Capítulo 1- Intercâmbio

Joui saiu do avião extremamente animado e ansioso para ver o Brasil pela primeira vez. De todas as opções que tinha para fazer o intercâmbio, por algum motivo que não entendia muito bem, este país parecia o atrair, como se tivesse algo escondido para o mostrar. Com sua mala, o garoto contornava a aglomeração de pessoas, procurando sua anfitriã.

Sem muita dificuldade, Joui avista mais ao fundo do aeroporto uma mulher de cabelos pretos cacheados segurando um cartaz onde estava escrito Joui Jouki. Ao seu lado estava uma moça não muito animada que estava falando algo com a mais velha. O garoto ajeitou sua postura, se é que era possível, e andou na direção das duas, querendo causar uma boa impressão.

Quando estava prestes a se apresentar, ele acaba tropeçando na mala de alguém e dando de cara com o chão. Que maneira de causar uma boa impressão...

—Ai meu deus! Você está bem? Se machucou? — a garota que tinha um cabelo preto que ia até os ombros e uma pinta no rosto perguntou, parecendo preocupada.

—Eu estou bem! — Joui falou com um sorriso enquanto se levantava— Só foi uma quedinha boba.

A outra o analisou por um tempo, como se quisesse checar se realmente estava dizendo a verdade.

—Você deve ser o Joui — a mulher mais velha se aproximou dos dois e falou. —Eu sou a Lucille e essa aqui é minha filha, Elizabeth.

—Prazer em conhecê-las!

—Então você já sabe falar português fluentemente? — Liz perguntou.

—Ah sim. Também sei falar inglês, italiano e francês se precisar.

—Nossa, não precisa ser exibido também— disse a garota sarcasticamente.

—Desculpa! Não queria causar essa impressão! Sinto muito, sinto muito mes...

—Calma, eu só tava brincando com você — cortou a fala do outro, ela não esperava que ele realmente ia levar a sério o que tinha dito — Aliás, também sei falar alemão e latim.

—Latim! Isso é incrível Elizabeth senpai!

—Pode me chamar apenas de Liz.

—Isso é incrível Liz senpai!

A garota apenas riu da reação do menino. Parecia uma criança animada em uma loja de doces. Não tinha gostado inicialmente da ideia de alguém ir vir morar na sua casa, mas após conhecer Joui sua única vontade era guardá-lo em um potinho e protegê-lo da maldade do mundo, apesar de serem quase da mesma idade.

Chegando na casa das Webber, as duas mostraram o lugar para o seu novo morador, deixando-o em seu quarto para que pudesse arrumar suas coisas. Depois de arrumar seu quarto, ele passou o resto do dia com Liz, que apesar de não estar muito animada no começo, agora praticamente acolhia o outro como um filho.

Com seu foco total em deixar Joui o mais confortável e à vontade possível, nem viu as inúmeras mensagens no seu grupo com seus amigos.

César estava deitado em sua cama, tentando dormir enquanto seu pai batia com força na porta do quarto. Nem estava na hora da faculdade, porém o mais velho insistiu em acordá-lo mais cedo hoje. Ele havia virado a noite jogando LOL, não estava nem com disposição nem com humor para levantar tão cedo.

—Filho!!! Acordaaa!! O pai fez uma surpresa para você! — daqui a pouco Cris ia acabar derrubando a porta.

Depois de muita insistência do pai, César levanta muito mal humorado, querendo que a gritaria só acabasse logo.

—Pronto, levantei, só para de gritar — dizia enquanto passava pelo seu pai sem nem olhar em seu rosto, ainda vestindo seu pijama.

Logo ao sair de seu quarto ele dá de cara com um garoto de cabelos castanhos e um bigode e barba rala, aparentando ainda estar com sono.

—Bom dia —Thiago diz simplesmente, os dois apesar de morarem juntos não eram muito próximos.

—Bom para quem? — simplesmente murmurou, mais para si mesmo.

—Parece que alguém acordou de mau humor.

—Filho, tem algo especial para você na cozinha!

Bufando, César foi até a cozinha para acabar logo com isso e voltar a dormir. Chegando lá ele vê três pratos em cima da mesa, cada um deles com um pedaço de pudim. Essa visão traz ao garoto lembranças de todos seus aniversários, em que sua mãe fazia pudim para ele e os dois cantavam parabéns. Eles nunca compravam velinhas para soprar, não tinham essa tradição, em vez disso a hora de fazer um pedido era quando cortasse o primeiro pedaço de pudim.

