Crystal Fletcher

Tudo se tornou um tédio tão grande depois que o Brian foi embora com os rapazes e eu mal vi eles naquele final de semana, o que foi uma pena. E ficou mais entediante quando a Nivea voltou para Washington passar as suas férias de recuperação com a sua família, quando o Ronnie voltou para Nova Zelândia ajudar a mamãe e o papai, e a Venice só vem aqui a cada dois dias pra não me deixar sozinha.

Tudo ficou tão estranho. Talvez isso nunca tenha acontecido comigo antes, ficar completamente sozinha em casa sem nenhuma interrupção.

Até que a campainha tocou. Era o Eli, o porteiro.

- Senhorita Fletcher, eu estava atrás do brinquedo que uma garotinha perdeu no playground e encontrei esse envelope azul com a sua assinatura atrás.

- Caramba, deve ter caído da janela do meu quarto! - Digo pegando de volta. Que alívio. - Sabe me dizer aonde encontrou, Eli?

- No meio da areia, senhorita Fletcher. - Sorriu. - Eu aspirei e aqui está de volta para a legítima dona.

- Muito obrigada, Eli. Isso vale muita coisa, espere aí.

Fui pegar a minha carteira e tirei alguns dólares, entregando ao mesmo.

- Senhorita Fletcher, são quatrocentos dólares! Isso é muito pra uma carta!

- Eu sei, mas eu soube que o seu salário está atrasado e creio que você precisa manter as coisas na sua casa, a sua família. - Sorri para o mesmo que ainda estava muito surpreso.

- Eu não posso aceitar, se souberem...

- Eli, fica com o dinheiro. Esconde na meia, ninguém vai saber disso. - Eli dobrou as notas e colocou dentro da meia.

- Você não faz ideia do quanto isso me ajuda o bastante. - O mesmo apertou as minhas mãos. - Eu tenho uma filha de seis anos e ela quer muito ir ver a praia pela primeira vez. Muito obrigado, senhorita Fletcher.

- Disponha, Eli. Mas pode me chamar de Crystal, ou até mesmo Crys. Tenha um bom dia.

- Igualmente, Crystal.

O porteiro sorriu e foi andando de volta para o elevador. Fechei a porta e me sentei de volta no sofá. O jeito do Eli ser lembra muito o do meu pai biológico, que tanto sinto falta. Já fazem treze anos que ele se foi.

Dou um longo suspiro e pego o cortador de envelope, abrindo o mesmo e sacudi para cair os papéis, vendo só cair a carta.

- Cadê os esboços?! - Franzi a minha testa coloquei a minha mão dentro do envelope e sinto só um, que era da expressão do Brian olhando pra mim. Me arrepio só de pensar.

Mas que estranho, coloquei uns quatro aí dentro.

Sawier. Eu ainda sinto que ele aprontou uma comigo. Abri a carta e estava escrita o que eu havia escrito para o Brian, creio que ele ainda esteja curioso pra saber o que tem escrito.

Vou ligar pra ele, talvez não esteja ocupado!

Peguei o telefone e disquei o número que o mesmo me deu dos próximos hotéis que estarão, e pela data, creio que estão em San Francisco.

A ligação foi transferida para um dos quartos do hotel e reconheci de que era a voz do AJ.

- Alex, sou eu a Crys.

- Olá, como está?

- Estou bem e sozinha fazendo nada. Creio que a Nivea ficou ligando pra você.

- Bem, sou eu quem está perturbando ela e é bom saber do quão rápido ela está se recuperando.

- Por pouco tempo que eu conheço ela, eu sempre soube que não há nada que possa parar aquela garota.

- Tem toda razão. - Dava pra perceber de que está sorrindo. - Ela é belíssima.

- Sim, é... o Brian está por perto?

- O Brian? Ah, ele deve estar... dormindo ainda, Crys. Tem algum recado pra ele?

- Bem, sim, eu tenho. - Fiquei olhando para a carta na minha mão. - Se possível, diga a ele que vou enviar a carta que escrevi.

- Claro, eu digo. Quer que eu fale mais alguma coisa?

- Que eu sinto muita falta dele. - Sorri timidamente.

- Ele vai surtar! - Rimos. - Tenho novidades, amiga. O Nick chamou a Maya para um encontro e terminou em dor de barriga.

- Como assim, Alex?!

