|| capítulo três
A VIAGEM DE LANCHA ATÉ OUTER BANKS durou um dia. Foi extremamente tranquila, Caroline e Rafe jogaram algumas partidas de truco - na qual a garota ganhou quase todas - depois eles foram dormir, e ao acordar os dois já conseguiam avistar Outer Banks.
Rafe desceu da lancha, segurando a mão de Caroline para ela descer logo em seguida. O loiro havia parado na frente de sua casa, onde eles teriam que andar apenas um pouco mais para chegar na mansão de TanyHill, juntamente com a mansão Casteli.
—— Não confio ainda no seu piloto automático —— Caroline começou a andar, escutando a risada de Rafe atrás dela. O garoto ficou ao lado dela, olhando para a garota enquanto andava ao seu lado —— Tipo... Como você só coloca o local que você quer ir, e um barco que nem tem mãos dirigi certamente? Não faz nenhum sentindo.
—— É a tecnologia, olhuda. O mundo evoluiu. —— Rafe virou seu rosto, admirando o sorriso de Caroline —— Só você que ainda está na grécia antiga —— Ele deu um passo para o lado, empurrando Caroline com seus ombros levemente, brincando com a garota. A garota olhou para Rafe, dando um soquinho de brincadeira no Cameron
—— Eu apenas aprecio a antiguidade —— Caroline olhou para Rafe, mordendo seus lábios em entusiasmo. Ela abaixou sua cabeça, soltando uma risada, Rafe fixou seu olhar na garota, sentindo uma imensa vontade de rir, apenas porque a garota riu também.
Conforme os dois foram se aproximando de suas casas, Caroline se afastou de Rafe, caminhando em direção a porta de entrada. Um deja-vu tomou conta de sua mente, e ela se lembrou de como foi sua havia entregado sua vida a Ward Cameron, como sua mãe escolheu entre o dinheiro e ela, tão facilmente.
Ao encostar na maçaneta, Caroline se virou, observando Rafe procurar a chave de sua casa. A loira atravessou a rua, se aproximando por trás do garoto, quando ela o cutucou, Rafe se virou, e ao sentir os braços da garota ao redor de seu corpo, o abraçando com firmeza, ele encarou os ombros de Caroline, erguendo suas sobrancelhas em dúvida, mas que logo passou quando sentiu o cheiro doce da garota entrar pelo seu nariz, a abraçando novamente.
—— Eu vou voltar para a minha antiga vida —— Caroline se afastou do garoto, forçando um sorriso de canto para ele
—— Espero que nessa nova vida, você não bata em mim a cada cinco segundos. Eu estou gostando dos abraços calorosos que venho recebido —— Rafe brincou com Caroline, e a mesma soltou uma risada nasal
—— Vou tentar não te odiar. —— Caroline sorriu para ele, sentindo um frio na barriga ao encarar as íris azuis de Rafe, que naquele momento estavam dilatadas —— Mas não garanto nada
O olhar de Rafe seguiu a garota até sua casa, e quando Caroline finalmente entrou, ele sorriu.
Sua casa parecia estar assombrada, estava tudo apagado, com algumas garrafas de bebidas alcoólicas jogadas pela casa. Caroline subiu as escadas, acendendo as luzes do corredor. Ela andou até seu quarto, sorrindo levemente ao ver que o mesmo continuava igual.
Ela começou a andar por seu quarto, passando a mão pelos móveis empoeirados. Caroline parou em frente ao espelho, tocando com seu dedo indicador na foto de Samuel. Ela sorriu, e pela primeira vez não sentiu nenhum tipo de aperto. No fundo, ela sabia que Samuel ficaria extremamente chateado se ficasse em sua memória apenas como uma perca, e não como um amigo.
Caroline abriu seu guarda-roupa, se ajoelhando na frente dele. Ela esticou sua mão, pegando a caixa que tinha seus patins artísticos. Caroline os segurou, fixando seu olhar nos patins, ela pensou de como sua vida estaria, se nunca tivesse voltado a Outer Banks. Como estaria sua carreira, se realmente teria ido para as olimpíadas, se iria conseguir tudo aquilo que um dia já desejou.
