𝚗𝚒𝚗𝚎
Você estava a mais de quinze minutos encarando o cartão em suas mãos. O nome de Hanma e o telefone do mesmo estavam te atraindo de uma forma inexplicável, mesmo depois de uma semana desde que ele te deu isso.
"Não quer saber o segredinho do seu irmão?"
Tá aí uma frase que remou na sua mente nos últimos dias. Mesmo que não quisesse acreditar nele, Hanma sabia sobre suas inseguranças, além de que você já suspeitava que os meninos estavam escondendo alguma coisa de você. Mas, agora, tinha certeza.
Uma batida na porta fez você dar um pulo da cama, assustada. Quando a maçaneta foi girada, você não perdeu tempo em esconder o cartão na gaveta mais próxima que achou. Assim que acabou de fechá-la, a porta se abriu, revelando o seu irmão, com um semblante levemente preocupado.
Nos últimos dias, vocês não tinham conversado muito, principalmente pelo fato de que ele estava, claramente, lhe evitando. Sinceramente, você não ligou muito para isso, já que tinha seus próprios problemas para pensar sobre.
— E aí, maninha? — Ele disse, entrando no seu quarto e fechando a porta atrás de si — Tá podendo conversar?
Você assentiu com a cabeça, saindo de perto da gaveta e se sentando novamente na cama. Takemichi não demorou muito para ir até você e se sentar ao seu lado. Durante alguns segundos, um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente, até que ele começasse a falar:
— A gente não se falou muito essa semana — O loiro falava de forma enrolada e pausada, como se pensasse bem em casa palavra que dissesse — Eu queria saber se tá tudo bem com você.
— Tá sim — Diferente do seu irmão, sua voz era firme e sem travas, quase como se estivesse falando a verdade — Fiquei bem ocupada com a faculdade essa semana, mas na próxima eu já vou estar mais livre.
— Isso é bom — Ele olhou para a porta, levemente nervoso, antes de desviar a atenção para você de novo — Naquele dia da festa, aconteceu alguma coisa?
— Acho que o ponto forte daquela noite foi Baji dando pt no meu banheiro.
— Mas, depois disso — Mesmo você tendo feito uma brincadeira, seu irmão não estava rindo, e ainda tinha aquela mesma preocupação no rosto — Quando o Mikey sumiu.
Takemichi desviou novamente a atenção para a porta, e você fez o mesmo. Não precisou de muito esforço para perceber que haviam pessoas escutando a sua conversa. Você estalou a língua, antes de se virar novamente para o irmão e olhar fundo naqueles olhos azuis, que agora exalavam medo e insegurança.
— Você tem alguma coisa pra me falar? — Sua pergunta saiu como um tiro, que pegou o mais novo desprevenido.
Durante alguns longos segundos, Takemichi não soube o que falar, e apenas ficou te encarando, com a boca levemente aberta e os olhos arregalados. Mesmo assim, você não mudou de expressão, nem sequer desviou o olhar dele. Se ele mentisse, você saberia.
— Só queria saber se aconteceu alguma coisa — Ele disse, por fim, esboçando um sorrisos tímido no rosto e colocando a mão na nuca — Mikey e Draken falaram que viram você saindo de um beco, então fiquei preocupado — Agora, ele parecia com mais vergonha ainda — Não que você não conseguisse lidar com qualquer coisa, maninha.
Você suavizou a expressão no rosto, deixando um sorriso de alívio tomar conta do seu rosto. Ainda assim, o que Takemichi havia falado não era totalmente mentira, mas também não era totalmente verdade.
— Não precisa se preocupar — Você disse, se levantando da cama e dando passos silenciosos até a porta — Não aconteceu nada.
Você colocou a mão na maçaneta, já preparada para gira-la.
— [Nome], espera! — Mesmo com o grito do seu irmão, você abriu a porta de uma vez.
Para a sua surpresa, não havia ninguém lá, apenas o corredor vazio.
"Eles já desceram"; você pensou, ouvindo vozes vindo do andar de baixo da sua casa.
— Os meninos estão aqui? — Você perguntou, se virando novamente para o irmão, que estava de pé, completamente suado e tenso.
— Estão — Ele conseguiu responder, depois de um tempo se recompondo — Acho que chegaram agora.
— Então é melhor ir lá receber eles.
