11.



A dor excruciante abre as minhas pálpebras e dilata as minhas pupilas.

Eu apenas começo a gritar, parece que estão perfurando minha perna.

Minhas costas estão tocando o piso frio da nave e tem quatro braços segurando o meu corpo enquanto eu me debato.

Minha visão está tão turva e as vozes são tão distante, que reconheço apenas o gênero.

—Vai acabar rápido, eu prometo! Fiquei parada!—Uma voz de timbre masculino implora, provavelmente está segurando a parte superior do meu corpo.

Mas eu não consigo, a dor queima a pele do meu corpo, meu músculo está dilacerado assim como o meu coração.

As últimas horas não passaram de puro sofrimento e dor.

—Não! Me soltem!—Eu tento gritar, mas minha voz sai fraca e rouca, como se minhas cordas vocais tivessem sido dilaceradas, minhas palavras não passam de murmúrios baixos e doloroso, todo o meu corpo doía, a minha cabeça latejava, minha perna jorrava sangue e ensopava o chão, minha lombar provavelmente estava rocha e meus pulsos também estavam sangrando.—Eu não vou aguentar! Me matem logo!—Imploro, minha voz rasga a minha garganta e me faz tossir muito.

Minhas palavras pesam em todo ambiente e eu estou chorando alto, soluçando, como uma criança.

Murphy falou a verdade e esqueceu de várias coisas.

Eu não era melhor do que ele ou Bellamy ou Clarke.

Na verdade acho que sou pior.

Por que até tentando fazer certo, consigo fazer as coisas desabarem e entrarem em completo caos.

Eu levo azar.

Talvez eu seja azar.

E não só isso.

Eu não era nenhuma divindade.

Minha postura também falha quando apontam uma arma para mim e eu também desmaio quando perco sangue, choro quando as coisas passam do ponto.

Eu não consigo aguentar por todos e não consigo aguentar por mim.

Opto por chamar por alguém, talvez ele me escutasse. Se estivesse vivo.

—Bellamy...—Murmuro, minha voz fraca e arranhada, acho que se eu forçar mais, posso perdê-la.

Meus olhos ainda enxergavam tudo embaçado e turvo, sem definição nenhuma. Quanto tempo isso vai durar?

Talvez eu não esteja morrendo. Talvez eu esteja apenas fraca.

Não sei qual das duas alternativas é pior.

—Estou aqui, Valerie.—Sua mão aperta a minha e eu procuro seu rosto da direção de onde vem a voz.

—Fale para parar, eu não...—Sou interrompida por um soluço próprio, enquanto eu sentia algo afiado passar pela minha perna.

Ouço um farfalhar por trás dos meus soluços e Bellamy inspira uma lufada de ar, parece passar as mãos pelos cabelos e diz.

—Clarke, deixe ela respirar.

Clarke?! Clarke está de volta?! Viva?!

Me sento no chão com dificuldade, apoiando minhas costas na parede, mas sou impedida por braços que demoro para reconhecer que são de meus irmãos.

—Stai fermo! Perderai altro sangue!—"Fique parada! Vai perder mais sangue!" Ethan ordena mas eu apenas ignoro, jogando a minha cabeça para trás, sentindo o meu corpo todo dolorido.

Pendo minha cabeça para o lado, fitando a garota loira que estava segurando uma agulha improvisada.

Os acontecimentos começam a voltar a minha cabeça, cada memória das piores horas da minha vida, do porque eu estava aqui começam a aparecer e esclarecer a minha cabeça.

—O Murphy, ele...—Murmuro com a voz trêmula, tocando minha bochecha com os dedos, onde o tiro havia passado de raspão, havia um crosta grossa de sangue seco e negro ali.

—Foi embora.—Bellamy, agachado ao meu lado, me interrompe. Seu pescoço estava com vários hematomas e manchas roxas vindas do enforcamento, ver isso faz meu estômago embrulhar por que me faz pensar na possibilidade de ele não estar mais vivo, de os meus irmãos não terem chegado a tempo.

Eu abro a boca para falar algo, mas as palavras se prendem na minha garganta quando eu sinto uma pontada agressiva e repentina na minha perna, era Clarke tentando fazer mais um ponto.

—Desculpa, temos que terminar rápido e partir.—Clarke ignora minhas lamúrias de dor e volta a fazer oque realizava antes, enquanto meus irmãos me seguravam, impedindo me contorcer.

—Partir... para... onde? Porque?—Pergunto ofegante, enquanto os meus cabelos grudavam no meu rosto machucado.

—Os terrestres estão vindo. Há um oceano ao leste, com pessoas que vão nos ajudar.—A loira responde seca, fazendo o último ponto com a linha negra na parte interior da minha coxa.

—Bateu a cabeça?—Questiono frustrada, a loira pega um pano e ignora meu questionamento, limpando o sangue da minha perna.—Você vai confiar em terrestres?!

—É nossa única opção.—Clarke fixa os olhos azuis nos meus.

