Prólogo
A/n
As aspas indicam frases traduzidas de outra língua
Dizer que Joui Jouki estava feliz seria um eufemismo. O garoto puxava sua mãe pela trilha sem prestar muita atenção nos inocentes turistas que quase eram derrubados pela criança. A mulher não esperava que seu filho ficasse tão animado em saber que eles iriam visitar A Cratera de Heilag Vagga enquanto seu pai estava em uma reunião, ela pensou que talvez o menino nem iria querer ver um "buraco chato", mas viu que estava bem enganada sobre isso.
Joui quase não saía de casa para algo que não fosse estudar ou treinar ginástica. Apesar de seu pai não apoiar muito o último, o jovem tinha certeza que o mais velho ia ficar orgulhoso com seu talento algum dia.
Quando seu pai estava indo para mais uma viagem de negócios, ele não esperava que sua mãe insistisse que levasse os dois juntos afirmando que logo ia ser aniversário do filho. Sinceramente, o garoto não esperava que isso fosse funcionar, afinal o homem nunca tinha ligado tanto para seu aniversário, até mesmo chegando a esquecê-lo (Joui dizia para si mesmo que isso acontecia apenas por causa do trabalho que o mais velho realizava para sustentar a família, não porque não se importava ou algo do tipo).
Nunca imaginou que no dia de seu aniversário estaria em outro país, numa ilha chamada Heilag Vagga, que era famosa por um acidente geográfico curioso. Se só o fato de sair de casa com a mãe deixava o jovem feliz, imagina visitar um buraco feito por alienígenas. Sim, alienígenas! Pelo menos foi o que ouviu de sua mãe. Claro, que ela havia dito muito mais coisas além disso, mas depois de escutar a palavra alienígena, não conseguiu focar no resto da história.
Obviamente a história real não é nada tão legal quanto o que a imaginação do Jouki criou, porém isso é algo a ser contado outra hora.
Ao chegarem no local tão esperado, Joui soltou a mão de sua guardiã e saiu correndo até as grades para ver de perto a tão famosa cratera, desviando pelos diversos turistas que xingavam o mais novo por trombar com eles. Joui normalmente é muito mais comportado, se seu pai estivesse ali com eles, provavelmente o garoto iria sofrer diversas punições, porém hoje ele estava livre, longe da supervisão do homem.
Ao chegar num lugar onde conseguia ver com clareza. A cratera parecia ter uns três metros de profundidade, no entanto não era isso que a tornava tão famosa. Os declives daquele buraco formavam um pentágono, que possuía círculos em suas cinco pontas, os quais tinham outro símbolo dentro. Dentro do pentágono parecia haver mais formas e circunferências, parecendo até um tipo de símbolo para ritual.
Havia muitas hipóteses para o que realmente havia acontecido, alguns diziam ser aliens, enquanto outros afirmavam que aquilo era um sinal divino, porém a teoria mais aceita é que aquela cratera havia sido formada de maneira não natural, provavelmente por uma bomba ou algo do tipo, e acabou, por coincidência, formando uma espécie de símbolo.
Cansado de ver a cratera, Joui decide procurar em volta do local em busca de alguma evidência deixada pelos alienígenas, indo para um lugar mais afastado da multidão, sem perceber que havia perdido a sua mãe. Enquanto estava na sua busca, o garoto encontrou uma área que estava quase deserta, se não fosse por um menino de cabelos longos pretos sentado atrás de uma pedra. O outro estava com a coluna extremamente torta, o oposto da do asiático.
César Cohen estava extremamente irritado por ter sido arrastado para aquele lugar horrível. Não entendia o que as pessoas viam de tão interessante num buraco daqueles, se quisessem ver o símbolo era só pesquisar na internet, daria na mesma. Infelizmente o menino foi arrastado por seu pai, que queria fazer uma viagem em família para compensar o tempo perdido. Provavelmente era apenas uma desculpa que fazia Cris dormir melhor à noite, que essas viagens estavam compensando alguma coisa.
