𝚏𝚒𝚏𝚝𝚎𝚎𝚗
A sensação de alívio que você sentia enquanto Mitsuya tirava os pontos do seu braço não tinha nem como descrever. Por ser o mais cauteloso de todos ali, o platinado ficou encarregado da árdua tarefa de tirar os pontos que você levou do tiro em raspão na casa de Henma. Não era nada demais, geralmente era algo que você mesma faria, mas os meninos fizeram questão de lhe ajudar no processo de recuperação, já que muitos deles se sentiam culpados pelo que aconteceu com você.
— Pronto — Mitsuya falou, deixando a pinça e a tesoura de lado — Foi o último. Mas você ainda não pode fazer muito esforço com esse braço.
— Obrigada — Você respondeu, enquanto movimentava o braço, fazendo o alívio de não ter mais os pontos crescer ainda mais.
— Sua recuperação foi bem boa pra só dez dias — Mikey comentou, sentado em um dos sofás na sala.
— Caralho, já faz dez dias que a gente tá aqui — Foi a vez de Kazutora falar, se levantando e indo até você, vendo a extensa cicatriz que ficou no seu braço — A cicatriz até que ficou da hora.
Você riu do comentário dele, percebendo que realmente já se passou um tempo desde que você começou a morar com eles para se esconder de Henma. No geral, você ficou se recuperando, enquanto os meninos lhe davam o maior apoio possível. Você e Takemichi ainda não haviam ficado sozinhos desde a última conversa de vocês, mas, sendo sincera consigo mesma, você só estava esperando as coisas se acalmarem. Não adiantaria de nada ter essa conversa de novo com ele agora, acabaria dando na mesma coisa.
Seus pensamentos ainda eram meio incertos sobre ficar tão próxima de um grupo de gângsters. Suas experiências passadas já foram suficientemente terríveis para lhe ensinar uma lição. Mas, assim que você começa a pensar em se afastar de todos eles, o seu coração dói horrores.
— E a sua costela? — O toque delicado de Draken no seu ombro fez você acordar de seus pensamentos e encarar o loiro ao seu lado.
— Bem melhor — Você respondeu, depois de limpar a garganta — Só ainda tá um pouco roxo.
— Draken acha que engana a gente, fingindo que tá todo preocupadinho com a saúde dela — Kazutora brincou, já se afastando do vice comandante — A gente sabe o porquê de você tá todo ansioso pra [Nome] ficar bem logo — O tom malicioso que ele usou já foi o suficiente para arrancar uma risada sua e um "filha da puta" do alto ao seu lado.
— Não que isso tenha impedido ele antes — Assim que Baji acabou de falar, já começou a correr de um Draken furioso, que vinha atrás dele.
As risadas já tomavam conta de toda a sala, enquanto os dois entravam no extenso corredor, saindo do campo de visão de vocês. Tirando Hina, Emma e Takemichi, todos os outros que haviam vindo para a casa com você estavam presentes na sala.
— Eu vou voltar pra cidade mais tarde — A voz de Mikey fez você virar para o baixinho — Quer alguma coisa de lá?
— Na verdade — Você começou a falar, olhando para os pés e pensando mais no assunto antes de continuar — Eu acho que vou voltar pra a faculdade hoje...
— Não é uma boa ideia — Mitsuya disse, antes que você pudesse acabar.
— Eu já perdi uma semana de aula. E não é como se eu pudesse passar minha vida inteira aqui escondida.
— Isso é temporário — Foi a vez de Kazutora falar — Só até a gente...
— Resolver as coisas com o Henma — Você concluiu por ele — Vocês já falaram isso, mas se for demorar tanto assim, eu não posso ficar parada aqui como se o tempo fosse esperar por mim também.
— [Nome], é perigoso...
— Ela tem razão — Mikey interrompeu o platinado, que se calou na hora — Mas você sabe que o Baji e o Mitsuya não vou estar com você, não sabe?
— Baji largou a faculdade e Mitsuya se transferiu pra o curso de moda — Você disse, encarando no fundo das orbes negras do baixinho — Eu já sei disso.
