𝚏𝚒𝚟𝚎

— Então, como foi nessa semana? — Erwin perguntou, notando o pequeno sorriso no canto de seu lábio.

— Foi boa — Você respondeu, mas continuou assim que o psicólogo fez um sinal para que você desenvolvesse sua resposta — Faz uma semana desde meu encontro com Eren, e eu tenho falado com ele todos os dias depois disso.

— No encontro, você disse que teve uma crise de pânico — Ele levantou as íris azuis para você, atrás de uma confirmação, e quando a obteve, continuou — Como você lidou com o fato de ter uma crise em público?

— Eu estava desesperada — Suas mãos estavam juntas, com os dedos entrelaçados, tentando conter a ansiedade e nervosismo que corroíam o seu peito — Não queria ter uma crise no meio do restaurante. Mas Eren me ajudou e eu consegui me controlar melhor.

— Você tinha citado que ficou impressionada com o fato de ele não te culpar por ter "estragado a noite".

— Sim — Você fez uma pausa para suspirar — Meu ex sempre me culpava quando as coisas davam erradas assim. Além disso, eu não queria que Eren visse um lado tão vulnerável e problemático meu.

— Todos tem problemas nome, e você não precisa tentar ser perfeita na frente dos outros — Erwin falava enquanto anotava algo em sua prancheta, mantendo os olhos fixos no papel nas mãos dele — E Eren não é especial por não ter colocado a culpa em você. Isso é o mínimo. Mas fico feliz que isso tenha lhe deixado mais aliviada — Agora, os olhos dele se voltaram para você novamente — E qual foi o motivo da crise?

— Eu achei que ele sabia sobre o relacionamento abusivo.

— E isso seria um problema?

— Claro que seria — Suas palavras saiam fracas, quase como um sussurro, mostrando toda a vergonha que você estava sentindo no momento — Se ele soubesse o motivo, provavelmente me deixaria.

— Vou te contar uma coisa, [Nome] — Agora, o loiro havia deixado a prancheta de lado e apoiou os cotovelos nas pernas, olhando fixamente para você, com uma expressão séria — Provavelmente ele já sabe sobre o que você está passando.

— Como? — Seus olhos estavam arregalados e uma sensação ruim começou a assolar o seu peito.

— Não é difícil perceber os sinais de uma pessoa que acabou de passar por um relacionamento abusivo — Ao ver o seu desconforto, ele continuou — Mas isso não é ruim. O fato de ele ter ciência pelo que você está passando e, ainda assim, não ter fugido, significa, talvez, que ele está disposto a te ajudar a passar por isso.

Você assentiu com a cabeça, deixando as palavras reconfortantes de Erwin lhe acalmarem. Durante alguns minutos, vocês conversaram sobre como havia sido sua semana. O loiro percebeu que você tinha melhorado bastante desde as últimas sessões, e ele se perguntava se Eren não seria o motivo disso.

Os últimos dias foram mais agitados do que você imaginava que seriam. Armin e Mikasa haviam chegado na cidade, mas vocês não se encontraram, já que eles estavam ocupados com a mudança. Mesmo assim, Eren tinha ido algumas vezes no seu apartamento, principalmente para reencontrar com o resto do grupo, que não se viam a anos.

No geral, Ymir, Annie, Bertolt e Reiner ficaram felizes que o trio de irmãos tinha voltado para a cidade, e mais ainda que você e Eren estavam "saindo". Eles viam como você estava ficando mais feliz a cada dia, a medida em que o Yeager ia te deixando mais confortável sempre que podia.

Para sua sorte, o moreno não havia tentado nada demais com você. Isso só levantava as suas suspeitas de que ele sabia o que estava passando na sua vida. Eren nem havia tentado te beijar ainda. Ou ele estava levando as coisas com calma porque sabia que você tinha acabado de sair de um relacionamento abusivo, ou ele não tinha interesse nenhum em você. Você realmente queria acreditar na primeira opção, mas sua insegurança falava mais alto.

— E quando você vai encontrar com os irmãos de Eren? — Erwin perguntou, quando a sessão já estava no fim.

— Amanhã eles vão lá para o apartamento — Um pequeno sorriso estava formado em seus lábios, a medida que você se lembrava que havia combinado isso com o Yeager — Vai ser a primeira vez que nosso grupo se encontra, depois de anos.

— Isso vai ser ótimo — O sorriso no rosto do loiro era orgulhoso, fazendo um calor reconfortante percorrer pelo seu corpo — Acho que ficamos por aqui hoje. Nos vemos próxima semana, [Nome].

Você assentiu e se apressou em se despedir dele, virando em seguida para a porta, afim de sair de lá. Mas, quando tua mão já estava na maçaneta, a voz do seu psicológico chamou sua atenção novamente.