A garota se levantou ao escutar algumas vozes saírem do quarto de sua mãe. Caroline saiu de seu quarto, andando lentamente até o quarto de Teresa. Alguns gemidos saiam daquele cômodo, Caroline colocou seus ouvidos na porta, escutando com clareza os gritos de prazer de sua mãe.
Se Caroline realmente estivesse morta, Teresa não sofreria nenhuma dor, a não ser a dor de ser penetrada diversas vezes por um homem.
Caroline socou a porta de sua mãe, descendo as escadas furiosamente.
Ao escutar o barulho da escada, Caroline se virou, encarando sua mãe. Teresa parou no meio da escada, enquanto segurava sua pequena camisola, cobrindo seu corpo. Os cabelos de sua mãe estavam bagunçados, e sua respiração desregulada, quando um garoto, provavelmente quinze anos desceu do quarto, Caroline jogou suas mãos para cima, soltando uma risada áspera ao ver a idade do garoto comparada a sua mãe.
—— Estou feliz em ver que você suportou o luto, de uma forma tão adequada. —— Caroline encarou os olhos de sua mãe, que não conseguiu processar uma palavra —— O que foi? Impressionada porque eu estou viva, ou porque eu descobri que você prefere os homens... Garotos —— Corrigiu Caroline —— Mais novos que você?
—— Pode ir embora, amanhã você volta —— Teresa sussurrou para o garoto em seu lado, que correu até a porta, saindo da casa dos Casteli —— Eu... Você está viva
—— Cuidado para não engravidar, o garoto ainda não tem idade para ser pai —— Caroline andou até a cozinha, Teresa andou atrás da filha, tentando formular alguma palavra —— Cadê a Tonya?
—— Você volta, e a única coisa que você sabe me perguntar é cadê a Tonya? Nem perguntou se eu estou bem, como eu... —— A fala de Teresa foi interrompida. Caroline soltou um suspiro longo, cerrando seus olhos para sua mãe
—— Eu consegui ver que você superou o luto da melhor maneira possível, Teresa. —— Caroline disse áspera, não dando abertura para sua mãe tentar se justificar —— No momento eu não me importo com você, e nem como você... Superou o luto. Eu me importo com a Tonya.
—— A Tonya está presa. —— Teresa deu de ombros, fazendo um pequeno bico com sua boca
Caroline tentou assimilar o que sua mãe havia dito. Ela fechou seus olhos, colocando a palma de sua mão em sua testa. A voz de Teresa explicando como Tonya havia sido presa se tornou um silêncio, e a única coisa que passava na mente de Caroline era como Ward Cameron era inteligente.
Ward havia retirado Jason da cadeia, contado para ele que Caroline havia matado seu irmão, deixando o homem furioso, colocando ele no mesmo navio que Caroline. Ele sabia que ele tentaria matar a garota, e que não teria sucesso, e com o homem sumindo de vista, a culpa dos joelhos cairia em cima de Tonya. Um filha da pita inteligente.
—— Qual delegacia ela 'tá? —— Caroline interrompeu Teresa
—— Na delegacia de Outer Banks. —— O olhar de Teresa seguiu Caroline até a porta, encarando sua filha até ela sair.
Caroline coçou sua cabeça, pensando em algo que poderia fazer para tirar Tonya da cadeia, mas nada vinha em sua mente. Ela pediu um uber, esperando do lado de fora de sua casa. Teresa saiu até a porta, observando sua filha parada do lado de fora.
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Uma hora se passou, Caroline estava esperando sentada em um pequeno banquinho da delegacia. Ela via os olhares julgadores dos policiais para ela, mas aquilo não a afetava. Todos estavam surpresos por ver a garota viva. Afinal, ela tinha morrido há três meses atrás.
Quando Shoupe simbolizou com a mão para que Caroline pudesse entrar na cela, ele colocou sua mão na frente da garota, impedindo que Caroline entrasse dentro da cela.
—— Você mais do que ninguém sabe que seus amigos.. E você, está na mira da polícia —— Shoupe olhou para o pescoço de Caroline, vendo um corte no local —— Sabe disso, não sabe?