— Tá bom — O loiro falou, depois de dar um longo suspiro — Você vai comigo pra Tokyo. Quando sua aula acabar, eu vou te buscar na porta da faculdade com o Ken-chi.
— Qualquer coisa, pode ligar que a gente vai correndo — Kazutora reforçou, parecendo mais nervoso do que você imaginava.
— Vai dar tudo certo, não se preocupem.
Sua fala conseguiu arrancar alguns sorrisos fracos da parte dos três. Você sabia dos riscos, mas também não poderia ficar se escondendo para sempre.
— Quando você voltar pra aula — Mitsuya começou, com o tom brincalhão de sempre — Manda aquela professora de Acústica tomar no meio do...
— Quem vai voltar pra aula? — A pergunta de Ryuguji fez o platinado se calar na hora.
Um silêncio tenso pairou na sala por poucos segundos, até você perceber do que se tratava e soltar uma risada leve.
— Eu vou voltar.
— Não vai não — A resposta dele foi curta e grossa, dita enquanto ele vinha na sua direção, com passos firmes.
— Não me lembro de ter pedido sua permissão, Ken.
— Você tem noção de como é perigoso voltar pra lá? Ainda mais sozinha?
— E quando você vai entender que eu não sou igual as outras garotas que você já saiu? — Agora sim, você estava começando a ficar levemente irritada. Enquanto isso, os outros meninos saiam de fininho da sala, deixando vocês dois sozinhos na discussão — Eu não sou uma princesa indefesa, Ken. Eu consigo ir pra universidade de boa.
— Tem um gângster atrás de você, [Nome].
— Você também é um e nem por isso eu tô correndo.
Uma risada sarcástica saiu dos lábios dele, enquanto ele balançava negativamente a cabeça. Você já estava de braços cruzados e sobrancelhas franzidas. O fato de Draken achar você uma garota indefesa sempre lhe irritou muito, principalmente agora que ele estava tentando lhe convencer a não voltar para faculdade.
— E se ele estiver lá? — A pergunta dele foi feita em um tom mais baixo que antes.
— Eu fujo — Respondeu, dando de ombros — Já fugi dele uma vez, não vai ser difícil fazer de novo.
— Caralho, você é muito teimosa.
— E você gosta de mim mesmo assim.
Toda a raiva que Ryuguji estava sentindo naquele momento foi embora com apenas uma frase sua. Uma risada verdadeiramente divertida saiu dos lábios dele, ao mesmo tempo em que ele se aproximava de você e lhe envolvia com os braços fortes dele. Seu corpo parecia tão pequeno colado ao corpo enorme dele. Era uma sensação quente e confortável, e você nunca conseguiu negar que amava os abraços de Draken, por isso, não demorou mais do que dois segundos para você retribuir o ato.
— Gosto mesmo — Ele respondeu, depositando um beijo no topo da sua cabeça.
Um sorriso involuntário se formou em seus lábios, que não pôde ser visto pelo mais alto, já que seu rosto estava enterrado no peitoral dele.
— Só toma cuidado, ok? — A pergunta dele fez você afastar levemente a cabeça, só o suficiente para que você conseguisse levantar o rosto e encarar as orbes negas dele, que exalavam preocupação — Não vou me perdoar se alguma coisa acontecer com você de novo.
— Nada vai acontecer — Você respondeu, voltando a enterrar o rosto no corpo quente dele — Eu prometo.
Ryuguji não respondeu mais nada, mas você conseguiu sentir a cabeça dele balançando em concordância. Você apertou ainda mais os braços ao redor dele, sentindo ele fazer o mesmo com você. Logo depois, Draken apoiou a testa no topo da sua cabeça. Vocês dois passaram um bom tempo assim, até se esquecendo dos outros que estavam ali minutos antes.
Sua mente gritava com a possibilidade de alguma coisa de ruim acontecer com você enquanto estiver na faculdade. Sabia que o loiro não se perdoaria por isso. Mas, você tinha convicção de que conseguiria impedir que isso acontecesse, afinal de contas, você havia prometido a ele.
[...]
— Você vai mesmo voltar pra lá?
