060

Aemond andou pelos corredores escuros, indo direto para os aposentos de Rhaenys, tentando a maçaneta e entrando quando viu estar destrancada. O quarto estava vazio, nenhum sinal da sobrinha e nenhuma pessoa por perto para ver o príncipe entrando ali.

Ele deu uma volta, olhando por cima da cama e para dentro do armário antes de voltar para a porta e chamar pelo nome dela. Havia algumas coisas dela que ele nunca tinha notado nas antigas vezes que esteve ali. Roupas, livros, bonecas, pinturas.

Quando ela não respondeu, ele se sentou na beirada da cama dela, o colchão afundou sob seu peso.

Ele se sentia cansado, exausto. Apoiou a cabeça em seu punho enquanto esperava.

Olhou para as paredes, elas eram pintadas em um belo tom de vermelho borgonha, e havia todos os tipos de pinturas e esculturas de dragões.

— Hmm... — ele disse em voz alta e passou a prestar mais atenção ao quarto de Rhaenys, visto que ele nunca de fato explorou o local de conforto dela.

Seus olhos percorreram a escrivaninha, ele olhou para o conjunto de pena e pergaminho. Aemond decidiu dar uma olhada nos livros da estante dela, se levantando da cama e indo em direção ao canto do quarto dela que era perto da lareira.

Ele passou os dedos pela estante e observou os diversos livros que ela tinha ali, muitos com marcações e Aemond se interessou particularmente em um livro sobre dragões.

"Dragões: Mitos e mistérios." Aemond leu a contracapa.

— Interessante, sobrinha. — disse ele para si mesmo. Ele abriu o livro e folheou a primeira página. — É interessante o quão pouco sabemos sobre os dragões... — ele leu em voz alta.

Aemond tinha sede de conhecimento, por isso continuou lendo de forma curiosa e intrigada, era fascinante aprender sobre os antigos dragões de Valíria. Eles podiam ser tão grandes quanto montanhas, maiores que a própria extensão de Westeros.

Aemond não conseguia nem imaginar algo tão grande. Ele pensou sobre isso por um tempo.

Então, ele se voltou para uma página onde os dragões Targaryen estavam listados. ele a examinou com interesse antes de fechar o livro e guardar no local que estava antes, voltando a andar pelo quarto de Rhaenys e ver as coisas dela com mais atenção.

Aemond teve sua atenção presa em um pequeno livro com páginas marcadas com fitas quando se aproximou de uma escrivaninha no canto esquerdo do quarto. Ele segurou o livro em mãos, continha páginas em branco, com excessão de algumas que tinham desenhos, rabiscos.

Desenhos de rostos conhecidos.

Os primeiros que ele observou foram dos Velaryon, de todos os três irmãos dela, cada um com uma página dedicado a um desenho do rosto deles. Nas seguintes tinham mais desenhos de rostos, rostos de Rhaenyra, Daemon, Laenor, Harwin e Alicent.

Possuía um desenho para cada um, as gêmeas, Helaena, Cregan, e até Aegon.

Ela tinha desenhado o rosto de todos e marcado com os nomes no canto das páginas.

Inclusive um dele.

Aemond parou de mexer nas páginas por um instante, observando o desenho que ela havia feito dele. Sua expressão suavizou vendo os rabiscos em preto, o nome dele assinado no fim do desenho, seu tapa-olho cobrindo o olho esquerdo e o rosto do desenho não havia expressão, parecia estar olhando para o lado como se observasse alguém de longe.

Parecia com ele quando estava admirando Rhaenys de longe, tomando de sua beleza esbelta e fenomenal.

Ele ficou paralizado, como se estivesse em choque que alguém o retratasse em um desenho. Principalmente Rhaenys, de todas as pessoas. O príncipe virou o livro em todos os ângulos possíveis para olhar melhor, antes de decidir arrancar a página do pequeno livro, dobrando cuidadosamente a página e guardando em seu bolso da calça para que pudesse guardar em seus pertences mais tarde, para apreciar.

Certamente Rhaenys não notaria isso.

