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Brian Littrell

Após aquela atriz ter saído correndo chorando feito uma criança completamente mimada e o resto do pessoal ter ido atrás dela, eu percebi de que ninguém ficou do meu lado. Pra compensar, minha mãe deu um sermão de no mínimo duas horas e se estendeu quando o meu pai chegou e foi até no início da noite. Agora eu, que estou em recuperação, vou ter que aturar aquela garota chata durante um mês evitando o máximo possível de qualquer estresse e raiva que vou passar dela.

Eu realmente mereço esse castigo. E isso foi pura ironia.

Quando amanheceu e ter dormido na minha cama que é mais confortável do que do hospital, senti um cheiro tão bom e provavelmente vinha lá da cozinha. Estar com o conforto e o paladar de volta é a melhor coisa que já aconteceu para várias pessoas e eu sou mais um privilegiado.

Olhei para o relógio e já eram oito horas da manhã, e esse cheiro estava apertando a minha fome. Arrumei a minha cama e fui descendo com cuidado para andar até a cozinha. Eu não sei se foi por causa do tempo que passei no hospital, mas sinto como eu tivesse experimentando pelo olfato.

— Meu Deus, eu tô morrendo de fome…

A fome que estava sentindo começou a evaporar quando vi de que era a Crystal que estava fazendo, servindo o meu prato e ainda por cima, a cínica sorriu pra mim ponta a ponta.

Ela já não é mais tão linda quando eu estava apaixonado. Eu só espero que ela não fique forçando a barra.

— Bom dia, Brian! Dormiu bem? — Perguntou com mais cinismo, colocando suco no copo, o deixando na mesa.

— Não importa. — Respondi e olhei em volta. — Onde estão os meus pais?

— Saíram tem dez minutos. Creio que voltarão no almoço. — A mesma tirou o avental da minha mãe e colocou no lugar aonde sempre esteve. — O seu café está servido, é uma receita neozelandeza.

— Não foi isso que pedi e aliás, eu não pedi nada. — Cruzei os meus braços e fiquei esperando a cara dela ficar vermelha de raiva, mas ela se manteve neutra. — Eu não quero saber da comida de um lugar sem graça que você veio. Come você, perdi a fome.

Dei meia volta para ir até o sofá assistir alguma coisa interessante na televisão, mas a risada dela me fez parar.

— Se você não se importa, existe milhares de pessoas com fome e aceitam qualquer coisa que for comestível inclusive lixo. Então, você vai se sentar nessa bendita cadeira, vai se alimentar porque precisa se recuperar. E se continuar com esse capricho, eu vou entregar para os mais necessitados e ainda vou fazer questão de dizer que alguém que parece ser tão altruísta como Brian Littrell prefere ser ingrato pelo que muitas pessoas não têm.

O jeito que falou o meu nome foi proposital pra me provocar. Ela que vai achando que vou ser submisso às suas vontades.

— Já não basta ter dito várias coisas piores pra mim naquela carta? Então faça isso, Fletcher. Dá para os mais necessitados. — Me virei pra olhar pra ela que ainda mantinha a postura.

— É, vou dar no jeito que eles sempre receberam.

Ela abriu a lixeira e foi até a mesa pegando o prato.

— Você não vai fazer isso, não é?! Isso é cruel!

— Você não está com fome, mas eles sempre estiveram… — Sorriu de canto começando a virar o prato lentamente.

— Okay, okay! Não faça isso. — Daí ela parou e ficou olhando pra mim, esperando por algo. — Eu como.

— O que você disse? Eu não ouvi. — Ela fez sinal de que iria jogar novamente no lixo.

— EU COMO! — Falei mais alto que podia e a mesma deixou na mesa, exatamente aonde estava. — Não se brinca com comida, Fletcher.

— Muito bem. — Ela apertou o meu ombro e se aproximou do meu ouvido. — Aprendeu a lição número um.

Crystal saiu de perto de mim e foi andando até o sofá ligando a televisão, deixando na MTV.

— Que lição número um? — Perguntei olhando pra ela que olhou pra mim, como não tivesse me ouvido direito. — Que lição número um?

Repeti e a atriz soltou um suspiro, dando um leve sorriso.

— Pensamento altruísta. Você achou mesmo que eu iria jogar fora?!

— Claro, estava apontado para a lixeira.

— Tinha uma caixa limpa aberta ali dentro e se você deixasse eu jogar, eu levaria para alguém que precisa. — Me respondeu e olhei para a lixeira aberta e lá estava a caixa que a mesma havia falado. — Eu não sou desprezível ao ponto de humilhar alguém, se quer realmente saber.

Ela me deixou sem palavras e olhei para o prato, vendo que tinha uma aparência incrível e o cheiro aguçar novamente a minha fome, então dei a primeira colherada e a explosão de sabores veio com tudo. Me lembrei de quando estávamos na casa do Ronnie e ela preparou um almoço esplêndido para nós dois, também aquele suco de maçã verde do irmão dela é incrível.

— Eu vou no mercado comprar algumas coisas e daqui a pouco o Howie chega. — Crystal disse na porta da cozinha segurando a sua bolsa e olhou para o prato que deixei limpo.