— Não é só porque você largou a faculdade, Baji, que eu tenho que fazer isso também — Você retrucou, enquanto colocava o seu caderno dentro da bolsa.
— Essa doeu — O moreno brincou, arrancando uma risada divertida sua.
Vocês dois estavam no seu quarto, falando poucas horas para as aulas começarem. Como a casa de campo era relativamente longe, você e Mikey teriam se sair daqui a alguns minutos para você não se atrasar.
— Se eu soubesse que você ia voltar, não tinha largado logo de cara.
— Eu ia ficar mal em saber que você tava indo pra faculdade só pra ficar de olho em mim.
— Eu não me importaria de ser uma babá — Ele respondeu, dando de ombros — Muito menos depois de você cuidar de mim dando pt.
— Aquele dia foi muito engraçado.
— Só se foi pra você — Uma risada alta acabou escapando dos seus lábios — Chifuyu ficou bem puto quando me viu apagado na sua cama.
— Imagina como o Draken ficou quando me viu ajoelhada indo tirar a sua cueca.
— Puta merda, é verdade. Eu jurava que era o Mikey — A fala dele só fez você rir mais ainda — Mas ele ficou tranquilo depois?
— Não deu em nada — Você deu de ombros — Mas teria me ajudado se ele soubesse que você é gay.
— Quem sabe um dia eu conto.
— Sério — Você parou de rir e se sentou na cama, ao lado de onde Baji estava deitado — Por que você não conversa com eles sobre isso?
— Eu amo muito aqueles caras, [Nome], mas a gente faz parte de uma gangue. Muitos caras são bem homofóbicos, sabia?
— Que se foda esses caras — Sua resposta fez o moreno rir levemente, mas parou ao ver o seu semblante sério — Tenho certeza que nenhum dos meninos se importaria com isso, muito pelo contrário, acho até que eles iriam te apoiar 100%.
— Mas o resto da gangue...
— Você é um capitão ou não, Keisuke?
— Que pergunta idiota, é claro que eu sou.
— Então porque você vai se deixar levar pela opinião de alguns cadetes? — Sua pergunta não recebeu resposta, mas Baji tinha uma expressão pensativa no rosto, o que já lhe deixou satisfeita — E como estão as coisas com ele?
— Com Chifuyu? — O moreno esperou você concordar com a cabeça para continuar — Estamos bem. Ele vem pra cá na próxima semana, inclusive.
— Isso é bom. Eu gosto de conversar com ele.
— Você não tem ideia de como eu fico feliz com minha melhor amiga e meu futuro namorado se darem tão bem assim.
— Futuro namorado? — Sua voz tinha um tom brincalhão e divertido.
— Tô penando em pedir ele qualquer dia desses, só tenho que resolver o problema do segredo com os meninos.
— Você devia realmente começar a pensar em contar pra eles — Ele não respondeu, apenas baixou o olhar e começou a encarar o colchão da sua cama. Você deu um sorriso fraco. Nem tinha ideia do que Baji estava passando, mas sempre tentou deixar claro que você estava lá para qualquer coisa — Eu tenho que ir agora, mas mais tarde a gente volta a conversar.
Quando você estava pronta para sair da cama, sentiu seu braço ser segurado de forma firme. Assim que levantou o olhar, encontrou com as orbes douradas do moreno.
— Se você achar qualquer coisa estranha, por menor que seja, me liga na hora.
— Não precisa se preocupar — Você tentou dar o seu sorriso mais reconfortante — Vai dar tudo certo.
Mesmo receoso, ele concordou com a cabeça e soltou o seu pulso. Você se levantou da cama e pegou sua bolsa na cabeceira. Caminhando em passos lentos, você foi até a porta, se virando apenas para se despedir do moreno.
— Até mais tarde, Keisuke — O moreno levantou a cabeça para você e assentiu brevemente, ainda com o olhar extremamente receoso — Te amo.
As sobrancelhas dele se arquearam na hora, mas um sorriso enorme se formou no rosto dele, fazendo você perceber que boa parte da tensão dele havia sumido.
— Eu também te amo, pequena.
