068
Os saltos verdes esmeraldas da Rainha Alicent pisavam fundo pelos corredores da imensa Fortaleza, seu vestido atrapalhando a rapidez que ela usava para andar e chegar nos aposentos do filho.
Apesar da tempestade ter diminuído, ainda estava presente na mente da Hightower, inquieta com as novas notícias que seu fiel escudeiro havia lhe dado o privilégio de saber. Independente de haver um relacionamento ou não nessa situação, a ruiva não queria seu filho em qualquer tipo de interação com um membro do time preto.
Era um perigo, era arriscado, era falso.
Alicent sentiu algo se agitar em seu sangue. Algo proibido e perigoso, tanto para os Sete Reinos quanto para sua própria família. Uma tentação perigosa à qual ela jamais cederia. Não quando isso colocaria em risco a vida de seus filhos.
Rhaenys estava fora de cogitação.
A mulher abriu a porta dos aposentos de Aemond sem se preocupar em bater, um longo e alto suspiro escapando de suas narinas ao entrar e fechar a porta atrás de si. O filho pareceu assustado e surpreso com a súbita aparição dela, mas logo voltou ao que estava fazendo, de costas para ela.
— Aemond. — ela sibilou. — Acho que você tem algo a me dizer. — Alicent encontrou seu filho completamente parado, onde ele estava ouvindo a chuva, observando-a bater contra o vidro. Um olhar suave de melancolia em sua expressão normalmente estoica.
Aemond ergueu uma sobrancelha para a mãe, porém se manteve com o olho restante observando as gotas d'água que se acumulavam no vidro abafado da neblina e o clima frio que surgiu de repente na capital. O príncipe resmungou algo em um tom baixo de voz e então finalmente se virou um pouco para que pudesse enxergar a mãe no escuro do quarto.
— Eu tenho, na verdade. — disse o príncipe com sua expressão neutra de sempre. — Aegon engravidou mais uma prostituta da Rua da Seda, mais um bastardo está sendo gerado no ventre de uma nascida baixa. — ele comentou com certa frieza, não dando tanta importância ao assunto e apenas querendo se manter em silêncio, em seu próprio mundo.
Alicent o encarou em silêncio. Ela odiava tudo o que Aegon estava fazendo, mas havia aceitado isso como um mal necessário. O príncipe não era mais uma criança e podia fazer o que quisesse com sua vida e seus aposentos.
Isso não significava que seu filho deveria ser uma cópia do irmão. Ele precisava ser mais responsável.
— Você entende que não fazemos isso na minha família, certo? — advertiu a rainha com uma voz tão gelada quanto o vento que vinha de fora. — Não trazemos a vergonha dos bastardos para nossa família.
Alicent não perdeu tempo pensando que essa informação não era algo completamente novo. De fato, muitas das escapadas de Aegon já haviam sido ouvidas ao longo dos anos. Essa informação não foi o motivo de sua visita a Aemond, mas ela viu a calma do rapaz e ficou ainda mais irritada com isso.
— Mas não era sobre isso que eu queria falar com você esta noite. — disse ela com a voz mais baixa. Alicent deu um passo à frente. Seu tom era calmo, mas sua voz era aguda e severa, as mãos de Alicent se fecharam em punhos ao seu lado, os cantos de seus lábios se contraíram. — Você tem passado algum tempo sozinho com Rhaenys.
— O quê? — perguntou o príncipe, ainda virado para a frente, enquanto as palavras de sua mãe o faziam pular, como se tivessem atingido seus ouvidos.
Alicent limpou a garganta.
— Foi-me relatado que você e Rhaenys têm passado algum tempo juntos, com a recém nascida Visenya. Isso é verdade, flho?
Aemond ficou em silêncio por um momento, pensando no que dizer. O príncipe suspirou e se recostou na cama, com o olho ainda fixo na janela e na fraca chuva que caía do lado de fora, o clima sombrio e melancólico.
— Mentiram para você. — Aemond disss de forma calma e simples, braços cruzados na frente do peito.
A mandíbula de Alicent se contraiu e seus lábios se contorceram, suas mãos ainda estavam fechadas em punhos contra seus lados, suas unhas pressionando suas palmas.
— Não minta para mim. Não seja igual a Aegon.
Silêncio. O som do vento leve soprando do lado de fora era a única coisa que permeava os aposentos do príncipe naquele momento.