— Só mais uma coisa — Quando você se virou para ele novamente, foi quando o loiro voltou a falar — Não sei se percebeu, mas essa é a primeira sessão em que você não chora.

Você arregalou levemente os olhos. O psicólogo tinha razão. Você não estava mais com vontade de chorar.

— Obrigada, Erwin — Você disse, por fim, com um pequeno sorriso no rosto, pouco antes de sair da sala.

[...]

i love you, de Billie Elish, tocava alto na caixinha de som, enquanto ele tentava se concentrar na música e se acalmar.

Eren estava na frente do espelho, com ambas as mãos apoiadas no balcão da pia. A água que saia da torneira escorria pelo móvel, fazendo filetes caírem no chão. Ele estava sem camisa, com gotículas de suor cobrindo seu rosto, enquanto olhava para o seu próprio reflexo, com as sobrancelhas franzidas.

Lute — O Yeager dizia, em um sussurro, como uma manifestação de seus pensamentos — Lute!

Ele queria lutar contra aquela vontade agressiva que assolava o seu peito. Sabia que estava fora de controle de novo, e não queria que você o visse assim. O maior medo que assolava a mente do moreno era que você o visse em sua forma mais instável, quando ele estava com raiva.

Batidas na porta fizeram a respiração dele descompensar mais uma vez. Toda concentração que ele estava fazendo para não destruir aquele banheiro estava indo embora.

— Eren? — A voz suave de Armin fez o moreno piscar algumas vezes, feliz de ser o irmão — Eren, eu trouxe seus remédios.

Sem esperar muito, mas com um suspiro pesado antes, o Yeager abriu a porta do banheiro, relaxando minimamente quando viu o loiro, com uma expressão preocupada.

— Aqui — Armin estendeu dois comprimidos grandes para o irmão, juntamente com um copo de água.

Sem falar nada, Eren aceitou e colocou os remédios na boca, pouco antes de beber o copo inteiro de água.

— Obrigado — Ele disse, se virando para o banheiro novamente — Mas sai daqui.

Antes que o loiro pudesse responder, o Yeager entrou no pequeno cômodo e fechou a porta atrás de si. Ele era grato a Armin por tudo, já que o loiro foi a pessoa que mais ficou ao lado dele, durante todas as suas crises, mas ele não queria machucar o irmão, pelo menos não de novo.

Uma das coisas que mais atormentavam o moreno era que, seus próprios irmãos já foram alvo de seus ataques de raiva. Armin fisicamente, inclusive. Depois daquele dia, Eren sempre procurou ficar longe dos irmãos quando estava em crise. E, mesmo que tivesse tomado o remédio, o efeito nunca era instantâneo.

— Tudo bem, não se preocupe — A voz doce de Armin pôde ser ouvida pelas frechas da porta — Vou estar te esperando aqui fora.

Somente quando ouviu os passos do irmão indo embora, o Yeager socou a parede com o punho direito. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Socou até ver a mancha de sangue na parede. A dor física que sentia na mão não era nada comparada a dor emocional que assolava o seu peito nesse momento.

Armin parecia um anjo. Melhor, ele era um anjo. Um anjo que Eren havia machucado. Até hoje, o moreno não se perdoou por aquilo. Toda vez que o loiro era prestativo com ele, o Yeager se perguntava o que havia feito para merecer alguém tão bom na sua vida, como o seu irmão.

Uma única lágrima pesada escorreu pelo rosto do moreno, que ainda mantinha uma expressão de raiva no rosto. Ele não tinha raiva de ninguém, apenas de si mesmo.

E esse é o pior tipo de raiva de todos.

Somente depois de longos minutos, quando Someone New, de BANKS, acabou de tocar, Eren resolveu sair do banheiro, depois de jogar água fria no rosto.

Assim que passou pela porta, conseguiu ver Armin sentado na cama, mexendo em algo no celular. Quando ouviu o barulho, o loiro levantou o olhar, esboçando um sorriso ao ver que o irmão estava bem. Mas o olhar do mais novo desceu para a mão do moreno.

— Deixa que eu cuido disso — Armin se apressou em falar, se levantando da cama e indo pegar o kit de primeiros socorros.

— Não precisa — O Yeager tentou discutir, mas foi interrompido pelo loiro.

— Claro que precisa — Depois de pegar o kit, ele foi até o irmão, o puxado para que o moreno sentasse na cama — Você vai ter sorte se não tiver quebrado nada aí.

— Vai demorar? Preciso buscar a [Nome] no psicólogo.

— Não, eu acabo rapidinho.

Com toda a delicadeza angelical que ele tinha, Armin cuidou dos ferimentos da mão de Eren, se certificado de que não havia nenhuma fratura. Cuidadosamente, ele enfaixou os ferimentos, envolvendo quase toda a parte de cima da mão do irmão.

