053
Ao andar pelos corredores submersos e secretos do castelo em direção aos aposentos de Aemond, Rhaenys morde o lábio de forma nervosa, talvez até mesmo irritada. Sua expressão é severa, como se ela estivesse se segurando para não gritar com ele assim que enxergasse Aemond em seu ponto de vista.
Quando Rhaenys chega ao quarto de Aemond, ela abre a porta falsa para entrar. O ambiente é relativamente silencioso e não há ninguém por perto até o momento, mas ela faz questão de manter a voz baixa, por precaução.
— Aemond, você está aqui? — Ela chama baixinho.
O príncipe estava sentado perto de uma janela, olhando para a cidade e as luzes dela. Ele se anima quando escuta a voz de Rhaenys levemente distante, e um súbito e discreto sorriso cruza sua expressão séria.
Há um momento de silêncio antes que ela ouça uma voz calma do lado de dentro responder:
— Sim? — Rhaenys reconhece imediatamente a voz de Aemond, dando passos mais para dentro do quarto para enxergar Aemond na luz baixa. — Rhaenys, — ele cumprimenta, seu olhar focando para o frasco e o bilhete nas pequenas mãos dela. Sua sobrancelha se franze ao ver os itens e ele se sente confuso, se perguntando mentalmente o porque dela ter trazido eles até o quarto dele.
— Encontrei isso no meu quarto, — responde Rhaenys, segurando a pequena garrafa de chá da lua e o bilhete. — Isso é de você? — Rhaenys exigiu saber, seu rosto ainda severo com um ar de suspeita pairando em torno dela. Aemond não disse nada por um momento, apenas olhando para o frasco e depois acenando lentamente com a cabeça.
Aemond permaneceu em silêncio por mais longos momentos, o discreto olhar de culpa em seu rosto e a forma como suas mãos se misturavam e apertavam deixam claro para Rhaenys que ele queria ter certeza de que ela não ficaria grávida.
Rhaenys o encara, e a expressão severa em seu rosto muda para uma de confusão e preocupação.
— Por que enviá-lo para mim dessa forma, se você era o único que... — ela começa a dizer, mas Aemond a interrompe.
— Porque nós dois sabemos que você não teria aceitado — ele responde, com as palavras cheias de verdade, um fato. — Foi feito para você. Por via das dúvidas. — A expressão de Rhaenys fica vazia por um momento, mas depois ela franze a testa.
— Para o caso de quê? No caso de você ter me engravidado? — ela pergunta com um tom venenoso.
Pela primeira vez, seu sorriso desapareceu, substituído por uma expressão mais séria diante da complexidade da situação.
— Sim. — responde Aemond após um momento de hesitação, e Rhaenys o encara com firmeza. — Você pode aceitá-la se não quiser arruinar sua reputação e nossas vidas com um filho bastardo. — acrescenta Aemond, com o olho bom ainda estudando a reação da sobrinha.
— Não era minha intenção engravidá-la. — argumenta Aemond, com um tom defensivo. Os olhos de Rhaenys se estreitam de raiva e ela cerra os punhos ao lado do corpo. — Achei que seria melhor prevenir do que remediar, não? Sei que não deveríamos ter feito o que fizemos, mas se você engravidasse... — Aemond continua.
— Eu teria que beber. — Rhaenys finaliza, e Aemond acena com a cabeça. — Eu não engravidei, Aemond...
A irritação de Rhaenys não era porque Aemond havia enviado chá da lua para ela simplesmente do nada e sem explicações além de deixar o frasco no quarto dela, mas sim pelo fato de que se houvesse um possível filho se formando em seu ventre, seria um bastardo. E além disso, significava que Rhaenys estava impedindo o nascimento de uma criança. Um possível bebê, do qual ela se esqueceu completamente que poderia acontecer quando estava fazendo sexo com Aemond na noite passada.
Ela murmurou baixo na linguagem Alta Valiriano e cruzou os braços enquanto olhava para o tio com as sobrancelhas erguidas e os olhos estreitos.
— Mas para você saber, se eu tivesse engravidado, não lhe daria a satisfação de ter meu filho. A criança nascida de nós. — Aemond estremece novamente diante de suas palavras raivosas e desvia o olhar, e Rhaenys percebe que as bochechas dele estão ficando ligeiramente vermelhas.