—— Eu sei que se você não me deixar entrar, eu mesma vou ser presa por agressão a um policial —— Caroline deu um tapa no braço de Shoupe, deixando a passagem livre para ela entrar
Tonya estava sentada atrás de uma mesinha, sua treinadora cutucava suas unhas, tirando suas cutículas com os próprios dedos, a expressão dela estava cabisbaixa, e as olheiras em baixo de seus olhos deixavam evidente que ela não tinha dormido fazia dias.
—— Bem que dizem que quando você ama alguém, as manias acabam passando para você —— Ao escutar a voz de Caroline, Tonya se levantou rapidamente. Sua expressão mudou, um sorriso de orelha a orelha cresceu em seu rosto, e os olhos de sua treinadora marejaram, sentindo uma imensa felicidade tomar conta de seu peito. Caroline sorriu para Tonya, vendo os olhos castanhos de Tonya brilharem para ela
Tonya correu até Caroline, a abraçando com firmeza. Sua treinadora a prendeu em seus braços, sentindo as lágrimas escorrerem pelos seus olhos. Caroline retribuiu o abraço, escutando sua treinadora chorar.
A Casteli se afastou de Tonya, segurando seu rosto
com suas duas mãos. Tonya encarou os olhos de Caroline, era como se um peso tivesse saído de seus ombros.
—— Você está viva mesmo? —— Tonya disse com a voz trêmula, enquanto sua boca estava tremendo —— Quer dizer, eu não durmo a dias e...
—— Calma, você ainda não está igual o Tyler Dunkel. —— Caroline beijou a testa de Tonya, que voltou a chorar —— Eu senti a sua falta, Tonya.
Caroline abraçou sua treinadora novamente, sentindo a mulher molhar cada vez mais sua blusa. As mãos de Caroline passaram pelos cabelos de Tonya, que chorava aliviadamente nos ombros de Caroline.
Naquele momento, Caroline percebeu que sua mãe era Tonya. Não Teresa. Mãe é quem cuida, quem ama. Tonya amava Caroline incondicionalmente, e era mais que recíproco. Caroline via sua treinadora como um pedaço de sua alma, cada pedaço de Caroline, tinha um pedaço de Tonya, e era assim com a treinadora também. Tonya nunca sentiu um amor tão forte com uma aluna, como sente com Caroline. A conexão das duas não era apenas na pista, não era só aluna e professora, era de mãe e filha.
—— Sua idiota! Nunca mais faz isso! —— Tonya deu um soco fraco no ombro de Caroline, soltando uma risada ao ver a Casteli sorrir —— Eu te amo, Caroline.
—— Eu também te amo. —— Caroline sorriu para Tonya, dando alguns tapinhas no rosto de sua treinadora
Tonya se sentou na cadeira, esperando que Caroline se sentasse em sua frente, e a mesma o fez. Tonya esticou suas mãos em cima da mesa, Caroline as segurou, massageando as mãos de Tonya
—— Como você... —— Tonya sorriu para Caroline, parando de falar. Ela segurou com mais firmeza a mão da loira, balançando sua cabeça negativamente —— Não importa. Quero saber o que você passou.
—— Eu estava em uma ilha deserta, não sabia nem fazer fogo. Foi uma humilhação! Me senti muito inútil! —— Caroline riu juntamente com Tonya —— Eu fiquei pensando na minha carreira... Nunca deveria ter largado ela assim, tão fácil.
—— Mas você pode voltar. Nunca é tarde
—— É exatamente o que o Rafe diz, mas... —— Tonya olhou para Caroline ao escutar a garota dizer o nome de Rafe. —— O que foi?
—— Você está apaixonada por ele. —— Tonya sussurrou aquelas palavras, apenas para Caroline escutar. A loira concordou com sua cabeça, suspirando com sua boca —— Não negou.
—— É... Não neguei. —— Caroline murmurou, dando um sorriso pequeno
—— Ele que me deixou em uma cela separada, para não ter riscos de alguém querer me bater. Sabe, eu não suportaria muito.
—— O Rafe sabe que você está aqui?
—— Sim. Ele veio aqui nas primeiras semanas, mas... Estava bem triste. —— Tonya sorriu para a loira, desviando seu olhar até o vidro, vendo Shoupe parado em frente a porta, esperando a hora que Caroline saísse
—— Vamos desviar o assunto... Porque você está aqui? —— Caroline olhou para o Shoupe, cerrando seu olhar para o policial —— É pela Sofia, não é?