— Crystal, obrigado pelo café da manhã. Estava delicioso. — Sorri levemente para ela e percebi um certo tom colorado surgir nas maçãs do seu rosto.

— Para alguém que não queria uma comida de um lugar sem graça que eu chamo de lar… — Retrucou sem nenhum tom de grosseria. — Eu vou indo e não demoro.

Ela virou as costas pra mim e foi andando até a porta da frente, saindo de casa. Caramba, eu falei aquilo pra ela, mas por que estou me importando? Ela não é mais nada pra mim.

Eu subi de volta para o meu quarto tomar um banho e tirar o pijama, quando eu desci novamente, lá estava o Howie comendo biscoitos que tem aqui em casa.

— E aí, Brian?! — Disse de boca cheia, e alguns pedaços mastigados pulavam de sua boca. — Como foi lidar com a Crys no início da manhã?

— Muita paciência. — Me sentei do seu lado e olhei pra ele. — Você pegou o pote?!

— Eu me empolguei, esses biscoitos são ótimos, mas a torta que a Crystal vai fazer vai ser de outro nível!

— Torta? Ela vai fazer torta?

— Foi o que ela tava falando quando fomos dormir ontem. — Disse e ainda sorriu. — Ela gosta de conversar antes de dormir e também, ela tava precisando distrair a mente.

— No mínimo falando mal de mim.

— No mínimo?! Foi no máximo! Ela tá muito desapontada com você, mas vai ficar te cuidando mesmo com raiva.

— Bom saber que esse ódio é mútuo. — Digo e ele começou a rir. — Qual é a graça, Howie?

— Nada não, é que… — O mesmo deu uma tosse fraca por conta das migalhas do biscoito. — Você foi muito burro.

— Burro no quê?!

— Naquela carta que você recebeu.

— Como soube?!

— O vento trás e leva várias coisas no seu caminho. Te trouxe a Crystal, levou a Crystal e trouxe ela de novo. Engraçado, né? Vai ter lidar com isso sem deixar a raiva por ela passar, porque olha… se fosse comigo, eu já teria dado um beijo e pedido de joelhos o seu perdão.

— Você é tão dramático assim?! — Eu não entendi esse lance do beijo.

— Nem sempre. — Afirmou e foi vendo se ainda tinha resquício de biscoito no compartimento. — Mas te digo, resistir aquela garota vai ser difícil. Tenho certeza que no próximo final de semana, você já vai ficar dando em cima dela.

— É óbvio que não! Eca, Howie. Eu nunca mais vou pôr os olhos naquela garota. — O Howie começou a ter altas crises de riso, terminando em tosse depois de uns cinco minutos.

— Isso é o que vamos ver, Brian.

— Howie, me ajuda aqui! — Ouvimos a atriz no lado e fora e ele foi ajudar ela com alguns sacos de papel. — Valeu, amigo.

— Como você conseguiu trazer isso tudo?! — Ele perguntou deixando as compras na mesa da cozinha e a mesma olhou pra ele.

— Um funcionário do mercado me ajudou. — Disse e havia aquele famoso sorriso tímido em seu rosto. — Era bem bonitinho.

Ah, corta essa!

— Mal chegou na cidade e já tá roubando corações?! Tá arrasando, gata.

Howie chamou ela de gata?!

— Dizem que o meu charme é o meu sorriso. — Ela disse completamente convencida. — Mas acho porque tenho um rosto conhecido e vêem interesse nisso.

— É, isso faz sentido. — Ele disse a ajudando com as compras.

Pior que faz sentido, mas olhando pra ela da cabeça aos pés… no que eu tô pensando?! Eu odeio ela!

— Vai ser torta de quê, Crys?

— É surpresa. — Ela respondeu e olhou pra mim que desviei na mesma hora. — Eu falei para a senhora e o senhor Littrell que será a sobremesa do jantar e eles toparam para todo mundo se reunir aqui como uma família incrível e com muita harmonia.

— Eu só posso estar vivendo um dia de natal! Tenho certeza que vai estar maravilhoso por ser caseiro e também, é a receita da sua família, certo?

— Exatamente, Howie. — Ela disse sorridente. — O livro de receitas da família Fletcher estão bem gravadas na minha memória.

Mas é desmemoriada da carta que mandou pra mim, vai entender.

Depois do almoço, eu descansei um pouco no meu quarto lendo um livro que a Venice me trouxe para eu ler durante um mês, também, mais de setecentas páginas a história possui, porém bem interessante.

Quando eu estava terminando o segundo capítulo, ouço a porta ser batida e pela santa delicadeza — ironicamente falando —, era a Crystal me azucrinando.

— O que é? — Olhei completamente entediado para a dos cabelos curtos e castanhos que ficou parecendo pensar no que falar. — Fala, tenho coisa melhor pra fazer do que ficar olhando pra sua cara.

— A sua mãe teve que sair e ela me pediu um favor de perguntar à vossa majestade real se vai descer para o jantar ou não.

— Ai, eu vou descer. — Assenti sem olhar pra ela. — Ela também perguntou se você vai me alimentar fazendo aviãozinho?!