Todo ano, o único desejo que fazia era que seu pai aparecesse para comemorar seu aniversário com eles, mas o mesmo nunca aparecia. Sua mãe dizia que Cris estava apenas trabalhando para sustentar a família, que iria voltar logo, mas César preferia que estivesse ali de qualquer maneira. Seu aniversário e o de sua mãe eram a única ocasião que comiam pudim, o doce preferido de César, para que fosse ainda mais especial.

Mas é claro que Cris não sabia disso, porque ele iria saber se nunca estava com eles. César nem percebeu quando as lágrimas começaram a sair de seus olhos.

—Gostou? É pudim, seu doce preferido!

—Como se você me conhecesse para saber o que eu gosto ou não gosto!! — César fala baixo, porém deixando escapar muita raiva de sua voz.

—Eu tô tentando meu melhor menino, se você me deixasse te conhecer...

—Eu te dei essa chance anos atrás! Mas você só se importava em trabalhar, trabalhar, trabalhar, que decidiu abandonar seu filho e sua esposa!! Não adianta tentar compensar tudo o que você fez agora! Nós dois sabemos que você só está aqui por causa que a mãe morreu, se não fosse isso provavelmente estaria em mais uma viagem!!

Depois de dizer isso, César volta para seu quarto com muitas lágrimas em seus olhos, fechando a porta com muita força. Ele troca sua roupa rapidamente, pega sua mochila e vai para faculdade sem falar mais com ninguém.

Joui havia acordado bem cedo, muito animado para o primeiro dia na faculdade. Ele se arrumou, penteando seu cabelo e colocando seu suéter vermelho da sorte, assim não tinha como nada dar errado.

Enquanto estava indo tomar café da manhã, repentinamente seu coração começou a ficar triste, como se tivesse lembrado de algo ruim que aconteceu, porém não tinha nada em sua mente além de como aquele dia estava sendo maravilhoso. Decidiu deixar isso de lado, talvez fosse apenas fome.

Ele começa a preparar a mesa, colocando pão, leite, suco e uma salada, logo se sentando na mesa, esperando as outras acordarem. As duas chegaram praticamente ao mesmo tempo, surpreendendo-se com a arrumação na cozinha.

—Foi você que fez tudo isso? —perguntou Liz boquiaberta.

—Sim, tinha algum problema? Se vocês quiserem eu posso guardar tudo— Joui começou a ficar nervoso que talvez não devesse ir mexendo nas coisas dos outros sem pedir, mesmo que fosse para fazer uma surpresa.

—Não, não tem nenhum problema. Pelo contrário, isso aqui parece delicioso! —exclama Liz.

—Nem sei como te agradecer, Joui. Não precisava fazer isso.

—Era o mínimo que podia fazer por vocês serem legais comigo!

Todos se sentaram na mesa e começaram a comer, conversando um pouco sobre diversos assuntos. Depois de comer, Liz pegou seu celular e viu as mensagens do grupo.

Joui e Liz estavam na frente de uma porta, o menino quase dava pulinhos de alegria enquanto Liz verificava se o mesmo não havia esquecido nada.

—Joui, você trouxe tudo que precisava mesmo? Materiais, dinheiro... Uma garrafa de água! Você não pode ficar sem água.

—Eu trouxe tudo Liz senpai, não se preocupe, eu verifiquei duas vezes.

—Certeza?

—Certeza absoluta.

—Ok, boa sorte em seu primeiro dia. Se alguém foi grosso com você, me avisa, que eu vou dar um jeito nessa pessoa.

—Liz senpai!

—Tá bom, tá bom, vou deixar você ir para a sala agora.

Entrando no lugar, Joui vê alguns alunos conversando sobre assuntos irrelevantes. Tentando não chamar muita atenção, ele vai se sentar num lugar que estava vazio, perto de uma janela. Enquanto se sentava, algumas pessoas olharam em sua direção, curiosas, cochichando algo umas entre as outras.

Não demorou muito para a professora chegar na sala, fazendo com que os alunos ficassem quietos, ou pelo menos, o mais quieto possível que uma sala de aula podia ficar.

—Bom dia! — Joui quase responde a mulher, mas ela continua a falar nem dando chances para que fizesse isso — Hoje nós temos um novo estudante. Ele veio de muito longe, então espero que o ajudem a se adaptar. Sr. Jouki, você poderia vir aqui na frente para se apresentar.