—— Eu ainda sou culpada, sem ter feito nada. —— Tonya arrumou sua postura. Caroline viu que os olhos dela começaram a marejar —— Mas tudo bem. Tudo bem mesmo.
—— Eu vou te tirar daqui, como eu já tirei antes. —— A firmeza na voz de Caroline transmitiu uma certa segurança para Tonya, que sorriu para a garota
Shoupe bateu no vidro três vezes, indicando que o horário havia acabado. Ao se levantar, Caroline abraçou Tonya, beijando a bochecha de sua treinadora.
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Ao sair da delegacia, Caroline pediu um Uber, indo até a floricultura, comprando um buquê de lírios. Lírios é a flor que significa amor eterno, pureza de alma, inocência e inteligência, mas principalmente o amor eterno.
Caroline caminhou até o túmulo de Samuel, dando um sorriso ao ver que havia algumas flores em volta. A loira se ajoelhou na frente do túmulo dele, colocando o buquê ao lado da placa que tinha seu nome. Caroline deixou uma lágrima escorrer entre suas bochechas, enquanto ela encarava as fotos que alguns fans dele colocaram ali.
—— Lírios significam amor eterno. —— Caroline colocou suas mãos na coxa, ainda se mantendo ajoelhada —— Meu amor por você é eterno, Samuel.
Caroline encarou algumas fotos dele. Ela admirava as fotos do garoto patinando, e ao olhar para o lado, viu que tinha um quadro dos dois em uma competição. Sua primeira competição em dupla.
—— Irei voltar a patinar —— Caroline sorriu para o túmulo, passando a mão na grama que estava em volta —— Mas sozinha. Eu nunca nem vou cogitar em ter outro parceiro —— Caroline apertou a grama, sentindo seus dedos afundarem no chão. Ela abaixou sua cabeça, segurando sua respiração, limpando uma gota de água que escorreu de seus olhos —— Obrigada por ter sido o melhor amigo que alguém poderia ter. Eu não sei o que seria de mim sem você. —— Caroline se levantou, passando a mão em sua roupa, retirando a poeira que poderia estar nela —— Eu sou eternamente grata, Samuel.
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Quando seus pés tocaram dentro do grande prédio que ficava a pista de gelo, Caroline sentiu todos os olharem virados para ela. Eram olhares surpresos, se perguntando como a garota havia sobrevivido, ou olhares julgadores, se questionando o motivo de Caroline estar lá, sendo que sua treinadora estava presa.
Caroline não se importou com nenhum desses olhares, ela andava para frente, mantendo sua postura reta, e sua cabeça erguida. Ao se aproximar da pista, Caroline viu que Sofia estava apoiada na arquibancada, encarando cada passo que a Casteli dava. Caroline se aproximou dela, se apoiando na arquibancada ao seu lado
—— Vejo que está sem sua cadeira —— Caroline olhou de canto para Sofia, que revirou seus olhos ao escutar a frase da loira
—— Vejo que está viva. —— Sofia se virou para Caroline, a olhando de cima para baixo —— Não vou mentir, preferia que você estivesse morta.
—— Sua sinceridade me encanta, Sofia. —— Caroline se virou também, ficando frente a frente da garota —— Como está aqui? Já tomou meu lugar? Ou tentou pelo menos?
—— Seria fácil tomar o seu lugar, você nunca patinou tão bem.
—— Não era isso que todos os juízes diziam, Sofia. —— Caroline sorriu sarcasticamente para a garota em sua frente.
A inimizade delas começou quando Sofia começou a vencer todas as competições, apenas por ter muito dinheiro para investir em figurinos novos, já Caroline tinha que costurar suas próprias roupas para a competição. Mas aquela inimizade realmente ficou mais intensa quando Tonya escolheu Caroline para treinar, e não Sofia. Sofia sempre quis ser treinada por Tonya, a treinadora era uma das melhores, todas queriam, mas quando ela escolheu Caroline, e a garota começou a ter dinheiro para comprar suas próprias roupas, e ela começou a ter realmente o reconhecimento que merecia, Sofia ficou extremamente enfurecida.
