𝐧𝐢𝐧𝐞, stolen power
❝ I'm getting older I think I'm aging well
I wish someone had told me
I'd be doing this by myself ❞
∞
Mizu se via praticamente sem saída nas mãos daquela mulher.
Não queria ter que usar essa última opção, mas era necessário, já que a feiticeira que a segurava firmemente pelo pescoço poderia simplesmente a exorcizar. Com o orgulho extremamente ferido, se viu obrigada a desfazer o seu domínio e usar uma das habilidades que a sua técnica amaldiçoada permitia, a de se transformar em água.
Amaya suspirou frustrada ao ver a maldição se misturar com a areia nos seus pés, marcando uma fuga no meio do desespero. Ela queria tanto exorcizar aquela maldita que a raiva ainda queimava dentro dela.
O dedo de Sukuna no lugar em que Mizu antes se encontrava fez tudo ficar ainda pior.
— Odeio essa merda — Amaya resmungou, ao se agachar e pegar uma das partes da alma do Rei das Maldições.
Ela tinha trago material suficiente para selar o objeto, pelo menos temporariamente até que voltasse para o colégio, então a missão poderia ser considerada completa. Suspirou cansada, puxando a sua katana da pedra, e controlou mais uma vez a fênix, que estava em seu ombro, para finalmente voltar ao hotel em que estava hospedada.
Estava um pouco intrigada, por causa do seu encontro com Mizu, já que parecia ter algo de errado nisso tudo, principalmente pela maldição ter parecido reconhecer quem estava dentro dela. Essas informações se condensavam na cabeça de Amaya, enquanto voava por cima da cidade, e tudo parecia estar entrelaçado de alguma forma, mas ela não conseguia ver como, pelo menos não agora, já que a dor que estava sentindo fazia com que todos os seus pensamentos fossem calados e não conseguisse raciocinar direito.
A adrenalina da batalha já tinha passado e agora as consequências estavam começando a aparecer.
Amaya sentia o seu peito queimar com tanta intensidade que pequenas lágrimas começavam a se formar no canto dos seus olhos. Ela sabia que o seu corpo se aproximava do limite, tinha passado um pouco mais de uma hora com os Olhos do Diabo ativados e isso só piorava a situação.
Talvez, não deveria ter lutado com aquela maldição usando tal poder, mas com certeza o ego da feiticeira se encontrava parcialmente satisfeito com toda a situação. Porém, tudo aquilo tinha sido necessário? Compensaria o que teria que passar agora?
Perguntas sem respostas concretas ou que Amaya não conseguiria pensar no meio da necessidade urgente de chegar no hotel. Voava em alta velocidade pelo céu e soltou um pequeno suspiro de alívio ao pousar no telhado do hotel e desfez a fênix logo em seguida.
Ela sabia tudo que ia acontecer, tinha gravado na mente cada um dos estágios de dor que o seu corpo passava por causa dos Olhos do Diabo e os odiava com todas as forças que tinha dentro de si, já que cresceu tendo que passar por isso tantas vezes que chegava a ser desumano.
"Você é fraca, Amaya. Nem sei como pode ser minha filha."
A frase que seu pai sempre dizia em todos os treinos em que a forçava a usar os Olhos do Diabo apareceu com força na mente da feiticeira, que tinha as mãos tremendo enquanto tentava desesperadamente abrir a porta do quarto. No meio de tantas sensações, ela se questionou porque estava se lembrando dele, alguém que tinha esquecido da existência durante os anos que tinha passado fora, somente se lembrando quando avisaram que tinha morrido por causa de um câncer no pulmão, quase dois anos atrás.
Tudo girava e a dor que consumia o seu peito era tão grande que parecia que estava morrendo.
Bem, era o que acontecia.
Amaya não deveria ter os Olhos do Diabo, ela não era a receptáculo ideal, mas forçaram que ela fosse, por uma simples questão de poder.
Os avós dela queriam que a mais nova herdeira do clã tivesse esse poder, mesmo sendo avisados várias vezes que não seria perfeito. Eles não ligavam para isso, não ligavam para o fato de que cada vez que Amaya usava tal poder ela quase morria, pelo tamanho de poder que o seu corpo, mais fraco do que a maioria do clã, ficava exposto.
Eles só queriam a arma perfeita para criarem uma vantagem no mundo jujutsu já que, na mesma época, se descobria que Gojo Satoru possuía os Seis Olhos.
Os destinos de Amaya e Satoru tinham se entrelaçados na infância, mesmo que não quisessem ter tais responsabilidades, as de serem os mais fortes.
Depois de várias tentativas, tinha conseguido entrar no quarto e fechar a porta atrás de si, mas os joelhos fraquejaram antes que pudesse chegar na cama.
As roupas ainda um pouco molhadas não ajudavam em nada e foi praticamente uma luta conseguir tirar a jaqueta de couro e se livrar da blusa de manga comprida, que a faziam se sentir ainda mais sufocada. Cada segundo que passava era uma eternidade para Amaya, que já não conseguia controlar as lágrimas que escorriam pelas suas bochechas.