Aemond suspirou. Mais uma vez.
— Não estou mentindo para você, mãe. — disse ele ao se virar para encará-la.
O mesmo suspiro foi ouvido saindo dos labios da Hightower, enquanto sua mente se bagunçava em informações e cansaço físico. A ruiva se sentou em uma das poltranas do quarto do filho e olhou diretamente para ele, com uma expressão que demonstrava preocupação, amor materno, raiva.
Muitas emoções positivas e negativas ao mesmo tempo.
A rainha esticou sua mão para sobrepor a do filho, e deu um leve aperto.
— Sor Criston me informou que você estava segurando a neném nos braços essa manhã, enquanto conversava com Rhaenys Velaryon. — a mulher comentou de forma mais direta, seus olhos castanhos estavam fixados no olho azul brilhante do filho. — Aemond. — ela chamou a atenção dele, como se estivesse o pond de castigo.
O príncipe virou o rosto para olhar a mãe e mordeu o interior da bochecha, ganhando tempo para pensar no que ele diria. Ele nunca teve ninguém desconfiando dele antes, afinal, Aemond era o total oposto de Aegon e não dava razões para que sua mãe sentisse qualquer tipo de humilhação ou desconfiança contra sua pessoa.
Mas aqui estava ele, tomando esse risco.
Por ela.
— Estava apenas conhecendo a criança. — comentou ele, tentando se explicar para a mãe. Porém havia algo no tom de voz dele, como se toda a sua fachada fria e melancólica tivesse ido embora e apenas o garoto da mamãe estivesse ali, sentindo que estava decepcionando a mãe com seus segredos não revelados.
Segredos os quais ele queria manter apenas para si mesmo, por um bom tempo.
Alicent podia ver a mudança no olhar de Aemond. Ela sabia o que o filho queria dizer, e havia algo nos sentimentos do filho pela outra princesa Targaryen que fazia seu sangue ferver. Ela queria gritar com ele, bater nele, fazer algo em resposta à raiva que sentia. Mas ela sabia que isso seria inútil.
— Eu sei, — ela finalmente respondeu, soltando as mãos, deixando-as penduradas frouxamente ao lado do corpo. — Não confie nela. — advertiu.
Aemond voltou a olhar para a janela e ficou em silêncio por alguns segundos. Ele respirou fundo novamente e respondeu em um tom calmo.
— Foi apenas uma forma de tentar provocar o irmão bastardo dela. — Aemond disse baixo, mentindo mais uma vez como uma forma de terminar o assunto e ser deixado quieto no silêncio de seus aposentos.
Ele olhou de volta para ela, com uma expressão ainda neutra e despreocupada, mas seus olhos eram diferentes. Eles estavam cheios de uma espécie de desejo e anseio, embora ainda contidos no momento.
Alicent por outro lado, pareceu extender o assunto ainda mais quando escutou a palavra 'provocar' saindo dos lábios do filho. Ela colocou ambas mãos no rosto e fez um baixo sibilar para os Sete, tentando entender qual era a parte em que Aemond não tinha aprendido sobre os acontecimentos do passado, a tragédia de Driftmark.
— Provocar? — disse ela e então levantou a cabeça para encarar o filho com um olhar diferente do comum. — Você já perdeu um olho por provocar um deles, gostaria de perder a língua agora? Talvez se você acabasse perdendo seu outro olho por provocar, aprendesse algo com isso! — a rainha disse com uma alteração de volume em sua voz, as mãos agora agarrando os braços de Aemond com força.
Aemond assentiu levemente com a cabeça, sua expressão era neutra.
— Confie em mim, mãe. Não preciso ser avisado sobre ela, ou nenhum deles. — respondeu ele com um tom de irritação na voz. — Ela é o erro, lembra-se? — continuou ele, cerrando os dentes e apertando a mandíbula em uma forte mordida.
Ela sempre soube que o coração de um de seus filhos seria aquele que a quebraria, e o fato de ele estar falando de Rhaenyra Targaryen com tanta calma não a encheu de confiança.
— Lembre-se de que é seu dever estar do nosso lado. — Alicent lembrou Aemond. — Quando Rhaenyra ascender no trono, toda a desgraça que se acumulou vai quebrar para a nossa direção, e ela não terá nenhuma piedade pela sua vida, a vida de seus irmãos e sua própria mãe.
