𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟮𝟭

Satoru uma vez o disse que ele saberia quando estivesse apaixonado. Não importando as circunstâncias ou o quão prejudicial poderia ser, ele saberia, lá no fundo teria aquela certeza incomoda que lhe daria as famosas borboletas no estômago.

Obviamente não o levou a sério, até porque Satoru não era lá o maior exemplo do mundo, principalmente no quesito relacionamento. Mas, por algum motivo irritante, Megumi levou o conselho consigo durante muito tempo, escutando-o mentalmente quando ousava se aproximar de alguém.

Porém, o que não sabia era que a certeza seria tão avassaladora, enorme ao ponto de as portas de seu peito estarem abertas gritando o tamanho da certeza que tinha sobre ser apaixonado por Ayame Aikyo.

Olhar para ela era um deleite. Assim como beijá-la. Ou melhor, quando ela o tocava. O toque de Aya era marcante, queimava feito fogo mas era tão delicado quanto o bater das asas de uma borboleta, deixava cravado em sua pele que suas mãos a dedilharam, inesquecível e maravilhoso.

Ela tinha o olhar profundo, orbes brilhantes que gritavam a quem soubesse ouvir a intensidade que carregava consigo, Aya era intensa de um modo misterioso, cativante, seu sorriso era inspiração e seus lábios eram vício.

Megumi era fascinado por cada detalhe dela.

Era compreensível Aya ser adorada por todos que a conheciam. Ela era digna disso, era feita para ser admirada.

As mãos delicadas estavam apoiadas no próprio colo, em cima da barra do vestido de tecido leve, os cabelos estavam levemente bagunçados e os olhos vidrados na paisagem através da janela fechada.

— Vai queimar meu rosto se continuar me encarando assim - ela disse sem sequer olhar para ele, com aqueles lábios lindos sorrindo maliciosamente sabendo a reação de Megumi.

Megumi pigarreou desviando sua atenção dela, voltando seus olhos para o restante do estúdio imperturbado — Por que está calada?

— Evita que eu fale besteira - ela riu consigo mesma encarando-o novamente, com aquela mesma intensidade, como quem queria cobrir a distância entre os dois.

Acharam melhor parar antes que fizessem algo que poderia fazê-los se arrepender no dia seguinte. A distância que Aya estabeleceu entre eles era a única coisa que o impedia de perder-se mais uma vez na imensidão que era Aya.

— Qual foi sua primeira impressão sobre mim? - Aya soltou a pergunta aleatoriamente após alguns segundos de silêncio, Megumi a fitou por um momento, como quem quisesse saber se a pergunta era realmente válida.

Megumi e Aya estudavam na mesma classe desde o primeiro ano do ensino médio, mas só se falaram pela primeira vez depois do recesso de inverno do segundo ano e o primeiro contato realmente longo que tiveram foi a quase três meses atrás quando Utahime os obrigou a conviverem juntos.

— Quer que eu seja honesto? - ela rez que sim com a cabeça — Totalmente irritante.

Aya colocou a mão no peito estampando a maior face de indignação que conseguiu encenar — Ora seu maldito, o que foi que eu te fiz?

Megumi riu, sutilmente colocando-se a deslizar cada vez mais para o lado dela — Absolutamente nada. - ela franziu o cenho, a resposta dele pouco tinha convencido ela — Entenda, eu estava em uma fase ruim sendo um garoto ranzinza, tinha acabado de me mudar e a primeira pessoa que fala comigo parecia um raio de sol ambulante. Sabe, chegando toda sorridente, conversando até com as paredes... Realmente irritante.

— Oh, sim. Você é amargurado, tinha me esquecido desse lado. Sinto muito por ter importunado sua nuvem cinzenta. - ela rebateu provocando-o mas tudo o que Fushiguro fez foi sorrir para ela.

— Talvez se eu fosse um pouco mais esperto naquela época nós já seríamos amigos. - admitiu, coçando atrás da orelha como se de repente uma pulga houvesse pulado. — E qual sua primeira impressão de mim?