—— Sabe Caroline, já se foi o tempo que você era a rainha da pista. —— Sofia se aproximou da Casteli, vendo o olhar de Caroline descer até seus joelhos, soltando uma risada maldosa —— Você não é mais a rainha do gelo, Caroline.
—— Posso não ser mais —— A loira se aproximou ainda mais de Sofia, deixando seus corpos a centímetros de distância. Sofia respirou fundo, vendo os olhos de Caroline a encararem intensamente —— Mas se eu fosse você, ainda não sentaria no trono —— Caroline murmurou aquelas palavras, se aproximando do ouvido de Sofia —— Vai que ele te espeta.
Caroline deu um tapinha no ombro de Sofia, deixando escapar uma risada áspera entre seus lábios. Sofia encarou a Casteli, e por alguns segundos desejou amargamente que a garota estivesse morta.
No fim Sofia sabia, Caroline iria conquistar tudo aquilo que perdeu, e mais um pouco. Ela tinha um talento irreal, e era algo que Sofia odiava admitir.
—— Sabe onde fica os testes para o cisne negro? Quero ver se ainda estou inscrita. —— Caroline se afastou de Sofia, mantendo seu tom de voz debochado
—— Fica a esquerda. —— Sofia disse rigidamente, se irritando com o sorriso de Caroline
—— Obrigada.
Caroline caminhou até a secretaria do prédio, mas parou no meio do caminho ao ver Rafe entrando em uma das salas da diretoria. A Casteli olhou em volta, vendo um zelador limpar a porta que Rafe havia entrado. Ela se aproximou, cutucando o funcionário, que se virou rapidamente
—— Caroline Casteli? —— O funcionário se levantou, limpando suas mãos em seu uniforme —— Você é muito mais bonita pessoalmente, do que na televisão
—— Obrigada! —— A Casteli sorriu para o funcionário, subindo seu olhar para a porta, vendo uma pequena placa "não entre, estamos em reunião" —— O homem loiro que entrou aqui, alto, com um bíceps bem grande, vários anéis na mão... Porque ele entrou aqui?
—— Como assim? —— O funcionário ergueu suas sobrancelhas, soltando a vassoura de sua mão
—— Porque ele entrou aqui na diretoria?
—— Porque ele é o dono daqui. —— O funcionário deu de ombros, dizendo como se fosse algo óbvio. Caroline abriu sua boca em choque —— Ele comprou esse prédio, e fez uma pista de gelo. Não sabia disso, senhorita Casteli?
—— Sabe que horas a reunião termina? —— Caroline coçou sua cabeça, encarando a porta em sua frente
—— Provavelmente ás oito da noite. —— O zelador deu um sorriso para Caroline —— Eu tenho que sair, mas foi um prazer te conhecer, anjo. —— O zelador a chamou do apelido que era conhecida no mundo da patinação. Caroline deu um sorriso, acenando para ele.
A garota se sentou em um dos banquinhos que havia ao lado da porta, esperando que Rafe saísse dali. Ela fez algumas coisas, como colocou seu nome novamente nas audições do cisne negro, viu as pessoas patinando, mas sempre voltava ao banquinho, esperando Rafe sair.
Caroline olhou para o relógio, que dava oito horas. Ela desviou seu olhar até a porta, vendo Rafe abrir a porta de seu carro. Caroline se levantou, andando em direção até o garoto.
Rafe respirou fundo, conseguindo ver a garota andar furiosamente até ele. Quando ele se virou, Caroline empurrou o peito do garoto, que deixou um sorriso cafajeste sair de seus lábios
—— Você saiu pelas portas dos fundos para não falar comigo!? —— Caroline ergueu suas sobrancelhas em dúvida
—— Sim —— Ele deu de ombros, encarando a garota em sua frente —— Quando me falaram que a "patinadora Caroline Casteli" estava me esperando, sabia que ia vir bomba
—— Bomba? Bomba é eu descobrir que você é dono daqui! —— Rafe riu com a reação da garota. Caroline se aproximou de Rafe, ficando a poucos centímetros de invadir seu espaço pessoal —— Porque você é dono daqui?
