The empress exile

A Imperatriz exilada

Eu estou deverás solitária nesse castelo, meu adorável marido me colocou em um exílio de mais um ano, como se eu fosse respeitar tal exigência. Posso até não estar com ele por todo esse tempo, porém não ficarei completamente só, troquei minhas vestes por uma calça em tom escuro e meu espartilho preto além do casaco, saí do castelo vendo as Erínias rondarem o local.

— Onde está a minha irmã? — Fui direta e elas fingiram não saber, apesar de me servirem sua total devoção está a mercê de Hades. — Não testem minha paciência, sabem exatamente do que estou falando. — Bastou um olhar meu para que entendesse que não estou para brincadeira.

— Na companhia do príncipe. — Pronunciaram em uníssono.

— E onde estão? — Na segunda prisão, os domínios do príncipe. — Megera comentou e tive que sorrir afinal nunca fui ao reino da gula. Sai de meu palácio e montei em meu cavalo, um ser negro de olhos fogo azul tão bela e dócil que se curva somente a mim. 

A ela dei o nome de Safir e montá-la é como estar sobre o veículo mais rápido e enquanto estávamos a caminho dos domínios dos sete príncipes acabei por relembrar de parte da história que Hades me contou após uma de nossas noites. Digamos que se a terra é morada dos humanos e todo o céu pertence aos deuses, o submundo é a extensão dos dois mundos pertencendo  a único rei encarregado de todos que vem ao descanso eterno e penitência, sejam eles deuses, criaturas, animais ou humanos. O submundo acaba por ser a completa extensão do planeta sobre o domínio do meu marido, um lugar tão grande para um deus igualmente grandioso e a partir do momento que mais mitologias foram surgindo Hades teve de adequar os seres do inferno, apogeu, submundo entre outros, todos aqui, e obviamente que foi desafiado inúmeras vezes, afinal todos que chegavam achavam que deveriam governar e no fim pereciam para sua força e astúcia, ainda havia aqueles que não almejavam o governo e sim o caos, a discórdia e tudo que há de ruim, há também os que desejam ser governados e ainda por cima aqueles que somente aceitaram o seu lugar.

Respirei fundo lembrando das palavras de meu marido:


Acima de tudo o submundo é um lugar de punição.


Deixei meu olhar se perder entre as grandes cachoeiras de lavas percebendo que estava próxima ao domínio dos sete príncipes. 

O grande portão negro de ferro cheio de  entrelaces e figuras mitológicas remetidas como o mal se encontrava fechado, mas ao verem que se tratava da senhora de todas essas terras a passagem foi aberta calmamente eu segui até o segundo castelo notando a diferença absurda que havia entre eles, o primeiro a me ver e vir me saldar foi Lúcifer, suas asas pairavam pelo céu vermelho antes de se fecharem e olhar para mim de frente.

— Está muito longe de seu território. — Apenas o encarei antes de sorrir de lado.

— Assim como você, não deveria estar na primeira esfera? Cuidando dos  ex-querubins, serafins, tronos etc..

Revirei os olhos.

— Tenho negócios a tratar aqui embaixo.

— Então não perca seu tempo com uma simples rainha. — Passei por ele como se não fosse nada, Lúcifer é a personificação do orgulho e obviamente reconhece o seu lugar, mas não se curva a ninguém.
Segui até o castelo de Beelzebub notando que suas portas haviam mais inscrições pesadas e uma certa mecânica para manter as visitas indesejadas de fora. Bati três vezes até escutar o mecanismo se mover, ao abrir pude ver quão amplo e claro são os corredores de seu castelo e como são belos todos os ornamentos de decoração, assim como as gárgulas que estão do lado de fora.

Caminhe pelo local descrente,sempre imaginei que a casa de um dos sete príncipes fosse terrivelmente escura, senti algo segurar a ponta do me vestido e olhei para baixo.