—Não é! Aqui... é a nossa casa! Wells está enterrado aqui! Eu não explodi um exército inteiro de terrestres para abandonarmos isso aqui!—Eu não estava disposta a ir embora tão fácil, não depois de tudo o que nós passamos. Desfiro um tapa na mão de Clarke quando ela tenta limpar o meu rosto, a garota apenas suspira e diz.

—Isso já está decidido, vamos partir em uma hora.—A garota joga o pano no chão, levanta e caminha para fora do módulo e eu reviro os olhos.

—Vocês... concordaram com isso?—Eu me apoio com dificuldade no ombro de Cardan, que me ajuda a levantar, passando o braço pela minha cintura.

—Acredite, fomos os últimos a concordar com isso. Bellamy tentou de tudo para tirar essa ideia da cabeça deles.—Cardan me responde, me carregando sem dificuldades alguma.

Suspiro fundo, olhando ao redor do ambiente da nave, meus olhos capturam a visão de Raven, sentada com as costas na parede, pálida, enquanto Finn estava ao lado dela, auxiliando-a.

Tento caminhar em direção a ela, mas meu irmão me segura e diz.

—Datele una pausa, Murphy ha fatto un'altra vittima. —"Dá um tempo para ela, Murphy fez mais uma vítima." Ele sussurra.

Novamente, pela vigésima vez nessa semana, a culpa e o remorso profundo dilaceram o meu peito de formal brutal.

Minha amiga podia morrer porque eu deixei ele entrar aqui.

Bellamy quase morreu.

Minhas íris transtornadas viajam até os olhos de Bellamy, não consigo evitar se não deixar-me consumir pela tristeza e a angústia de tudo oque vivi nessas últimas horas.

Quero pedir tantas desculpas.

Quero dizer que eu só queria fazer melhor.

Não queria que ninguém mais morresse.

Mas parece que tudo piorou.

No final, não consegui impedir a morte de ninguém.

[...]

Com uma pequena muleta improvisada feita por Cardan, eu caminho para fora dos portões, mesmo sendo arriscado.

Minhas coisas já estavam prontas, mas ninguém estava partindo ainda, havia outras coisas a se organizar ali.

Vou aproveitar esse tempo de uma outra forma.

Minha perna e várias outras partes do meu corpo estavam doendo como nunca. Era quase insuportável, tão forte que as vezes um gemido cansado escapa dos meus lábios sem eu nem perceber.

Me ajoelho perto do chão, ali, havia vários lírios brancos selvagens. Tinham um cheiro agradável e bem ácido e não são venenosos.

Na linguagem das flores, lírios brancos significam pureza e inocência. Mas também eram usados para adornar funerais, significando condolências as famílias.

Mesmo sendo a primeira flor que eu encontrei aqui, se encaixa perfeitamente.

Todos os que estavam mortos, partiram antes que pudessem conhecer realmente o mundo. Charlotte apesar dos erros, partiu inocente do quanto o mundo pode ser pior do que ela já enxergava.

Colho exatamente 23 flores. Era o nosso número de pessoas perdidas. Dos que não puderam viver o suficiente para deixar de ser puros ou jovens.

Ando de volta com dificuldades para os portões do acampamento, carregando algumas flores no bolso da jaqueta, mancando rapidamente e olhando aos arredores, com uma certa apreensão do que pode acontecer.

Passei despercebida pelo tumulto dos vários adolescentes arrumando as coisas no acampamento, mas ainda recebia olhares preocupados com o meu estado físico. Claro, eu estava cheia de hematomas no rosto, com uma mancha muito feia na minha bochecha e olheiras enormes. Meu cabelo estava muito mal preso em um coque desleixado.

Mantenho meu olhar no chão, usando a muleta e caminhando rapidamente com o meu pé erguido sem tocar o solo, tentando ao máximo não atrair mais atenção do que já estava com aquelas várias flores nas mãos.

Com muito esforço, eu me ajoelho de novo, mas quando a dor pulsante se intensifica com a pressão posta na minha perna, eu acabo me sentando na terra úmida, sujando a minha calça.

Eu coloco uma flor em um túmulo e arrasto o meu corpo com muito sacrifício até o próximo, é humilhante mas eu tenho que fazer, já que foi custoso para levantar da vez que eu tinha me ajoelhado.

Passei vários minutos ali até deixar o último lírio sobre o túmulo de Wells. Eu sabia qual era. Enterrei ele junto do meu irmão e Clarke.

—Valerie?—A voz familiar faz eu fechar os olhos com força, constrangida com a situação tão humilhante na qual eu me encontrava.

—Já estou indo... estava ocupada com...—Sou interrompida quando Bellamy se ajoelha na minha frente, procurando qualquer sinal de ferimento em mim, com zelo e ao mesmo tempo aflição.—Eu estou bem... só...

—Porque está no chão? Sua perna piorou?—Ele segura as minhas costas de forma respeitosa e delicada, me ajuda a levantar ao mesmo tempo que eu me sustento contra seu corpo.

Eu nego com a cabeça durante o ato de Bellamy de alcançar a minha muleta para mim e me entregar, com sua mão acariciava as minhas costas de forma gentil, um gesto provavelmente automático.

Não queria ter que explicar porque nesse estado tão deprimente eu fui imprudente de sair dos portões e buscar flores, parecia meio tosco de se falar.