Era sempre o mesmo para César, Cris viria para casa, diria que dessa vez iria ficar, recuperar o tempo perdido, apenas para ir embora depois de algumas semanas, sem nem previsão de volta. Nas primeiras vezes o mais novo realmente acreditou nas palavras do pai, mas isso só tornava mais doloroso vê-lo partir. Então decidiu simplesmente não se importar com o outro, assim não ficaria triste ao perdê-lo.
César havia se afastado dos pais e daquela multidão sufocadora assim que pôde, querendo apenas um pouco de paz. Ele não demorou muito para achar um cantinho onde nenhum ser humano se encontrava por perto, então sentou atrás de uma rocha, colocou seus fones e começou a ouvir uma música que adorava. Por isso, acabou não ouvindo o japonês se aproximando.
Joui viu que o garoto cantarolava alguma melodia e decidiu se aproximar para tentar ouvir melhor. Quando ficou próximo o suficiente para ouvir a música, ele se surpreendeu.
Am I'm here
Without anyone
Era uma de suas músicas preferidas, amava sobre o que ela falava e de seu ritmo. A maioria das pessoas não gostava dela, dizendo que o mesmo tinha um péssimo gosto musical.
Even a single friend
Who I can't trust
O japonês começou a cantar junto de César, que nem havia notado sua presença. Apesar da música ser em outra língua, Joui amava tanto ela que havia decorado cada um de seus versos.
Me and my shadow
In a cold place
Nessa parte da música, César estava tão absorto em seu significado em sua estrofe, que nem percebe quando eleva sua voz nessa parte, colocando muitos sentimentos naqueles simples versos, lembrando-se de todas as vezes que chorava sozinho em seu quarto, cercado apenas pela escuridão e pelo frio, enquanto fingia não ter sido tão afetado pela ausência de seu pai na frente de sua mãe, apesar de nunca se sentir tão solitário e inútil em sua vida quanto naquele momento que havia sido deixado.
Dark, never makes day
All is just gray
Joui lembra de como a sua vida, apesar de fazer seu melhor para fingir que não era o caso, era triste. Ele parecia ser odiado pelo seu pai, ser apenas uma decepção, não importava o que fazia o homem sempre diminuía o filho, sempre reclamando de seus erros e ignorando tudo que fazia de bom. Ele tentava se convencer que na verdade seu pai o amava, que apenas não sabia como demonstrar, mas em seus piores momentos, enquanto chorava no banho, sua mente o lembrava de que nem seu pai gostava dele.
I am alone in the space
Surrounded by people from Mars
In this planet
I am alone in the space
Without a friendship
Without any help
I am alone in the space
Talvez fosse a música ou a aura do lugar, mas a cada verso cantado, memórias e mais memórias inundavam a mente dos dois, fazendo liberarem sentimentos que escondiam até de si mesmo. Joui esquecendo da presença de César, que nunca percebeu que não estava sozinho.
Today, I woke up in the morning
Hoping a person knocks my door
César cantou essa parte como se estivesse fazendo uma súplica, para encontrar um amigo, alguém que o entende, alguém que não o abandonaria, que pudesse confiar até seus segredos mais profundos.
Today, I woke up in the morning
Hoping, there was someone like
Joui apenas queria encontrar alguém que o amasse, o amasse do jeito que era, sem precisar fingir ser perfeito, alguém que não o julgasse e que entendesse a sua dor.
I am alone in the space
Enquanto canta o último verso da música, César se move um pouco para o lado, encostando em Joui que estava sentado à sua direita. Ao perceber que havia alguém com ele, o cabeludo para de cantar, tira seus fones e olha para o lado, vendo um garoto asiático de olhos e cabelos castanhos. Joui olhou com um rosto meio envergonhado para o menino ao seu lado, que parecia meio assustado.
Essa interrupção da melodia não foi capaz de impedir que acontecesse o que iria mudar a vida dos dois para sempre, apesar de ambos estarem alheios desse fato. O lugar em que estavam, os sentimentos expressados, uma melodia e um contato repentino deu as condições exatas para a magia acontecer.
—Ahm... Desculpa interromper, é que eu gosto tanto dessa música que não resisti.
Joui desvia o olhar para o chão enquanto o outro afasta-se rapidamente dele, levantando-se, sem falar nada ainda.