Aemond continuou a virar as páginas, devagar, mas com cuidado. Ele queria ver todas as páginas do caderno de desenhos dela, isso o fazia se sentir mais próximo de Rhaenys por algum razão.

O livro era como um registro das memórias dela.

Ele virou a página e viu outro desenho de si mesmo. Era um desenho dele por trás, com o rosto completamente obscurecido pelo tapa-olho. O que Rhaenys havia capturado era sua forma geral, seus ombros, suas costas, seus braços, era quase como se ela o conhecesse melhor do que ele mesmo.

O príncipe Targaryen suspirou alto e guardou o caderno de desenhos dela, voltando a caminhar pelo quarto mais uma vez. Agora, ele se sentou na mesma cadeira que ele sempre se sentava quando estava visitando Rhaenys, em frente a lareira, cruzando as pernas e descansando os braços no apoio da poltrona.

Agora só era preciso esperar a princesa chegar, assim eles poderiam conversar civilizadamente, seja qual fosse o real problema.

Aemond ouviu passos se aproximando da sala em poucos minutos. A princípio, ele não olhou para a porta, não querendo parecer muito ansioso.

Rhaenys entrou, linda como sempre, ainda vestindo as roupas de montaria que havia usado o dia inteiro. Havia um ar de tensão em torno dela, com as mãos apertadas nervosamente uma na outra.

Ela fechou a porta do quarto com um grande suspiro de alívio e um pequeno sorriso contente nos lábios. Um sorriso que demorou menos de milésimos de segundos para sumir quando ela notou a presença de Aemond no quarto, sentado de forma quase despojada na poltrona que o mesmo já tinha se apossado em todas às vezes.

— Aemond. — a voz de Rhaenys estava calma, mas parecia cansada. — Não estou surpresa em vê-lo aqui, você tem esse costume de me procurar de repente. O que está fazendo aqui? — Rhaenys perguntou, olhando para ele de forma estranha, irritada até.

— Eu vim ver visitá-la, é claro. — disse ele despreocupadamente e categoricamente, sem fazer nenhum movimento para se levantar e mantendo um pequeno sorriso nos lábios.

O mesmo sorriso que agora irritava Rhaenys por mais razões.

— Por quê? — Rhaenys exigiu saber, retirando as luvas e as botas, colocando ambos em um canto do quarto e suspirando mais uma vez. — O que você quer? — ela deu uma pausa e voltou a falar. — Qualquer um menos eu poderia ter entrado aqui, e então o que você explicaria?

Rhaenys levantou a cabeça para olhar Aemond, semi cerrando os olhos, principalmente porque a memória fresca do que ela tinha visto noite passada passava pelas memórias dela constantemente ao ver o tio parado assim, depois de dias ignorando a presença dele de forma mais perceptível.

Ele não respondeu essa pergunta dela, ficou quieto.

— Rhaenys. — ele não disse isso em um tom áspero, na verdade sua voz era calma e sem emoção. — Posso perguntar por que você tem me evitado? — Aemond não mencionou o fato de que, na última vez em que conversaram, estavam gritando um com o outro por conta de um chá.

O único olho dele passou por ela, com uma expressão completamente ilegível. O tapa-olho que cobria o segundo olho impedia que ela o visse inteiramente, a baixa luz do quarto dificultava ainda mais. Mas ele parecia estar estudando cada aspecto dela, foi enervante.

Seu cabelo prateado ainda estava molhado por causa da chuva e brilhava levemente na luz, com leves ondas nas pontas. Se Rhaenys olhasse com atenção, ela poderia notar um tom roxo escuro nos lábios dele.

— Eu não sabia que você estava em Winterfell, Rhaenys. — sua voz era friamente educada. Outrora não estivesse a par da saída da sobrinha até o Norte, no fim acabou descobrindo pela língua mais improvável possível; o irmão, Aegon, que o veio provocar sobre isso durante o treinamento dessa manhã.

Aemond ficou em silêncio por um momento enquanto observava a aparência desgrenhada, porém bonita, da Velaryon. Ele ergueu uma sobrancelha para ela quando ela começou a desabotoar as vestes e retirar parte por parte.