—Queria deixar isso aqui com um pouco mais de dignidade.—Fito as covas, todas agora enfeitadas com um lírio branco e aberto, mostrando toda a beleza e magnitude que pertenciam a elas.

Bellamy para de me encarar, seus olhos se fixam nas flores adornadas com muito carinho em cada um dos túmulos.

Há um vestígio de sorriso em seus lábios.

—Fez um bom trabalho.—Afirma voltando suas íris para mim, seu olhar transmitia um orgulha que eu não era capaz de compreender.

—Pelo menos uma vez na vida.—Murmuro alto demais, era só um pensamento alto, mas ele obviamente escuta.

O mesmo suspira tenso, seu olhar pesa sobre mim com um culpa que ele não deveria carregar, uma melancolia e uma tristeza denotadas pelo brilho do olhar dele.

—A culpa não foi sua.—Sua voz sai firme, como se tivesse certeza do que fala.

—Catorze mortos porque eu deixei um sociopata aqui dentro.—Meus olhos se fixam no chão e ardiam com as lágrimas que ficavam na borda das minhas pálpebras.—Quase quinze.—Agora meu olhar pousa no dele, meu cenho franzido numa tentativa falha de não chorar, ele sabia de quem eu estava falando.

Bellamy limpa uma lágrima que escorreu pela minha bochecha, seu toque eletriza a minha pele e faz minha nuca arrepiar, mas eu não recuo, por que a sensação é boa.

—Eu 'tô vivo.—Seu hálito quente bate contra as minhas feições.

—Por muito pouco...e não por minha causa.—Sussurro mirando seus olhos castanhos.—Me desculpa por ter te contrariado.

Seu maxilar tensiona e ele molha os lábios, pronto para dizer algo.

—Certas coisas acontecem e ninguém tem controle sobre elas.—Bellamy segura o meu rosto entre suas suas mãos, faz meu corpo inteiro gelar em pura surpresa.—Se tem alguém que tem culpa aqui, são os terrestres, que mandaram ele aqui para nos matar. Tire esse peso de você. Pare carregar uma culpa que não é sua.—O mesmo fala e eu fecho os olhos, meu peito cada vez mais apertado com a declaração.

—O Murphy ele disse...—Tento explicar, mas Bellamy nem ao menos me dá abertura.

—Murphy está errado. Você deveria saber.—Eu nego com a cabeça, abaixando a mesma, mas Bellamy ergue o meu rosto de novo, me faz ficar cara a cara com sua face.—Ele está errado sim! Sabe porque? Porque você se importa, Val! Você se importa. Sabe o número exato de pessoas que perdemos e sabe o nome de cada uma delas, saiu mancando para fora dos portões e se colocou em risco, só para honrar a vida deles. Murphy não tem ideia do que fala. Mas eu tenho e não é apenas eu que vejo isso, todo o acampamento vê.

Meu olhar falha, meus lábios estão trêmulos enquanto eu me segurava para não desabar contra o peito dele. Eu queria ser capaz de acreditar nas palavras dele, mesmo por um pequeno e inútil segundo.

—E você ainda foi capaz de me ensinar algo.—Bellamy complementa e eu nego com a cabeça, limpando as bordas dos meus olhos com o meu dedo indicador.

—Oque? Que segundas chances são baboseira? Que escutar pessoas como eu só leva em desastre?—Pergunta retórica, carregada de mágoa e amargor, pronta para receber uma resposta irônica ou passiva-agressiva.

—Me ensinou que o que a pessoa faz com a segunda chance que nós damos para ela, fala mais sobre ela, do que sobre nós mesmos, mas não dar a segunda chance, fala muito mais sobre nós.—Corrige e tira uma mecha de cabelo grudada na minha testa.

Inspiro uma profunda lufada de ar, pressiono minha língua contra o céu da boca, tentando parar de chorar.

—E oque anda fazendo com a segunda chance que eu te dei?—Indago, tentando trazer humor, mas falho porque não consigo sorrir agora.

Mas ele sorri e sorri por nós dois, um sorriso enorme e bonito, mostrando as covinhas que tinha no queixo e nas bochechas.

—Tentando ser uma pessoa melhor, com certeza. Não sei se estou progredindo, mas...—Ele revira os olhos e agora eu consigo esboçar um pequeno sorriso, eu nem percebi que suas mãos saíram de meu rosto e uma delas voltou a pousar delicadamente nas minhas costas, acho que ele tem medo da minha perna falhar de novo.

—Bem lentamente, mas está.—Agora eu consigo soltar uma risada depois da minha fala irônica, ele ri também, mas seus olhos continuam focados no meu rosto.

Bellamy desliza seu olhar até o chão, fita todas as covas ali, abaixo dos lírios, tão tristes, tão brancos, como se chorassem em cima da Terra.

Também consigo imaginar o anjo da guarda de cada um deles, chorando inconsoláveis e deitados sobre o solo úmido e terroso.

