025
O céu estava azul marinho, as estrelas eram pontos reluzantes amontoados e a lua era minguante quando Rhaenys pousou novamente no fosso, ela calculou ter voado por quase 2 horas, visitando a parte mais distante do oceano e sobrevoando a capital da casa Baratheon. Tessarion soltou um rugido triste e suspiros fortes quando ela desceu da sela e se pôs em frente ao grande rosto da fera.
— Tudo bem...voaremos mais amanhã minha rainha, eu prometo. — ela confirmou, Tessarion pareceu entender e devagar foi obedecendo a cuidadora que a guiou mais cedo.
Rhaenys tirou as luvas das mãos e jogou em um canto do fosso, respirando fundo e sentindo o vento frio que corria pelo ar da noite. Enquanto voava com Tessarion, seu corpo sempre ficava mais quente do que gelado, talvez por causa da temperatura escaldante que as escamas de seu dragão produziam.
Ela sentia o corpo latejar, a roupa que ela usava para voar era feita de um tecido pesado e as botas de couro preto não muito diferente. Estava escuro, sua mãe provavelmente estava preocupada na Fortaleza e ela torcia para que tivesse uma carruagem livre na entrada do fosso para chegar o mais rápido possível até o castelo.
Mas, quando ela deu alguns passos largos a frente, ela escutou uma voz familiar, mas afastada, falar de forma calma o alto valiriano. Parecia vir debaixo do fosso, nas rochas da praia, um platinado de tapa-olho rondando envolta da velha dragão enquanto cantava uma canção valiriana.
Ela se aproximou devagar, indo até o começo das escadas que levavam em direção a baía. Aemond estava entretido demais com Vhagar para notar que a sobrinha o observava do alto, sempre perdendo os sentidos mais importantes quando estava na presença da fera, se desconectando dos acontecimentos a sua volta.
Rhaenys estranhou escutar Aemond cantando pela primeira vez e mesmo que fosse baixo, ela se sentiu encantada com a voz calma e a pronúncia perfeita em que ele desenrolava as palavras na língua. Ela sorriu sem mesmo notar e seus pés a levaram para o caminho contrário de onde ela realmente deveria estar indo, descendo as escadas degrau por degrau até que chegasse ao fim dela, onde as botas tocavam a areia espessa e a grama queimada. Ele estava de costas, ainda com as típicas roupas de treino e o cabelo bagunçado pelo vento forte, os dedos acariciando as escamas de Vhagar como se ela fosse um gato precisando de atenção do dono.
— Vhagar parece ser bastante mimada por você. — Rhaenys abriu a boca para dizer o comentário e chamar sua atenção, mas Aemond malmente parou de fazer o que fazia, ele apenas continuou seguindo as carícias se mantendo de costas.
— Eu faço o que posso fazer de melhor para ela.
— Você tem sido montador dela a 8 anos, posso considerar que Vhagar é de fato, um dragão de guerra. — ela caminhou aos poucos até onde eles estavam, ainda se mantendo a uma boa distância do dragão para não provocar nenhuma agitação. — Pretende voar com ela esta noite ou veio apenas visitar?
Aemond finalmente se virou para olhar a sobrinha. No escuro ele malmente conseguia enxergar ela, mas a lua refletia em seu corpo parcialmente, de forma suficiente.
— Apenas uma visita, estou cansado do treino de hoje e Vhagar merece descansar também. — ele fez um sinal com a cabeça pedindo para que ela se aproximasse de ambos, mas ela exitou, sentindo o medo passar pelas bochechas. — Está com medo? Não parecia ter medo naquela noite, porque você parece ter agora?
Rhaenys fechou a cara com a menção dele sobre o momento do passado, instantaneamente a culpa vindo ao mesmo tempo que as lembranças voltavam a mente. Medo, talvez ela sentisse mais medo de Aemond do que de Vhagar, para dizer a verdade.
— Não estou com medo dela.
— Então se aproxime, sobrinha.
Ela respirou fundo e voltou a caminhar para frente em direção aos dois, passos curtos e pesados dominando o trajeto estreito. Aemond estendeu a mão a ela assim que a menina chegou perto o suficiente, quando ela tomou a mão de volta ele a levou direto para a pele escamosa de Vhagar. A dragão se agitou imediatamente, soltando um rugido alto e se mexendo para longe do toque dela, o mesmo aconteceu com Rhaenys que deu um pulo para trás tropeçando nos próprios pés com o susto.