— Você ficou fora o dia todo hoje. — disse Aemond, balançando o joelho de forma frenética enquanto se preparava para fazer a próxima pergunta. — Você se divertiu com o Lord Stark? — perguntou.

Rhaenys respirou fundo, olhando para Aemond por severos segundos enquanto pensava se deveria ou não entrar no jogo dele.

Mas, no final, ela decidiu que iria.

Ela foi até sua penteadeira, enquanto terminava de desabotoar lentamente os botões de suas roupas de montaria. Rhaenys não olhou para Aemond enquanto ele pensava no que responder, permaneceu em silêncio absoluto e apenas o barulho da lareira era ouvido.

— Eu me diverti, sim.

Aemond se levantou quando ela respondeu e caminhou em direção a Rhaenys, parando atrás dela e notando a diferença de altura entre os dois. Uma coisa que o príncipe gostava bastante.

— Você parece cansada. — ele disse, olhando para ela com seu olho azul claro, a pupila dilatada no escuro. — Você ficou fora da capital o dia todo, em Winterfell e com Cregan Stark. Estou surpreso por não ter seu amigo com você, para se hospedar mais uma noite. — Aemond disse, recapitulando os fatos de hoje, tentando encaixar as peças. Usou seu tom sarcástico e olhou para a sobrinha através do reflexo do espelho. — E o que mais você... fez, em Winterfell? — perguntou com uma sobrancelha levantada.

Uma leve palpitação no coração ao esperar pela resposta da princesa.

Rhaenys ergueu uma sobrancelha para Aemond, pensando em mentir. Mas ela ainda estava brava com Aemond por esses motivos específicos, então não se importou em dizer a verdade.

Ela sabia o que Aemond estava querendo ouvir, ou não. E como ela sabia que ele estava transando com Alys no meio de um corredor, ela também não tinha problema em fazer o mesmo com Cregan.

Mas em uma cama, é claro.

— Eu me deitei com Cregan, e vi uma porção do Norte. Eles têm belos jardins, você deveria visitá-los algum dia. — disse a Velaryon imediatamente, caminhando até os armários e tirando uma de suas camisolas para vestir.

A expressão de Aemond mudou quase de imediato. Ele não sabia exatamente se estava preparado para ouvir essa resposta dela, mas foi impossível de esconder a surpresa que ele sentiu quando Rhaenys mencionou que se deitou com o Stark.

— Você se de- o quê? — ele perguntou incrédulo, dando um passo para trás e franzindo as sobrancelhas em uma careta.

— Eu me deitei com Cregan, e vi uma porção do Norte. Eles têm belos jardins, você deveria visitá-los algum dia. — ela repetiu a mesma coisa dita antes. Assim que terminou de vestir a camisola de seda, ela se virou para a penteadeira mais uma vez, sentando-se e desfazendo as tranças do cabelo.

Aemond seguiu atrás de Rhaenys e a olhou de longe, os punhos se fechando com uma força que fazia eles tremerem, as veias dos braços saltadas mas escondidas pelas mangas longas do gibão.

— Você gostou? Quantas vezes você foi para a cama com ele, hoje? — O jovem valiriano perguntou, com um toque de ciúme em sua voz que talvez não fosse percebido por Rhaenys, mas a raiva era mais aparente do que o ciúmes.

E isso ela conseguiu sentir bem.

Não havia nada mais fácil do que ferir o ego de um homem, principalmente um homem com ego tão alto como o dos Targaryens.

— Não importa quantas vezes eu fiz isso ainda hoje, Aemond. Por que você não vai para o seu quarto e me deixa descansar, hm? Me faça esse favor. — ela suspirou e penteou os cabelos, tentando se manter calma para não confrontar Aemond sobre o que ela tinha visto ou a razão pela qual ele fez tal coisa. — E, é claro que eu gostei. Cregan é um homem incrível, educado e com um bom coração.