Minha vó conta que um anjo da guarda protege apenas uma pessoa durante toda a existência divina deles e quando sua pessoa que zela morre, passam a eternidade sozinhos. Era por isso que antes do fim do mundo, esculpiam anjos chorando em cima de lápides em cemitérios, isso também sei porque minha vó me contou.

—Querendo ou não, cada um de nós tem um pouco de culpa.—Bellamy suspira e eu fecho os meus olhos tão forte que acho que podem se colar. 

Apoio minha mão em seu ombro, mirando suas íris castanhas e tão bonitas.

—Você foi um bom líder. Ainda temos 77 vivos, Bell.—Tento consola-lo do mesmo jeito que ele fez comigo.—Vamos honrar a memória deles e cuidar dos que ainda restam, já que não dá para voltar atrás.

Ele me encara sugestivamente, erguendo uma sobrancelha e sorrindo de canto.

—Você escuta seus próprios conselhos?—Solta uma risada anasalada e eu não consigo evitar se não rir junto. Eu estava sendo um tanto quando hipócrita.

—Faça o que eu digo mas não faça oque eu faço!—Eu coloco meu indicador contra o peito dele, soltando um sorriso verdadeiro depois de muito tempo.

O olhar dele vai para o chão enquanto ele solta aquelas gargalhadas gostosas de ouvir e muito raras também.

Mas quando levanta o rosto e mira suas íris nas minhas, o olhar dele é ardente, pulsante, vivo, e provavelmente está em chamas. Tinha ali uma profundidade de um sentimento que eu já havia visto antes, mas nunca consegui nomear. Era sempre assim, suas pupilas dilatavam e seus lábios ficavam entreabertos.

Meu corpo para quando o polegar dele roça minha bochecha com um toque leve, provavelmente limpando alguma mancha ou sujeira dali.

Ele não tira sua mão dali, a mesma fica ali, quente e bronzeada contra a pele do meu rosto pálida e fria. Bellamy provavelmente percebe o contraste.

Algo no meu corpo me faz ir para frente, ficar mais próxima, o calor do corpo dele faz o meu querer proximidade e me pergunto se temos intimidade o suficiente para isso.

E nem por um pequeno segundo, seus olhos se desviaram dos meus. Nem um momento, era quase impossível para nós dois. Era paranormal.

—Posso?—Ele pergunta, suas pupilas mais dilatas ainda. Eu entendo a mensagem tão rapidamente que me assusto.

Então eu me lembro. Se acontecesse, seria o meu primeiro beijo em toda a minha vida. Não porque não tinha opções. Na Arca e na escola de Phoenix haviam vários idiotas que viviam em cima de mim na intenção de me beijar só para dizer para os amigos próximos que ficou com a filha do co-chanceler. Eu nunca dei trela, nem demonstrei interesse, porque eu realmente não tinha e muito menos me sentia pronta.

Mas agora eu me sentia pronta e muito mais do que isso, eu queria, queria mais do que pensava querer.

Penso em apenas confirmar com uma aceno, mas eu acho que ele quer que eu fale, que eu tenha certeza. Eu acho que ele não quer invadir um lugar onde não é bem-vindo.

Mas ele nem sabe e nem eu sabia, que talvez, ele seja mais do que bem vindo.

—Pode.—Eu sibilo com sorriso, dos mais sinceros e bonitos que eu já devo ter feito.

E então acontece.

Ele cola nossos lábios, sua mão que estava nas minhas costas passa para a minha lombar numa carícia ele e a outra, segura meu maxilar de um jeito tão delicado, como se eu fosse feita de vidro.

Eu não hesito em jogar meu corpo contra o dele, passar meus braços pela nuca do mais alto, que estava arrepiada, eu tenho que levantar a ponta dos pés para tornar o beijo mais profundo.

Bellamy pede passagem com a língua e eu cedo, mesmo eu não tendo nenhuma experiência, queria deixar levar, até porque, o que custa ele me ensinar?

O beijo é daqueles intercontinentais, cósmicos, me fazem viajar para além desse planeta e voltar em segundos-luz, faz minha mente revirar e sonhar e voltar a realidade, que era muito melhor do que qualquer sonho que eu poderia ter. Posso dizer que é uma das melhores, se não, a melhor experiência que eu já tive em todos os meus 17 anos de vida miserável dentro de uma caixa no espaço. Esse momento faz minha vida toda parecer mais bonita.

Suas mãos fazem o inferno inteiro parecer frio.

Tem gosto da primeira vez que eu o vi, quando eu desci da nave com a testa sangrando, toda descabelada e ele estava com os cabelos para atrás cobertos de gel fixador, do qual o meu irmão vivia fazendo piada, mas eu achava um charme. Ele é um poema que eu gostaria de ter escrito, porque é tão lindo.

Ele me faz tão feliz que eu volto a ficar triste, é tão lindo que me deixa louca e eu sei que tudo isso é consequência da força do campo magnético que tinha.

Eu acho que as borboletas que vimos naquela noite agora estão no meu peito e mais agitadas do que nunca, provavelmente mais feliz por isso do que eu e Bellamy juntos.

E eu só rezo e espero, que ele sinta o mesmo que eu. Que eu tenha efeito na cabeça dele, que eu não seja a única sentindo demais.