Aemond assentiu lentamente com a cabeça. As palavras de sua mãe o fizeram se sentir apreensivo, mas ele não podia controlar o que sentia.
Ele amava Alicent, é claro, em pedaços, mas também gostava do fato de Rhaenys não lhe pedir nada nem esperar nada dele em troca. Gostava de satisfazer os desejos dele com ela, e vice versa.
— Já estou do seu lado, mãe. — disse Aemond em um tom um tanto amargo. Ele olhou para o teto como se estivesse contando os pontos de água que pingavam do telhado.
Alicent deu um passo para perto do filho, colocando a mão em seu braço mais uma vez. Ela tinha algo a dizer, mas era difícil para ela deixar as palavras saírem.
— Aemond. — ela murmurou baixinho. — Eu o aprecio, meu filho. E você sabe que confio em você mais do que em qualquer outra pessoa. — continuou a rainha. — Mas espero que se lembre de que seu coração pertence ao meu lado, ao lado dos seus irmãos e seu avô.
A rainha deu um beijo na testa do filho e segurou no queixo dele, os olhos dela cheios de lágrimas como se realmente estivesse emocionada com a situação.
— Não se envolva de nenhuma forma com aquelas pessoas, não os provoque. — seu tom mudou outra vez, e a rainha se levantou da poltrana fungando baixo, limpando uma única lágrima que escorreu pela bochecha. — Não seja estúpido e idiota mais uma vez.
Aemond baixou o olhar para encontrar o da mãe depois de ter ignorado o toque dela. Ele não respondeu de imediato, como se estivesse contemplando algo em seu interior.
Finalmente, ele olhou para a direita, de frente para a janela novamente, para a noite escura.
A rainha soltou outro longo e alto suspiro pelas narinas avermelhadas do frio e deu um último beijo na testa do filho, antes de devagar começar a se dirigir até a grande porta dos aposentos dele. Porém, alguns segundos antes dela sair do quarto, a Hightower se virou uma última vez com um belo e simpático sorriso em seus lábios, mas que parecia falso se analisado por muito tempo.
— Você já está com 21 dias de seu nome, Aemond. — disse ela, com uma breve pausa. — Talvez esteja na hora de começar a procurar suas pretendentes para um casamento e uma aliança, filho.
Aemond ainda estava olhando para a janela fria. Em apenas alguns segundos, o príncipe soltou um suspiro pesado.
— Eu entendo, mãe. — disse ele em voz baixa. Depois de mais alguns segundos e muito silêncio no ar, o filho de Alicent finalmente voltou o rosto para ela. Ele tinha uma expressão triste e desapontada no rosto, mas também parecia determinado. — Eu lhe obedecerei, custe o que custar. — Aemond disse com um pouco mais de firmeza em sua voz.
As palavras tocaram o coração de Alicent como adagaa pontudas. Elas não pareciam genuínas para ela, mas sim o que um filho obediente diria em resposta às ordens de sua mãe. Os lábios de Alicent se apertaram em uma linha rígida e sombria, e ela respirou fundo e soltou o ar lentamente.
Seu filho estava fazendo a coisa certa, mas ela ainda não estava totalmente satisfeita.
Talvez nunca estivesse.
[...]
As ruas da capital de Porto Real estavam úmidas e cheias de poças depois de dois dias seguidos de chuva forte. As pessoas se aventuraram a sair, felizes por terem o sol novamente, mesmo que por pouco tempo. Parecia que os deuses haviam sorrido para eles e retirado a maldição da chuva, apenas por um momento, para que pudessem ver a luz do sol novamente antes que a escuridão caísse mais uma vez.
O ar ainda carregava o cheiro de petrichor e madeira úmida, e o sol fazia bem à pele.
Um sol brilhante e reluzente atravessou as nuvens e, pela primeira vez em mais de dois dias, a cidade foi iluminada por sua luz quente. O vento ainda estava presente, com algumas rajadas pequenas aqui e ali, mas, na maior parte do tempo, tudo estava tranquilo.
Porém, no fosso dos dragões, uma pequena comoção acontecia entre eles. Tessarion estava inquieta e agressiva pois havia acabado de terminar seu ninho para colocar seus ovos, e não queria que ninguém se aproximasse além de sua montadora. Vhagar parecia estar resmungando e rugindo alto demais na costa do mar, como se estivesse incomodada com a barulheira dos outros dragões do fosso.