Ela mordia a sua camiseta com força, enquanto gritava tentando extravasar a dor que consumia o seu corpo, como se a sua própria técnica amaldiçoada estivesse sendo utilizada sobre si, a queimando viva.
— Saiba que um dia ainda vou sair daqui — a voz disse triunfante, sabendo que toda a dor que Amaya sentia era por causa dela, por ser muito mais forte que a feiticeira — E vou fazer questão de tirar tudo o que você ainda tem.
Odiava ser o receptáculo dela.
Odiava ser uma feiticeira.
Odiava ser uma Okumura.
Odiava ser a "faz-tudo" dos superiores.
Odiava viver.
Mesmo que os últimos dias tivessem sido bons, que tivesse sorrido e até mesmo soltado algumas risadas, situações como essa mostravam para Amaya como ela conseguia se iludir com tão pouco, como se pudesse ter direito de sentir alguma sensação de paz.
Como se tivesse o direito de ser livre.
(...)
Às vezes, é difícil encarar a realidade, acordar para a vida e para as responsabilidades que estão nas suas costas.
Voltar para Tóquio nunca poderia ter sido de uma maneira tão ruim.
Amaya encarava o corpo sem vida de Itadori na mesa metálica com uma expressão completamente impassível no rosto. Ela se sentia tola, por não ter percebido como ela e Satoru tinham sido mandados para missões fora de Tóquio na mesma época e que isso só passava de mais uma armação dos superiores, que eram nojentos de todas as maneiras possíveis.
Ela suspirou ao se desencostar da parede e andar em direção ao corpo do garoto.
Escutava Gojo falar sobre o seu sonho, o de ressetar o mundo jujutsu e o refazer da maneira certa, sentindo uma leve vontade de rir. Uma situação tão irreal e praticamente impossível, mesmo que o motivo seja extremamente nobre, querer consertar para que não não se repetisse o que aconteceu no passado. Porém, Amaya era cética demais quando envolvia isso.
Ela passou anos seguindo ordens, sabia que a situação era muito mais complexa do que parecia ser e tinha total compreensão de que o mundo jujutsu era podre por natureza.
Eles viviam por causa de maldições, que surgem por causa das emoções ruins dos seres humanos, como poderiam sequer viver em um mundo limpo e justo?
Ela já tinha parado de acreditar nisso há muito tempo.
Satoru teve a total certeza de que algo tinha acontecido na missão de Amaya no segundo em que ela apareceu na escola. A energia amaldiçoada dela estava uma bagunça, incluindo a sua própria aparência, parecia que estava mais cansada do que o normal e ainda tinha o olhar extremamente inexpressivo, quase morto.
Ele sabia que ela tinha conseguido recuperar o dedo, Masamichi tinha o contado, mas nada além disso. Porém, ele estava pensativo, talvez fosse o fato de que, finalmente, tinha conseguido voltar a conversar com ela e que eles tentariam mais uma vez, então a mínima menção de algo errado o incomodava profundamente.
Amaya sabia que ele a acompanhava com o olhar, já que a sensação de o ter sempre a observando tinha voltado e, mesmo que não admitisse, estava grata por ter essa atenção de volta, era um pouco reconfortante, mas, no momento, não era o ideal.
— Shoko — chamou, conseguindo a atenção da melhor amiga — Posso fazer algo antes de você começar a dissecar o Itadori?
— Claro — respondeu, um pouco incerta — O que seria?
— Peço para que nada do que aconteça saia daqui. Tudo bem? — Amaya disse, encarando as três pessoas que estavam no cômodo, recebendo acenos de cabeça afirmativos.
— O que vai fazer? — Satoru perguntou, sentindo a preocupação começar o consumir.
— Tentar conversar com Sukuna — respondeu, depois de respirar fundo — Não questione.
O feiticeiro fechou a boca no mesmo instante e emburrou a cara, quase como se fosse uma criança que não recebeu o doce que tanto queria, o que fez Amaya rir fraco, antes de se concentrar mais uma vez.
— Olhos do Diabo — sentenciou e foi como se a sala tivesse ficado apertada, pela pressão da quantidade de poder.
Shoko e Satoru se encontravam um pouco nervosos ao verem as linhas brancas tomarem conta do rosto de Amaya.
Ele se lembrava da última vez que viu tal poder e de como Amaya ficava tão poderosa o usando, mas também tinha gravado na memória como ela saiu do controle. Ele não sabia o porquê disso ter acontecido naquela época, já que nunca lhe explicaram o que são os Olhos do Diabo, uma falta de informação que complica um pouco a tentativa de entender o que estava acontecendo agora na sua frente.
Porém, diferente dele, Shoko sabia muito bem o que Amaya estava planejando fazer e isso a preocupava.