— E como andam as coisas com a [Nome]? — A pergunta de Armin fez a atenção de Eren voltar novamente ao irmão.

— Devagar, eu acho.

— Ou seja, você ainda não conseguiu levar ela pra sua cama?

— Quem dera — O moreno disse, rindo da pergunta dele — Nem beijei ela ainda.

Armin olhou diretamente nos olhos do irmão, tirando a atenção do curativo que estava finalizando. As sobrancelhas do loiro estavam franzidas, ao mesmo tempo em que ele não acreditava no que estava ouvindo.

— Você tá conversando com ela a duas semanas e ainda não conseguiu beijar ela?

— Não.

— Quem é você e o que fez com meu irmão? — A brincadeira do loiro conseguiu arrancar uma risada sincera do moreno — Sério, o que a [Nome] tem que tá te fazendo esperar tanto?

— Eu sei lá — Eren deu de ombros, fechando e abrindo levemente a mão, sentindo o estrago que havia feito — Eu sempre gostei dela, quando a gente era pirralho.

— Eu lembro disso.

— E quando eu vi ela lá no empresarial — Ele fez uma pausa, como se pensasse nas palavras certas — Não sei. Só fiquei com vontade de ir atrás dela — Novamente, ele deu de ombros — Fazer o que eu não tive coragem quando era criança.

— Eren, você nunca consegue passar nem duas semanas sem transar — Armin observou, enquanto guardava o kit de primeiros socorros — Como é que você vai conseguir ficar com uma mulher que você nem beija?

— Eu não fico com essa necessidade toda quando tô perto dela — Ao ver a expressão de confusão no rosto do loiro, explicou — É como se só ficar do lado dela já é suficiente.

— Você realmente se apaixonou por uma garota em duas semanas?

— Na verdade, eu sou apaixonado por ela desde que éramos crianças — Ele corrigiu, se levantando — Mas, é. Aquela mulher lançou algum tipo de feitiço, ou alguma parada assim, em mim.

— Espero que dê certo, então — Armin disse, depois de rir do comentário de Eren.

— Vou lá buscar ela — Por fim, o Yeager pegou as chaves do carro na cabeceira e se despediu do irmão — Volto mais tarde pra a gente jantar juntos.

— Certo — Enquanto Eren andava em direção à saída, o loiro falou — E boa sorte com a [Nome]!

O Yeager acenou com a cabeça e seguiu seu caminho para fora do apartamento. Assim que entrou no carro, conectou a playlist, deixando que Perfectly Wrong, de Shawn Mendes, preenchesse todo o veículo.

Durante o caminho, ele percebeu que havia ficado mais calmo, e o medo que ficasse agressivo na sua frente tinha sumido. De todas as pessoas desse mundo, você era a última que podia vê-lo assim.

Não demorou muito para que ele chegasse na frente do empresarial, buzinando levemente para chamar a sua atenção, que estava na calçada, vendo algo no celular. Quando você o notou, sorriu de lado e foi logo ao encontro dele, entrando no veículo e se sentando no banco da frente.

— Oi, princesa — Eren logo disse, se inclinando para dar um beijo demorado em sua bochecha — Como foi a consulta?

— O de sempre — Você deu de ombros, procurando alguma coisa para mudar de assunto, já que não queria falar sobre os seus problemas. Você havia contado ao moreno que tinha sessões semanais com um psicólogo, mas não havia especificado o porquê. Quando a falta de assunto já estava dando um nó na sua garganta, você observou a mão de Yeager — O que foi isso?

— Ah.. isso... — Eren olhou para a própria mão enfaixada, levemente avermelhada por causa do sangue — Eu soquei a parede, algumas vezes — A resposta dele foi baixa, e ele não olhava nos seus olhos.

— Certo — Foi o que você conseguiu dizer na hora, se amaldiçoado por não conseguir ter uma reação melhor — Mas então... você está bem?

— 'Tô sim, não se preocupe — Agora, as íris cor de esmeralda estavam fixas em você novamente, que ainda tinha um semblante preocupado — Não fica com essa carinha, princesa. Eu juro que tô bem.

— Tudo bem — Você disse, depois de um suspiro, e esboçou um pequeno sorriso — Não vou ficar preocupada.

— Ótimo — O moreno seu partida no carro — Onde você quer ir agora?

— Na verdade — Você pensou por uns instantes — Podemos ir para minha casa? Tem uma coisa que eu queria conversar com você.

Com um sorriso no rosto, Eren assentiu, ainda olhando para você, e só então se virou para a frente do carro, saindo com o veículo. O caminho até o seu prédio foi extremamente rápido e silêncio. Apenas o som de i can't breath, de Bea Miller, podia ser ouvida. Nem você e nem Yeager falaram qualquer coisa.