- Nick não é acostumado com comida muito apimentada e fez para provar à Maya de pode aguentar tudo o que for possível por ela.

- Meu Deus, e como ele está?

- A Sam nos deu uma receita de uma sopa que o garoto melhorou na hora que voltou para o hotel. Foi em Beverly Hills, tinha que ver.

- Tadinho do Nick. Vocês estão aconselhando o garoto?

- Eita não! Ainda bem que você lembrou, Crystal porque ele tá pensando que a menina não quer mais saber dele.

- A Maya irá entender ele que eu sei. Apenas digam ao Nick de que não precisa fazer tudo exagerado para conquistar a Maya, ele vai acabar ficando doido.

- Mas do que já é?! Okay, eu falo. E o Ronnie?!

- Voltou para Wellington. Ele só vem pra cá no ano que vem no dia da estreia do filme, já que vai ser o meu acompanhante.

- Ele vai ser o acompanhante?! Pensei que seria o Brian!

- Bem, eu também. Mas a Venice disse que era melhor para não ficarem fazendo muitas perguntas sobre nós e também acho que manter o nosso namoro discreto por mais um tempo, acabe não causando muito rebuliço depois.

- Ah, entendi. Okay, eu vou dar os recados ao Brian quando ele acordar e falar o seu conselho para o Nick. Foi bom falar contigo, Crys.

- Igualmente, AJ. Obrigada.

- Que isso, até o dia da estreia.

- Até. - Coloquei o telefone de volta no gancho e me senti mais ansiosa por saber da reação dele quando receber a carta.

Tô achando melhor entregar no dia da estreia pessoalmente.

Meses depois
Hollywood, California - 1998
premiere de Além do Limite da Lua

Venice, Nivea e Ronnie estavam ansiosos para o evento, não como eu. Eu mal podia esperar para ver o filme que estou protagonizando pela primeira vez e também pode ser uma alavanca para protagonizar outros filmes de grandes diretores do cinema.

Com o patrocínio, eu estarei no tapete vermelho usando um novo vestido da Chanel e ele é perfeito. Todo trabalhado no tom escuro de um verde esmeralda em cetim e um colar folheado a ouro e brilhantes que destacam muito bem em meu pescoço pálido e cheio de pequenos sinais em minha pele. Uma cabeleireira fez várias ondas no meu cabelo que cresceu mais um pouco e uma maquiagem que favorecesse os meus olhos.

- Podemos entrar? Só tem meninas. - Era a Nivea na porta do meu quarto no hotel.

- Claro que podem.

A porta se abriu e não só estava ela e a Venice. Estava a Sam, a Maya e...

- Mãe! - Abri um largo sorriso e as meninas começaram a surtar ao me ver.

- O Ronnie disse que você iria ficar feliz pela minha vinda. - Mamãe chegou perto e pegou na minha mão. - Está divina, meu amor.

- Você é quem está, mãe. E vocês também.

Olho para as garotas que sorriam e se olharam, como fossem contar alguma coisa pra mim.

- Crys, os rapazes chegaram. - Venice disse e eu nem tava mais sabendo como reagir. - Só que... o Kevin e o Brian não puderam vir, tiveram que resolver algumas coisas lá em Kentucky e se coincidiu com hoje.

- Tudo bem. - Assenti e senti algo estranho. Como algo ruim estivesse acontecendo há um tempo.

Toda vez que ligo para o Brian, ele não me atende, é sempre um dos rapazes e sempre falam que ele tá longe, dormindo, aquecendo a voz... será que ele cansou de mim?

- Amiga, não precisa ficar assim så sorligt¹. - Sam afirmou e eu não entendi nada. - Förlåt², Crystal. Me esqueço de que vocês não entendem sueco e às vezes me esqueço de algumas palavras em inglês.

[1 - tão triste // 2 - perdão]

- Eu que sei. - Maya disse sorrindo para a mais alta. - Bem, não precisa ficar pra baixo, Crys. Você vai ver o Brian de novo, tenho certeza de que ele sente mais saudades do que você. E também tenho certeza de que ele faria uma surpresa para a sua linda namorada!

- A Maya tem razão, Crys. - Venice disse ajeitando o seu cabelo que está preso. - Ele te surpreenderia quando menos imaginar. Agora eu acho que se o Bee estivesse aqui, ele não ia cansar de olhar pra você.

