014
No momento em que Aemond fechou a porta atrás deles, Rhaenys se desvencilhou do aperto forte dele em sua cintura e baixou o capuz, irritada por estar em um lugar como esse quando podiam ter feito a conversa dentro da própria fortaleza. O quarto em que estavam era todo em bordô com detalhes de cobre enferrujado, uma cama que parecia ter sido recentemente usada e tinha um forte cheiro de sandâlo e sais de banho impregnado em todo canto, era enjoativo.
A casa de bebidas parecia estar pior do que o antigo bordel que acidentalmente visitou na última vez que pisou no bairro.
— Você não podia ter escolhido um lugar melhor, tio? — Aemond encostou as costas na porta, brincando com a adaga nas mãos. — Então? Sobre o que precisa conversar comigo?
— Acredito que saiba exatamente sobre o que eu gostaria de conversar, sobrinha. — seu corpo enrijeceu e o quarto pareceu começar a encolher a sua volta, suas bochechas tomando uma coloração avermelhada. Desde que Rhaenys atingiu a maturidade dela, pensava em como e com quem seria seu primeiro beijo, talvez com o primeiro marido que tivesse e se perguntou por anos se faria isso da forma certa. Aemond acabou estragando as pequenas expectativas que ela tinha em mente.
— Isso não poderia ser discutido no castelo? Não acho que seja apropriado trazer a sua sobrinha a um lugar cheio de bêbados que deixam minha segurança vulnerável ainda que não saibam a minha identidade. — ela colocou as duas mãos atrás do corpo e caminhou pelo quarto, não conseguindo se manter parada pelo nervosismo que sentia. Aemond levantou o olhar da adaga para encarar a sobrinha com aquele sorriso de canto que somente ele tinha, e cruzou os braços para pensar em uma resposta a altura dela.
— Então você considera apropriado que o seu tio se esgueire pelo seu quarto tarde de noite, as escondidas? Não seria adequado, você não tem um marido, não quer que questionamentos sobre sua honra sejam levantados, hmm? — Ela sorriu de volta para ele, ambos tinham línguas afiadas, não tinham conversas como as antigas quando eram crianças.
— Nada do que você tem feito desde o casamento é adequado, tio.
— Tem me evitado, não?
— Aemond, eu tenho muitas coisas para fazer sem ser ver você ou meus irmãos a treinar. Eu leio, estudo alto valiriano e gasto uma boa parte de meu tempo com meu dragão. — mas isso não o convenveu por completo, Aemond se desencostou da porta de madeira e caminhou para mais perto da sobrinha ainda com a adaga nas mãos.
Ela deu alguns passos longe para se afastar dele, sabendo que estar próxima dele e sozinha sem ter como se defender de fato, era algo perigoso. Rhaenys se amaldiçoou mentalmente por não ter ido buscar uma adaga antes de descer a rua da baixada.
— O beijo. Eu quero falar sobre o beijo.
— Um erro mortal. Daemon o machucaria se soubesse que fez isso, algo tão íntimo. — ele soltou uma risada nasalar e mexeu a cabeça desconfortável com a safira pensando embaixo do tapa-olho, aquela conversa estava se estendendo demais.
Ela se sentou em uma cadeira no canto do quarto e mexeu em algumas velas que estavam em cima de uma pequena mesa ao lado da cama, vendo alguns itens um pouco interessantes que provavelmente foram deixados ali por quem quer que tivesse entrado nesse cômodo antes deles. Sua respiração começava a descompensar, tanto pelo rumo da conversa quanto por estar observando Aemond girar aquela adaga nas mãos tão facilmente que ele parecia estar segurando uma pena ao invés de um instrumento mortal.
— Eu tenho consciência disso, Rhaenys. — Aemond se aproximou rápido demais dela e se apoiou nos braços da cadeira em que ela estava sentada, encarando os olhos azuis que agora estavam um pouco escuros devido a baixa iluminação no local. A olhou de cima a baixo, vendo o quão nervosa estava apenas pelo peito que subia e descia rápido, mas ele não conseguia distinguir qual a fonte do nervoso dela. — Ao menos gostou do beijo?
— Se eu gostei do beijo? Foi o meu primeiro beijo e você arruinou as minhas expectativas.
— Está dizendo que foi péssimo?
— Não! Eu estou... — ela parou a frase no meio quando percebeu o jogo que ele estava fazendo com ela e se levantou da cadeira rapidamente para se desviar do olhar carregado dele, tão atraente ao mesmo tempo que era perigoso demais. Quando ela ia xingar Aemond pela brincadeira patética que ele havia feito, alguns gritos foram ouvidos para fora do quarto e ela se virou em direção a isso, logo depois encarando o tio. — Por que estão gritando?
O Targaryen deduziu que podia ser uma briga de bar ou então a patrulha da noite caçando algo.