— Um garoto bonito - ele ergueu uma sobrancelha confuso e ela soltou uma curta risada — Eu te vi de longe na primeira vez, lembro-me de ter cutucado Mahina e dito "olhe só que garoto bonito!", logo depois fui falar com você. - ele estava lidando fortemente com a vontade de corar, mas Aya parecia tão entretida que não queria cortar o barato dela — Mas, como nós dois sabemos, eu levei um belo de um gelo quando fui te cumprimentar. Depois disso nunca mais tentei dar em cima de você.

— Deve ser detestável ser afim de mim - Megumi admitiu, mexendo instintivamente no bolso enquanto se preparava para ouvir Aya falando mal dele para ele mesmo.

— Oh, sim, era muito insuportável. Sempre tive tendência a querer quem não da mínima para mim, isso é um problema eu sei mas... - ela parou por um momento, analisando o que Megumi tinha na mão — Ei, o que é isso?

Megumi tentou disfarçar quando sentiu o colar de borboleta na mão, tinha esquecido completamente da existência dele e do acontecido na festa horas atrás, deveria devolvê-lo para Aya mas quando a mostrou o colar pendurado nos dedos percebeu que ela ainda estava com o mesmo colar no pescoço.

Aya empalideceu ao ver o pingente gêmeo ao seu, arrancando-o da mão do garoto rapidamente antes de franzir o cenho profundamente para a jóia — Onde encontrou isto?

Megumi nunca havia visto Aya tão tensa, era como se toda energia e alegria que viviam estampadas na feição linda dela tivessem evaporado.

O silêncio dele a deixou apreensiva, Aya o encarou, com tanta seriedade que quase o fez querer ir embora — Alguém deu isso a você?

Ele se detestou por fazer isso.

— Não, eu o encontrei na festa acidentalmente - Aya não pareceu muito convencida da resposta dele — Lembrei que você usava um igual e guardei para perguntar se era seu mas acabei me esquecendo.

Ela soltou uma respiração profunda, parecia aliviada mas ainda tensa, Megumi mentiu para ela, não queria ter que explicar que a prima dela, que também era a ex-namorada dele, o havia emtregado. Nunca havia mentido para ela e queria se desculpar, mas Aya parecia tão nervosa...

— Você está me dizendo a verdade? - ele concordou hesitante, vendo os olhos dela passarem de céticos a tristes — Graças a Deus e... Me desculpe por tudo isso é que... Bem, a pessoa a quem este colar pertence não é uma das mais agradáveis do mundo.

— Talvez esse colar seja uma réplica, outras pessoas podem ter colares iguais a esse e você pode estar sendo paranoica - ele estava se embolando em cada vez mais mentiras ridículas e estúpidas, Aya iria odiá-lo, ele estava fodendo com absolutamente tudo mas quanto mais tentava desmentir a própria fala, mais travava sua língua e o medo sufocava sua garganta.

Ele não queria que Aya soubesse de Aimi até que estivesse disposto a conversar sobre isso. Até que Aimi não fosse mais um problema.

Aquele era um pensamento estúpido.

— Não é uma réplica, podem existir parecidos mas não iguais a esses - ela dizia enquanto analisava o pingente - Olhe só - ela virou o pingente de borboleta, mostrando a parte de trás das asas em uma base lisa de ouro com duas iniciais entalhadas no material.

A.A.

— Esse é feito de ouro, o meu é prata. Foram feitos sob encomenda do meu avô para minha mãe e sua filha mais velha nos anos 90. - ela parecia estar tendo um grande esforço para falar aquilo. — Minha mãe me deu quando eu tinha sete anos e a minha tia deu a própria filha o dela na mesma idade.

— Mas as iniciais...

— Todas as mulheres da minha família tem o primeiro nome com a letra A. Eu sou Ayame, minha mãe Aiko, Anko é minha tia e... - seus olhos por um ínfimo segundo pareceram se perder, como se pronunciar o próximo nome, um que ele sabia de cor e salteado, fosse um desafio difícil a se cumprir — Aimi, minha prima.

Parecia nefasto escutar o nome daquela garota, porém, não pode deixar se abalar, pois Aya parecia afetada demais pela presença do colar e até mesmo por mencionar aquelas mulheres. Ele havia mentido para ela, aquilo não havia perdão, mas se Aya queria falar ele iria incentivar e oferecer para escutar.