Aemond foi rápido em acalmar a besta, cantando a canção baixinho novamente, segurando no focinho dela para que os rugidos parassem.
— Receio que ela não goste de você.
— Eu posso ver isso, Aemond. — ela voltou para o pé da escada, dessa vez sendo acompanhada pelos passos de Aemond atrás dela.
Estavam em uma situação estranha agora.
Após a noite que compartilharam e depois que Rhaenys saiu discretamente do quarto dele, ambos trataram de passar o dia todo entretidos de forma que não precisassem suportar a presença um do outro. Enquanto Aemond aumentou o tempo de seu treino no pátio, Rhaenys passou a manhã e a tarde todo vagando pelo fosso junto dos irmãos. De certa forma, ela se sentia envergonhada depois do que haviam feito e ele parecia travar uma batalha interna entre pensar se ela tinha realmente gostado do que ele fez ou não.
Ao contrário do que Rhaenys achava, Aemond não tinha realmente se deitado com uma quantia alta de mulheres por questões pessoais e privadas, mas ainda sim tinha uma noção de como satisfazer uma mulher.
Uma cortesia do irmão mais velho, Aegon.
Ele observava ela subir as escadas tão rápido quanto a fumaça que se dispersava pelo ar, parecendo querer correr dali e se afastar. Ele seguiu a velocidade dos passos dela, esbarrando em seu corpo várias vezes antes de chegaram ao topo do lance de escadas, onde era mais claro e ele podia ver melhor suas feições.
Aemond não havia notado as bochechas rosadas antes quando estavam no escuro, mas não podia dizer se eram de vergonha ou cansaço, pois ele sabia que ela tinha acabado de voltar de um vôo com Tessarion.
— Tessarion está cada dia maior, eu me lembro vagamente o quão pequena ela era quando você reivindicou.
— Você se lembra?
É claro que Aemond lembrava, ele estava lá quando a mesma fez isso, escondida dos pais e dos irmãos assim como ele fez em Driftmark. A única diferença é que ela teve os cuidadores para auxiliar no processo. Ele fez um movimento leve com a cabeça para indicar que sim e ela sorriu cabisbaixa com o elogio direcionado ao dragão, ou pelo menos, ela considerou como um.
Rhaenys parou abruptamente com as mãos postas na frente do corpo engatadas uma na outra, esperando que Aemond fizesse o mesmo. Quando ele o fez, ela estava com a cabeça inclinada para o lado, brincando com os anéis do dedo enquanto olhava para ele em silêncio e uma expressão neutra.
— Não quero conversar sobre dragões, Aemond, eu quero falar sobre ontem.
Por mais que não demonstrasse ou pelo menos tentasse isso, ela estava sedenta para sentir o toque de Aemond em seu corpo, de qualquer forma que fosse.
— Mmh. — a forma como ele estava parado era uma postura rígida e ameaçadora, apenas alguns passos em frente dela, em um canto isolado e escuro do fosso onde apenas a luz natural iluminava e tampouco fazia questão disso. — Diga, por favor.
Ela levantou o queixo desafiadoramente, uma sobrancelha levantada e o peito subindo e descendo sem saber exatamente o porque. Por um momento ela se perguntou o que alguém do lado de sua família ou até mesmo do lado dele diriam se os encontrassem nesse momento, parecendo dois amantes querendo atrair uma provocação um do outro.
Talvez eles fossem amantes querendo atrair uma provocação um do outro.
Mas ela não falou nada do que desejava dizer, tudo o que ela fez foi desfazer a distância que tinha entre seus corpos e puxar com as duas mãos o rosto de Aemond para poder sentir os lábios dele novamente. Suas mãos se enrolando no longo cabelo de Aemond, puxando os fios entre os dedos pálidos e nervosos.
Aemond prendeu as mãos firmemente na cintura de Rhaenys e a impulsionou seu corpo para que ela se sentasse em uma placa de pedra que tinha atrás deles. Ela se segurou nos ombros dele e manteve as mãos cravadas na roupa de couro, sentindo a brisa fria bater contra o corpo dela.
— Está com frio? — Aemond perguntou com a voz calma de sempre parecendo ser inocente, o rosto dele não era tão visível no escuro e o tapa-olho dificultava, mas ela não se atreveu a pedir que ele tirasse.