Mas os dragões pareciam estar se agitando ainda mais com a chegada de um dragão quase desconhecido, seu cheiro era diferente, sua fisionomia era diferente das que eles já estavam acostumados a ver todos os dias.
Por isso, quando o dragão do príncipe Daeron pousou no fosso com rugidos e batidas de asas fortes, vários dos outros ficaram tentando se comunicar com seus montadores, independente de estarem longes.
O dragão macho e perolado com detalhes de escamas pretas era formidável e lindo, do mesmo tamanho de Tessarion.
Seastar, ou A Tempestade Prateada, demorou alguns minutos para se adaptar ao novo local. Novos dragões, novo clima, novos cheiros, novas pessoas.
Tudo era novo, mas ao mesmo tempo igual.
As escamas da Seastar brilhavam à luz do sol, cintilando e reluzindo como prata em movimento. Quando a criatura se levantou para experimentar totalmente o novo ambiente, ela estendeu as asas, absorvendo o ar fresco. Ela soltou um rugido profundo, saudando seus companheiros dragões. O corpo de Seastar era musculoso e poderoso, uma prova de sua força e ferocidade.
O Príncipe Daeron sorriu com a cena de seu dragão se sentindo mais livre, já que Oldtown não era exatamente um local projetado para manter um dragão.
— Ah, estou em casa! — ele disse para si mesmo, deixando que seu dragão voasse livremente pelos céus enquanto caminhaca em direção a carruagem já preparada especialmente para a volta do príncipe. Diversos guardas saudaram o Targaryen caçula quando passaram por ele o guiaram até a porta do grande transporte, aconchegante e rico.
Da forma como ele gostava.
— Vamos embora. Estou cansado da longa viagem. E faça isso com velocidade, não se importe com as pessoas que atravessarem a passagem da minha carruagem. — o príncipe ordenou ao guarda com a cara e a voz séria, porém com uma grande porção de alegria e brincadeiras. — Não ouse questionar minha ordem. Você sabe como será seu destino se recusar!
Ele sempre foi assim e agora, depois de aprender a arte da guerra no campo de batalha. Mas Daeron havia amadurecido muito durante seus anos afastado de King's Landing, a mando de seu avô.
O príncipe Targaryen mais jovem entrou na carruagem rica e aconchegante, respirando fundo para tentar relaxar, depois do estresse de Oldtown. Ele se recostou na poltrona macia, tirou a capa e a colocou sobre o assento ao seu lado, enquanto esperava o início do pequeno caminho do fosso até o castelo.
As ruas continuaram as mesmas; cheias de ratos, pessoas de baixa renda e o cheiro azedo misturado com putrefação. Ele certamente não havia sentido falta desta parte da cidade, mas ainda sim era bom ver algo diferente além de meistres e septos, campos de flores e pomares de romãs a cada diferente lugar que se visitava.
Daeron havia cochilado enquanto aguardava o início da viagem. Ele acordou algum tempo depois, com uma batida na janela. Ao abrir os olhos, viu que os portões do castelo estavam se aproximando
Daeron bocejou e se espreguiçou, levantando-se para se movimentar. Ele olhou novamente pela janela e respirou fundo para tentar relaxar, escutando alguém chamar por seu nome.
Ele abriu a pequena janela para ver uma pequena e doce criada, com cachos dourados e um vestido vermelho.
— Chegamos ao seu destino, meu príncipe. — ela disse, com um grande e respeitoso sorriso no rosto.
O príncipe Daeron sorriu de volta, acenando com a cabeça e dando-lhe um aceno amigável.
— Muito obrigado. — ele piscou para a serva e abriu um grande sorriso novamente, abrindo a porta da carruagem antes mesmo que os guardas pudessem reagir ou parar corretamente o veículo. O Príncipe tinha uma personalidade bem energética, considerando o quão introvertido e quieto ele foi durante o pouco tempo de infância que passou em King's Landing.
Uma corneta foi tocada para que os portões se abrissem e deixassem que o príncipe entrasse. Demorou alguns minutos, mas finalmente as grandes e antigas portas se abriram ems uma lentidão agonizante, onde no fim acabou dando diretamente para o pátio principal de treinamento. O príncipe sentiu a palma da sua mão começar a suar com o nervosismo e a ansiedade, agora estava real demais o fato de que ele estava de volta em casa, para os braços de sua querida família e sua adorável mãe e pai.
Talvez não tão adoráveis, mas receptivos.
