quadra.

— Eu não faço a mínima ideia. 

Marjorie odiava mentir mas não tinha como falar a verdade, Flynn a acharia louca se falasse que eles estavam atrás delas e que na verdade, eram três fantasmas gatos do século passado. E pensando bem, era realmente loucura.

A Marjorie do ano passado a chamaria de doida maníaca se a atual contasse sobre os novos amigos, e nem ela acreditava. Os pensamentos às vezes falhavam e ela esquecia ou achava que tudo não passava de um sonho maluco mas havia uma coisa que a mantinha ciente que aquilo era a realidade, era a sensação que as pontinhas do seu cabelo estava sendo puxadas, delicadamente mas estavam ali.

Ainda no palco, o técnico da luz apareceu perguntando para Julie:

— Aí, cadê o resto da banda?

— Espera. Eram hologramas? — Uma amiga da Carrie perguntou, dando a saída perfeita dessa situação.

— Isso, isso. Eram hologramas. — Julie concordou, sem hesitar, e poupando dúvidas continuou — Eu conectei no projetor do teto antes da apresentação, eu até explicaria, mas isso envolve algoritmo, ciências e tudo mais.

E ela foi convincente o suficiente para os alunos comprarem a ideia, porque um salva de palmas surgiu.

— Que louco, eles conseguiram ver a gente tocando só até a música acabar.

— Melhor ter certeza. — Reggie atravessou Flynn e subiu no topo da escadinha que sobe para o palco. Fez uma espécie de dança e desceu envergonhado — É, eu acho que não estão vendo mesmo.

— Eles podem não ter visto, mas eu vi. — Marjorie murmurou, a cena a sua frente não foi uma das suas favoritas. Atraindo olhares dos dois fantasmas que haviam esquecido dela ali, e que ela podia ver eles.

Mas Luke não havia esquecido, ainda se sentia embasbacado com a presença da loira a sua frente, estavam tão perto que ele conseguia sentir o perfume que seu cabelo emanava. Não aguentando de curiosidade, discretamente, ele tocou as pontas dos fios, notando que eram tão macias como parecia.

— O que disse? — Flynn perguntou, se virando para a amiga, que se assustou com a pergunta. tinha achado que ela nem tinha ouvido

— Nada, só pensando alto.

A diretora ergueu a voz mandando todos voltar para a aula, dizendo que o show acabou e todos os alunos obedeceram, mas Marjorie e Flynn ficaram para trás esperando Julie, que conversava com a Srt.Harrinson e com a diretora.

As amigas observou a professora de música se despedir da aluna com um abraço, o que significava alguma coisa boa. Ela desceu do palco com um sorriso estampado no rosto e andou em direção a dupla.

— Uau, você conseguiu. — Flynn a recebeu, num tom quase irônico. Marjorie franziu a testa, pela reação da amiga.

— Graças a você. – Julie esperou algum sorriso ou expressão de contentamento, mas só recebeu um silêncio — Ei, tá tudo bem?

— Ah, tudo ótimo. Quando começou a tocar com uma banda de holograma? — Flynn perguntou como se aquilo realmente importasse, sem ao mesmo a parabenizar.

— Ah, foi só uma música. não somos uma banda, eles são uma banda, uma banda de holograma, de holograma mesmo. — Julie tentou explicar, o nervosismo transparecendo em suas palavras.

— É, eu vi. Por que guardou segredo sobre aqueles garotos gatos?

— Tem um motivo para isso, só que... É a maior loucura.

— Ah é? Eu adoro uma loucura, pode falar. — Flynn pediu, não entendendo que a amiga não queria falar sobre esse assunto e deixar quieto. Marjorie ao seu lado arregalou os olhos, achando que Julie iria realmente falar a verdade.

— Ah, beleza. Então... Eles são suecos.

Julie contou a pior mentira que poderia ter contado.

— Acontece que além deles curtirem muito comer almôndegas, eles são ótimos músicos também. — ela tentou dar uma disfarçada na mentira, mas a feição de Flynn deixava claro que não havia sido convencida — É, então eles tocam lá, eu transmito aqui. A gente toca juntos, eles somem e é isso. Enfim, quem tá animada por eu ter voltado para a turma de música?

Até quem visse de longe perceberia a mentira. Marjorie procurava de alguma maneira para livrar a amiga do buraco, mas ela havia cavado a própria cova.

— Jules, você tá mentindo pra mim? — Flynn perguntou em tom acusatório.

— É, eu tô mentindo.

— Desde quando a gente mente uma para a outra? — Flynn parecia cada vez mais ofendida, se sentia traída pela melhor amiga ter escondido algo dela — É isso que vocês estavam cochichando ontem, né?

