026 - Supino
“Que orgulho descobrir que nada pertence a você – que revelação.”
– Emil Ciorian
Supino (adj.) – Deitado de bruços
Minha respiração falhou enquanto eu olhava para ele, meus olhos se arregalaram. Uma gota de suor frio escorreu pela minha têmpora, me fazendo estremecer. O som do silêncio era ensurdecedor em meus ouvidos, eu podia sentir o cheiro do meu próprio medo.
Lambi meus lábios.
— E-eu tenho certeza- há um mal-entendido—
— Loren — a voz de Archer era dura enquanto ele olhava para mim — Você é mais inteligente do que isso. Se você não cooperar, vou denunciá-la à autoridade.
Meu coração acelerou quando entrelacei meus dedos para impedi-los de tremer. Eu estava tremendo, de medo, de pavor. Acabou, acabou.
Eu perdi Ares.
Engoli em seco, piscando. O som do meu coração foi a única coisa que me disse que eu estava acordada e que não era um pesadelo.
Recuei, tropeçando em meus passos trêmulos. Do que eu estava fugindo? A realidade da minha infidelidade? Minha natureza depravada sob a máscara de um anjo? Tinha acabado. Não adianta correr.
— Sente-se se quiser — para um homem que estava ardendo de raiva, a voz de Archer era surpreendentemente calma. Calma o suficiente para me assustar.
A parte de trás das minhas pernas entrou em contato com a madeira fria da cadeira, eu me equilibrei e sentei, olhando para céu cinza derretido, minha respiração saindo em ofegos ásperos.
— Eu- — respirei fundo. — Sinceramente não sei como me explicar. Foi minha culpa, foi inteiramente minha culpa e eu—
— Eu não quero saber quem é o culpado aqui, Loren — Archer retrucou. — Eu quero saber o motivo.
Fechei os olhos, minha garganta seca.
— Eu estava... atraída por Ares... e-eu não pude evitar o fato de que queria dormir-
— Ele é seu paciente — sua mandíbula cerrou enquanto ele estreitava os olhos. — Você me deu um sermão sobre como funciona o profissionalismo e depois passou a dormir com seu paciente?
Eu estremeci, suas palavras doeram. Picando como veneno.
— E meu irmão concordou em dormir com você? — ele murmurou, questionando-se, quase incrédulo.
— Sim — eu disse, lágrimas ardendo em meus olhos. Eu me senti inadequada, senti como se tivesse falhado comigo mesma e com todos. Eu me senti um fracasso, um desperdício biológico. — Aconteceu com o consentimento de ambos.
— Estaria tudo bem se você fosse apenas Loren — Archer respirou, me olhando com decepção. — Você está aqui como enfermeira dele. Achei que você era muito boa no seu trabalho, cuidando de tudo. Todos no hospital recomendaram você—
Um longo suspiro foi ouvido quando a primeira gota de lágrima me escapou.
Por que esse momento não poderia durar um pouco mais? Só mais um pouquinho?
Eu estava apenas começando a me curar, a superar meus pesadelos.
— Você me decepcionou, Loren — ele disse asperamente. — Achei que você fosse apaixonada pelo seu trabalho, mas não — uma risada amarga escapou dele. — A única coisa em que você estava interessada era no meu irmão.
— Sinto muito — minha voz soava estranha até mesmo aos meus ouvidos, as lágrimas rolavam livremente. — Sinto muito por tudo.
— Olhe para mim.
Eu olhei para ele, seus olhos estavam vazios, quase parecendo os sem vida de Ares.
— Ares é... um cara muito fechado — ele murmurou. — É uma surpresa que ele tenha deixado você entrar. Ele não faz isso.
Eu balancei a cabeça.
— Eu esperava que você pudesse cuidar dele há muito tempo. Mas agora, não me sinto confortável em ter você como enfermeira do meu irmão. Você entendeu?
Hesitei, a ponta do meu dedo do pé congelou.
— Isso ficará entre nós, e esse incidente será enterrado para sempre, a condição é que você terá que ir embora.
Meus olhos se arregalaram enquanto eu olhava para ele em estado de choque.
— V-Você não pode—
— Lembre-se, Sra. Campbell — ele cerrou a mandíbula. — Eu lhe perguntei um motivo e você não conseguiu mostrar um. É justo que, como empregador, eu a denunciasse à autoridade. Como tínhamos uma boa amizade, estou respeitando isso e só pedindo para você sair, ainda tenho a parte superior—
Minhas unhas cravaram-se na palma da mão enquanto olhei diretamente em seus olhos.