— Não só o coração, imagino. — disse Aemond, olhando para Rhaenys com uma expressão zombateira, mas ainda séria. — Importa muito quantas vezes você fez isso. — ele cortou Rhaenys, erguendo um pouco o tom de voz e dando um passo em frente para ficar mais próximo de Rhaenys, o semblante franzido numa expressão de irritabilidade.

Tudo que ela fez foi soltar murmurios de cansaço e descaso, se levantando da penteadeira para ir até a porta falsa do quarto e mandar Aemond ir embora. Mas, quando ela se virou ele se colocou na frente dela, bloqueando seu caminho com o corpo e a altura de forma intimidadora.

— Aemond.

— Rhaenys, e quanto as suas morais e deveres? Você não podia estar dormindo com outros homens dessa forma ou...

Aemond parou de falar quando percebeu a forma como o rosto de Rhaenys se contorceu e mudou completamente de expressão e emoção, quase como se o que ele disse tivesse despertado alguma frustração dentro dela, uma que estava sendo guardada a um tempo.

— Minhas morais? As minhas morais?! Você, Aemond, foi o primeiro homem com quem eu dormi e então você vem até mim para me falar sobre morais? — ela colocou um dedo indicador no peito de Aemond, com força, e deu um passo em frente que fez com que Aemond simultaneamente desse um passo para trás, para manter uma distância.

Uma distância segura.

— Eu deveria ser o primeiro e único com quem você dorme, Rhaenys. — uma pausa longa e silênciosa. — Ao menos por enquanto.

Se antes Rhaenys estava com pouquíssima paciência para Aemond, quando ele colocou em prática o discurso de posse sobre a vida sexual dela, cada mínima artéria do corpo dela fez o sangue da princesa esquentar e borbulhar como água fervente.

— Está agindo como se fôssemos exclusivos um do outro, tio. Mas não somos, eu sei o que você fez ontem à noite! Você acha que eu não sei, mas eu vi e ouvi. Então não seja hipócrita em fazer seus comentários vergonhosos sobre mim.

Aemond riu levemente, o som saindo como um vento frio da parte mais profunda do norte. Ele levantou a sobrancelha de forma zombeteira.

— Eu lhe asseguro, sobrinha, que não fiz absolutamente nada. Seja o que for que esteja tentando me acusar, eu não fiz. — Suas palavras eram duras, mas havia um toque de vulnerabilidade nelas, por estar tendo que se explicar para a princesa sem razões.

Um nível a mais de estresse percorreu em Rhaenys quando ele negou tal coisa.

— Você estava com uma mulher ontem durante a madrugada, nos corredores.

— E com quem você acha que eu estava? — ele perguntou com uma risada, como se fosse um pensamento ridículo.

A Velaryon deu uma pausa antes de responder, tentando manter toda a sua calma no lugar e ao menos tentar que eles tivessem uma conversa civilizada pelo menos uma vez.

— Alys Rivers.

Aemond ficou em choque inicialmente, tentando entender se ela estava brincando com ele ou realmente o acusando de tal calúnia, depois deu uma risada aguda e alta enquanto cruzava os braços.

— Alys Rivers, a bastarda? Você acha que eu gastaria meu tempo com ela? — Havia uma confusão genuína em seu tom. Ele deu um passo em direção a ela e sua voz voltou ao tom frio de sempre. — Você terá que explicar melhor o que viu e me contar quem lhe disse essa mentira disparatada, com detalhes se possível.

Aemond negou, e Rhaenys virou a cabeça para olhar ele com os olhos arregalados e os punhos fechados firmemente em bolas ao lado do corpo.

— Não minta para mim! Eu vi com meus próprios olhos e escutei com meus ouvidos, Aemond.

— O que você viu? Alys Rivers e eu? — Aemond a questionou, com a voz cheia de irritação ao invés de zombaria. — Você me viu beijá-la? Tocá-la? — ele continuou nos mesmos tons de voz, com o olho se estreitando e as narinas soltando respirações fortes de frustração. — Ou você estava bêbada demais na noite anterior, alucinando?

— Eu vi você e ela transando, Aemond. — a cada vez que Aemond continuava negando o que fez, desencadeava uma nova movimentação ardente de raiva e repulsão dentro dela.