— Não era sobre isso, escuta a gente. — Marjorie tentou amenizar a briga.

— Flynn, desculpa.

— Desculpa? Simples assim? — Com a voz embriagada de lágrimas, ela virou e saiu correndo, deixando as duas amigas para ir atrás dela. Elas chamavam seu nome, pedindo para esperar, mas isso só fazia ela correr mais rápido.

A bota preta no seus pés, dificultaram um pouco a corrida e o corredor cheio de alunos que andavam para lá e para cá, entrando no caminho delas rapidamente tirou Flynn da vista delas.

— Marjorie, mandou bem hoje.

— Julie, aqueles hologramas foram animais. É como se a gente estivesse no Coachella. — um grupo de alunos pararam Julie no meio do corredor, a distraindo do problema — Sem ser no deserto e todo aquele sol.

Marjorie continuou andando, ignorando os alunos que tentavam falar com ela e nem percebeu Julie ficando para trás. Quando ela olhou para os lados, procurando a amiga e viu que ela não estava por perto, olhou para o começo do corredor vendo ela numa conversa amigável com sua irmã e o namorado dela. Rapidamente, ela virou a direção e voltou para onde eles estavam reunidos.

— Vamos Jules, não escuta eles. — Marjorie abriu caminho entre o casal, e segurou a amiga pelo pulso, a puxando de volta para o objetivo — Carrie, eu já te pedi uma vez, pode, por favor, não provocar as minhas amigas?

Marjorie era a irmã mais velha, não que isso significasse muita coisa em casa, mas fora dela, Carrie costumava a escutar ela, pelo menos um pouco. Cada uma vivia sua vida, Marjorie com suas amigas e Carrie com as dela, nenhuma das duas interferia no ciclo de amizade da outra desde o dia que as amizades não eram as mesmas.

As amigas caminhavam pelos corredores, sem se importar com o sinal batendo, procurando a amiga. Ambas dentro dos seus próprios pensamentos, e avoadas do que estava acontecendo em volta.

— Julie! — Ao virar o corredor, deram de cara com os fantasmas numa pirâmide gritando. Por causa do susto causado pelos mesmos, Marjorie deixa escapar um palavrão, logo tampando a boca com a mão.

— Ah seus... Parem de fazer isso. Tô falando sério.

— Vocês tem que parar urgentemente com essa mania de assustar a gente. — As mãos de Marjorie desceu da boca parando no coração acelerado dela.

— Não foi culpa nossa, a gente já tava aqui. — Reggie começou a se desculpar, claramente não se sentindo culpado — Bom, na verdade, a gente tava ali e a gente veio até aqui.

— Não ajudou, Reggie, sinto muito. — Marjorie o consolou, recebendo um dar de ombros.

— Ou, a gente não vai falar sobre o que acabou de rolar? — Luke interrompeu a conversa, lembrando do principal motivo que eles deveriam conversar.

— É, a escola inteira viu vocês e isso está me deixando um pouquinho doida. — Julie concordou, um pouco desconfortável com a situação.

— Ai que bom, porque eu também estou ficando doido. — Alex começou seu monólogo muito rápido enquanto Luke o observava, esperando ele acabar para poder falar — Tipo só vocês conseguiam ver a gente, aí todo mundo conseguia ver a gente enquanto tocamos, aí minhas roupas são feitas de ar e mesmo assim a cueca continua entrando naquele lugar. São tantas perguntas.

— Informações desnecessárias, Alex, informações desnecessárias. — Marjorie negou com a cabeça, não acreditando no que estava ouvindo.

— O mais importante é que a gente arrasou, eles adoraram você. — Luke voltou novamente para o assunto, animado com o show que deram.

— Você está brincando? Eles adoraram vocês, e eu me incluo na lista. A música foi ótima, não sei quem escreveu mas combinou demais com vocês. — Marjorie entrou na discussão, mesmo não sendo parte da meio banda, declarou sua opinião sobre a apresentação, recebendo uma piscada de Luke, deixando claro quem havia escrito a música.

— E você viu as líderes de torcida me olhando? — Reggie parou como se tivesse dado conta de alguma coisa — Acho que elas estavam de olho em mim, por favor me diz que elas estavam de olho em mim.

— Bro, elas estavam de olho em você. — Luke o confirmou, segurando na cabeça de Reggie e olhando fundo nos olhos dele. Reggie comemorou e o amigo riu da felicidade do colega de banda.