Assim que o príncipe deu os primeiros passos para dentro da Fortaleza Vermelha, seus grandes olhos azuis acinzentados se moveram para a recepção que lhe esperava em frente os portões, uns com sorrisos, outros apenas estando lá para ver ele.
Além das pessoas da corte e os guardas, praticamente toda a família Targaryen estava no pátio para dar as boas-vindas ao príncipe Daeron, com excessão do Rei.
Os três irmãos dele, Aemond, Helaena e Aegon mostravam diferentes reações com sua chegada. Um estando quieto e sério, outra estando com um grande sorriso nos labios rosadas e o outro parecia estar alterado por alguma razão, como se estivesse quase dormindo em pé.
A Rainha Alicent vestia seu símbolo e típico vestido verde quando se aproximou do filho com um pequeno sorriso, abraçando o menino com uma certa força que impressionou o príncipe. Porém, no fim ele retribuiu o abraço sem contradizer ou comentar nada, apenas saboreando do mínimo carinho que estava recebendo de sua mãe depois de longos anos sem receber absolutamente nada, além de cartas.
Não importava que seus irmãos não estivessem exatamente felizes em vê-lo. Pelo menos sua mãe, pela primeira vez, demonstrou algum amor e carinho por ele.
Ele sorriu.
— Você não sabe o quanto eu queria isso. — ele sussurrou para a mãe enquanto a abraçava com força. Daeron ficou surpreso que ela realmente o abraçou, pela primeira vez. Ela não o afastou e agiu como se ele não existisse, como normalmente fazia. — Senti muito a sua falta.
Ele sentia tanta falta de sua mãe que chegava a doer. Doía toda vez que ela aparecia em eventos e ignorava sua existência, como se ele fosse apenas o quarto e último filho. Ou como Otto costumava sussurrar pelos cantos do castelo, o filho fraco.
Após alguns minutos, o príncipe se desvencilhou do abraço com a Rainha e sorriu para ele de forma calorosa, antes de virar seu rosto para olhar os irmãos e a irmã. Por incrível que pareça, apesar da exclusão que Daeron sempre foi familiarizado, não havia nada mais que ele queria nesse momento além de ir abraçar cada um dos três Targaryen.
Ele se aproximou de sua irmã Helaena, que estava com um grande sorriso no rosto, e a abraçou também.
A princesa recebeu o irmão com braços bem abertos e um sorriso animado enfeitando seu rosto, seu cabelo platinado preso em tranças se mexia com a brisa calma do clima claro. Helaena estava animada para ver o irmão, fazia anos desde a última vez e a gentileza e consideração do caçula a fazia se sentir feliz no meio de toda a convivência miserável e sofrida que ela vivia, ela adorava toda a aura carinhosa e amorosa que Daeron transmitia.
Não muito depois, o príncipe foi até o irmão Aegon para lhe dar um abraço também. O mais velho tinha um sorriso torto, olhos mal abertos e cabelo todo bagunçado sem ser do vento. Daeron não era bobo, sabia bem do comportamento imprudente do príncipe e suas escapadas noturnos diárias, porém não era algo que incrementava nos seus pensamentos do irmão. De qualquer forma, apesar da confusão do homem, Daeron o abraçou com saudades e carinho.
O último foi o irmão Aemond, o do meio. Aemond acabou sendo sempre mais próximo de Daeron do que qualquer outro irmão deles. Ambos eram os dois últimos filhos homens, esquecidos pela coroa na sucessão ou em qualquer outra situação envolvend política, ou família. No início, o príncipe Aemond apenas deu um aceno com a cabeça para desejar suas boas vindas em um silêncio ensurdecedor, mas Daeron foi mais caloroso e obrigou o mais velho a lhe dar um abraça forte e algumas batidas nas costas.
Após o término das saudações, Daeron soltou um alto suspiro e um grande sorriso.
— Então, o que eu perdi, doce e amada família? — disse o príncipe com sua voz carregada do mais puro sarcasmo, seu cabelo platinado e curto bagunçado com o vento e as interações familiares.
Sua pergunta logo teve a primeira resposta, quando a outra parte da família teve seus primeiros passos em direção ao pátio.
O príncipe virou seu corpo quando escutou as conversas e as vozes que eram tanto familiares quando forasteiras para ele, mas seus olhos foram rápidos em parar na pessoa que Daeron não estava esperando encontrar tão cedo. Ou pelo menos, não após tantos anos longes e sem se falarem nem por cartas.