—Claro, professora — ele vai até a mesa da mulher e se vira para a sala — Eu me chamo Joui Jouki e vim do Japão para fazer intercâmbio. Escolhi o Brasil, porque... Bem, tinha algo aqui que me atraiu... Eu acho.

Algumas pessoas ao redor da sala riram um pouco, Joui não sabia se isso era bom ou ruim. Após a professora o liberar, ele voltou ao seu lugar. A aula continuou normalmente, sem mais nenhuma intercorrência. Alguns alunos cochichavam coisas sobre o mais novo, enquanto o mesmo estava totalmente focado na aula, fazendo anotações toda vez que era dito algo importante.

Ao chegar o horário do intervalo, a maioria dos alunos começaram a sair rapidamente, diferente de Joui, que não estava com pressa para ir comer. Quando estava prestes a atravessar, sentiu alguém tocar em seu ombro. Ao se virar para ver quem era, depara-se com uma garota ruiva, cujo cabelos estavam presos numa trança lateral, de olhos verdes e que tinha um óculos escuro no topo de sua cabeça.

—Ei, você é o Joui, certo?

—Isso, e como você se chama?

—Erin —ela estende a mão para cumprimentá-lo —O prazer é todo seu... Tô brincando. Então, você faz parte de um programa de intercâmbio, né?

—Uhum. Eu morava no Japão, mas decidi continuar minha faculdade no Brasil e com sorte ter uma chance de treinar ginástica.

—Nossa, que legal. Eu também faço parte do programa, mas vim dos Estados Unidos. Você também mora na casa de alguém ou fica na república?

—Eu estou na casa da Liz! Não sei você conhece, mas ela estuda aqui também.

—Que maneiro! Eu tô morando com o Lu, deixa eu te apresentar ele no refeitório. Falando nisso, melhor irmos rápido antes que acabe o intervalo.

Joui começa a seguir Erin até o refeitório enquanto a mesma apresenta ele brevemente à faculdade. Ele não estava prestando muito atenção às salas em si, mais interessado em onde ficava o banheiro, sala do diretor e esse tipo de lugares. Porém, ao passar por uma porta específica, era como se algo o mandasse voltar e ver o que tinha lá.

—Erin, que sala é aquela — ele aponta para o lugar que queria mostrar, enquanto ia para lá.

—É só a sala de informática — ela o segura pelo braço e começa a puxá-lo na direção oposta — Depois eu te mostro ela, a gente tem que ir para o refeitório agora.

Enquanto isso acontecia, dentro da sala, estavam César e Bruno, que parecia estar procurando algo em sua mochila. Só havia os dois ali, o resto dos alunos já havia ido embora.

Enquanto esperava seu amigo, tinha algo que chamava César a olhar para fora da sala, algo o atraindo. Ele começou a ir em direção a porta, curioso para ver o que encontraria.

—Ei, você está indo sem mim?— a pergunta parece acordá-lo de seu transe, fazendo com que virasse para seu melhor amigo, o qual considerava até mesmo um irmão.

—Se você continuar demorando é isso que vai acontecer. Você tem certeza que não esqueceu o dinheiro.

—Não, eu lembro de ter posto ele aqui, em algum lugar...

—Vamos logo Bruno, eu te empresto o dinheiro, só vamos antes que acabe o recreio.

—Sério, certeza que você quer emprestar.

—Claro, você vai me pagar de volta depois com juros.

Os dois começam a sair da sala, andando no mesmo corredor que Joui e Erin estavam alguns segundos atrás.

—Não posso garantir que vou te pagar não — Bruno fala rindo.

—Pode sim, se não vou te assombrar de noite. Cê vai ver só.

—Nossa, que medo. —diz com uma expressão exagerada de medo — Por favor, César, não faça isso!

O outro dá uma cotovelada de leve no braço do amigo, enquanto caminhavam para o refeitório.

Erin conduz Joui até uma mesa onde estavam sentados dois garotos negros, um deles possuía os cabelos praticamente raspados, falando calmamente com o outro, que tinha dreads e um brinco em sua orelha esquerda. Ao lado deles havia uma garota com sardinhas e cabelos castanhos longos, que parecia observar a conversa dos dois quieta, às vezes continuando o desenho a sua frente.

—E aí rapaziada! Finalmente eu cheguei para salvar a Bea de ser uma vela.

—Erin! —o de cabelos raspados fala, meio corado — Ignora ela Fer, só está querendo chamar atenção — ele vira-se para o outro, também corado, com uma voz muito mais gentil do que a usada com a ruiva.