— Queira me perdoar minha rainha, lorde Beelzebub está no laboratório. — Observei o pequeno ser infernal que mais parecia uma gárgula viva e assim a segui até as portas enormes que quando foram abertas revelaram um deus muito concentrado em algo e sobre a mesa ao seu lado Dália estava sentada.

— Lorde sua visita chegou. — A voz do ser era bem baixa e discreta.

— Ótimo Aguila, pode se retirar. — Observei uma curta reverência para mim e para Beelzebub antas de sair e me aproximei.

— Pensei que gárgulas tivessem nomes santos.

— Nomes santos são muitos clichês. — Mesmo me respondendo continuou concentrado.

— Sefarditas não fogem muito a regra Beelzebub, mas enfim, não vim aqui para isso. Preciso falar com Dália — a mesma se ergueu da mesa ao qual balançava os pés e só então percebi que um de seus olhos estava coberto com um tapa-olho que me fez suspirar alto demais e pela minha expressão facial, sabia que iríamos discutir.

— Peço perdão rainha me deixei levar. Sua irmã é fascinante. — Os olhos dele brilharam e tive que me segurar para não me alegrar, pelo visto Dália novamente conseguiu o que tanto queria e sem muito esforço, como esperado daquela que tem o poder de reger o destino.

—Não reclame conosco Sn, fui eu quem tirei, ele estava curioso sobre o fato das minhas pálpebras ficarem transparentes quando as fecho e eu estava louca para ver seus experimentos em ação. — Bateu a ponta dos dedos dando pulinhos como uma adolescente, Beelzebub se levantou com o olho em mãos e Dália esperou que lhe fosse entregue na palma, porém o moreno se aproximou mais.

— Permita-me... — Comentou indicando que tiraria a venda e ela aceitou, assim que o tecido saiu de sua face o príncipe levou a palma da mão até o olho o colocando no lugar. — Belíssima.

Dália sorriu e fui obrigada a pigarrear cortando o momento.

— Desculpem estragar o momento, mas tenho assuntos importantes a tratar com ela, será que podemos usar uma de suas salas?

— Claro, por que não passam a noite aqui? O seu castelo é praticamente do outro lado do reino.

Por um lado me ocorreu que Hades ficaria exaltado ao descobrir que eu não obedeci seu castigo e por outro satisfeito pelo mesmo motivo, no fim esse é o sentimento que gero nele.

— Se puder nos levar até a sala eu agradeço e aceitarei seu convite para passar a noite. — Pude ver o olhar do príncipe queimar sobre Dália que ainda possuía um olhar deslumbrado sobre o palácio.

Beelzebub nos levou pelos corredores conversando casualmente sobre suas descobertas mais interessantes e a cada nova fala vinha uma pergunta por parte da prateada em uma conversa que parecia não ter fim e satisfazer a ambos, quando chegamos na porta que parecia ser de seu escritório ele nos deixou a sós afirmando que mandaria preparar o jantar e com isso entramos.

— Você não queria ver Anúbis? — Questionei enquanto ela se deitava sobre a cheese, seu olhar vagou por mim fechando os olhos tentando descobrir o que eu diria ou faria e permiti.

— E vou, mas por hora a presença de Beelzebub é tão interessante. — Ela suspirou e tive que rir.

— Tenha cuidado com a gula Dália é um pecado bem prazeroso de se cometer, pois você não percebe, e quando se dá conta já se fartou ao ponto de não caber mais nada. — Informei me encostando na mesa enquanto ela sorria.

— Foi por isso que vocês brigaram não foi? — Fiquei confusa a respeito do seu questionamento. — Sn você é um ser irredutível e até mesmo o rei do submundo cedeu aos seus caprichos o que custa você obedecer apenas uma vez? Você faz o mundo girar por você, o tem e sempre quer mais dele, então essa é a sua gula e o seu pecado. — Afirmou me fazendo sorriu, no fundo estava com a razão.

— Meu casamento não deve importar então...

— Então vamos comer! — Ela me cortou ficando de pé e indo para a porta, sei muito bem que esse ser celestial está brincando comigo só preciso descobrir o por quê...