— Por que, você quer?! — Lá vem ela falar naquele tom mais irritante que tem.

— Olha, não tô afim das suas chatices.

— Ah por favor, Brian. Se eu te aturo, você também vai me aturar. E essa vai ser a sua maior penitência por ter me chamado de mentirosa e fracassada.

— Se ofendeu com algo que é de fato uma verdade?! — Ri da mesma. — Ah tinha me esquecido, você tem um ego inflamado.

— E você não se passa de um cãozinho abandonado querendo atenção. — Retrucou saindo da minha vista. — Dentro de uma hora, o jantar estará pronto.

— Hey, eu não acabei! — Me levantei e fui até a porta e ela já descia as escadas.

— E eu tô nem aí pra isso, princesinha de Kentucky.

Foi de ouvir as risadas do Howie, Venice e Kevin lá da sala e alguns comentários sobre o que aquela cabulosa havia falado.

Ela tá faltando respeito comigo debaixo da minha própria casa e não posso deixar isso acontecer mais vezes! Ela acha que é quem pra me tratar assim?! Sou capacho não!

Na hora do jantar, Crystal e Howie arrumaram a mesa e colocaram o jantar no prato de todo mundo. Por aí estava tudo bem, o problema foi na hora da sobremesa.

— Torta de maçã caseiro para os famintos da mesa. — Crystal, toda “agradável” da vida, foi dividindo a fatia para cada um e percebi de eu serei o último a ser servido. — E sopa de legumes para o B-Rock.

— O quê?! Sopa?! — Olhei incrédulo para a mesma que continuou sorrindo e se sentou no seu lugar, ao lado do Howie de frente à mim. — Eu queria a torta.

— Você está em recuperação, precisa se cuidar. — Respondeu tirando um pedaço da sua fatia e comendo.

A triste tá jogando isso na minha cara. Isso só pode ser um pesadelo! Todo mundo se deliciando com a sua torta de maçã e eu aqui tomando uma sopa de legumes!

— Crys, querida, eu quero a receita. — Mamãe disse e a neozelandeza assentiu, pois estava com a boca ocupada por essa torta que parece está tão boa. — Muito bom.

— Obrigada.

— Você tem mãos bem talentosas, Crys. Eu amei essa torta, já é oficialmente a minha favorita! — Howie disse de boca cheia.

Por que ele não para de elogiar ela por um minuto? Isso tá me enjoando.

— Podemos levar um pedaço lá pra casa, tia? — Kev perguntou e mamãe assentiu. — Ótimo, eu adorei!

— Você poderia fazer essa torta mais vezes, Crystal? — Papai perguntou e ela falou que sim.

Deixei a sopa na metade e saí da mesa, indo subir até o meu quarto. Calma, eu não posso me estressar por causa disso, é muito idiota da minha parte!

— Hey, tá sentindo alguma coisa? — Kevin apareceu e me virei pra ele no meio do corredor, faltando pouco para entrar.

— Não, eu me lembrei de trocar o curativo. — Menti e o meu primo já olhou incrédulo pra mim.

— Ah, é porque parecia que estava ficando irritado com o lance da torta…

— Eu não tô irritado com a torta, eu tô irritado porque aquela medíocre imbecil está na minha casa ao invés de ter me deixado em paz, é isso! Eu sinto de que vou acabar ficando cansado de ver ela todo santo dia e… e eu não vejo razão de insistir em deixar ela vir aqui me “cuidar”, eu posso muito bem me virar sozinho! — Quando olhei para baixo, todo mundo estava observando e os meus pais, principalmente eles, me olhavam na maior desaprovação. — Como essa presunçosa tem dinheiro suficiente, por que não vai logo embora para Nova Zelândia onde deveria ter sempre ficado e descartado a ideia de inventar uma personagem que é completamente oposta de si há dois anos?!

Eu vi a ofensa estampar o rosto da Fletcher e vi de que ela iria chorar de novo por causa disso. Pelo amor, ela não era assim tão sensível antes.

— Eu te falei, Howie. — Ela disse olhando para ele e para a Venice. — Até ele tem razão disso.

— Crys, não liga pra isso… — Venice disse olhando pra ela que virou-se e foi até a porta, daí veio alguns soluços da mesma. — Crys…

— Você não deveria ter dito isso, seu trouxa! — Howie reclamou comigo e fiquei sem entender nada. — Espera aí, ele não viu o que aconteceu na estreia do filme, Kev?!

— Só vimos o começo. O que houve? — Kevin perguntou e Howie fez que ia responder e olhou para a atriz que estava sendo consolada pela sua empresária.

— Quando chegarmos em casa, eu conto. — O latino disse olhando feio pra mim. — Aliás, vamos agora já que alguém rabugento precisa descansar pelo resto da noite.

— Okay então. — Bati palmas e sorri. — A porta é bem ali e até o dia do São Nunca, Crystal Fletcher.

Os quatro foram embora em silêncio e entrei no meu quarto fechando a porta. O que de interessante aconteceu naquela estreia?! Só se sujaram o vestido caríssimo da estrela de Hollywood e fez escândalo por causa disso.

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