Beatrice olha para o garoto atrás da menina, o qual apenas observava aquela situação, meio confuso, esperando o momento certo de se apresentar. Ao ver o olhar da outra sobre si, Joui decide se pronunciar.

—Bom dia! — ele fala, animado por conhecer novas pessoas.

—Ah, já estava me esquecendo! Galera, esse aqui é o Joui, ele também faz intercâmbio. Joui esses são Bea, Fer e Lu, aquele que eu te contei sobre.

—Luciano — o outro fala meio mal humorado.

—Ué, vai me dizer que só o Fer pode te chamar de Lu agora.

Os dois se sentaram na mesa e começaram a comer, conversando um pouco.

—Então, tá vendo esse dois aqui? Eles são apaixonadinhos um no outro mas não admi- Ai! — Luciano dá um chute na perna da outra, que apenas mostra a língua para ele.

—Essa aqui é a Beatrice, ela também é nova na escola — Fernando fala com uma voz calma para outra menina.

—Oi.

—Oi, o que você está desenhando? —Joui pergunta, animado ao ver o que parecia ser o rascunho de um pássaro.

—Ah, é só o meu urutau Orfeu, nem está pronto ainda — ela fala mais animada por estarem conversando sobre um assunto que ela gostava.

—Um urutau? Nunca ouvi falar sobre.

—É uma espécie de pássaro. As lendas dizem que seu canto está anunciando a morte, mas são só lendas, então não se preocupa — diz com um sorriso no rosto.

—Você tem que ver o desenho dela pronto, eles ficam iguaizinhos uma foto! — Erin exclama.

—Sério?! Que incrível!

—Ela está exagerando — falou com um pouquinho de vergonha.

—Você veio do Japão? — pergunta Fer.

—Sim, não é tão legal quanto os Estados Unidos, mas é bem longe daqui.

—Cê tá zuando? O Japão é muito mais legal que os Estados Unidos. Queria muito um dia ir conhecer o seu país, deve ser tudo muito diferente — Erin afirma.

—É mesmo — Joui ri — Quando eu tiver um emprego talvez eu consiga levar você para visitar minha casa.

—Maneiro!

—Cuidado hein, você não vai querer ela fazendo experimentos na sua casa. Ela pode até destruir ela...

—Lu! Para de ser exagerado, são só umas explosõezinhas de nada.

—Explosões?

—É. Eu faço umas misturas com um elemento aqui, outro elemento ali e bumm!!! — ela abre os braços para imitar uma explosão.

—Me mostra! Eu amo esse tipo de coisa.

—Claro, qualquer dia cê vai na minha casa para eu fazer uma especialmente para você. Ela pode se chamar Sakura.

—Sua casa? E quando eu dei permissão para isso? — Luciano pergunta.

—Não escuta ele. O Lu pode parecer um ogro por fora, mas no fundo, bem lá no fundo, é um amorzinho. Quando você ver ele ouvir o Fer cantar, vai entender o que eu digo.

—O Fer canta?

—Eu só canto em alguns bares de vez em quando, nada muito sério.

Enquanto conversava, Joui sente seu celular vibrando diversas vezes em seu bolso e decide ver quem está mandando mensagem.

No canto mais vazio do refeitório, César conversava com o Bruno sobre o que aconteceu de manhã. Sentindo as lágrimas caírem de seus olhos ao relembrar a situação.

—Ei, César. Olha para mim. Eu tô aqui pro que cê precisar, ouviu? — ele se senta ao lado do amigo, puxando-o para um abraço de lado.

Algumas pessoas em volta olhavam a situação e riam, cochichando fofocas e coisas de mau gosto.

—E-eu nem sei como vou conseguir olhar na cara dele hoje de novo.

—Então não veja. Eu estou te devendo certo? Que maneira melhor de pagar a dívida do que emprestando a minha casa por uma noite.

O cabeludo limpa as lágrimas e recupera um pouco a compostura.

—Eu vou poder dormir na cama?

—Não abusa não.

—Mas a dívida era com juros, lembra. Ou você quer que eu te assombre?

Os dois começaram a rir.

As aulas já tinham acabado, Joui e Liz estavam sozinhos na sua casa, Lucille ainda não havia voltado do trabalho ainda. O garoto estava fazendo alguns alongamentos na sala quando alguém bateu na porta.

Como Liz estava em seu quarto estudando, ele decidiu não perturbá-la e ir ver quem era. Ao abrir a porta deu de cara com Thiago, que o observava atentamente.