—— Porque eu sei que você gosta. —— Caroline fixou seu olhar nos olhos azuis de Rafe, que brilhavam intensamente para a garota. O garoto não conseguiu manter o contato visual, talvez porque sabia que queria a beijar mais que tudo naquele momento. Ele deu um passo para frente, deixando seus corpos quase colados —— E ver você viajando duas horas de carro, só para patinar, não era do meu agrado.
—— É muita gentileza sua, Rafe. —— Caroline colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, sorrindo para ele —— Ficar duas horas longe de você também não me agradava muito. —— Ela enfatizou o "longe de você"
O contato visual deles durou alguns segundos, até Rafe destravar seu carro, abrindo a porta do motorista. Ele fez um sinal com sua mão, dizendo para Caroline entrar.
—— Não, eu tenho que ir falar com alguns advogados... Vou tentar tirar a Tonya da cadeia, de uma vez. —— Caroline murmurou as últimas palavras. Rafe suspirou pesadamente, encarando seu reflexo pela janela. —— Eu acho que se eu...
—— Eu vou embora. —— Rafe disse aquilo com um certo desprezo. Ele não estava interessado a escutar a garota, e nem ao mesmo continuar naquela conversa, e ele não fazia muita questão de esconder. Caroline ficou alguns segundos em silêncio, vendo Rafe se virar de costas para ela, abrindo a porta do carro —— Você já tentou tirar ela uma vez, e não deu certo. Talvez...
—— Você é o culpado dela estar lá, foi você que quebrou os joelhos da garota. Ela está pagando por algo que você planejou. —— Caroline bateu a porta de Rafe, e o garoto se virou agressivamente para ela, mas ela só deu um sorriso para o garoto, não se sentindo nem um pouco assustada —— E eu vou tirar ela, de um jeito ou de outro.
—— Vai chamar o Jj para te ajudar? —— Rafe deu um passo para frente, colando seu corpo no de Caroline
—— Se ele estiver disposto a me ajudar, sim. —— Caroline sussurrou a última palavra. Rafe se afastou de Caroline, começando a andar de um lado para o outro, a Casteli conseguia ver que ele estava desconfortável em falar de Tonya na cadeia, só não sabia o porque —— Você não tentou, não é? Tirar ela de lá
Rafe ficou em silêncio, engolindo seco. Aquele silêncio entregava mais do que as palavras que ele poderia dizer naquele momento.
O Cameron sabia que Tonya era importante para Caroline, nos primeiros dias que ela estava "morta", ele a visitou, durou duas semanas, mas sempre que Rafe olhava para Tonya, ele via um vislumbre de Caroline, como se a garota sempre estivesse ali, mesmo não estando. Falar que Rafe não sofreu durante três meses pela suporta morte de Caroline, seria mentira, o garoto tentou tirar Tonya da cadeia, mas não conseguia olhar para a mulher sem se lembrar de Caroline.
—— Tenta ver o meu lado! Você estava morta! —— Rafe gritou, colocando suas mãos na cabeça —— Eu não sabia... Eu não...
—— Está tudo bem! Não é sua obrigação tentar tirar ela da cadeia —— Caroline tentou se afastar do garoto, mas ele a segurou. Ela o empurrou, cerrando seu olhar para ele —— Eu não estou brava Rafe! Caramba! Não precisa me segurar!
—— Desculpa... Eu não queria te segurar —— Rafe se afastou da garota, encarando os olhos dela. Ele pensou que Caroline iria o odiar, ou algo parecido, não que iria compreender. —— Me desculpa.
—— Relaxa. Não era sua obrigação, tá legal? —— Caroline engoliu seco, tentando demostrar que realmente não estava chateada, mas ela estava, um pouco, mas estava. —— Eu só estou um pouco chateada, mas tudo bem. Não era a sua obrigação, e eu entendo.
Caroline observou algumas lágrimas caírem do rosto de Rafe, ela não entendia o porque do garoto estar tão sentimental. A Casteli ergueu suas sobrancelhas em dúvida, Rafe segurava mais ainda seu choro, e quando ele se virou de costas para Caroline, a loira segurou seu braço, virando o garoto para ela
—— Me desculpa... Foi um pouco difícil sem você. —— A voz do garoto ficou trêmula, e ele viu que as lágrimas começaram a cair de uma forma intensa. Rafe colocou a mão na sua testa, tentando esconder as lágrimas que escorriam.