Houve uma longa pausa enquanto Aemond não dizia nada, como se estivesse tentando conter sua raiva, desacreditado no que ouvia sair da boca dela.

— Você está mentindo. — disse ele com veemência. — Eu não estava com ela, eu nem sequer a vi depois que aquela dança estúpida acabou. — seu tom era frio, mas havia alguma verdade em suas palavras que Rhaenys não sabia dizer se eram de fato verdade ou uma forma de manipulação.

disse ele ao dar mais um passo para perto dela.

— Pare de mentir para mim, Aemond! Não tente me transformar em uma insana que estava bêbada, sei o que vi e não tive alucinações alguma! — Rhaenys deu um passo à frente e encarou Aemond, com os lábios franzidos em uma linha reta e as bochechas coradas com todo o calor que o corpo dela estava a fazendo sentir por conta do ódio.

Aemond não recuou. Cada palavra fria, cada olhar frio, veio naturalmente para ele.

Ele não tinha medo dela.

— Não estou mentindo, Rhaenys.. — disse ele com firmeza. — E mesmo que eu estivesse, por que eu me importaria com o que você pensa? — Aemond não sabia por que estava discutindo com ela por uma invenção sem sentido algum. Ele não tinha dormido com ninguém noite passada, muito menos no meio de um corredor qualquer do castelo onde seria visto facilmente.

— Hipócrita! — Rhaenys disse com os dentes cerrados e franziu as sobrancelhas com mais raiva.

Em segundos, tudo o que se viu foi a mão de Rhaenys batendo com força no rosto de Aemond. Para a surpresa de ambos, já que a ação dela foi feita de forma impulsiva e sem pensar.

Aemond não recuou, talvez surpreso demais com a sensação de ardência que sentiu na bochecha pelo impacto causado pela mão que, mesmo pequena possuía uma força que ele não imaginava ser assim.

— Hipócrita? — perguntou ele com curiosidade, sua bochecha começando a inchar, a marca dos dedos dela já era evidente na pele pálida. Aemond riu. — Hipócrita? Como é que eu sou o hipócrita aqui? Foi você quem passou de mim para um Stark e ainda tenta insultar a mim? — continuou ele, dando um passo à frente em direção a ela.

— Porque você, Aemond, está me julgando e me tratando como alguma propriedade, uma espada que você pode tomar quando bem entender e manter colada em você. Mas eu o vi com Alys ontem à noite com meus próprios olhos e você ainda se atreve a mentir na minha cara como se eu fosse uma estúpida ou burra! — disse Rhaenys, aproximando-se para bater em Aemond novamente, empurrando-o pelos ombros antes.

Aemond segurou as mãos dela com as suas, impedindo-a de lhe dar outro tapa. Ele deu um passo à frente, pressionando seu corpo com força contra o dela.

— Eu não sou hipócrita. — disse Aemond, com o rosto o mais próximo possível do dela. — Você, por outro lado, esteve com Lord Cregan Stark por uma tarde, e depois voltou para cá apenas para me caluniar sobre dormir com Alys Rivers quando eu tenho certeza que não encostei em um fio de cabelo da bruxa. — ele estava com raiva dela, mas queria ver como ela tentaria negar essa verdade.

— Eu quero que você vá embora, agora.

Aemond deu um passo para trás, seu olho nunca deixaram os dela, em nenhum segundo sequer.

— Eu vou embora, se você quiser. — Aemond falou, seu tom permanecendo frio como gelo. — Não vou forçá-la a conversar comigo. — ele deu uma última olhada na marca da mão dela em seu rosto através do espelho da penteadeira de Rhaenys, a marca de seus dedos bem visíveis. — Valeu a pena? — ele perguntou suavemente. Havia uma ponta de tristeza em seus olhos, mas ela não saberia disso.

Rhaenys permaneceu quieta e afastada de Aemond, medindo as palavras que diria a seguir. Aemond era uma pessoa muito difícil de se lidar e entender, e o fato de ela estar confusa com o tanto de certeza que ele afirmava não ter fodido Alys, fazia ela sentir tonturas e consequentemente mais estresse.