—Então você é o tão famoso Joui.

—Famoso?

—Sim, a Liz falou muito de você no grupo.

—A Liz senpai? E quem é você?

—Thiago, aposto que a Liz já falou tudo de mim.

—Na verdade não... — Joui responde meio envergonhado.

—Como assim não?! — o outro passa pelo japonês e entra na casa sem mais nem menos —Ô minha querida! Que história é essa de não falar nada de mim pro seu filho?

Liz sai do seu quarto com a gritaria de Thiago e vai até a sala onde eles estão.

—Claro que não falei nada. Você e o Daniel são más influências. E você não podia avisar antes de chegar assim entrando.

—Desde quando eu aviso quando venho te visitar?

—Joui, não escuta nada do que esse homem está falando não — Liz ignora completamente Thiago.

—Vocês são amigos?

Nisso, Thiago vê a deixa de se aproximar de Liz e puxá-la mais para perto com um abraço lateral.

—Amigos não, melhores amigos.

—Thiago, se você não me soltar eu juro que vou cometer um assassinato.

Após essa ameaça, ele a solta rapidamente, fazendo um gesto de rendição. Nunca era uma boa ideia irritar Liz.

—Então, eu posso te chamar de Thiago sensei? — Joui corta a tensão entre os dois.

—Rapaz, sensei. Que chique isso aí. Claro que pode.

Os três começaram a conversar sobre diversos assuntos, tendo algumas pequenas brigas entre os mais velhos, a mais séria sendo quando Thiago puxa um maço de cigarro de seu bolso e Liz literalmente avança nele. Quando a conversa chega em Daniel, Joui acaba ficando curioso sobre quem era este.

—Quem é Daniel?

—É um velhote rabugento que por acaso é amigo nosso.

—Diz o fumante — Liz o refuta.

—O cara fica fiscalizando tudo que a gente vai fazer, só porque é "irresponsável". E quando eu faço algo errado ele fica "você só tinha um trabalho Thiago"! — ele fala isso imitando a voz de Daniel em algumas partes.

—Vocês dois são velhotes. E para com isso que eu sei que você nos ama.

—Ele parece ser legal — fala Joui.

—Depois que você me conheceu, ninguém mais vai parecer tão legal quanto eu —diz Thiago, fazendo com que Liz desse uma cotovelada neste.

—Então, falando em velhotes, seu irmão ficou muito bravo?

—Ele não é meu irmão. Sim, o César nem quer voltar mais para casa, acredita nisso?

Ao ouvir o nome César, o coração de Joui bate rapidamente, lembrando daquela viagem, anos atrás. Ele se recordava de cada palavra dita pelo garoto, que dizia estar falando português. Mesmo que passasse anos, essa memória continuava forte em sua mente, sendo muito marcante em sua vida, apesar de não saber o porquê. Sem ouvir o que os outros falavam, por estar perdido em pensamentos, ele acaba falando mais para si mesmo do que para os outros.

—César?

—Sim, nós moramos juntos. Depois que meu pai morreu eu fui morar com o tio Cris e ele — o rosto de Thiago se entristece um pouco.

—Sinto muito.

—Obrigado. Faz muito tempo, mas ainda dói lembrar. Mas um conselho, melhor você não se aproximar do César.

—Posso ver uma foto dele? — a curiosidade de Joui estava o matando, apesar de seu lado racional dizendo ser impossível ser a mesma pessoa, todo o seu corpo e intuição apontavam o contrário.

—Joui! Confia na gente, o César vai apenas maltratar você.

—Ok, entendi. Mas ver uma foto não vai fazer mal...

—Tá bom, deixa eu só procurar aqui.

—Sério isso, Thiagão. O que eu acabei de dizer sobre más influências?

—Uma foto não vai fazer mal nenhum. Olha aqui.

Thiago vira o celular para o mais novo, a tela mostrando um garoto que tinha longos cabelos pretos presos em um rabo de cavalo. A postura e olheiras continuavam as mesmas. Joui sentiu seu coração acelerar, um calor percorrendo pelo seu corpo. Era ele, aquele garoto, tinha certeza disso. Apenas ao ver a foto, sentia uma parte da sua alma finalmente se acalmar, uma parte que nem havia percebido estar agitada. Olhar para aquilo era como se todas suas perguntas tivessem sido respondidas, todos os desejos realizados, tudo o que procurava encontrado.

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