Caroline se aproximou do Cameron, segurando suas mãos. Ela retirou com delicadeza do rosto dele, o vendo completamente vermelho, juntamente com seus olhos. Caroline puxou Rafe para seus braços, o Cameron afundou seu rosto no pescoço da garota, sentindo as mãos de Caroline abraçarem suas costas.
—— Eu 'tô aqui, 'tá legal? —— Caroline murmurou aquelas palavras no ouvido de Rafe, vendo o garoto completamente entregue em seus braços
—— Caroline foi tão difícil, eu não... Eu tentei seguir em frente, mas eu não consegui. Eu... Eu pensei que tinha perdido um pedaço de mim, eu pensei que você estava morta! —— Rafe se afastou de Caroline, sentindo a garota limpar as lágrimas de suas bochechas —— Eu nunca mais quero te deixar, Caroline. Eu sei que eu posso viver sem você, mas eu não quero.
—— Você não vai, está tudo bem. —— Caroline passou as mãos nos cabelos loiros de Rafe, massageando a cabeça dele —— Eu estou aqui.
Ele se afastou, secando suas próprias lágrimas. Caroline olhou para o Cameron, vendo o garoto chorar para ela, e por ela. Ela não sabia exatamente o que dizer para Rafe, não conseguia pensar em uma palavra certa, ou até mesmo em uma frase. Mas seus olhos diziam por ela. Ela havia sentido falta dele também.
—— Posso te levar para casa? —— Depois de um longo período em silêncio, Rafe o quebrou, dando um pequeno sorriso para a loira em sua frente
Caroline não o respondeu, apenas entrou dentro do carro, se sentando no banco do passageiro. Rafe sorriu ao ver a garota entrar, entrando no carro logo em seguida.
O silêncio que ficava entre eles, não era desconfortável, pelo contrário, dizia muito do que ambas as mentes estavam pensando. Rafe não conseguia manter seus olhos na estrada por muito tempo, ele sempre virava seu olhar - nem que seja por um instante - na loira ao seu lado, e sempre que ele se virava, ele via que Caroline já estava o observando. Ambos sorriam ao mesmo tempo, deixando sempre uma risada baixa sair de ambos os lábios.
Quando Rafe estacionou na frente da casa da Casteli, consequentemente em frente a sua casa também, os dois desceram do carro. Caroline andou até ficar na frente de Rafe, ela tocou no ombro do garoto, que deu um sorriso ao sentir o toque
—— Tchau —— Ela sorriu, andando até sua casa
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Ao chegar, ela procurou sua mãe pelos cômodos de sua casa, mas não a encontrou. Provavelmente ela havia saído, como sempre. Teresa era especialista em evitar sua própria filha.
Caroline foi direto para seu quarto, ela estava determinada a voltar a patinar. Ela se abaixou embaixo de sua cama, pegando o par de seus patins, passando um pano nas lâminas e no couro, deixando eles brilhosos mais uma vez.
A loira pegou mais uma caixa, vendo algumas roupas de suas competições passadas. Ela segurou em suas mãos um vestido que havia usado em uma das suas primeiras apresentações, cerca de 2017.
Caroline retirou sua roupa, tentando colocar o vestido, mas não coube nela. Ela sentiu uma pontada de decepção, sabia que desde aquela época seu corpo havia se modificado, seus seios haviam ficado maiores, juntamente com sua bunda, mas por algum motivo ela não queria aceitar que era aquilo. Ela havia engordado. Só de pensar na ideia de ter engordado, ela entrou em colapso, sua mente pensou em diferentes formas de emagrecer novamente, talvez cortando suas gorduras de sua barriga, o vestido iria a servir novamente, ou se ela ficasse dias sem comer. Ela pensou em tantas formas diferentes de emagrecer novamente, sendo que era claro que a garota havia perdido apenas quilos, e não ganhado.