Somente acenando com a cabeça, o mais novo se apressou em sair do cômodo, descendo as escadas e se dirigindo até a sala. Você suspirou pesado antes de entrar no seu quarto de novo. Sem pensar duas vezes, foi até aquela mesma gaveta de antes e pegou o cartão de Hanma, gravando o número em seu celular, salvando como "Shuji". Depois disso, foi até outra gaveta e pegou um isqueiro de lá, queimando o papel sem nem pensar duas vezes. Realmente, seria péssimo se alguém encontrasse o cartão que Hanma lhe deu.
[...]
Takemichi entrou na sala correndo, completamente sem fôlego por causa de toda a tensão e nervosismo que estava sentindo. It's Time, de Imagine Dragons, tocava em um som não tão alto na televisão. Assim que entrou no cômodo, todos os presentes olharam não direção dele, também com expressões preocupadas, mas não tanto quanto a dele.
— Acha que ela sabe que a gente tava lá? — Baji foi o primeiro a perguntar.
— Acho que não — Kazutora respondeu, de forma descontraída — A não ser que ela tenha um ouvido supersônico.
— Ela quase não falou com a gente a semana toda — Mitsuya disse, pensativo — Nem na faculdade.
— Talvez o Hanma já tenha encontrado com ela? — Mais uma vez, Kazutora falou — Ela poder ter encontrado com ele naquele beco.
— Ela teria dito se alguma coisa assim acontecesse — Pela primeira vez, a voz de Draken foi ouvida.
— Eu sei que você tá ficando com ela — Mikey também falou pela primeira vez — Mas a gente não pode ignorar essa possibilidade. Sabemos que Hanma tá atrás dela. As chances de eles já terem se encontrado não são poucas.
— Peraí — Takemichi quase gritou, atraindo a atenção de todos novamente — É da minha irmã que vocês tão falando. A [Nome] nunca se envolveria com um cara como o Hanma.
— Mas ela não sabe que tipo de cara ele é — Baji disse, depois de um suspiro pesado — Ainda acho que é melhor a gente parar de enrolar e contar tudo pra ela.
— Eu também acho — O comandante falou — Quanto mais tarde a gente falar, mais chances de Hanma distorcer a verdade pra ela.
— Não tem um jeito de a gente afastar ele dela, sem ter que contar a verdade pra [Nome]?
— Por que você tá tão preocupado em falar pra ela sobre a Touman, Takemichy? — Mitsuya perguntou.
— Vocês não entendem.
— Então explica.
Os olhos de Takemichi se abaixaram e ele começou a encarar o chão. As lembranças de uma época dolorosa para você vieram à tona. Todo o seu passado com gangues e o motivo de você odiar elas passaram como um flash na cabeça dele.
— Não posso dizer.
Os outros já estavam indo contestar, quando ouviram seus passos descendo as escadas. Imediatamente, Kazutora e Baji pegaram os controles do videogame, dando continuidade a um jogo que haviam colocado antes. Ao mesmo tempo, Mikey e Draken se sentaram na mesa de estar, e Mitsuya se sentou no sofá com os outros dois amigos.
— Oi, gente — Você falou, assim que entrou na sala, com um sorriso simpático no rosto.
Todos lhe responderam, também com sorrisos no rosto, mesmo que Baji e Kazutora mantivessem os olhos fixos na tela à frente deles.
— Sua cabeça tá melhor, Mikey? — Você perguntou, enquanto cumprimentava cada um deles. Na noite da festa, você havia feito os primeiros socorros na cabeça do loiro, mas tinha o aconselhado a ir em um hospital verificar se estava tudo certo.
— Tá sim, obrigado pelo curativo — Um sorriso fofo e inocente tomou conta do rosto dele — Mas eu tava mais preocupado com você naquele beco.
— Desculpa ter preocupado vocês.
— E o que você foi fazer lá, sua doida? — Baji tentou perguntar da maneira mais natural possível, mas não conseguiu esconder a leve tensão de você.
— Fui procurar o Mikey — Você deu de ombros — Achei que tivesse visto alguém entrando lá, mas era só um cachorro.
Nessa hora, Mikey e Draken se entreolharam. Agora, ambos tinham certeza de que você estava mentindo. Na noite da festa, quando lhe perguntaram o que você foi fazer no beco, havia respondido que tinha achado um gato lá, não um cachorro. Infelizmente pra você, esse detalhe passou despercebido.
— Vocês querem pedir pizza? — Você disse, olhando no aplicativo de comida as opções.