— Por que você dormiu com Alys? Você sabe o quanto eu a odeio, o quanto ela me atormenta e que ela matou alguém importante para mim. Sei que você não tem solidariedade por ninguém, tampouco  empatia ou algum senso... mas isso seria o mínimo! Não se deitar com uma assassina. — Rhaenys soltou um murmúrio baixo e irritado, chegando a deixar escapar algumas lágrimas de raiva e, em seguida, foi até Aemond novamente, batendo em seu peito mais algumas vezes.

Descontando sua raiva e frustração no príncipe.

Aemond também não reagiu aos golpes dela, permanecendo em silêncio, suportando sua dor. Ele soltou um pequeno suspiro após um tempo e, em seguida, estendeu a mão, envolvendo os pulsos dela, impedindo-a de bater mais nele.

— Pare. — sua voz ainda estava calma agora, como normalmente era, mas havia alguma preocupação em seu tom. — Pare com isso, Rhaenys.

— Cale a boca, cale a porra da sua boca e vá embora!

— Não. — Aemond falou desafiadoramente, enquanto ainda segurava os pulsos dela. — Eu não vou a lugar nenhum e você não vai me bater de novo, já chega.

Aemond a puxou para perto de si, seu único olho a estudando enquanto ela chorava de raiva. Ele não entendia a raiva dela.

Ele só a queria, por que ela estava tão brava com ele por algo que ele não fez?

— Suas mãos doem, veja... — ele juntou as mãos dela, que tremiam de raiva e estavam vermelhas. — Rhaenys... — disse ele suavemente, olhando para ela com preocupação pela primeira vez desde a volta dela a King's Landing, desde toda essa trégua entre os dois.

— Aemond, eu vou gritar e chamar um guarda!

— Faça isso. — respondeu Aemond, sem soltar os pulsos dela e sem se aproximar mais. — Grite. Faça com que todos saibam que a preciosa princesa Rhaenys está batendo em seu tio, que ambos estão juntos a essa hora da noite. — a maneira como ele se referiu a ela como preciosa tinha claramente a intenção de irritá-la.

Aemond riu suavemente enquanto segurava os pulsos dela com força em suas mãos.

— Eu odeio você, Aemond.

— Acredito que você já tenha dito isso antes, sobrinha. — Aemond ainda falava suavemente, como se não se importasse com o fato de ela o odiar.

Então, ele a empurrou para trás, pressionando seu corpo contra o dela enquanto a guiava até a cama dela. Aemond fez a sobrinha se deitar e ele ficou por cima dela, quase como se estivesse sentado no colo dela e de alguma forma conseguindo conter os braços agitados e agressivos que tentavam alcançar ele.

— Eu não transei com Alys, nenhuma vez. — falou em um tom firme, mostrando que essa era a verdade. — Acredite em mim, Rhaenys. Sei cada um dos passos que fiz noite passada e nenhum deles envolve a bruxa bastarda.

Rhaenys olhou para cima para encarar Aemond, as grandes mãos dele prendendo os pulsos dela encima do próprio peito e fazendo a respiração dela acelerar por toda a movimentação deles. Ela não entendia o que estava acontecendo, se ele era bom em mentir ou se ela de fato tinha tido algum tipo de alucinação enquanto estava bêbada e acabou confundindo tudo.

Ou se..

— Aemond? — ela chamou baixo, preparando as palavras que ela diria para ele. — Eu tenho certeza do que vi e ouvi, eu não estava tão bêbada. — Rhaenys afirmou e sentiu o aperto dele diminuir nos pulsos dela até soltar, enquanto ele esperava a sobrinha terminar de falar. Por um momento ela hesitou, não sabendo como trazer o assunto porém era inevitável deixar de lado. — Você acha que.. acha que Alys enfeitiçou você?

A garganta dele se fechou, prendendo a respiração por alguns segundos quando ela fez a pergunta. Ela sentiu ele ficar com o corpo tenso encima dela, o olho dele mudando a direção para pensar.