- Ele ia me deixar com vergonha. - Já senti o meu rosto esquentar e as meninas riram. - Nunca vi alguém me deixar tão sem jeito...

- Chegamos! - Ronnie entrou na base do escândalo no meu quarto e lá estavam os rapazes na porta. - Eles estavam escutando a conversa.

- Ronnie, tá gato! - Samantha disse olhando para o mesmo que finalmente, deu um corte nesse cabelo. - Juro que se não fosse a sua voz, eu não reconheceria.

O Howie fez uma cara engraçada agora. Parecia deboche, algo parecido.

- Ah obrigado, Sam. Você está maravilhosa hoje, todas vocês estão. - O meu irmão afirmou ajeitando a sua gravata.

- Venice, você soube convencer esse garoto a cortar esse cabelo... estou muito impressionada. - Mãe disse olhando para o Ronnie, sorrindo. - Tá a cara do Darius quando tinha a sua idade.

- Vocês já se conheciam?! - Eu e o Ron falamos em uníssono olhando para a mesma que assentiu.

- Ele trabalhava no caixa de uma mercearia no centro da cidade. Claro, eu já conhecia o Caleb e ele já namorava a sua mãe, Ronnie. Ele ficava me perturbando por estar comprando as mesmas coisas na mesma quantidade e claro, eu brigava com ele. Depois que se mudou para Wellington, perdemos contato.

- Ela fala isso agora. - Ronnie disse olhando pra minha cara e assenti.

- Boa noite, senhora Fletcher, é um prazer conhecer a senhora. - Alex disse apertando a mão da mesma.

- É Laura pra vocês, só tenho quarenta anos. - Retrucou e o trio olhou pra mim com cara de "você puxou muito a ela".

- Agora eu entendo o motivo da Crys ser tão linda. Que herança, tia Laura.

- Ah obrigada, Howie...

- Howie...?! - Olhei perplexa para o latino que piscou pra mim e vi a Sam fazer cara de deboche para o mesmo.

Eles estão se provocando?!

- O Brian te mata se souber disso. - Nick disse abraçando a Maya.

- Ele tá longe.

- Eu achava que o seu negócio era burritos e confusões. - Cruzei os meus braços e o mesmo riu, olhando de relance para a jogadora. - Te orienta.

- Eu tô de boa! Só vim assitir o filme da minha amiga e nada mais.

- Até parece. - A Finch resmungou alto.

- Viemos aqui pra avisar de que já estão esperando por nós, anã. - Ronnie afirmou com as mãos nos bolsos. - Como a mamãe e o restante são convidados, vocês vão em outro transporte.

- Que pena, queria andar naquela limousine! - Nick fez biquinho e todo mundo foi andando, sobrando apenas eu, meu irmão e a nossa mãe.

- Vocês estão lindos. - Ela disse tocando nos nossos rostos. - Estou muito feliz e orgulhosa por ver vocês realizarem os seus sonhos. O Darius também está muito feliz e Crystal, querida, com certeza o Caleb deve estar orgulhoso por saber no que você se tornou.

Eu assenti, tentando não chorar pra borrar a maquiagem.

- Eu amo vocês e... tenha uma noite espetacular, meus anjos.

Laura nos abraçou e foi embora. Peguei a minha bolsinha que deixei pronta e vi um pacote em cima da minha cama.

- Isso não tava aí antes. - Apontei para o pacote.

- É só um presente, vamos. - Ronnie pegou na minha mão e fomos andando até a limousine que nos aguardava.

Brian Littrell
Lexington, Kentucky

Nos últimos meses antes de virar o ano, eu contei aos rapazes sobre a situação da minha saúde e o Kev está me acompanhando para ajudar os meus pais quando fosse possível.

E hoje é o dia da estreia do filme da Crystal. Sinceramente, eu queria muito ver o filme, mas eu iria ver a cara dela e não seria legal porque estaria lembrando daquelas palavras secas e ríspidas da mesma naquela carta.

E a cínica ainda teve a ideia de querer mandar outra carta pra mim segundo AJ. Espero que ela não tenha corrido atrás do arrependimento de novo.

- Não vai querer assistir o filme não? - Kevin apareceu no meu quarto com um pote enorme de pipoca. - É ação com um pouco de comédia.

- Eu vou, só estava arrumando as minhas coisas pra ficarem prontas amanhã. - Sorri fracamente e fui acompanhando o mais velho até a sala. - Kev, o que você acha como seria a reação dos rapazes ao saber a verdade da Crystal?