Você sorriu uma última vez para ele e entrou no corredor, fechando a porta do quarto atrás de você. Nunca se passou pela sua cabeça falar algo assim para algum dos meninos, mas falar para Baji foi algo tão natural que fez você perceber o quanto realmente se importava com ele. De fato, Keisuke acabou se tornando uma das pessoas mais importantes na sua vida.
— Já tá pronta? — A voz de Mikey lhe tirou de seus pensamentos — Que sorrisinho é esse aí?
— Nada, pensei em alguma coisa engraçada — Você se apressou em responder, começando a descer as escadas e indo em encontro com o baixinho — E sim, já tô pronta.
— Então vamos logo, antes que você chegue atrasada.
Você assentiu com a cabeça e seguiu o loiro. Um carro esportivo preto já estava esperando por vocês do lado de fora. Sem demora, Mikey entrou no banco do motorista e você no do passageiro.
Quando você conheceu o grupo, ficava levemente receosa em ficar sozinha com alguns deles, por causa do clima constrangedor. Mas você nunca sentiu isso com o comandante. Mikey sempre tentou te deixar o mais confortável possível, e toda vez conseguia.
O longo caminho até a cidade de Tokyo passou que você nem sentiu. No geral, vocês passaram todo o trajeto ouvindo música e conversando sobre o dia a dia. Era engraçado como Mikey sempre tinha alguma coisa para falar, sempre deixando a conversa movimentada.
Quando menos esperava, você conseguiu visualizar o prédio enorme da sua universidade. Mesmo não sendo o seu primeiro dia, acabou sentindo um frio na barriga nervoso. Antes, você só conhecia Baji e Mitsuya, mas agora não teria mais eles para ficarem com você.
— Já sabe do combinado, não é? — Mais Uma vez no dia, seus pensamentos foram interrompidos pelo mais baixo — Qualquer coisinha que tiver de errado, você liga.
— Eu já sei, comandante.
O jeito como você o chamou fez o loiro rir, ainda que ele estivesse relativamente preocupado com você. No final, vocês acabaram se despedindo rápido e você saiu logo do carro, ou acabaria se atrasando.
A ideia de que você não conhecia mais ninguém da sua turma assolou sua mente novamente. Mesmo assim, você iria para a faculdade apenas para ver as aulas e já teria que voltar para a mansão dos meninos de novo. Nem teria tempo para fazer amizades.
Para sua sorte, o primeiro professor ainda não tinha chegado na sala, por isso, você entrou sem ser notada e foi até as cadeiras bem do fundo, se sentando na última de uma das fileiras do meio. Tirou seu caderno e estojo da bolsa, os colocando em cima da mesa. Já tinha perdido uma semana inteira de aula, teria que recuperar todo o assunto perdido.
— Licença, você sabe qual é a primeira aula? — Uma voz ao seu lado lhe tirou de seus pensamentos e fez você se virar para encarar o homem que tinha falado com você.
Ele era loiro, com um corte estilo topete. As íris azuis acabaram fazendo você se perder por um tempo, de tão penetrantes que eram. O homem usava um par de óculos com lentes quadradas, que o deixava relativamente mais charmoso. Além disso, ele usava um brinco de ouro na orelha esquerda.
— Produção musical — Você respondeu, com um sorriso simpático no rosto, já pronta para se virar e voltar a se enterrar em seus pensamentos, até ele voltar a falar.
— É minha primeira semana aqui. Acabei de ser transferido de uma faculdade em Londres.
— Eu tô na mesma — Você acabou virando mais para ele, se entretendo mais com a conversa — Fui transferida dos Estados Unidos.
— Caralho, que legal — Ele se sentou virado para você, com um sorriso empolgado no rosto — E você conhece muita gente aqui?
— Eu nasci aqui, acabei perdendo contato com meus amigos antes do meu intercâmbio. Mas eu tenho um irmão e fiquei próxima dos amigos dele.
— Isso é bom. Eu não conheço quase ninguém aqui, tô bem perdido pra falar a verdade — O comentário dele arrancou uma risada leve, mas divertida, sua — Mas, e aí? Qual o seu nome?
— [Nome] Hanagaki. E o seu?
— Tetta Kisaki.
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