— Eu sou uma ninfomaníaca.
Suas sobrancelhas franziram.
— Sinto muito?
Meu coração batia na garganta enquanto eu pronunciava meu segredo assustador novamente.
— Eu sou uma ninfomaníaca. Esse é um bom motivo?
Seus olhos se arregalaram enquanto ele permaneceu em silêncio por um momento.
— Loren—
— Você pode verificar meus registros médicos e avaliação psiquiátrica se desejar — respirei fundo. — Por favor, não me faça ir embora. Vou ficar longe dele, por favor, não faça isso.
Eu estava implorando, implorando para que ele guardasse a única coisa boa que já havia acontecido comigo. Segurando a única pessoa que já me fez sentir como se estivesse sã e salva.
Ares me fez perceber meu valor e eu estava me agarrando desesperadamente a ele para manter minha sanidade.
— Espere — ele respirou. — Loren? Diga-me que você pelo menos fez alguma terapia para isso?
Eu me atrapalhei com meus dedos.
— Terapia é para quem tem dinheiro, Archer. Eu mal tinha dinheiro para comer antes de vir para cá.
— Loren — ele respirou fundo, ainda processando a informação. — Por que você não me contou antes?
— M-porque — minha voz falhou. — Porque é nojento. Você me respeitaria se eu te contasse?
— O que você está falando? — suas sobrancelhas franziram. — Agora me escute com muita atenção. Não é nojento, é uma doença e requer tratamento. Quem disse que você é nojenta, não é verdade. Entendeu?
— Você está mentindo — murmurei. — Você não precisa fazer—
— Nós dois sabemos que estou dizendo a verdade — disse Archer com firmeza. — Por que eu respeitaria menos você, Loren?
— Porque é isso que as pessoas costumam fazer — eu sussurrei.
Seguiu-se um momento de silêncio.
— Meu irmão sabe?
Hesitei, mas balancei a cabeça.
Ele soltou um suspiro.
— Estou feliz que ele saiba disso.
— Você vai me fazer ir embora? — minha voz era pequena, mas esperançosa. Eu esperava, querido Deus, eu esperava que ele não me fizesse ir embora. Era improvável, mas eu queria sonhar pela primeira vez.
Archer permaneceu em silêncio.
— Archer, por favor — minha voz tremia enquanto eu implorava. — Por favor, não me faça ir embora. Por favor.
— Loren, eu ainda não consigo—
— Então me dê um pouco mais de tempo — eu sussurrei, as lágrimas caindo livremente. — Uma semana? Uma semana e você nunca mais me verá, nem Ares. Eu prometo.
Ele soltou um suspiro.
— Uma semana? Você jura ir embora até lá, sem avisar meu irmão?
Doeu, doeu demais, como espinhos formigando na ponta dos meus dedos dos pés, mas foi a única chance que tive.
— Eu prometo.
Um olhar de alívio tomou conta dele enquanto me observava.
— Por favor, não chore, Loren. Eu não queria ser tão duro, mas meu irmão é minha primeira responsabilidade. Não posso deixar algo assim continuar por muito tempo.
Eu choraminguei, mas balancei a cabeça, as lágrimas turvando minha visão.
— Eu quero que você encontre paz, Loren — ele sorriu. — Eu sei que meu irmão gosta muito de você, mas você tem que entender.
Não, eu não entendi. Parecia que alguém estava quebrando uma parte de mim, tirando meu calor e me abandonando na noite mais fria do inverno.
Eu não queria perdê-lo. Eu não queria perder Ares. Nesse curto espaço de tempo, ele se tornou muito mais para mim.
Mais do que apenas uma aventura.
Mais lágrimas caíram.
— Eu quero te ajudar com a terapia, Loren—
— Eu não preciso da sua caridade depois de me expulsar — eu sibilei.
— Não é caridade, Loren — ele sorriu. — Eu quero ajudar você.
Eu me atrapalhei com meus dedos. Eu estava considerando seriamente esta oferta? Eu estava realmente deixando Archer pagar pela minha terapia?
— Esta é uma oportunidade — ele disse com voz rouca. — Isso só beneficiaria você, Loren. Pense nisso.
Uma maldição que carrego comigo há tanto tempo que finalmente se ofereceram para me libertar dela.
Queria passar os últimos momentos que tive com Ares como uma garota normal. Sentindo-se tonta, nervosa, de mãos dadas, dando beijos. Eu queria me sentir como uma humana, aquela que Ares fez de mim.
Eu apertei a bainha do meu vestido.
Uma chance de me libertar dos meus demônios.
Meus olhos encontraram os dele.
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