- Você sabe que eles são curiosos e iriam procurar os dois lados pra entender. Mas olha, você acaba se torturando falando dela a cada dez minutos.

- É que eu fico pensando em como seria a atuação dela quando eu jogasse a verdade na cara dela, tenho certeza que iria chorar como foi da última vez.

- Brian, só esquece. - O mesmo ligou a TV e foi esperando carregar para mudar de canal. - Por que toda a vez que eu ligo, sempre está no canal da fofoca, hein?!

- Sei lá... - Kevin olhou pra mim em reprovação. - Se você está achando de estou querendo saber da vida dos outros, pode tirar essa ideia!

- Todo dia estão falando do filme dela e claro que aparece algumas imagens. Essa raiva vai passar logo... - Richardson cantou e joguei uma almofada em cima dele que começou a rir. - E falando do anjo, olha só.

- É diabo, Kev. - Revirei os meus olhos e dei atenção para a televisão.

"A atriz que vai roubar as cenas do filme Além do Limite da Lua, mais conhecida como Crystal Fletcher, acabou de chegar no tapete vermelho!"

"Ai, não me diga!"

- Ai, não me diga! - Eu e o Kevin imitamos a outra repórter e começamos a rir.

"Gente! Foquem nesse vestido dela, que obra de arte! Mais obra de arte ainda é este homem que acompanha a nossa estrela!"

"Quem é ele, gente?! Será que é o namorado da Crystal que finalmente ela está apresentando para todo mundo?!"

- Namorado?! - Isso me escapoliu.

- Pela visto ela deu a volta por cima...

- Kevin, ela já se esqueceu de mim.

- Ué, você não odeia ela agora?! Lide com isso.

"Tem como dar zoom para o público de casa ver o rosto desse lindo namorado da Crystal?"

- É O RONNIE!

- Meninos, menos escândalo que tô no telefone! - Mamãe reclamou.

- Caramba, o Ronnie tá muito chique com esse corte de cabelo. - Kevin comentou com a boca cheia de pipoca. - Você ficou com ciúmes do irmão da Crys, priminho!

- Cala a boca, eu não senti ciúmes! - O mesmo começou a rir. - Pode mudar de canal, o filme já deve ter começado.

- Espera que eu quero ver se vai aparecer as meninas ou rapazes de vista. - Disse entretido.

"Crystal, Crystal! Pode falar com a gente rapidinho?"

"Claro, pois não?" - Os Fletcher se aproximaram e senti o meu queixo cair com o visual dela.

Por mais que eu odeie ela agora, ela está impecável. Eu nem imaginava que ela é cheia de sinais e sardas nos ombros e nas costas.

"O que você espera do seu filme?" - A atriz olhou para o irmão e sorriu.

"Vai ser fantástico." - Ela respondeu com o olhar de que isso foi uma pergunta óbvia demais.

"E pode nos apresentar o seu acompanhante bonitão que deve estar roubando corações nesse exato momento?" - A Crystal olhou feio para a repórter enquanto o Ronnie ficava completamente envergonhado.

"Ele é o meu irmão, Ronnie." - Respondeu abraçando ele. - "Ele não está interessado em um relacionamento nesse momento não."

"Ah, que pena. Bem, quer mandar um recado para alguém que está assistindo você hoje?"

- Isso vai ficar interessante, Bee.

- Deixa ela falar.

"Eu... quero mandar um abraço para o meu pai que está longe, para o meu amigo Ben que também está longe e... para dois amigos que não puderam comparecer aqui hoje."

"Alguma frase para esse pessoal pra encerrar a nossa entrevista, Crystal?"

"Sinto muitas saudades deles, é isso." - É uma boa farsante essa daí.

- O filme já tá na metade, Kevin.

- Ela lembrou da gente, Brian. - Disse manuseando o controle e mudou para o canal do filme. - Assim, era óbvio que não iria mencionar os nossos nomes, mas...

- Mas o quê?

- Nada. - Deu de ombros e fiquei olhando para ele. - Vou pegar refrigerante que me esqueci.

- Você tá estranho, sabia?

- Eu tô de boa, você é quem tá estranho. - Disse lá da cozinha e o mesmo comentava alguma coisa com a minha mãe.