Devagar, ele colocou uma das mãos no tornozelo dela e deliberadamente subiu aos poucos, arrastando a ponta dos dedos pela pele gelada dela, subindo sua barra da roupa no processo. Rhaenys agarrou os ombros dele ainda mais forte quando sentiu que ele a tocaria intimamente, nervosa. Aemond manteve seu olhar preso no dela a todo instante, com o rosto próximo o suficiente para que a respiração de ambos fosse sentida batendo na pele um do outro. Causava arrepios.
Quando ergueu as saias o suficiente para que a coxa dela ficasse desnuda, ele espalmou a mão em uma delas e acariciou levemente. Tomou os lábios dela em um beijo simples, possuía luxúria mas era calmo, quase tão calmo como a movimentação das nuvens no céu. Aemond costumava fazer tudo de forma calma com ela, não era a forma como ele de fato fazia no geral, mas, gostava de ver e sentir todas as sensações que conseguia despertar nela fazendo tudo devagar, e levava em conta que Rhaenys tinha poucas experiências com isso.
Rhaenys colocou uma de suas mãos entre os fios platinados dele e a outra manteve parada no peito coberto dele, silenciosamente implorando para que ele avançasse. O beijo entre eles entrou em uma nova sintonia, tomando um rumo mais forte dessa vez, as línguas se cruzavam, ora ou outra haviam mordidas nos lábios um do outro.
Aemond subiu ainda mais a mão pela coxa dela, chegando perto do baixo ventre e suavizando com a ponta dos dedos, a prata gelada do anel dele trazia uma sensação diferente aos toques no corpo de Rhaenys. Ela queria que ele mergulhasse aqueles malditos dedos nela de uma vez, mas ao mesmo tempo gostava da calmaria que ele executava tudo, de forma quase calculada.
— Aemond... — ela quebrou o beijo com um sussurro.
E quando ele percebeu o que de fato ela queria, sorriu para ela por alguns segundos antes de começar a baixar a mão por debaixo da saia, alcançando o osso da clavícula.
Mas ele foi interrompido.
Não por um guarda. Não por um rugido de dragão, e muito menos por Rhaenys.
Foi interrompido por Lucerys.
Quando Rhaenys escutou seu nome sair arrastado e quebrado pela doce voz de seu irmão mais novo ela abriu os olhos de forma assustada e encarou a silhueta dele em um canto escuro, paralizado. No mesmo momento, ela tentou se desvencilhar do corpo de Aemond, mas ele a prendeu na rocha com as mãos e se recusava a deixar ela descer dali.
— É algo impossível para você não interromper algum momento da minha vida, bastardo? — Aemond falou dessa vez com a voz irritada. A mínima sensação da presença do sobrinho já lhe causava náuseas e irritação normalmente, o fato de Lucerys estar ali interrompendo um momento precioso dele, piorava a situação.
— Aemond! — ela bateu no ombro dele na tentativa de afastar o corpo do tio e conseguir chegar perto de Luke. — Saia, deixe-me descer daqui! — Rhaenys disse de forma exasperada, Aemond revirou o olho e contragosto liberou ela do aperto.
Lucerys respirou fundo duas ou três vezes e não teve vontade alguma de continuar ali observando aquilo, afinal já havia visto demais. Ele deu as costas antes mesmo de Rhaenys conseguir se livrar das mãos de Aemond, andando rapidamente para a saída do fosso para não precisar ter uma conversa desagradável com a irmã.
Ele estava em um turbilhão de emoções ao mesmo tempo. Lucerys se sentia, principalmente, traído, chateado e irritado com o que acabará de ver. Não conseguia acreditar que Rhaenys faria algo assim, a não ser que estivesse sendo chantageada.
— Luke! — Rhaenys chamou pelo irmão enquanto corria desengonçada pelo caminho de pedra e com as saias batendo no tornozelo, dificultando o trajeto dela. Lucerys não se virou para olhar, ele apenas continuou seguindo em frente imaginando que nada do que ele tinha presenciado era verdade. — Lucerys Velaryon!
A relação dos irmãos Velaryon ficaria instável agora.
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01. eu resolvi colocar o Lucerys para descobrir bem no início mesmo porque ele vai ser importante para acobertar vários momentos entre a Rhaenys e o Aemond (além de que só 3 pessoas, no máximo, vão ficar sabendo dos dois)
02. eu não sei se a fanfic está indo rápido demais? porque eu ainda tenho vários cenários pra por em prática mas não tenho noção se tudo tá acontecendo muito rápido ou não.
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