Ele olhou para ver se conseguia ver sua mãe ao seu lado, mas parecia que ela estava longe em seus próprios pensamentos. Era uma voz que lhe trazia muitas lembranças, uma voz que ele costumava ouvir o tempo todo, mas que não ouvia há anos.
Rhaenys abriu um sorriso enorme no rosto quando Daeron se voltou para ela, olhando todos os sobrinhos como se estivesse assimilando tudo.
— Rhaenys? — Foi a primeira pessoa que ele chamou, entre todos os filhos de Rhaenyra.
A princesa fez reverência ao tio, sorrindo de forma amigável e amorosa para Daeron. Depois de Helaena, Daeron sempre foi o tio favorito dela, mesmo que fosse em segredo.
— Príncipe Daeron. — ela respondeu de forma entusiasmada.
Era seguro de se dizer que os dois tinham um bom relacionamento de tio e sobrinha quando pequenos, quase como melhores amigos.
Daeron olhou para Rhaenys com um largo sorriso no rosto e, em seguida, abraçou-a com carinho, feliz por estar de volta ao lar depois de tanto tempo. Movido pela saudade sufocante que sentia da sobrinha favorita, ele a puxou pela cintura, erguendo ela do chão e apertando tão forte contra o próprio corpo que a Princesa Rhaenys se sentiu zonza por alguns segundos.
Aemond virou seu rosto para olhar a situação, piscando algumas vezes enquanto olhava a interação do irmão com a sobrinha deles, mas não esboçou reação alguma além de se manter sério. Aegon, por outro lado, não deixaria de comentar sobre isso nos ouvidos do irmão por uma ou duas tardes inteiras.
— Eu não sabia que haviam voltado para cá. — disse o príncipe quando a colocou no chão novamente.
— Faz pouco tempo, talvez quatro meses, não sei dizer. — disse a princesa quando foi colocada no chão, apoiando suas mãos nos braços de Daeron. — Consegue imaginar o quão surpresa eu fiquei quando descobri que o príncipe Daeron havia se ausentado de King's Landing por oito anos, para treinar espadas?
Ele analisou a sobrinha de cima a baixo, muitas mudanças para assimilar.
— Todos temos que aprimorar nossas habilidades, não?
Muitos olhares estavam voltados para os dois. Daemon cutucava Rhaenyra para ela se atentar ao que estava acontecendo, Joffrey e Lucerys pareciam ter fechado os rostos pelo ciúmes que estavam sentindo da irmã sendo tão bem tratada pelo outro homem como se eles fossem melhores amigos de longa data.
Jacaerys por outro lado se manteve quieto ao lado das gêmeas, Baela e Rhaena.
A Rainha Alicent, por outro lado não estava nem um pouco satisfeita com o que presenciava, ainda estressada pela informação da interação entre Rhaenys com Aemond, e agora ela estava nos braços de Daeron, o caçula. A Hightower pensou que, se não tomasse um cuidado redobrado com a princesa platinada, ela tomaria todos os filhos dela para sem ter nenhum tipo de esforço para fazer tal coisa.
— Eu senti sua falta, devo admitir. — disse Rhaenys, apoiando-se em Daeron enquanto ele a abraçava com força mais uma vez. Ela sorriu para ele, pois Daeron agora era mais alto do que ela, uma figura alta e magra.
Daeron quebrou o abraço e a segurou pelos braços, virando-a para encará-lo e sorrindo calorosamente.
— Você mudou. - disse, examinando o rosto dela. — Há algo de mulher em você agora. — seu tom era de piada e sarcasmo, mas havia uma ponta de verdade no que ele dizia.
— E você é um homem crescido agora, certamente não é baixo, ao contrário disso. — assim que Rhaenys comentou isso, Daeron puxou a mão dela e deixou um sibilar nas costas de sua mão, se curvando levemente em seguida. — E um cavalheiro, eu espero.
Uma risada baixa escapou dos lábios do príncipe caçula, e ele assentiu rapidamente com a cabeça.
— Pode ser, mas você não parecia tão... feminina? — ele olhou para o corpo dela de forma discreta, notando as curvas que haviam se desenvolvido desde o último encontro a oito anos atrás.