Crystal sentir saudades... nunca mais caio nessa conversa. Se não quer saber mais de mim, por que sentiria a minha falta?! Eu só espero que aquele trio não tenham a brilhante ideia de contar a minha situação à ela pra me perturbar no telefone todo santo dia.

Crystal Fletcher

Depois da rápida entrevista para o canal de fofoca, eu estou sentindo algo estranho em mim, como um mau presságio.

Eu e o Ronnie tiramos várias fotos juntos, tirei algumas sozinha e as últimas fotos foi com o elenco, pouco antes de entrarmos no cinema e apreciar o filme. Eu me sentei ao lado do meu irmão e da Venice que conseguiu me encontrar no meio da multidão.

Assim que as luzes se apagaram e o filme iniciou, me distraí em meus pensamentos tentando procurar um motivo do Brian estar me evitando há meses e creio que os quatro não sabem do que se tá passando na cabeça dele ou algo do gênero. Eu queria que ele estivesse aqui para dizer quais são as partes favoritas pra mim e vê-lo se divertir com isso, segurar a minha mão e beijar o meu rosto, me dando elogios. Sinto tanta falta dele e nem sei de uma notícia sua.

- Crys, se sente bem? - Ouço a Venice sussurrar pra mim e aceno que sim, olhando para as minhas mãos no meio da escuridão. - Parece preocupada.

- Tá tudo bem, V. Só pensando daqui pra frente. - Digo lhe dando um sorriso bem fraquejado, olhando finalmente para o telão.

O filme foi o de menos sobre o que aconteceu. Era perfeito, mas eu não estava conseguindo dar uma atenção merecida para o mesmo e quando acabou, começou uma festinha social.

O diretor e os produtores conversavam aleatoriamente comigo, principalmente sobre o meu trabalho e de repente o microfone chiou, fazendo aquele barulho que qualquer ser humano odeia ouvir.

- Boa noite a todos. Esperam que estejam tendo uma ótima festa, porque... isso vai melhorar muito. - Era a Sherry que estava também usando roupas de gala. - E hoje é uma noite incrível para todos que trabalharam nessa obra, principalmente a estrela do filme, a nossa querida Crystal Fletcher.

Falta só uns fios de cabelo pra eu mandar expulsar ela daqui.

- Essa jovem estrela que é extremamente talentosa, inteligente, lindíssima e sortuda, merece um brinde sobre o seu primeiro e o seu segundo protagonismo.

- Segundo?! - Perguntei para mim mesma e a Finnigan sorria andando até uma parte da parede que está coberta por um lençol.

- Sim, Crys. O seu segundo papel de protagonista, é por ser alguém que garantiu nunca amar uma certa pessoa mesmo se fosse a última do universo e acabou pagando com a boca sobre o que falou. Esse papel é de uma grande mentirosa que nem sabe ser criativa pra saber enganar as pessoas.

A de cabelos castanhos puxou o lençol e havia um quadro enorme com algumas coisas escritas aleatoriamente, como recortes de revistas. E a primeira coisa que eu vi que estava bem grande no meio do quadro era nada mais e nada menos que:

- Amado Brian. - Digo baixinho, sentindo todos os flashes em cima de mim e dessa maldita tela. - Eu sabia, eu sabia que o Sawier tinha feito alguma coisa...

- Fui eu quem mandou, querida Fletcher. - Sher se aproximou de mim, com um sorriso debochado em seu rosto. - Vamos ver se você vai lidar com tanta pressão da mídia.

- Você não tem o que fazer mesmo, né?! - A olhei mantendo com cautela a minha postura. - Não tem algo melhor não, querida?!

- Crystal... não se faça de valentona por causa do seu primeiro papel naquele filme medíocre de adolescente. - Finnigan me olhou da cabeça aos pés e foi até o meu ouvido. - Você acha que o Sawier foi sozinho para Seattle? Eu também estava lá e vou te dizer o verdadeiro motivo do Brian ter estragado o convite do encontro de vocês. Ele foi me ver, nós saímos para um lugar mais particular e me disse que estava cansado de você, principalmente das suas ligações e da sua presença.

- Isso não é verdade, Sherry. - Continuo mantendo a minha postura.

- É óbvio que sim! - Disse se afastando. - Você foi pior do que uma pedra no sapato do Brian Littrell!

A sonoridade das pessoas ao redor e os seus olhares foram para cima de mim. Aquela maldita sorria, gostando de ver a minha desgraça.