— O que isso significa? Você está dizendo que eu não seria um bom pai para a sua criança?
— Não. Estou dizendo que eu não teria um filho com você, independente de você ser ou não um bom pai.
Agora foi a vez de Aemond em erguer as sobrancelhas e se levantar da cadeira para se aproximar de Rhaenys, a altura dele deixando ela levemente intimidada porém não baixand a guarda.
— Oh, é mesmo? Então você está dizendo que teria um filho com qualquer homem em Westeros menos comigo?
— Você alguma vez se ouve quando fala? Você não teria sido capaz de criar uma criança, mesmo que eu tivesse engravidado!
— Ótimo, porque eu certamente não gostaria de ter um bastardo com você.
Rhaenys e Aemond continuam a se encarar em silêncio, e o ar entre eles fica cada vez mais denso. Nenhum dos dois quer quebrar a tensão com um pedido de desculpas ou uma oferta de paz, e as coisas continuam esquentando. Por fim, Rhaenys começa a soltar a tampa da garrafa, com o olhar de raiva ainda estampado em seu rosto. Ela olha para Aemond e depois para a garrafa novamente.
Aemond permanece em silêncio enquanto observa Rhaenys abrir a garrafa, com uma expressão cheia de ansiedade e irritação. Era incrível como o relacionamento deles se tornava instável pelo mínimo motivo. Ele não diz mais nada, apenas olha para Rhaenys com um olhar preocupado, tentando entender as intenções dela.
Quando Rhaenys sente o cheiro do conteúdo, um olhar de culpa toma conta de seu rosto. Ela se afasta de Aemond e olha para o frasco, avaliando suas opções antes de tomar uma decisão.
Respirando fundo a mistura de cheiro amargo que contém no frasco, é uma decisão difícil para ela, pois sabe o quanto suas perspectivas de casamento serão importantes para seu futuro. Mas se ela não beber, o que fará com o fato de saber que está grávida de Aemond?
Depois de um momento, o conflito no rosto de Rhaenys é evidente, mas uma decisão precisa ser tomada.
Rhaenys olha cuidadosamente o líquido do frasco e inala o aroma do conteúdo mais uma vez. Ela pensa no que Aemond disse e decide que ele está certo. É melhor que ela não tenha um filho bastardo no mundo, pois isso só lhe traria dificuldades e constrangimento, brigas e até mesmo uma separação ainda maior na família deles.
Aemond se esforça para se libertar de suas próprias hesitações, olhando para a garrafa e depois de volta para ela, frustrado. Seus olhos ardem com o desejo de convencê-la e ele fala novamente.
— Você deve beber agora. Você não quer um filho bastardo, nós não queremos. — As palavras de Aemond parecem irritar Rhaenys ainda mais. Ela sentia que de forma indireta, ele estava insultando os irmãos dela e Rhaenyra, tentando confirmar os rumores da legitimidade deles.
Ela decide tomar o chá da lua e se vira para encarar Aemond.
Aemond permanece em silêncio, apenas observando enquanto Rhaenys abre a garrafa, mas não tenta impedi-la. Ele guarda seus pensamentos para si mesmo, observando-a com um olhar cauteloso. O príncipe sabe que talvez nunca seja pai, mas ao mesmo tempo não queria acreditar no que Rhaenys disse sobre ele não ser um bom pai.
No fundo, ambos sabem o que deve ser feito. A princesa hesitou por alguns segundos, mas estão respirou fundo antes de finalmente beber o chá da lua, devagar.
A respiração de Aemond fica presa na garganta quando ele vê Rhaenys hesitar, sua expressão cheia de indecisão enquanto olha para a garrafa de chá da lua.
Depois de um momento, Rhaenys fecha a tampa novamente e coloca o frasco encima de uma mesa do quarto de Aemond após beber todo o conteúdo em um só gole.
Apesar da atmosfera tensa na sala e da raiva mútua, Rhaenys se pega olhando para a garrafa de chá da lua por um momento, com a expressão cheia de culpa. Ela sabe que poderia causar enormes problemas se tivesse decidido não beber, e bebendo o chá ela não precisaria se preocupar com um possível filho bastardo, mas, ao mesmo tempo, há um desejo profundo dentro dela de manter qualquer pequeno bebê dentro dela.