O jantar foi muito agradável, conversamos bastante a respeito das mudanças que eu quero fazer nos jardins centrais do submundo, tanto o jardim das almas, quanto o campo de flores que recebem luz do sol. Beelzebub apesar de tentar-se mostrar inexpressivo estava eufórico por dentro, pois seriam os seus experimentos que transformariam aquelas terras e meu adorado marido não se incomodou com meu sumiço afinal ele sabe de quase tudo o que acontece nesse lugar.

Após a refeição deixamos o salão a  gárgula de antes me guiou até um dos quartos de hóspedes bem afastados e pouco me importa o que Dália fará a partir de agora, sei que seu tempo entre os deuses está acabando e tudo o que posso desejar é que se divirta ao máximo.

...

Dália me deu mais trabalho do que imaginei, após a noite no palácio do segundo príncipe resolvi regressar para meu lar, porém minha querida visita me recordou do nosso trato e assim levei-a até o Egito deixando-a por lá, creio que nunca fiz uma apresentação tão porca na minha vida, simplesmente virei para Anúbis e o cumprimentei e esse deus adorável ficou confuso com a nossa presença. Para que não houvesse perda de tempo expliquei a ele que Dália adoraria passar o dia em sua posse e assim desapareci, sem me importar com os prováveis estragos que ela faria caso abrisse aquela boca...


Vinte e quatro horas haviam se rompido enquanto eu no meu escritório particular ouvia o capitão de décima quarta guarda e representante real das geleiras reclamar sobre a rebeldia de alguns córcomos que vinham devastando as florestas congeladas toda noite e como essa é a minha responsabilidade eu não poderia fugir, diga-se de passagem meu trabalho dobrou depois que retornei da casa de Beelzebub, já participei de cinco reuniões fechadas e assinei mais papéis do que posso contar e essa seria a última já estou tonta de tanto esforço mental, no fim decidimos que mandaríamos metade para a senda, alguns para Beelzebub e os outros seriam presos, respirei exausta depois dessa reunião e decidi ir ver meu lindo filhote canino, ouso dizer que nutri mais amor por Cérbero do que qualquer outro ser desse lugar, assobiei calmamente e meu cachorro diminuiu de tamanho para se acomodar em meu colo, ou seja, ficou do tamanho de um pastor-alemão com três cabeças deitado e de olhos fechados ocupando praticamente todo o meu corpo.

Desde o início da minha punição Hades não veio sequer saber se preciso de algo, meu marido vai me pagar caro por isso. O cheiro incomum de flor de Dália se intensificou e logo após vi seus pés descalços a minha frente.

— Pelo visto rompeu seu limite de estadia em minha casa. — Reclamei notando-a sentar-se ao meu lado e Cérbero se por em alerta cheirando suas vestes. — Esteve com Beelzebub novamente não é? — Questionei.

— Só fui me despedir, confesso que no fim não disse uma palavra e ele ainda deve estar esperando por mim. — Ela levou a destra em direção ao cão que rosnou. — Calma fofinho eu não vou te machucar.

— Você está com o cheiro do príncipe, logo Cérbero não confia em você. — Distribui uma carícia em uma de suas cabeças. — E como foi no Egito?

Os olhos dela brilharam.

— Fascinante, agora estou desesperadamente tentada em ficar, eu vi tanto e aprendi mais ainda. Anúbis é tão magnífico e Beelzebub é apaixonante. — Deitou-se no chão frio e rochoso e tive de sorrir, observei o corpo dela falhar, indicando que o Tempo estava pronto para interceder a qualquer momento e resolvi apressar as coisas:

— Você não veio até aqui apenas perturbar a minha paz não é mesmo? — Observei-a sorrir enquanto acariciava meu cão.

— Evidente que não. Tenho um aviso a lhe dar: Mesmo que você salve eles algo lhe ocorrerá. — Apontou para cima como se sinalizasse aos deuses e para a terra lembrando a humanidade. — Algo que você não previu e não terá como recusar e mudará completamente seus planos.