— O que houve com vocês duas?

— São histórias antigas, mal vale a pena relembrar. - Aya passou a mão pelo vestido e Megumi não pode deixar de ver que suas mãos tremiam levemente — É só que nós duas tivemos uma vida difícil, só que diferente de mim, Aimi quis torná-la ainda pior. Não é uma boa pessoa. - sua expressão escureceu, como se a mesma raiva contida em Aimi fosse triplicada em Aya — Ela não vale a pena ser lembrada.

Engolindo em seco Megumi a observou retormar a postura e sorrir como se nada tivesse acontecido.

— Bom, fico feliz que você o tenha encontrado, querendo ou não isso é importante para a minha família. - Aya desviou do assunto, com o bom humor costumeiro enluvando sua voz, vestindo, pela primeira vez desde que o conheceu, a máscara que cobria toda turbulência de seu coração.

Megumi mentiu para ela. Qualquer coisas após isso seria a consequência de seus atos estúpidos, fruto de sua própria covardia.

Os dois começaram a beber em silêncio, Aya não quis conversar mais, dessa vez ela que escolheu entornar duas doses de whisky puro, que encontrara no armário de Choso, enquanto Megumi a acompanhava, até que os dois estivessem aéreos, até que a merda do colar fosse uma névoa embaçando seus sentidos.

Ayame o encarou com firmeza, como quem quisesse decifrá-lo ao mesmo tempo em que queria agarrá-lo com voracidade e descontar toda aquela turbulência. Megumi retribuiu o olhar voraz, com o silêncio nascido da vontade entalada na garganta de ambos, que agora apenas queriam esquecer das próprias decisões.

Talvez tudo aquilo fosse um baita erro. Um buraco sem fundo que estivessem se jogando de cabeça, mas, para serem honestos, nenhum dos dois se importava mais.

— Somos amigos? - Aya perguntou com a voz baixa.

— Sim. - respondeu, tentando se controlar para não descer o olhar para os lábios avermelhados da garota. Estava tomado pela culpa ao mesmo tempo em que seu desejo por ela era quase avassalador.

— Apenas amigos?

Megumi hesitou por um estante, como quem sopessasse pelas possíveis respostas a essa pergunta. Porque Megumi definitivamente não via Aya como amiga, não queria que ela fosse apenas isso, mal conseguia listar todas as coisas que o fazia delirar por ela.

Mas ele sabia que o desejo de ambos naquele momento eram ligados a sentimentos completamente diferentes. Aya o queria naquela noite, ele a queria por completo. De seus sentimentos até seus lábios, mas ele não se importava com o que ele queria. Daria a Aya a calmaria que ela procurava.

Ele era o mentiroso. Ele quem foi o covarde. Se Aya queria usá-lo, ótimo. Ele merecia.

— Sim, apenas amigos.

— Então amanhã não vai importar se eu te beijar de novo? - Aya se aproximou lentamente, com seus olhos semicerrados e voz mansa — E você não vai se importar se eu quiser repetir? Podemos repetir e depois fingir que nada aconteceu?

Megumi controlou sua respiração, aproximando-se dela, acariciando o braço da garota, vendo-a observar o movimento com atenção, o álcool pulsando em suas veias, Megumi estava completamente a mercê dela. — Você pode fazer o que bem entender, Aya.

Aya sorriu mole. Ambos estavam alterados, mas conscientes, apenas com a dose da coragem aumentada e o fogo interno crepitando tanto que seus corações ameaçavam discutir.

— A única coisa que eu entendo é que eu quero calar a minha mente - Aya pousou sua mão acima da dele, encarando com ar orbes castanhas suplicantes — Pode fazer isso por mim?

— Posso fazer de tudo por você.

Ele a beijou. Ela retribuiu.

E ambos sabiam lá no fundo, que não poderiam continuar sendo amigos.




N/A: Acabou a alegria vidocas, agora é dedo no cu gritaria, porrada, decisões de merda e os dois fazendo mais merda ainda.

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