Mesmo sendo uma sexta-feira, você passou a tarde toda trancada no quarto, estudando e pensando no que Hanma havia dito. Mal tinha percebido que já era de noite.
— A gente tava pensando em ir pra uma festa que vai rolar numa boate nova que abriu — Baji falou, se levantando do sofá e indo até você — Não quer vir com a gente?
O moreno ficou atrás de você, e passou os braços por cima de seus ombros, lhe abraçando por trás. Você se sentia levemente culpada de ter tentado se afastar dele essa semana que passou, principalmente depois de ele admitir que você era a melhor amiga dele. Mesmo assim, você ainda queria conciliar suas dúvidas antes de se deixar aproximar ainda mais dele, até porque Baji já era uma das pessoas mais importantes pra você.
— Acho que não — Você respondeu, com um suspiro, e retribuiu o abraço do amigo, segurando mais firme os braços dele que rodeavam o seu corpo — Não tô muito afim de sair hoje.
— Eu fico também, então — Takemichi falou, atraindo a sua atenção para o mais novo — Não quero que você fique sozinha.
— Não é como se eu fosse indefesa, mano — Sua resposta saiu junto de uma risada — Até porque eu não vou sair de casa.
Sua voz tinha um tom inocente, mas você sabia o porquê de Takemichi não querer que você ficasse sozinha, do mesmo jeito que nenhum deles lhe deixou sozinha, desde que você, Baji e Mitsuya encontraram com a Moebius. Talvez eles até já soubessem sobre seu encontro com Hanma, mas, enquanto não abrissem o jogo com você, você não abriria com eles.
Seu irmão tinha uma expressão nervosa no rosto. Ele não queria que você ficasse sozinha, de jeito nenhum. O loiro não queria dar uma chance perfeita para Hanma vir falar com você, se é que ele já não fez isso antes.
— Eu fico com ela.
A voz grossa de Draken quebrou o silêncio ensurdecedor que havia se formado antes. Todos, inclusive você, se voltaram para o loiro alto. Os olhos negros dele estavam focados em você, sem nenhum vacilo.
— Não precisa, sério — Você disse, com um sorriso agradecido no rosto.
— Mas eu quero ficar com você.
— Não quero que deixe de ir na festa por minha causa.
— Eu já não tava afim de ir antes — Ele deu de ombros — Ficar aqui com você é mais um bônus.
"Até o Draken fingir que gostava de você pra te manter por perto". A voz de Hanma veio mais uma vez à sua mente, somente para te deixar mais confusa ainda.
— Tudo bem — Você respondeu, com um sorriso.
Vocês passaram os próximos minutos conversando sobre como seria a festa de mais tarde. Os meninos estavam ansiosos e empolgados, menos Mikey, que estava pensativo desde que chegou. De vez em quando, você o pegava olhando em sua direção, que desviava assim que seus olhares se encontravam. Ele estava desconfiado, e o sentimento era recíproco.
— Certo, a gente já vai indo — Mitsuya falou, se levantando do sofá, seguido pelos outros.
— Cuida bem da [Nome] pra mim — Seu irmão disse para Draken, o que arrancou uma risada divertida sua.
— E usem camisinha — A fala de Baji fez quase todo mundo rir, menos Takemichi, que olhou incrédulo na direção de vocês — Ainda não queremos um bebê pro grupo.
Depois disso, não demorou muito para que você e Draken ficassem sozinhos na casa. Counting Stars, de OneRepublic, tocava pela televisão, impedindo que o ambiente ficasse silencioso. Você não sabia ao certo o que fazer, mas tinha certeza de que teria que fingir estar tudo bem.
— Quer pedir uma pizza? — Foi a primeira coisa que veio à sua mente.
— Pode ser, tem uma muito boa perto daqui.
Você deu o seu celular para o mais alto, que não demorou nada para procurar o restaurante no aplicativo e te mostrar as opções de sabores. Em meio a muitas risadas e discórdias, vocês finalmente conseguiram concordar em algo e pediram a comida.
A música ainda tocava no fundo da sala, com vocês dois sentados no sofá, meio de lado para que pudessem se encarar. Vocês conversavam sobre formalidades do dia a dia, e tinham assunto até demais, já que não haviam se visto a semana toda. No meio do tempo que se passou, você percebeu que não estava fingindo estar bem. O sorriso no seu rosto claramente não era falso. Por mais que muitas inseguranças assolassem a sua mente, Draken conseguia fazer você esquecer de todas elas. Era como se nele você pudesse confiar.