E a falta de ar nos faz interromper toda a magnitude daquilo, mas ainda há resquícios quando eu separo meus lábios dos dele e ofegante, eu ainda conseguia sorrir. Eu queria pular, me rolar no chão, enfiar a minha cara num travesseiro e gritar até ficar sem voz, porque meu coração está em festa e a música que toca nele é a mais feliz que eu poderia ouvir.

Nesse momento, eu volto a me sentir como se tivesse quinze anos, como se eu fosse uma adolescente normal, com uma vida normal, com sonhos e expectativas. A pessoa que eu era antes dos malditos guardas me levarem a força e me trancafiarem do único mundo que eu conhecia. Agora, posso dizer que sou capaz e que quero esquecer tudo de ruim que aconteceu na minha existência tão pequena.

Os olhos castanhos de Bellamy estão olhando nos meus, eu acho que posso afundar, me afogar e morrer na profundidade deles.

E ele sorri, de novo. Meu deus que sorriso! O melhor de tudo é pensar que talvez eu seja a razão dele. 

—Bellamy! Estamos saindo! Onde você 'tá cara?—Era a voz do meu irmão distante. Eu limpo a garganta e me afasto de Bellamy e ele faz o mesmo, cobrindo a testa com uma mão e fazendo uma cara de paisagem.

Não posso nem cogitar no que aconteceria se Ethan ao menos sonhasse com algo parecido com oque houve aqui. Tenho dó de nós dois.

Eu passo as mãos pelo meu cabelo, desfazendo o coque bagunçado formado ali, enquanto me apoiava na minha muleta feita com resto de metal da nave. Minhas mãos estavam tremendo de leve e suadas.

—É... então... acho melhor a gente ir...—Bellamy gagueja e eu assinto em concordância.

—É! Tem razão!—Respondo rapidamente, tem saber o que falar depois do que havia acontecido. Eu só começo a caminhar novamente com muito esforço da minha parte, sem deixar minha perna ferida tocar o solo.

Bellamy anda ao meu lado, mas eu percebo que o ritmo de seus passos está mais lento do que o normal e seu olhar me acompanhava de forma atenciosa, como se estivesse ali esperando para que eu pedisse alguma ajuda.

Me pergunto como vamos atravessar 20 km até um oceano comigo nesse estado.

Sei que Raven vai ser levada numa maca, mas eu não, nem sei se vou conseguir andar mais de 2 quilômetros com essa muleta. Nem ao menos sei como vou fugir caso sejamos atacados por terrestres.

Bellamy alcança a minha mochila com o meu arco e minhas flechas do chão e me entrega, seu olhar viajava pelo meu rosto.

Reunida junto de todos os jovens, todos prontos para encarar a caminhada longa que poderia durar dias, dois jovens carregavam Raven numa maca, enquanto Cardan, Ethan e Bellamy dividiam os adolescentes em blocos, cada um dos três lideraria um, para facilitar a comunicação e a organização. Eu não estava em nenhum, eu iria caminhar na linha de frente junto com os três, mesmo com o meu estado, eu insisti.

Antes de sair, dou uma última olhada para dentro dos portões, para o módulo desativado, os lírios, a fogueira apagada, as tendas improvisadas, o contexto da nossa casa. Eu por mim passaria a minha vida inteira aqui. Talvez quando a minha perna melhorar eu volte aqui.

[...]

Toda a trajetória realizada até agora foi marcada por uma mudez lúgubre e sombria, semelhante aquela de quando fomos verificar os restos da nave Exodus. O silêncio era tão concreto e tão tangível, que apenas o farfalhar dos passos firmes dos jovens poderia ser ouvido.

Todos estavam trazendo consigo o sofrimento e a mágoa de deixar para trás a única coisa que fora nossa durante nosso tempo aqui. Tudo por conta que uma guerra que não podemos vencer. 

Meu corpo estava alquebrado de tantos passos mal feitos pela muleta que eu havia dado. Minha testa respingava suor enquanto eu tentava acompanhar o ritmos dos meus irmãos e de Bellamy, que uma paciência tão palpável, andavam ao meu lado, ao mesmo tempo que tentavam ir mais rápido.

O grupo inteiro estava armado até os dentes, seja com uma lança feita a mão ou com os rifles carregados, estavam dispostos a lutar se isso significasse um lugar seguro para viver. Todas as armas serviam uma sensação de proteção, que eu tinha plena certeza que era falsa, mas mesmo assim, me apoiei no sentimento.

Mas tudo isso acabou no instante em que um garoto foi atingido por um machado, dividindo sua cabeça ao meio, oque só favoreceu para o caos e a balbúrdia voltarem a instaurar-se nos pensamentos dos jovens, que corriam apavorados de volta para o acampamento.

Eu nem pensei em fugir na verdade.

Olhei para o corpo do garoto caído no chão, dei dois passos até ele, disposta a carregá-lo e dar um descanso digno ao pobre jovem alvejado.

Mas antes que pudesse, alguém agarra minha cintura e tira os meus pés do chão e me carrega enquanto corria pela floresta e gritava em liderança para um dos blocos. Eu me debati contra o corpo forte e brutalmente maior que o meu, mas não adiantou.