Detesto quando Dália fala por códigos e a mesma sorriu voltando a abraçar um dos pescoços do Cérbero.

— Infelizmente tenho que ir, você tem sorte por se divertir assim e estou quase implorando ao tempo que me deixe viver desse jeito afinal um dia de folga é pouco para um aprisionamento de dez mil anos e não me importaria de abrir mão de mais da metade do meu poder se pudesse simplesmente ter escolhas.

E assim Dália partiu, deixando para trás uma das pétalas que adornavam seu traje:


"A fé da humanidade prevalecerá, porém suas preces e lágrimas serão em vão."


Suspirei esmigalhando a pétala e atirando seus pedaços no rio, Cérbero se curvou para um carinho e suspirei pensando em suas palavras, ouvi o som de passos e aguardei:

— Pelo visto errei, perdoe a minha intrusão rainha estou a procura de Dália.

— Ela não está aqui Belzebub, Dália retornou para sua casa.

Fui séria, aquela estúpida tinha que se envolver com dois deuses ao mesmo tempo?

— Uma pena ela é bem interessante principalmente quando fecha aqueles olhos... Agora entendo por que o Imperador se interessou por você, sua irmã é tão fascinante quanto. — Deixei um sorriso escapar conforme ele se aproximou e meu cão rosnou o fazendo parar.

— Ele ainda não confia em mim.

— Certamente e pelo visto você ainda deseja realizar experimentos nele.

— Óbvio. Minha mente sempre produzirá o melhor. — Beelzebub se afastou e tive que rir  imaginando Cérbero o retalhando. — Só mais uma coisa minha rainha, se puder diga a ela que estarei esperando.

Concordei enquanto ele sumiu e por um momento me senti tentada a interceder por ela. Já imagino Dália ao lado dele criando o caos nesse lugar, pois Beelzebub não a conhece inteiramente se não saberia que ela é um furacão, completamente desgovernada. Tive de sorrir pensando em como os sentimentos são simples e os humanos que os complicam, como por exemplo as divindades, principalmente as do meu lar. Algo interessante sobre os infernais é a forma como escolhem lidar com seus sentimentos, alguns tendem a se libertar exaurindo qualquer emoção que não seja o desejo carnal, outros são imunes se dedicando completamente ao seu cargo e há aqueles que assim como Hades se interessam intensamente por um só ser e nesse caso um ser celestial e os esperam por toda eternidade e não necessariamente precisam estar apaixonado, apenas envolvidos o suficiente para se permitir a tanto.

.

..

...

Meus dias se passam divididos entre trabalhos e reuniões, no inicio eu os aceitei por completo dançando conforme a música de Hades sobre suas ordens sem que ele entendesse que estou tentando ser o mais amigável possível.

Nas primeiras seis semanas cumpri com todos os projetos a mim designados, nos meses seguintes resolvi por em prática a minha ideia de transformar uma ala do meu castelo em uma recepção pessoal, mandei que trouxessem estátuas de amantes apaixonados para decorar o local e uma fonte de bebidas também e que distribuíssem convites avisando que meu palácio seria aberto para uma social para os deuses, a princípio a ideia era uma festa e acabou, mas até eu mesma não poderia prever que as coisas sairiam do controle, afinal quando me tornei uma imperatriz não cogitei a hipótese de ter uma vida tão volátil, porém o tédio fez a ocasião e quatrocentos e setenta dias é tempo demais para alguém que nunca preciso lidar com recusa.



A menção dos príncipes veio de uma leitura do trecho, escrito por Sébastien Michaelis.

Imagem meramente ilustrativa só para representar a ideia do castelo da Sn.

córcomos são criaturas inventadas para a fic, uns demoniozinhos imprevisíveis que só sabem causar bagunça e inverter a situação então uma castelo de gelo facilmente poderia começar a expelir lava pela diversão deles.

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