A princesa havia passado por diversas mudanças. O cabelo prateado estava mais longo, seus olhos azuis ainda mais curiosos, o corpo havia adquirido curvas na cintura e nos quadris que marcavam nos vestidos que ela costumava usar, lábios rosadaa de forma natural e movimentos graciosos. Rhaenys sempre foi uma bela princesa, mas após entrar na puberdade ela pareceu ficar ainda mais deslumbrante e radiante do que nenhuma outra mulher jamais foi, nos olhos dele.
O príncipe também tinha passado por suas mudanças como o ganho de músculo e altura, suas feições não tinham mais nenhum indício infantil e o cabelo prateado era curto e liso, com um corte parecendo ter algumas mechas imitando uma franja, a qual ele frequentemente colocava para trás da orelha.
Daeron estava muito mais bonito, para Rhaenys.
Aemond torceu o nariz dele e resmungou para si mesmo enquanto continuava olhando os dois conversando, suas bochechas começando a corar de algum sentimento que apertava sua garganta. Ele nunca teve noção do quão próximo os dois eram durante a infância, já que o príncipe sempre passou mais de seu tempo tentando conseguir um dragão para que o bullying acabasse do que prestando atenção se Rhaenys e Daeron conversavam ou brincavam um com o outro.
Aegon deu uma baixa risada quando notou o jeito de todos eles, batendo no braço do irmão com seu cotovelo e piscando de forma provocativa. Parecia que o mais velho havia finalmente achado a sua forma de diversão depois de tanta escuridão e tédio nos portões para dentro do castelo.
E ele já sabia exatamente o que faria.
— Rhaenyra! — Daeron disse de repente, e com os braços abertos foi em direção a meia irmã para conceder um abraço. A ação do príncipe acabou causando um pequeno choque em todos que assistiam, não sabendo que os dois possuíam qualquer tipo de aproximação.
Rhaenys franziu as sobrancelhas dela e compartilhou o mesmo pensamento de forma telepática com seus irmãos através dos olhares, não podendo esconder o ciúmes que sentiu quando Daeron abraçou a mãe deles. Rhaenyra quase nunca interagiu com nenhum de seus irmãos por parte do pai além de Helaena, então quando os dois se falaram foi uma surpresa grande até mesmo para os guardas que estavam ao redor da família.
O sangue da rainha pareceu borbulhar ainda mais em ver que Daeron parecia priorizar a outra parte da família do que ela. Mas a Hightower não pensou que talvez, a razão para que isso estivesse acontecendo era porque Rhaenyra sempre teve a sua aura de boa mãe acolhedora, o que fazia o príncipe se sentir atraído para receber o mínimo de atenção e carinho da irmã mais velha.
Mesmo que ambos não fossem próximos.
Mas toda o seu jeito doce já era conhecido, Daeron sempre foi o mais gentil de todos os quatro filhos de Alicent.
Daeron terminou a conversa com toda a família e agregados após longos minutos, dando uma saudação para cada um deles. Assim que a parte mais difícil teve sua finalização, o príncipe foi novamente até a mãe para que pudessem conversar sobre tudo que estava acontecendo, sobre tudo que ele passou e aprendeu durante seus anos em Oldtown, vivendo com as pessoas mais chatas e monótonas que ele já teve o desprazer de conhecer em toda a sua vida.
— Espero que um jantar tenha sido levado em consideração para a minha chegada, ao menos. — o príncipe comentou com a voz baixa, olhando ao redor com os olhos cerradoa por conta dos fortes raios de sol. — É o mínimo que eu mereço após ser abandonado por anos pelos meus familiares que clamam me amar tanto.
O príncipe poderia continuar usando sua fachada em estar alegre com sua volta para casa. Mas dizer que ele estava encantado e agradecido em estar no castelo era a mesma coisa que dizer que ele odiava seu dragão, uma mentira.
Sua família era desequilibrada e ele sabia disso, sabia da divisão familiar e todos os problemas. E acima de tudo, sabia da antipatia e ambição de seu avô, Otto Hightower.
Os olhos do príncipe caíram sobre seu avô que estava longe e, embora o velho mantivesse um semblante neutro, não havia como esconder o ódio ou o desdém naqueles olhos. Ele se virou para olhar os irmãos, não querendo outra briga de família agora que havia acabado de voltar a sua casa.
O príncipe sabia que teria que caminhar em uma linha tênue entre a lealdade à sua família e sua própria segurança, e ele temia isso.
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