Levanto meu olhar e percebo a cabeleira loira e os olhos verdes, era Ethan.

—Corram! Todos de volta para o acampamento!—Bellamy gritava de outra ponta, atirando para a direção de onde o machado surgiu.

De volta para dentro dos muros, alguns deliquentes fecharam o portão principalmente com firmeza e os três de sempre estavam liderando.

—Como treinamos! Entrem em formação! Não gastem munição!—Cardan ordenava, com rifle carregado e posicionado em seus braços, um dos olhos focados na lente de mira da arma, enquanto se ajoelhava e ficava na linha de frente.

E agora a anarquia estava de volta. Toda a esperança de conseguir fugir foi levada embora junto da vida do jovem, agora todos estavam aterrorizados, alguns rezavam para Deuses que nem ao menos acreditavam e outros tentavam manter o semblante sério e destemido.

—Porque não estão atacando?—Apoio minhas costas contra uma árvore enquanto Bellamy perguntava, se colocando em posição.

Vejo Ethan comprimir os lábios e olhar para Clarke, que estava de pé ao nosso lado, Finn também estava ali, observando tudo com o olhar perturbado.

—Loirinha, você disse que soube que os batedores viriam primeiro.—O loiro cospe as palavras, levantando uma sobrancelha em indagação. Mas o questionamento captura a atenção de Octávia, que também estava próxima.

—Se forem apenas batedores podemos abrir caminho através deles! É o que Lincoln faria.—A morena exclama cheia de entusiasmo e eu reviro os olhos.

—Sinceramente, Octávia, ninguém aqui confia muito no seu Tarzan e você também não deveria.—Digo, cheia de veneno escorrendo pelo meu timbre, indignada com tanta ingenuidade que Octávia possuía.

—Já tentamos e Drew morreu. Tá afim de ir com ele?—Bellamy complementa a minha fala, ficando de pé ao meu lado.

—Aquele terráqueo foi responsável por salvar as nossas vidas!—Finn se mete na conversa, novamente com a mesma conversa pacifista e ridícula de antes.—Octavia está certa, segundo Lincoln, há apenas um batedor lá fora.

Eu comprimo os lábios, inspiro uma forte rajada de ar e depois encaro Finn pronta para dizer umas boas verdades.

—Um único batedor com uma mira do caralho! Você 'tá se escutando?! Ou vou ter que te levar lá de volta para você lembrar do que aconteceu?! Idiota!—Exclamo quando chego ao meu limite, coloco minha mão sobre minha coxa quando sinto o meu ferimento latejar.

—Clarke, ainda temos outro jeito.—Octavia quase que implora a loira por compreensão.

A garota leva a mão a testa e limpa o suor, fecha os olhos por um momento e segura a ponte do nariz entre os dedos, depois suspira alto e diz.

—Parece que vai ter a sua luta.—Cospe as palavras mirando a Bellamy e eu não consigo evitar se não bufar em pura irritação. Eu tenho que morder a minha própria língua para não falar palavras que eu possivelmente vou me arrepender depois.

Quando a decisão foi tomada e as ordens começaram a ser ditas,  a movimentação dos jovens voltou a se instaurar. 

Quando pego meu arco e flecha e começo a mancar em direção a formação da linha de frente, Cardan segura o meu pulso, me encarando de forma severa.

—Non credo nemmeno di aver bisogno di dirti che non combatterai oggi.—"Eu acho que nem preciso te dizer que você não vai lutar hoje."

—Abbiamo bisogno di quante più persone possibili.—"Precisamos de o máximo de pessoas possíveis." Justifico.

—E tu non sei uno di loro, resta dentro, per favore!—" E você não é uma delas, fique lá dentro, por favor!" apela e eu suspiro olhando para o chão.

Comprimo os lábios e limpo o suor que se forma em baixo do meu nariz.

—Lo farò, ma se le cose peggiorano, uscirò e combatterò e tu non ti fermerai.—"Eu vou, mas se as coisas piorarem, eu vou sair e lutar e você não vai impedir." Aviso, mancando em direção ao módulo, eu queria verificar o estado de Raven já que não conseguiria lutar mesmo.

A situação de Raven não é nada boa para se estar. A bala ainda esta alojada em sua lombar, a garota não consegue passar muito tempo sem gemer e reclamar da dor torturante que aplicava seu corpo.

Enquanto lá fora, todos os jovens estão em formação e se preparando para lutarem até a morte levá-los para longe daqui. 

Ao invés de afastar os terráqueos, o plano de Raven e de Bellamy é atrair o exército para dentro dos portões, usar dos tanques de hidrazina que estão no nível subterrâneo da nave e fazer o que o Bellamy apelidou carinhosamente de: "Assado de terráqueo".

Tudo por agora estava na mais alta calmaria, os adolescentes posicionado sem espera enquanto o Sol nos deixava para trás e apenas a escuridão da noite chegava aos nossos olhos.

Então ao longe, não só eu, como todos os delinquentes conseguimos ouvir os tambores batucando em um ritmo único. É ritual de guerra. Os terráqueos chegaram.

