𝑸𝑼𝑬𝑬𝑵 𝑴𝑨𝑬𝑽𝑬 — 𝒊𝒎𝒂𝒈𝒊𝒏𝒆

Sua mão apertou a minha com força por baixo da grande mesa de vidro, seus dedos entrelaçados aos meus como alguém que se segurava para não cair de um penhasco. Ela me olhava pelos cantos dos olhos e se segurava para não deixar que um sorriso de lado escapasse. Eu apenas ouvia tudo o que Edgar dizia, com sua voz incrivelmente arrastada e grossa, me segurando para não dormir. Olhar para Maeve era a única coisa que me deixava calma, mas sequer isso eu poderia fazer com muita frequência em um ambiente cheio de pessoas. Especialmente onde boa parte delas eram tão leais a Stan Edgar.

Maeve deixou seu pescoço pender para trás, encostando-se na cadeira de couro preta. Edgar lançou-a um olhar hostil, ao qual ela não deu a mínima importância. Levantou-se, como se o seu chefe não estivesse no meio de um discurso, e andou a passos lentos e entediantes em direção ao bebedouro. Edgar exibiu uma feição de indignação, e fez um gesto com as mãos dando a entender que a reunião havia terminado. Todos se levantaram, com os corpos semelhantes a zumbis, entediados demais em ter que aguentar quase uma hora de uma discussão que no outro dia nem lembraria sobre o que era. Todos menos Capitão Pátria, que mantinha sua inigualável postura, porém lançava a Edgar olhares de tédio, sabendo que assim o provocaria. Mas a verdade era que sua simples presença já deixava o CEO completamente tenso.

Capitão Pátria caminhou em direção a Maeve, e meu corpo inteiro se enrijeceu. Ele passou a mão por sua cintura e se aproximou. Eu podia, mesmo de longe, sentir o quão tensa Maeve ficou com seu toque. Sua postura se tornou rígida, e sua mão apertou levemente o copo de plástico que segurava. Capitão Pátria inclinou-se para perto de seu rosto, e retirou uma mecha de seu cabelo colocando-a atrás de sua orelha, para em seguida sussurrar em seu ouvido.

Eu saltei da cadeira como se um ladrao houvesse entrado na sala. Olhares se estabeleceram em mim, porém Capitão Pátria continuou a falar algo a Maeve, com um sorriso nojento nos lábios. Ele olhava pra mim, o tempo todo. Sugava minha alma com suas iris penetrantes e eu não sabia se seu sorriso era direcionado a mim ou a Maeve. Qualquer uma das opções me dava nós na barriga.

E de repente ele se afastou, ainda com seu sorriso presunçoso. Se sentou em um sofá nas extremidades da sala onde Trem-Bala estava. Eu corri até Maeve, tentando não parecer desesperada demais. Ela estava branca como um papel, e seus olhos vagavam a procura dos meus.

— O que aconteceu? — Eu fingi querer beber água, pegando um copo. Maeve não respondeu, colocou sua mão em cima da minha entre a parede de nossos corpos, impedindo que qualquer um visse.

Seus olhos percorreram meus rosto até que pararam nos meus. Eu podia ler sua alma enquanto encarava aquela maré de olhos azuis. E sentia tudo o que eles queriam trasmitir. Maeve era intensa como o vento de um furacão, mas sabia esconder seus pensamentos muito bem. Menos de mim. Ela me olhava como se quisesse decorar cada linha de minhas iris e cada cor que se fundia e mesclava. Eu podia sentir o calor entre nossos corpos, e seus dedos em minha palma tornaram-se brasa.

Ela intercalava o olhar entre meus olhos e minha boca. Cada vez que parava para admirar meus lábios, eu sentia vontade de atacar os seus. O fogo se instalou no ambiente, e por segundos em senti que ambas queimavam. Eu queria apertar sua cintura macia, ter sua pele lisa sobre meus dedos e sua boca na minha.

Eu sabia que qualquer um que nos visse podia entender o que estava acontecendo. Mas por segundos eu não dei a mínima. E Maeve também não. Ela parecia obcecada em me fitar, e eu estava obcecada em admira-lá.

Não sei, genuinamente, quando Maeve começou a me olhar daquele jeito. Mas no momento que o fez, jamais consegui esquecer da intensidade. Eu sonhava todas as noites com os poderes por trás daquele simples olhar. Com as coisas que ela poderia fazer além de fitar minha boca.

Um limpar de garganta foi ouvido, e Luz-Estrela se aproximou de nós. Ela deu um sorriso amarelo e fez sinal para que olhassemos para o lado. Capitão Pátria fingia prestar atenção em coisas que Trem-Bala falava, porém ele nos olhava pelo canto dos olhos, fervendo de raiva. E eu sorri diante disso, muito satisfeita.

Maeve jogou seu copo de água no lixo, deu uma falsa tosse e voltou para seu assento na grande sala de reunião. Eu a acompanhei, mesmo sabendo que o olhar mortal do Capitão Pátria nos acompanhava. Me sentei ao seu lado e ela aproximou nossas cadeiras.

— Você é tão linda. — Maeve susurrou no meu ouvido, de forma discreta. Por um segundo eu pensei em pegar sua cintura e girar sua cadeira para minha frente. — Não sei como alguém como você se tornou parte desse grupo idiota. Mas que sorte a minha.

— Então aproveite sua sorte mais tarde. No momento, temos os olhos fulminantes de seu ex amante sobre nós. — Maeve bufou, e deu de ombros. — Dele e de todo o resto dos Seven.

— Você está certa. Mas manter minhas mãos longe de você é tão difícil. Como faz pra ser tão tentadora?

— É meu super poder.

— Ah claro. Esqueci que estou conversando com o feromônio em pessoa. — Eu ri, mas imediatamente me mantive seria.

— O que Capitão Pátria disse? — Percebi o momento em que o brilho deixou os olhos de Maeve.

— Que sabe sobre nós. — Eu não queria me sentir tão mal sobre isso, porém minha garganta se fechou diante da informação. Entre tantas pessoas no mundo, Capitão Pátria era o único que eu desejava mais do que tudo que jamais descobrisse sobre mim e Maeve. Mas ele sempre sabia de tudo. E subestimar isso era uma tolisse.

— O que vamos fazer? — Eu perguntei, falhando em esconder a preocupação em minha voz.

— Nada. Deixe que do Capitão Pátria cuido eu. Ele não irá fazer nada, eu prometo. Nem contar a ninguém. — Por algum motivo, eu acreditei em suas palavras. Ela estava confiante e se Maeve tinha algum plano, eu iria confiar nele.

Ela segurou minha mão por baixo da mesa e acariciou com as pontas dos dedos. Bastava que ela me tocasse, para que a paz reinasse dentro de mim. Maeve poderia ter uma incrível força, mas para mim aquele era seu super poder.

— Eu te amo, Maggie Shaw.

— Eu também te amo.