Você passava o tempo todo recapitulando na sua cabeça o que iria falar quando chegassem, com medo de acabar falando alguma bobagem e assustar o moreno. Ao mesmo tempo, Eren se perguntava se você iria finalmente se abrir sobre seus problemas para ele.

Somente quando vocês chegaram no apartamento, e viram que nenhum dos seus amigos estava em casa, foi que você começou a falar.

— A gente pode conversar no meu quarto, se você quiser — Suas bochechas estavam levemente vermelhas e sua voz saiu mais baixa do que você planejava, mas isso só arrancou um sorriso admirado do moreno.

— Claro.

Sem pressa, ambos foram até o cômodo. Você fechou a porta assim que passou por ela e viu o Yeager se sentando na sua cama, olhando ao redor. Era a primeira vez que ele tinha até o seu quarto, já que nas outras vezes que ele esteve aqui, ficou somente na sala.

— E então? Sobre o que você quer falar? — A pergunta dele conseguiu te deixar ainda mais nervosa do que você já estava.

Ainda de pé, você mexia ansiosamente as pernas, sem saber como começar. Não conseguindo encarar o moreno nos olhos, você começou a falar olhando para o chão.

— Faz pouco tempo que eu- que eu saí de um relacionamento a-abusivo.

— Eu imaginei — A fala dele atraiu sua atenção, fazendo você encarar as íris verdes novamente.

— E, mesmo assim, você continuou falando comigo?

— Todo mundo tem problemas, princesa — Antes de continuar, ele deu dois tapinhas não cama, como um sinal para que você se sentasse ao lado dele — Eu não vou correr pra lugar nenhum.

— Mas, eu sou muito complicada e-

— Eu também sou — Ele te interrompeu, e continuou a falar quando viu sua expressão de confusão — Eu tenho problemas em controlar a raiva, de vez em quando. Meu pai não era exatamente o tipo exemplar de paternidade e, depois que minha mãe morreu, tudo ficou pior.

A voz de Eren exalava tristeza e sinceridade. Do mesmo jeito que você, ele não tinha o costume de se abrir para ninguém, fazendo de você a primeira pessoa com quem ele conversava sobre isso, tirando Armin e Mikasa. Suas mãos foram parar instintivamente nas dele, onde você começou a fazer um carinho suave com os dedões.

— Eu também era agredida — Você disse, sentindo algumas lágrimas ameaçarem a se formar — Meu ex não era exatamente o tipo exemplar de namorado.

— Sinto muito por isso.

— Eu também sinto pelo que você passou.

Um silêncio se formou por alguns minutos, mas não do tipo constrangedor. Vocês não se encaravam nos olhos mais. Cada um olhava para uma parte do chão, tentando analisar a cena como um todo.

— Eu.. — Você começou a falar, atraindo a atenção do moreno novamente — Eu quero te ajudar- a passar por isso.

A expressão de Eren era de surpresa, mas, depois, ela suavizou, e deu lugar para um sorriso agradecido.

— Eu também quero ajudar você, princesa.

Dessa vez, o sorriso formado foi o seu rosto, que, pela primeira vez em muito tempo, dava um sorriso sincero mostrando os dentes. Seu peito parecia doer menos, ainda que você falasse sobre o seu ex.

Em um movimento inconsciente, você aproximou seu corpo do de Eren, o envolvendo com seus braços, e dando um abraço nele. Não demorou mais que apenas alguns segundos para que ele retribuísse o ato, fazendo você sentir um calor gostoso percorrendo por todo o seu corpo.

— Posso te perguntar uma coisa? — O moreno perguntou, afastando minimamente os seus corpos, apenas o suficiente para encarar os seus olhos. somente depois de receber uma confirmação sua, ele continuou — Eu posso beijar você?

Suas sobrancelhas se arquearam suavemente quando você ouviu a pergunta. Era a primeira vez que alguém perguntava isso para você. Quase como se fosse anormal que pedissem o seu consentimento para algo.

— Pode.

Em um movimento devagar, Eren avançou em seus lábios, os juntando completamente. Depois de alguns selinhos, ele pediu passagem com a língua, que foi concedida por você, sem relutância. De início, O Yeager movia harmoniosamente sua língua, com calma e ternura, sem querer apressar demais as coisas.

Você seguia a deixa dele, o incentivando a intensificar o beijo quando se sentia mais confortável. O beijo calmo de antes deu lugar a um repleto de desejo e paixão, enquanto suas línguas se moviam em perfeita sincronia.

Agora, mais do que nunca, você sentia que estava fazendo algo porque queria.

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