A balbúrdia e a discórdia estão estabelecidas. A zaragata estava tão alta, junto de ruídos de tiros de rifles e gritos de pânico e pavor. Pessoas caindo e se levantando, adolescentes sendo esquartejados, arremessados para longe, levavam flechas nos peitos e nas cabeças e socos e chutes nos pontos mais vulneráveis.

Ali em meio ao caos a possibilidade de morrer aqui começa realmente a me assustar.

Não só morrer. Como ver as pessoas que eu amo vindo junto a mim.

Se o plano não funcionar, estamos inegavelmente condenados a uma morte desesperadora, lenta e dolorosa demais para sequer ser cogitada. Esse pensamento faz minha nuca gelar e os meus dedos tremerem.

E quando eu penso que nada pode piorar, eu vejo os terrestres cruzando os portões, agravando a situação de risco iminente que nós nos encontrávamos nesse momento.O cenário a mim frente só se torna cada vez mais sangrento e não posso ficar escondida aqui no módulo sem fazer nada.

Eu não podia negar que eu não sentia preocupação apenas com os meus irmãos. Também sinto por Bellamy.

Arrastando a minha própria perna, eu pego meu arco e minha bolsa de flechas e com muito esforço, consigo desviar de tiros e flechas para me ajoelhar atrás de um barril de hidrazina enorme e vazio.

Posiciono o meu arco horizontalmente, tentando ser discreta o máximo possível no momento que eu fosse atirar. Encaixo uma flecha no arco e atiro em um dos terrestres que perseguia uma jovem correndo em direção ao módulo.

Clarke, Finn e Ethan estão de pé, auxiliando os jovens que entram para dentro do módulo, tentando salvar o máximo de pessoas possível. 

Cardan e Bellamy estavam mais distantes, com os rifles em mãos, atirando em qualquer terrestre que entra nos caminhos dos dois.

Enquanto eu acertava os terrestres que se aproximavam demais do módulo com flechas, um feche de luz rasga o céu e só fica maior a cada segundo de trajeto. Se não fosse um meteoro prestes a dizimar toda a pouca população que havia aqui, eu tinha certeza do que se tratava.

Era a Arca, não uma simples nave, era todas as estações descendo aqui para o solo.

Me preocupar com isso não é um luxo que eu posso ceder a mim mesma, já que a nossa situação está exageradamente e obviamente pior do que a deles.

Eu só espero que eles sobrevivam ao impacto da aterrissagem.

O acampamento estava uma algazarra, uma balbúrdia. O meu campo dos sonhos foi tomado por chamas. Há fogo queimando tantas partes. Sangue, pedaços de adolescentes espalhados pelo chão, gritos e lamurias, preces e súplicas, juntos de tiros e gemidos de dor. A discórdia e o sofrimento eram os únicos sentimentos que sobraram para sentirmos.

Estou concentrada em impedir os terrestres de avançarem cada vez mais para o nosso território, mas eu sobressalto quando sinto duas mãos agarrem a minha cintura e me puxarem para longe do tanque.

—Chiuderanno la porta!—"Eles vão fechar a porta!" Era a voz de Ethan.

Eu não reluto, meu irmão segura o meu corpo contra o dele e me carrega sem esforço algum até a porta do módulo, mas o meu coração erra uma batida quando eu não vejo Cardan e Bellamy dentro do módulo ou nos arredores.

—Eu vou fechar a porta! Todo mundo 'pra dentro!—Clarke ao meu lado grita e eu começo a sentir minha respiração pesada e as minhas mãos trêmulas.

—Clarke, você não pode, Bellamy e Cardan não estão aqui!—Eu imploro a garota, com a voz embargada e chorosa, lutando contra as lágrimas de pânico que se formavam na borda dos meus olhos.

As únicas pessoas que estavam para foram do módulo eram os atiradores, que tentavam de tudo para impedir o avanço do exército.

—Bellamy! Aqui!—Ouço meu irmão gritar ao meu lado e meu olhar segue o dele, avistando ele e Cardan, ensanguentados e sujos de terra.

—Eles não vão conseguir! Corram!—Clarke exclama também transmitindo seu desespero tangível.

Eu nem ao menos consigo dizer nada, eu passo as minhas mãos pelos meus cabelos soltos, segurando o couro cabeludo com firmeza, numa tentativa horrível de desviar minha atenção da situação tão horrível, mas não adianta.

Bellamy alcança um fuzil no chão ao escutar as palavras, Cardan encontra um pedaço de pau, eles caminhavam rapidamente até a nós, mas foram interrompidos quando dois terrestres com o dobro do tamanho deles apareceram no caminho. 

Ao tentar atirar, Bellamy vê que não há munição e parte para a luta corporal com um dos guerreiros, enquanto Cardan também fazia a mesma coisa com o seu adversário.

Mas nada do que fazem surte efeito, os terrestres estão golpeando cada vez mais os dois e um bolo se forma no meu estômago ao perceber a realidade da possibilidade de perder os dois ao mesmo tempo. Meu irmão e o que eu considero o meu melhor amigo.