— Merda. — Aemond puxou Rhaenys pelo braço até fora do quarto e analisou a situação mantendo ela afastada do campo de visão dele, e quando viu que a briga estava muito violenta decidiu que teria de passar em meio todos aqueles homens inúteis para tirar Rhaenys e ele mesmo dali sem machucados. Era por isso que ele sempre carregava a adaga e a espada com ele em qualquer lugar que fosse.
O Targaryen colocou o capuz nela e desceu as escadas ainda a apertando pelo braço, quando chegou perto de uma multidão de pessoas socando uns aos outros, pegou Rhaenys pela cintura e a colocou no ombro para evitar que a sobrinha fosse ferida enquanto ele fosse passar pelas pessoas usando apenas uma mão e uma adaga para matar quem entrasse em sua frente comprando uma confusão.
Rhaenys não tinha muita idéia do que estava acontecendo, ela só conseguia enxergar o chão, alguns corpos e as costas de Aemond, nada mais. O máximo que conseguiu notar foi que tinha sangue espirrando nela e que o tio estava matando pessoas enquanto a carregava para fora do que antes era um estabelecimento. Ela se perguntou como ele tinha força e habilidade para fazer as duas coisas ao mesmo tempo e ainda proteger a si mesmo.
O único momento que ela conseguiu distinguir foi quando ela sentiu o vento gelado entrar em contato com o corpo quente dela e ela precisou tirar uma das mãos que usava para se apoiar em Aemond para segurar o capuz, não gostaria de ter o risco de ser vista ali ainda mais nas condições que estava.
Sua visão estava turva e escura quando Aemond a colocou no chão de novo, mexendo na capa que ela usava para ver se a menina estava machucada ou se o sangue que havia nela era pertencente a ela. Quando ele percebeu que era apenas sangue de outras pessoas, ele suspirou alto e apertou o cano da adaga na mão, logo em seguida tirando os vestígios do sangue que começava a secar na própria roupa courina.
— Você está machucado? — ele não respondeu ela, apenas olhou em volta para ver se estavam em uma parte "segura" da baixada das pulgas. — Tem sangue de bêbados em mim. — ela tentou limpar o sangue coagulado que tinha respingado em seus braços e rosto. — Isso tudo é culpa sua!
— Minha culpa? Você é quem veio até mim.
— Eu não teria vindo se você não tivesse me chamado! — ela empurrou o ombro dele e fez caminho por uma estrada qualquer em busca de talvez, na esperança de encontrar Sor. Erryk na vigília da noite.
— Eu lhe dei uma escolha, sobrinha, você seguiu a que mais te agradou. É a segunda vez que você me segue até aqui. — Aemond acompanhava os passos ligeiros dela com as mãos cruzadas atrás do corpo enquanto mordia os lábios maltratados dele.
— Pare com isso, Aemond. Você quem começou isso, você quem me beijou naquela noite e quebrou ainda mais o que já era quebrado antes, deveria ter ido para seus aposentos ao invés de vir atrás de mim para me provocar. A situação está ainda mais estranha agora e se continuar dessa forma eu voltarei para Dragonstone amanhã mesmo, tudo por culpa sua e do seu maldito beijo!
Enquanto ela falava atrapalhando as palavras de tão rápido que fazia, Aemond caminhava lentamente para perto da sobrinha analisando ela cuidadosamente. Porque, de alguma forma, ele se sentia atraído por ela desde que a viu novamente depois de anos sem se verem. Ele gostava em como ela mexia nos dedos toda vez que sentia uma emoção negativa, em como ela ria alto demais e como sua silhueta ficava tão linda toda vez que ela colocava a roupa própria para voar em seu dragão. Uma mulher muito bonita, de fato.
Seus lábios ficaram entreabertos quando ele chegou em uma distância não tão segura dela e como Rhaenys estava eufórica, acabou não notando as intenções dele. Nem mesmo Aemond estava notando isso.
— Não. — Rhaenys colocou a mão no peito dele quando sentiu que ele faria aquilo de novo. Mas a menina também não sentia repulsa dele, nunca sentiu. Ao mesmo tempo que ela sabia que entraria em um jogo desafiador se permitisse tal ato, ela também queria sentir os lábios dele novamente mesmo que de forma desajeitada devida a falta de experiência dela. — Por favor, não faça isso novamente!
Mas ele fez.
Ele a beijou suavemente nos lábios macios dela, e ela retribuiu mesmo que sem saber exatamente o que deveria fazer. Ela gostou disso, não queria mas gostou e talvez estivesse sendo movida pela adrenalina no peito. Seu corpo todo relaxou nos braços dele e então ela havia esquecido que Aemond na verdade era seu tio, seu possível inimigo, o homem que gostava de implicar com os irmãos dela e ofender a cada chance que tinha. Não eram as crianças que se viram pela última vez no incidente em Driftmark.
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