— Senti sua falta essa semana — Ele disse, no meio da conversa, fazendo você erguer uma das sobrancelhas — Você não saiu nem uma vez com a gente.
— Fiquei presa com umas coisas da faculdade — Para sua sorte, mentir era uma das coisas que você melhor sabia fazer — E também senti sua falta — A última parte não foi mentira.
— Vai tá mais livre essa semana que vem agora?
— Tudo indica que sim, mas ainda depende dos professores.
— Se você tiver livre, quer sair comigo?
Suas sobrancelhas se arquearam levemente e um sorriso involuntário tomou conta de seus lábios.
— Quero.
Se inclinando levemente, Draken alcançou os seus lábios, de forma delicada e doce. O selinho logo se transformou em um beijo, lento e necessitado. Suas línguas se moviam devagar e deliciosamente, liberando toda a vontade que vocês estavam segurando.
Uma das mãos dele foi parar na lateral do seu rosto, dando sustento ao beijo, enquanto a outra foi parar em suas costas, aproximando seu corpo do dele. Suas mãos foram parar na nuca dele, puxando levemente os fios por baixo da trança e arranhando suavemente a pele com a unha.
De pouco em pouco, o beijo foi ficando mais necessitado, até que você já estivesse completamente entregue. Você queria ele, precisava sentir Ken Ryuguji por completo. E ele pareceu perceber, já que levou ambas as mãos até sua cintura, puxando você para o colo dele sem nenhum esforço.
Sentada em cima dele, você intensificou ainda mais o beijo, rebolando levemente, fazendo suas intimidades de roçarem. Draken levou uma das mãos até sua cintura, lhe incentivando a aumentar o ritmo, enquanto a outra voltou à lateral do seu rosto, te guiando para um beijo mais feroz.
Você sentia o membro dele crescer entre suas pernas, ao mesmo tempo em que sua intimidade pulsava e implorava por maior contato. Mas, quando o loiro levou as mãos até a barra da sua camisa, ameaçando tirá-la, a campainha da sua casa tocou.
— Puta merda — Você sussurrou, completamente frustrada, arrancando uma risada fraca do homem em baixo de você.
Relutante, você se levantou do colo dele e ajeitou o cabelo, que estava levemente bagunçado. Ao abrir a porta, se deparou com o entregador, que não demorou muito para ir embora, uma vez que a comida já estava paga.
— A pizza chegou — Você avisou, fechando a porta assim que acabou de entrar na casa.
— Certo — O loiro se levantou e veio até você — Vou lá buscar os pratos — Depois de depositar um selinho rápido em seus lábios, ele se virou e saiu, entrando na cozinha e saindo do seu campo de visão.
Você sorriu boba sozinha com tudo o que estava acontecendo. Realmente, ficar com Draken te deixava mais leve, até te fazendo esquecer de todos os problemas com os outros e com Hanma.
Acordando do transe, você foi até a mesa da sala, onde deixou a caixa com a pizza em cima. Perto de onde sua mão estava, o celular do loiro vibrou, anunciando uma nova mensagem. A notificação atraiu o seu olhar para a tela, e você arregalou os olhos assim que leu o que estava escrito.
Mikey: Bom trabalho se oferencendo pra ficar com ela. Vê se descobre alguma coisa e liga pra mim.
— Você quer beber o que? — A voz de Draken, vindo da cozinha, fez você acordar novamente.
— Acho que tem suco na geladeira — Respondeu, somente depois de limpar a garganta — Eu vou lá em cima colocar o meu celular pra carregar e já desço.
— Certo, mas não demora pra a pizza não esfriar.
Você não respondeu, apenas subiu as escadas com relativa pressa, segurando uma lágrima que ameaçava escorrer pelo seu rosto. A sensação de traição e abandono percorria todo o seu corpo, lhe dando vontade de vomitar.
No final das contas, ele tinha razão.
Assim que chegou no quarto, você correu até o banheiro e se trancou lá, pegando o celular e desbloqueando a tela. Percorreu pela sua lista de contatos até achar aquele que estava procurando. Nem hesitou em clicar na opção "ligar" e colocar o aparelho no ouvido. Depois de duas chamadas, a outra linha atendeu.
— A gente pode se encontrar amanhã? — Você tentava não parecer desesperada, mas não conseguiu disfarçar a voz de choro.
— Claro, docinho.
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