Talvez por conta do desejo em ser mãe após um casamento. Um casamento digno e legítimo.
— Você é determinado, meu príncipe. Estava com tanro medo em ter um bastardo fora do casamento? — pergunta Rhaenys, com os olhos ardendo de calor e um sentimento de mágoa. Aemond faz uma pausa por um momento, olhando de volta para ela com uma expressão séria.
— Não é possível que você espere que eu crie um bastardo, não é? O que o reino diria? O que as pessoas pensariam se a princesa tivesse um... um... bastardo? — Aemond responde, e Rhaenys se surpreende com o quanto Aemond parece se sentir firme em relação a isso. — Essa casa já está cheia de bastardos, não há necessidade de mais um.
— Não me admira que a maior parte dos bastardos seja de Aegon. — Rhaenys murmura baixinho e levanta uma sobrancelha para Aemond. — Hipócritas.
Ela se refere a Alicent e seus julgamentos encima de Rhaenyra quando ela tinha um filho com mais de 10 bastardos correndo pela Baixada das Pulgas, na miséria.
— É melhor para você e também para a nossa família. Por que isso é tão difícil de entender? — Aemond diz após ignorar a fala dela sobre os bastardos de Aegon. Não que fosse um assunto que chamasse atenção dele, no fim.
As mãos de Rhaenys se fecham em punhos ao lado do corpo à medida que sua raiva e mágoa aumentam quando Aemond continua ofendendo a família dela de forma discreta e indireta.
O corpo de Rhaenys reage levemente em questão do chá, causando leves cólicas no baixo ventre. Efeito parecido de quando uma mulher sangrava.
Quando o chá da lua começa a fazer efeito, Aemond encara a princesa e ele parece genuinamente preocupado com a reviravolta dos acontecimentos, porém decide se manter quieto, como sempre.
Rhaenys sente as cãibras mas são pouco perceptíveis e não a incomodavam. Limpando a garganta, a princesa levanta o olhar para Aemond de forma questionadora e os braços cruzados na frente do corpo.
— Mais alguma coisa? — o gosto amargo e doce ainda estava na língua dela, causando ânsia no fundo da garganta. Culpa e alívio enchendo o corpo dela enquanto ela continuava encarando o tio.
— Não, não por hoje. — o tom era sarcástico, mas isso apenas fez Rhaenys se irritar mais e bufar, revirando os olhos dela pela chatice de Aemond.
Sem mais nem menos, sem uma palavra ou duas, Rhaenys se virou na direção oposta de Aemond e foi até a porta falsa do quarto, abrindo com certeza dificuldade enquanto fazia murmurios e reclamações baixas em Alto Valiriano.
Haverá um momento em que será necessário escolher entre o que é fácil e o que é certo. E essa escolha, na maioria das vezes, deixará cicatrizes mal costuradas e curadas, deixando a pele aberta com ressentimentos e dores.
Aemond segurou o frasco vazio nas mãos quando ela saiu do quarto, deixando tudo silencioso e tenso na mente dele. Analisando a pequena garrafa e apertando entre os dedos, ele jogou dentro da lareira e acendeu o fogo para afastar as imagens que estavam surgindo diante do olho e imaginação dele.
Ele poderia ter uma criança com Rhaenys, uma que cresceria no ventre dela se ela não tivesse tomado o chá que ele mesmo enviou as escondidas para a sobrinha. No entanto, Aemond jamais deixaria que um bastardo surgisse do sangue dele ou então do sangue de Rhaenys, não.
Bastardo algum seria feito por ele enquanto ele tivesse consciência dos problemas que a criança traria. Sua meia irmã, Rhaenyra, era um exemplo disso.
E do outro lado do castelo, a porta do quarto de Rhaenys se bateu com força quando ela entrou no local de aconchego e calma dela. Agora a culpa surgindo ainda mais e mais com o fato de que ela podia ter um pequeno bebê na barriga dela que seria de Aemond, de todas as pessoas no reino.
Mas a culpa dela se tornou em raiva, e consequentemente a raiva dela se tornou em exasperação e ansiedade.
Com isso, a princesa puxou uma caneta preta do tinteiro e um pergaminho, se sentando na escrivaninha bagunçada e arrumando o papel envelhecido para escrever uma carta de convite.
Determinada em enviar um convite para Cregan Stark.
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