Ele não se lembrava de estar na companhia de Alys como Rhaenys dizia ter visto. Aemond se lembrava de Alys lhe convidando para dançar, fazendo provocações a cada segundo que ele passou dançando com a bruxa. Ele se lembrava de quando o banquete se encerrou e o Rei foi levado aos aposentos, e depois ele se lembra de conversar com Aegon antes de se dirigir aos seus aposentos e dormir.

Apenas.

— Aemond? — ela chamou novamente, curiosa.

— Possivelmente. — ele respondeu baixo, e voltou a olhar ela. Pouco tempo depois, ele saiu de cima dela e se sentou na borda da cama, pensando e repensando todos os passos que ele fez depois do término do banquete e a conversa dele com Aegon.

Tentou forçar a memória para ver se de fato havia ficado com Alys, mas não. Tinha certeza absoluta de que nada ocorreu entre os dois.

Então ele tinha sido enfeitiçado e fodido Alys de forma incosciente, no fim.

Rhaenys considerou o silêncio dele como uma confirmação, e a expressão dela mudou totalmente. Agora a princesa tinha mais um motivo para sentir ódio pela bruxa bastarda, mais um motivo para provar que essa mulher já deveria estar morta a muito tempo atrás.

Ela se sentou ao lado de Aemond, olhando ele em silêncio enquanto esperava para ver se ele falaria algo. O príncipe se manteve quieto, encarando o chão e piscando diversas vezes numa tentativa de organizar as memórias e pensamentos na cabeça.

A princípio, ela também ficou encarando o chão junto com ele, mas logo depois ela sentiu que precisava oferecer algum tipo de conforto para Aemond. Rhaenys se sentou um pouco mais próxima dele, e colocou uma das mãos no longo e bonito cabelo platinado do príncipe, o qual ele tinha muito cuidado e dava para se notar.

No entanto, durante a movimentação e a briga entre os dois, o tapa olho de Aemond tinha ficado frouxo. Ou seja, assim que Rhaenys passou a mão pelo cabelo dele e acidentalmente enroscou os dedos pelo nó que prendia o tapa olho, ele imediatamente começou a se soltar do rosto de Aemond.

Aemond estremeceu quando ela acidentalmente puxou o tapa-olho dele e parou de respirar. Ele era tão cuidadoso em mantê-lo sempre colocado que a ideia de que alguém como Rhaenys pudesse ver o que realmente estava por baixo o assustava. Sentiu um calafrio percorrê-lo quando ela roçou o nó e ficou tenso de ansiedade quando o tapa-olho se soltou.

Quando Rhaenys viu o relance do olho arruinado, ele imediatamente cobriu o rosto. Aemond ficou horrorizado consigo mesmo. Como diabos isso aconteceu? Parecia impossível. Ele virou a cabeça na direção oposta e rapidamente tentou amarrar o adesivo de volta.

— Não olhe para o meu olho! — ele sibilou para ela. Havia uma energia frenética em seus movimentos.

Rhaenys viu algo brilhante refletir, uma luz azulada porém nada mais do que isso pois Aemond foi rápido em amarrar o tapa olho novamente e se levantar da cama para se afastar dela. Ela malmente teve um tempo para de fato conseguir ver ele sem o acessório, quando ela menos percebeu, Aemond já estava tentando ir embora pela porta falsa.

— Aemond? — Rhaenys se levantou e foi atrás dele, tentando puxar seu braço para que eles pudesse continuar a conversa de antes, mas ele se negou.

— Apenas... não olhe para ele! — disse Aemond em um tom levemente frenético e ainda um pouco envergonhado. Ele era claramente muito inseguro sobre isso. Ela soltou o braço dele, deixando que ele fosse embora se desejasse.

Rhaenys observou enquanto ele abria a passagem e ia embora sem explicações e sem algum acordo entre eles, a deixando se sentir culpada por ter acidentalmente puxado o tapa-olho do tio.

E novamente, eles terminaram a noite com outra discussão inacabada e mal resolvida.

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