—Então... — o japonês coça a nuca, enquanto também fica em pé — O que você está fazendo aqui? Não quis ver o buraco dos aliens?
César olha rapidamente para outro, estranhando o que disse, sem olhar em seus olhos.
—Aliens? — ele murmurou mais para si mesmo do que perguntou ao outro.
—Isso! Aliens! Você sabia que foram aliens que fizeram aquele buraco? — perguntou animado.
—Você tá louco, aliens não existem.
—Como assim não existem!? Então quem fez o buraco?
—Uma bomba, claro! Quantos anos você tem para acreditar nessas coisas?
—Nove.
—Nossa, que bebê! — César provoca.
—E quantos anos VOCÊ tem? — perguntou Joui ofendido pelo cabeludo.
—Dez.
—Você é só um ano mais velho.
—Parabéns! Já aprendeu a contar. — diz ironicamente.
César não sabia porque estava falando tanto com o garoto, nem estava se sentindo nervoso como sempre acontecia quando ia falar com alguém desconhecido.
—MENINOOOOO!!!!!!
—Ah não... Lá se vai minha paz... —César dá um suspiro.
—Filho, você não pode sair assim sem avisar o pai!!!!! — Cristopher falava gritando tão alto que todos os turistas deveriam estar escutando.
—Tá bom Cris, entendi, não precisa sair gritando pra ilha inteira. O que você quer?
César nem olhava na direção do pai, mantendo seus braços cruzados e uma cara emburrada.
—A gente tá indo embora!
—Ok, já tô indo.
César começa a pegar seu celular e fone, virando-se para sair, mas dando de cara para um Joui que olhava para ele confuso.
—Como você entende o que ele fala? — aponta para homem alto, que possuía seus cabelos já grisalhos, além de ter uma cicatriz que cobria metade de seu rosto.
—Eu sei que o sotaque dele é meio complicado, mas ele ainda está falando português.
—Então você sabe falar português?? — o japonês parece ficar extremamente animado com a descoberta.
César fica confuso com a pergunta. Talvez o outro quisesse apenas zoar com a sua cara.
—Não, só sei falar japonês, que nem estou falando com você agora. — diz ironicamente.
—Mas como você consegue entender ele então? — pergunta Joui genuinamente confuso.
—Claro que sei! Eu tô falando contigo em que língua!?
—Japonês.
César olha para o outro, que claramente estava brincando com ele.
—Filho, você está falando com esse garoto!? Cris pergunta desnecessariamente alto.
—Com quem mais eu estaria falando?
—Você nem contou pro pai que sabia japonês! Meus parabéns filho!!
Nessa hora César ficou irritado. Os dois tinham combinado enganar ele. Que tipo de brincadeira era essa.
—Vocês dois estão brincando comigo!
César estava prestes a passar por Cris e ir embora deixando duas pessoas extremamente confusas para trás, quando uma mulher de cabelos castanhos presos em um coque gritou em japonês.
—"Jojo! Nunca mais faça isso! Você não sabe como eu fiquei preocupada!"
—Desculpa, eu fiquei meio animado... — Joui desviou o olhar para o chão meio envergonhado.
—"Só não faz mais isso. Melhor não contar sobre o que aconteceu para o seu pai."
—Claro Mama... Olha, eu fiz um amigo. —ele aponta para César, que estava surpreso não só com a palavra amigo, mas também pelo fato do outro realmente entender japonês.
—"Como ele se chama?"
—Verdade! Tinha me esquecido! Eu sou Joui e você?"
—César. — o cabeludo decidiu ignorar todas as coisas estranhas que estavam acontecendo e ir logo para casa. — Tchau.
O garoto só foi embora sem dizer mais nenhuma palavra, deixando até mesmo o pai para trás, que logo começou a correr na mesma direção do filho.
—"Que língua seu amigo falava?"
—"Japonês?" — o mais novo respondeu sem saber o motivo da pergunta de sua mãe.
—"Aquela palavra que ele falou parecia ser espanhol, talvez italiano ou português." — a mãe pergunta sem ter certeza.
Agora foi a vez de Joui ficar confuso. Então ele estava realmente falando português? Isso ficou martelando na cabeça do japonês pelo resto do dia.
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