Ela desceu rapidamente até a cozinha, sentindo uma fome imensa. Quando ela abriu o armário, e viu um pacote de cookies, ela não excitou em comer aquele pacote todo, pensando que sua fome iria passar. Mas não passou, ela ainda continuava com fome. Um pacote de cookies, virou três em sua mão, e ela ainda não estava satisfeita, seu estômago ainda doía - talvez não fosse mais de fome, ou talvez nunca tenha sido -
Ela abriu sua geladeira, observando um bolo. Um pedaço não faria mal, faria? Caroline o colocou na mesa, pegando um garfo e comendo apenas um pedaço de bolo, jurando para si mesma que estava no controle. Mas ela ainda estava com fome. Ela comeu mais um pedaço, sentindo toda a sua dor, toda a sua angústia e ansiedade, irem embora com o chantilly, que descia para seu estômago. Ela fechou seus olhos em um grande prazer, comendo mais um pedaço de bolo. Um, dois, três, dez, vinte, um bolo inteiro, mas ela ainda estava com fome. Caroline abriu a geladeira, tentando procurar algo, encontrando um pote de arroz e feijão. Ela se sentou no chão, comendo aquela comida com o garfo do bolo. A comida descia com tanta vontade, como se sua vida dependesse daquilo, como se sua felicidade dependesse aquilo.
Caroline se levantou do chão, mas ainda sim sentia fome. Ela abriu o armário de baixo, vendo um pacote de coco ralado. Ela o abriu com suas próprias mãos, despejando todo o coco em sua boca. Aquilo nem fazia sentindo, ela odiava coco.
Caroline abriu todos os seus armários, jogando todas as embalagens de comida que tinha ali. Em menos de alguns minutos, ela havia conseguindo comer cinco pacotes de salgadinhos, mas ela ainda estava com fome. Ela pegou algumas barras de chocolate, colocando todas em sua boca.
Ela não estava mais com fome.
A loira correu até o banheiro, sentindo as lágrimas caírem sob seu rosto. Ela colocou sua mão dentro de sua boca, a afundando até a garganta, sentindo todo o prazer, toda a felicidade que sentiu comendo aquelas comidas, se tornarem em uma culpa intensa, se sentindo uma porca por ter comido tanto.
O vomito saiu, a comida toda que ela havia comido havia saído, mas a culpa, o desespero, não.
Caroline se sentou no chão do banheiro, apoiando suas mãos em seus joelhos. Ela passou a mão em seus cabelos, os puxando com força.
Ela se esticou um pouco, pegando seu celular que havia caído ao lado do vaso. Sem pensar, ela ligou para Sarah, e quando a Cameron atendeu, Caroline só conseguia chorar.
Sarah não demorou para chegar na casa da Casteli, mas quando chegou e Caroline não abriu a porta para ela, aquilo a preocupou. Ela arrombou a porta, começando a procurar a loira por toda a casa. Quando chegou na cozinha, e viu tantas embalagens jogadas no chão, Sarah soube exatamente do que se tratava, e correu para o banheiro.
Caroline poderia dizer que conseguia fazer aquilo sozinha, que não precisava de ninguém, mas ela precisava, e ela teve essa confirmação quando sentiu os braços de Sarah agarrarem seu corpo, sentindo como a garota a agarrou, preocupada com o que ela poderia fazer.
—— Eu estou aqui, está tudo bem. Caroline está tudo bem. —— Sarah repetia as palavras constantemente para Caroline, que chorava cada vez mais em seus braços. Sarah tentava levar um sentimento de afirmação para ela, mas as duas sabiam que ela não estava bem
Caroline segurou com firmeza os braço de Sarah, colocando sua cabeça em seu peito.
Ela sentiu confiança.
esse capítulo foi mais para mostrar ela voltando,
ja que na série eles estão no barco voltando pra outer banks, e como a caroline fugiu com o rafe, nem deu HAHAHAHA
a caroline voltando pra patinação, e
já aviso, vai ser um arraso!
a amizade da sarah e da carol ainda
tem muito pra evoluir, e vai evoluir demais nesse ato!
vocês já perceberam que esse ato vai ser
do rafe e da carol né? KAHAHAH
espero que vocês estejam gostando do ato 3,
se quiserem dar algum palpite ou uma opinião,
eu estou aqui para ouvir!!
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