A médica tinha total conhecimento dos poderes da melhor amiga, já que foram incontáveis vezes durante a adolescência de ambas que a ajudou durante os colapsos da mais pura dor. Então, a ver usar esse poder, era uma das coisas mais angustiantes do mundo. Ela tinha muito medo de chegar a um ponto de Amaya não aguentar mais e que os danos seriam irreversíveis.
Porém, até lá, teria que só observar e torcer para que, de alguma forma, ela pudesse um dia ficar livre disso.
A Okumura soltou lentamente o ar pela boca, tentando não pensar no desconforto que começou a sentir por estar novamente sobrecarregando o seu corpo mais uma vez, e colocou a mão sobre o peito de Itadori, para entrar no domínio do Rei das Maldições.
Sukuna achava Amaya interessante.
Ele a analisou durante os dias em que o seu hospedeiro conviveu com ela e pôde constatar que era bem intrigante como lidava com o poder roubado que possuía. Tinha uns bons séculos que não via um receptáculo dela e ainda um que claramente não era compatível, quem conhecia a origem desse poder sabia disso.
Era só olhar para os olhos, eles indicavam como aquela era uma combinação incompleta e até mesmo mal feita.
Sukuna sorriu de canto ao ver a feiticeira aparecer no seu domínio, queria poder conversar com ela, então não se importou muito com a invasão. Além disso, ele era um velho conhecido de quem dividia o corpo com a Herdeira do Inferno.
— O que você falou para o Itadori? — Amaya logo perguntou, sem se importar com o que a maldição faria.
— Pensei que era mais educada.
— Não vou gastar minha "educação" com você.
— Você é até que corajosa, Okumura. Entra no meu domínio e ainda fala comigo assim.
— Não é como se pudesse fazer alguma coisa contra mim, não é?
Sukuna revirou os olhos enquanto Amaya o olhava completamente séria, com as linhas brancas brilhando contra a sua pele.
— Bem, respondendo a sua primeira pergunta, devo lhe informar que infelizmente não poderei dizer. Sabe, alguém como você deve saber disso muito bem.
— O que?
— Como contratos são considerados sigilosos.
Amaya o encarou sentindo a raiva queimar dentro de si e só piorou quando ele sorriu, totalmente satisfeito com a reação que tinha causado nela.
— Acho que não tem mais nada para você me perguntar, não é?
— Não, eu tenho mais uma pergunta. Você a conhecia?
— Oh, está falando de quem você rouba poder? — Sukuna perguntou e sorriu ainda mais pela expressão de Amaya — Conheço sim, por que quer saber?
— Não é algo que você precisa ter conhecimento.
— Touché.
— Não faça nada com o garoto.
— Engraçado ouvir isso da pessoa que tem que matá-lo.
— Como...
— Não precisa ser muito inteligente para perceber isso. Você estava fora do país e simplesmente volta depois do garoto ter ingerido um dos pedaços da minha alma. Pensei que já soubesse que coincidências não existem no mundo jujutsu.
Amaya se viu sem uma resposta, já que essa era uma das maiores verdades.
— Sabe, eu entendo o porquê de terem a escolhida para isso. Já que no passado o seu clã foi o responsável pela derrota dela e ainda conseguiram ficar com a posse dos Olhos do Diabo, mas sinto lhe informar que sou bem mais poderoso que ela.
— Eu já sei disso.
— Então presumo que não tenha medo de morrer.
— Por que teria?
— Por que não teria? Não pensa na vida como a possibilidade de conquistar e ter ainda mais poder?
— Não — Amaya respondeu sem pensar duas vezes, o que Sukuna achou intrigante — Sabe, acredito que a morte é, na verdade, a salvação da alma e não necessariamente uma maldição.
Sukuna a encarava confuso.
Como alguém negaria a vida, a possibilidade de poder experienciar tudo que o mundo proporciona? Principalmente sendo alguém com tanto poder e privilégios como ela, uma feiticeira de Grau Especial.
A questão está no fato de que há anos Amaya já não queria mais se sentir sufocada com a mínima possibilidade de continuar ali, sendo o que ela não queria ser e seguindo ordens que não concordava.
É uma relação complexa, a de gostar de se sentir temida, inflando o próprio ego, e a de não querer mais viver para não ter que lidar com o título de feiticeira mais forte lhe força a fazer.
Os perigosos lados de uma mesma moeda, os dois lados de Amaya.
Oi gente! Tudo bem com vocês?
Vou ser sincera, não gostei muito do capítulo, acho como ele está sendo uma transição de fases da história acaba que fico muito preocupada em pensar se está chato ou não, mas enfim, a insegurança batendo :)
Eu quis trazer um pouco mais de como a Amaya pensa sobre o mundo jujutsu e até mesmo sobre ela mesma. Ter, ao mesmo tempo, coisas muito boas e ruins na sua vida é algo bem complicado de se lidar, pelo menos na minha humilde opinião kkkk
Bem, espero que tenham gostado! Não se esqueçam de votar e de comentarem o que acharam (AMO ler o feedback de vocês)!
Até a próxima! ♥︎
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