— Eu tô tão confuso, tá ligado? — Alex voltou com o tópico pensativo dele e Marjorie questionou se deveria mandar o número da psicóloga do seu pai para ele ou não — O pós-vida deveria vir com um manual de instruções, um guia-rapido, qualquer coisa.

A Wilson o assistiu no próprio desespero, a nova fase assustava o loiro e o deixava sem saber o que fazer.

— O bom é que todo mundo achou que vocês eram hologramas e eu consegui voltar pra turma. — Julie os informou as boas notícias mas a face não demonstrava felicidade.

— Jules, não fica assim, a gente vai dar um jeito.

— E estão desanimadas porquê?

— É, vocês estão com essa cara aqui. — Luke puxou os amigos pelo pescoço, e tentou as imitar, numa clara falha.

— Essa não é minha cara. — Julie declarou, tentando esconder a risada da cara deles. Eles se separaram, ainda em esperança de ter acertado na imitação.

— Muito menos a minha. As coisas ficaram esquisitas com a Flynn. Ela perguntou de vocês e a gente não contou. — Marjorie os explicou a situação complicada, esperando alguma expressão de entendimento.

— Dahora, as meninas já estão falando da gente. — Reggie cochichou como se não as meninas não fossem escutar, trocando um hi-five com o do lado. Marjorie revirou os olhos com a reação deles.

— Para com isso, é sério. — Julie os reaprendeu, sem acreditar nas atitudes deles — Eu não posso falar pra ela de vocês, pelo mesmo motivo que eu não posso falar para o meu pai. Ela vai achar que eu fiquei maluca, e pior, nos achar malucas.

— Auch, assim você me machuca Jules. — Marjorie dramatizou, mas já sabia qual seria a reação da amiga.

Marjorie sabia também que se ela não pudesse ver os fantasmas também, Julie se negaria a contar para ela. Não porque não confia ou ela a acharia louca, mas porque ela não acreditaria totalmente.

— Bom, esse cara com certeza acha que vocês estão malucas. — Reggie falou, apontando para o zelador da escola que vinha passando no meio deles. O zelador parou do lado das meninas, encarou elas e suspirou, continuando seu trabalho.

— Tchauzinho, Seu Omar, tenha um ótimo trabalho. — Marjorie se despediu dele cordialmente, tentando o fazer esquecer que elas estavam falando com o "ar".

— Acho melhor eu voltar para a aula, você deveria vir também Mar. — Jules concluiu, passando no meio dos meninos e indo reto para os corredores das salas.

— 'Tô de boas, vou voltar pra sala de música. — Marjorie informou para a amiga, virando de costas para os três fantasmas e voltando para o corredor que tinha chegado.

— Até mais, meninas. — Reggie se despediu, sendo o único dos três a fazer — Ah, e avisa para as meninas que eu estou solteiro.

— Ah, e que tá morto. — Alex lembrou o amigo da informação importante sobre sua pós-vida.

♪⭒

Pequenas notas eram possíveis de serem ouvidas por toda sala, subindo e descendo de tom, numa onda suave, onde quando próxima da areia, ela quebra, mas volta e faz tudo de novo.

Não era uma música completa mas os indícios de uma.

O processo criativo de Marjorie era uma coisa simples mas ao mesmo tempo, complicado de se entender: as letras vinham em automático; quando se passava por alguma situação que não conseguia colocar os sentimentos em palavras faladas, mas em palavras cantadas não eram lá tão difíceis.

Marjorie encarava pensativa os rabiscos no seu caderno, as letras se embaralhando, o verso se tornando refrão e o refrão se tornando verso, e as notas de sustenido se transformando bemol.

Riscando mais um pouco, ela suspira, não entendendo a confusão de sentimentos dentro de sua cabeça. Todas as coisas que vinham acontecendo mexiam com a cabeça dela de uma forma irreversível.

O novo estilo de vida do pai, o término do namoro recente, o aparecimento desses fantasmas, um sendo o filho dos seus avós, a sua melhor amiga voltando a cantar e com isso uma briga com a outra melhor amiga, todos esses eventos precisavam de uma reação-resposta e ela não conseguia pensar em todos ao mesmo tempo.

Desistindo de compor alguma coisa, ela olha no celular procurando pelas horas, exatas três e quarenta, já tinha passado o horário das aulas. Nas notificações, uma mensagem de Jules pedindo para ela vir na casa dela, cinco mensagens do Matthew pedindo perdão que foram rapidamente ignoradas e uma do pai perguntando onde estava. Ela respondeu o pai e a amiga, e jogou suas coisas para dentro da bolsa que havia pego no armário, já saindo da sala em direção a saída da escola.

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