- Crystal, todo mundo sabe que a primeira coisa que você fez e nem sequer conhecia ele, foi mentir fingindo ser alguém que nem tem um rosto, um corpo, uma voz... nem existe, a tal Lis nem existe nesse seu coração de pedra. Você deve estar se perguntando como eu soube... ele falou para os rapazes que estão presentes neste lugar e ele realmente disse que era um ato imperdoável.

Eu olhei para os meus convidados que estavam na frente e eles não pareciam surpresos, mas sim demonstrando raiva. Claro, ela tá conseguindo convencer todo mundo.

— E pelo visto a sua máscara também caiu, Sherry Finnigan. — Digo e a mesma gargalhou.

— Cala a boca, Fletcher. Não vê que os holofotes estão bem em cima de você?! E parabéns, você acabou de alavancar o seu sucesso e a sua fama de mentirosa e metida. — Fui me aproximando dela pra deitar a mão nessa cara, mas eu senti alguém me segurar por trás e não era o meu irmão ou um dos rapazes. — Esse cara, é quem você realmente gosta e é o meu irmão.

— Me larga, Sawier. — Dou um pisão com a ponta do meu salto no pé direito dele e paro de frente a Sherry. — Se você acha que esse show de horrores vai me atingir, está muito enganada! Eu sei de que grande parte disso é invenção sua e ainda mais, o que o Brian viria em você se realmente nunca quis nada contigo?!

A gêmea ficou calada e dei mais um passo, a assustando.

— Fazendo isso te deixa com má fama, sabia?

— E o que você fez, Crystal?! Também vai te deixar com má fama. E você nem merecia estar aqui pra falar a verdade, de talento só sobra a beleza de fachada que você tem. Você significa nada e é por isso que o Brian deixou você. Porque você é nada que possa ser valorizada, é um desperdício de pessoa, deveria ter ficado no seu canto desde do princípio ou até mesmo morrido no lugar de muita gente querida e amada!

Eu empurrei ela que caiu numa pequena fonte d'água e limpei discretamente o meu rosto.

— Você não se passa de uma patricinha metida a besta que se ilude com coisas que nem merece ter. — Digo, apontando pra ela que sorriu.

— Eu digo a você, o Brian merece alguém melhor e graças a Deus, nunca vai ser você, Fletcher. Você soube quebrar o coração dele duas vezes sem nenhuma misericórdia.

— Crys, não dê ouvidos pra ela. — Era o Nick que veio do meu lado e segurou o meu braço e olhou com ódio para a sua própria prima. — Quero só ver o que os seus pais vão achar disso depois de ver você na televisão.

— Se manda, pirralho!

O loiro foi me levando até o lado de fora, onde haviam mais pessoas em cima de mim fazendo perguntas, me xingando até entrarmos em algum automóvel e dar partida de volta para algum lugar. Minha mãe me abraçou sem fazer alguma pergunta e sentia os outros me consolando, mas eu não ouvia nada além do que a Sherry havia falado.

Eu realmente nem deveria existir e nem ter me apaixonado por ele.

— Crystal, chegamos. — Ouço a voz da Maya que me olhava preocupada e ela me ajudou a sair do carro e entramos no hotel. — Precisa descansar…

— Eu sei, Maya, eu sei. — Olhei pra ela e fomos até o elevador e subir até o andar do meu quarto.

Eu vi eles conversando entre si sobre algo e aquela maldita pergunta surgiu na minha cabeça e insistiu para eu falasse.

— Aquilo era verdade? — Howie, Nick e AJ olharam pra mim e ficaram em silêncio. — É mesmo verdade de que ele se cansou de mim e andou me evitando esse tempo todo?

— Crys, não sabemos da verdade. Sentimos muito. — Howie disse pelos três e surgiu outra pergunta na minha cabeça.

— E por que ele não veio? Aconteceu alguma coisa?

Eles se olharam e pareciam procurar saber quem iria responder primeiro.

— O que está acontecendo?!

— O Brian tá doente. — Nick afirmou olhando pra mim. — Nós suspendemos a turnê tem um mês e só voltaremos quando ele se recuperar da cirurgia que vai fazer amanhã.

— Como ele pode esconder isso de mim?!

— Crystal, provavelmente ele não queria que você se preocupasse…

— Eu fiquei preocupada do mesmo jeito, AJ! Toda a vez que eu ligava, ele ficou me evitando e se for por causa disso… — Comecei a chorar sentindo aqui dentro desmoronar. — Ele vai ficar bem?