—Eles vão mata-los!—Eu suspiro, me desfaço do aperto do meu irmão, caminhando em direção aos dois, mas Finn aparece e me empurra de volta, assumindo o meu lugar como "salvador".

Finn vai até os terrestres, acerta um tiro no ombro de um, mas rapidamente leva um soco do cúmplice terráqueo do mesmo, Cardan estava desorientado depois de tantos golpes e Bellamy ainda tentava se manter em pé. Mas a situação não estava nada favorável para o povo do céu.

Bellamy percebeu o mesmo que Clarke, porque lançou um olhar triste a ela e assentiu com a cabeça, um gesto de libertação, de sacrifício.

E ele olha para mim e sibila um pedido de desculpas.

Isso rasga o meu coração em frangalhos e eu sinto isso no meu peito.

Eu nunca vou perdoa-lo por me deixar.

Quer dizer, eu nunca vou me perdoar por deixar ele ir dessa forma.

—Não! Me solta Ethan!—Suplico com a voz chorosa, esperneando e me contorcendo contra o corpo do meu irmão, que também chorava desesperado enquanto mexia a cabeça em negação.

Ele também não queria deixar ninguém para morrer. Não as pessoas mais importantes da vida dele. Não os melhores amigos. Não suas pessoas mais íntimas e importantes.

—Clarke! Por favor! Não faz isso!—Meu grito rasga a minha garganta e meus próprios ouvidos, a garota só me encara enquanto Jasper ajudava meu irmão a me arrastar para dentro da nave.—CLARKE! 

Minha perna ferida raspa em uma quina da nave e o meu ferimento abre junto dos pontos, rasgando a minha pele mal cicatrizada, enquanto mais do meu sangue jorrava e ensopava minhas roupas.

—Por favor...—Balbucio quando Clarke põe a mão sobre a alavanca, mas ela apenas lança um olhar ferido a mim e a puxa, sem hesitação alguma.

—NÃO!—Eu estava em prantos, chorando sem ao menos parar para respirar, como uma criança que precisa de abrigo, eu soluçava e deixava as lágrimas caírem pelo meu rosto, meu nariz estava cheio de ranho.

A nave estava totalmente lacrada. 

Mas os terrestres ainda não desistiram lá fora, gritavam coisas em sua língua, batiam contra o metal da nave, faziam um escarcéu, dispostos a entrarem aqui dentro não só para nos matar, mas para recuperar a líder deles que ficou presa aqui, a mesma mulher que eu vi na ponte.

—Agora Monty!—Ouço o grito de Clarke, meu irmão me arrastou até o lado de Raven e me deitou ali, assim como eu, estava chorando, como eu nunca vi antes.

O garoto apertou o botão de olhos fechados, rezando para que funcionasse, depois de alguns segundos de tortura, o chão de metal fica quente e estremece, sinalizando o óbvio. A explosão havia funcionado.

—Eu sinto muito, eu sinto muito...—Ethan balbucia, apoia testa na minha coxa que não estava ferida e desaba de chorar, soluçando.

Eu queria poder consolar, mas meu estado não era melhor que o dele.

Perdi meu irmão, uma das pessoas que eu mais amo na minha vida. Aquele que cantava para mim ir dormir e fazia meus lanches para levar para escola. Oque passava noites em claro para cuidar de mim quando eu ficava doente e o que me ensinou a ler com o pouco que sabia. A maior perda que eu poderia ter na minha vida. O buraco formado no meu coração jamais seria preenchido.

E perdi Bellamy, depois de as coisas entre nós terem ficado tão boas, depois de algumas horas do meu primeiro e provavelmente melhor beijo da minha vida. Depois de ele receber uma segunda chance, por que ele realmente merecia. Por que estava disposto a ser melhor.

E agora mais do que nunca, eu entendo por Octávia me odiou quando Atom morreu.

Eu também me odeio agora, mais do que nunca.

A porta não havia sido aberta ainda, mas todo o desespero do dia, o meu sangue junto da minha vida sendo drenado a cada segundo e a vontade da minha mente de escapar da realidade, me fizeram piscar várias vezes e ver pontinhos pretos, acompanhados de tontura. 

Para me livrar da dor, eu deixo o escuro levar minha consciência embora. Afinal, não tinha por que ficar acordada em um cenário tão pavoroso quanto aquele.

Espero que eu possa encontrar Bellamy e Cardan na minha inconsciência.

6.2K words! Não revisado! 

Notas da autora:

Bom, com esse capítulo, encerramos oficialmente o ato 1. Eu tô chorando por que eu sei que daqui para frente eles vão crescer e não vão ser mais forever young!😭

Para encerrar isso aqui com um pouco de alegria e nostalgia, vocês comentem aqui, qual meu personagem autoral favorito de vocês? e qual foi o momento favorito de vocês nesse ato?

Eu queria agradecer a todo carinho e apoio que vocês leitores me ofereceram durante esse ato, eu me sinto tão realizada! Vocês estão no meu coração! 

PS: se vocês comentarem bastante, posso trazer o ato 2 mais cedo viu...👀

XOXO, V 💋 

Thank you for read! See you soon!🩷

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