— Mas é claro que vai, Crys. Não se preocupe.

— Vocês podem me levar até ele? — Olhei para eles que assentiram na mesma hora.

— Eu vou também. — Venice se ofereceu e o Ronnie se aproximou dela e falou alguma coisa pra ela que assentiu. — Quando vamos?

— Eu vou pra lá semana que vem. — Howie disse levantando a sua mão. — Eu posso ligar para o pais dele de que vocês duas também vão e… perguntar se o Kevin pode conceder a sua casa para vocês terem aonde ficar.

— Temos que voltar para Seattle pegar mais coisas e pegamos vôo para Kentucky. — Venice disse ficando do meu lado. — Bem… vamos torcer de que tudo vá se resolver.

Eu só balancei a cabeça e fui andando até o meu quarto colocando as coisas de volta na mala e fui me trocar por uma roupa básica, também tirei a maquiagem borrada da minha cara. Quando eu olhei para o pacote que estava ali em cima da cama, mamãe e o Ronnie entraram.

— Filha… — Olhei pra ela segurando a embalagem de papel. — Eu sinto muito pelo o que está acontecendo e eu sei que você tá colocando na cabeça o que aquela palerma falou na festa.

— Mãe, sem discursos, tá? — Olhei pra ela enxugando novamente o meu rosto e a mesma tomou o presente da minha mão. — Por favor…

— Elisabeth, você vai me ouvir. — Relutou, firme e forte. Olhei para o Ronnie e ele sinalizou para eu ouvir. — Realmente vai deixar aquela garota ignorante falar assim de você?! Eu te ensinei a se defender e provar a verdade. Eu sei que você fingiu ser outra pessoa para o Brian, mas isso já é passado e deve ser esquecido. Crystal, você vale muito do que qualquer coisa que existe nesse mundo cruel. Você é preciosa, meu anjo. Você tem muitas qualidades dentro do seu coração e isso é fato. Não deixe aquelas pessoas mudarem o seu jeito por causa de uns erros, seja quem realmente é e terá respeito de vários só por isso.

Eu assenti e ela me abraçou apertado, beijando a minha testa, daí me devolveu o presente.

— Eu estava organizando o sótão e encontrei isso. Estava bem guardado e me lembro que você adorava usar quando o… — Fiquei curiosa e fui abrindo, vendo um suéter em ótimo estado. — Você adorava usar quando o Caleb estava fora. Eu tive que esconder de você porque me faz lembrar quando eu dei a ele no primeiro aniversário do nosso casamento…

Foi de imediato abrir o suéter azul com detalhes cinza e vinho de tricô e me lembrar dele usando nos dias mais frios, de frente a lareira escutando a sua estação favorita da rádio. Involuntariamente, eu cheirei a peça para tentar me lembrar mais ainda do papai, mas só estava o cheiro de amaciante.

— Ele usou no dia em que você nasceu também. — Disse deixando as suas lágrimas caírem. — Esse suéter é seu agora, Crystal. Mesmo tendo o nome dele na etiqueta.

— Muito obrigada, mamãe. — Eu a abracei bem apertado e senti o Ronnie nos abraçar também.

— Eu sei que fico muito de fora com isso, mas quando eu vejo as fotos com ele e sinto como tivesse vivido com vocês, sabe? Eu vejo que ele era incrível.

— Ele era perfeito. — Digo com a minha voz ainda sendo abafada. — O Darius é maravilhoso e ele é o meu segundo pai.

— Ele sabe muito bem disso. — Ele disse e rimos. — Bem, Crystal. Eu e a mãe vamos voltar para Wellington e como você vai ver o Brian, quer que a gente leve a Summer pra fazenda?

— Sim, obrigada. Eu acho que não terei muito tempo para cuidar dela, então… podem levar a Summer pra lá, ela vai adorar.

— Crys, consegui as passagens para o vôo até Seattle. Daqui a uma hora e meia. — Venice apareceu e viu de que eu já estava pronta.

Pouco antes de ir embora, eu me despedi das minhas amigas e dos meninos, então me despedi da California. Hoje foi a pior noite da minha vida e aquela lagartixa sebosa vai se ver comigo quando menos imaginar. Essa história do Brian ter me deixado é muito mal contado e vou saber dele pessoalmente.